Decorreu, de 11 a 15 de novembro, em Recife (PE), o 18.º Congresso Eucarístico Nacional do Brasil, com o tema “Pão em todas as mesas” e sob o
lema “Repartiam
o pão com alegria e não havia necessitados entre eles”, visando fazer convergir
todos os católicos em torno da Santíssima Eucaristia, de forma a partilharem testemunhos públicos de fé em
Jesus Eucarístico.
Esta iniciativa da Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) mobilizou, a partir de
uma grande Arquidiocese nordestina a Igreja que vive e age no Brasil, com um
tema tão necessário e atual que se articula diretamente com a realidade enfrentada pela
população brasileira, a qual a Igreja tem dado grande atenção,
como o fez no Dia Mundial dos Pobres e o fará´ na Campanha da Fraternidade
2023.
Foi a oportunidade de toda a Igreja se reunir em torno da mesa da
Eucaristia para agradecer a Deus por tão grande dom e reforçar o compromisso apostólico
por um mundo segundo o coração de Deus. Assim, o Congresso quis lançar a
reflexão sobre a importância do Pão Espiritual, que é o próprio Cristo, e, por
consequência, também sobre o pão material de que todos precisamos para sobreviver.
Na verdade, através da partilha da Eucaristia que fazemos em Igreja, esta
reflexão deve levar-nos a partilhar, de igual modo, o pão material, sobretudo
com os que mais sofrem. Jesus ensinou-nos a partilhar e, se estamos unidos a
Cristo, devemos estar unidos entre os irmãos, olhando às necessidades do
próximo, não só de forma pontual e assistencialista, mas sobretudo de forma orgânica,
sistémica e persistente.
Os congressos eucarísticos são realizados em todo o mundo, não
sendo particularidade do Brasil. E constituem uma oportunidade que os fiéis têm
para testemunharem a fé e a Igreja para mostrar o que é a sua essência: a Eucaristia
– tal como quando celebramos a solenidade do Corpus Christi, saímos às ruas com o Corpo de
Cristo no ostensório, adorando, com alegria e felizes na nossa fé.
A primeira edição do Congresso Eucarístico foi realizada em 1881, em
Lille, na França, por iniciativa de um grupo de leigos, com o apoio de São
Pedro Julião Eymard, com a participação de fiéis e bispos de vários países
europeus. No Brasil, o primeiro Congresso Eucarístico Nacional celebrou-se na
Arquidiocese de São Salvador, na Bahia, em 1933, embora já em 1922 se tenha celebrado,
no Rio de Janeiro, o Congresso Eucarístico do Centenário da Independência com
uma grande participação de bispos, padres e fiéis. O III Congresso
Eucarístico Nacional, realizado no parque Treze de Maio, localizado no bairro
da Boa Vista, área central do Recife, deixou como marco a Igreja Santíssimo
Coração Eucarístico de Jesus, conhecida como matriz do Espinheiro, zona norte
de Recife. Neste ano de 2022, o Recife sediou, pela segunda vez, o Congresso
Eucarístico Nacional. A primeira vez foi em 1939. Na ocasião, era o III
Congresso Eucarístico Nacional. O bispo era Dom Miguel de Lima Valverde e o
tema foi: “A Eucaristia e a vida cristã”.
Para a realização do 18.º Congresso
Eucarístico Nacional, houve um ano de preparação: de 14 de novembro do ano
passado a 7 de novembro deste ano, depois de duas transferências de anos devido
à pandemia. Esta preparação fez-se através de celebrações eucarísticas, de tríduos,
de encontros de liturgia e juventude e de uma série de concertos. O último foi
realizado no dia 7.
O 18.º Congresso Eucarístico Nacional começou a 11 de novembro, às 15 horas, com a oração
da tarde, na Catedral Metropolitana de Recife, com os bispos que estavam
presentes no momento. Após esse momento, realizou-se a visita ao museu de arte
sacra e a receção no seminário de Olinda. Às 18 horas, aconteceu o
ponto alto desse primeiro dia, a celebração eucarística.
O Congresso Eucarístico contou
com uma vasta programação nos outros dias. Teve a celebração da primeira
eucaristia nas paróquias, as catequeses, com a feira católica (com mais de 140
expositores), as exposições, as celebrações diárias e os momentos culturais,
com destaque para os concertos. E, após o Congresso, ainda haverá celebrações e
alguns outros eventos, culminando com a missa do sacramento da Confirmação ou
do Crisma, no dia 5 de abril de 2023.
Quem não pôde ir ao Recife para
participar do Congresso Eucarístico Nacional, teve o ensejo de o acompanhar através
das mídias católicas, TV, Internet e rádio.
Sempre que acontece num Congresso Eucarístico, cria-se um momento marcante para a Igreja e uma
oportunidade de aprofundarmos mais ainda no conhecimento da fé. Deste Congresso espera-se que a Eucaristia nos ajude a ser mais
“irmãos” e solidários, atentos às necessidades do próximo;
que se concretize o tema “Pão em todas as mesas”, que as famílias
tenham o alimento diário para saciar a sua fome e, ao mesmo tempo, que Jesus
Cristo Se faça presente em todos os lares.
A Eucaristia é para todos. Jesus não exclui ninguém. Ele acolhia
pobres, os pecadores e os doentes. Pregava a inclusão. Ia na contramão do que a
sociedade pensava. Do mesmo modo, devem atuar os seus seguidores. Não excluir
ninguém da refeição, seja a mesa da eucaristia, seja a mesa do alimento
material.
Foi momento de festa o
Congresso Eucarístico Nacional e uma oportunidade para testemunhar a fé, a
relevância do Corpo de Cristo e a solidariedade que devemos praticar à sua maneira.
***
O Cardeal Dom António Augusto Santos Marto foi o representante
pessoal do Papa Francisco no Congresso. Coube-lhe, nessa qualidade, presidir às
principais celebrações, nomeadamente a da Eucaristia do encerramento, com a
procissão eucarística. Mas a missão incluiu encontros
com os bispos, os sacerdotes, as religiosas e religiosos, os leigos, os
seminaristas e algumas comunidades locais, num programa acordado com a Comissão
Organizadora do Congresso em nome da CNBB.
Entrevistado por Adielson Agrelos, assessor
de imprensa do Regional Leste 1, da CNBB,
destacou a emoção e alegria da visita e vincou que o Pão da Vida repartido por Jesus nos deve levar, como
Igreja, a “partilhar o pão nosso de cada dia, para que não falte o sustento do
pão de cada dia”.
O Bispo emérito de Leiria-Fátima pretende que o evento não seja “meramente devocional e intimista”, mas “um apelo aos
cristãos católicos a irem ao coração da fé que está na relação de amizade
pessoal com Jesus ressuscitado e vivo, presente no meio de nós, de modo admirável,
no sacramento da Eucaristia”, pois “a fé não se reduz a um conjunto de regras
ou práticas devocionais”, mas é apelo a sermos “testemunhas convictas e
corajosas da alegria do Evangelho, da fraternidade, da justiça e da paz que
Jesus traz ao mundo”.
À questão “como ajudar o povo na compreensão de que a
partilha do Pão do Céu nos deve impelir a partilhar o Pão que mata a fome”,
respondeu com um
enunciado de D. Hélder Câmara: “Há uma Eucaristia do santo Sacramento: a
presença viva de Cristo sob as aparências do pão e do vinho. Há também outra
Eucaristia: aparência da miséria, realidade de Cristo”. Há, pois, o mesmo
Cristo sob a aparência do pobre, do necessitado: “o que fizestes ao mais
pequeno dos meus irmãos, a mim o fizestes”. A Eucaristia é sacramento do altar
quanto é sacramento do irmão: “Não separe o homem o que Deus uniu!” E
prosseguiu: “É isto que todos precisamos de compreender que o Senhor
ressuscitado, que reparte connosco o Pão da Vida […], nos pede a nós, como
Igreja, partilhar o pão nosso de cada dia, para que não falte o sustento do pão
de cada dia, que inclui, por sua vez, o pão do amor, do acolhimento, da
partilha, da fraternidade, da solidariedade, da cultura, da dignidade e da paz
em todas as mesas, em todas as casas.”
***
O encerramento do Congresso contou com a celebração da Eucaristia e com a procissão
com o Santíssimo Sacramento.
Presidida pelo enviado especial do Papa, a celebração iniciou-se com um cortejo, que
contou com a presença de cerca de
1.200 padres e 200 bispos participantes do Congresso, pela Boulevard Rio
Branco até à praça do Marco Zero.
Após leitura
do “Anúncio da Eucaristia” (Jo 6,51-58), o representante
do Pontífice fez a homilia, em que falou
da maravilha da presença de Jesus na Eucaristia e o que ela significa na nossa
vida. Disse em concreto:
“O corpo e
o sangue são a expressão da pessoa inteira, com toda a sua vida, com toda a sua
história, com todo o seu infinito amor, [...] até à morte na cruz, amor
eternizado na ressurreição. [...] Jesus
deixa-nos o dom mais admirável e impensável, o dom da sua presença real, do
seu amor infinito e redentor que só ele pode fazer enquanto ressuscitado, para
permanecer connosco para sempre, um alimento que nos dá vida verdadeira e
eterna.”
Ao
tratar sobre como recebemos a
hóstia, explicou o significado que tem para a nossa vida:
“Quando eu comungo, como é que eu respondo? Eu respondo ‘amém’. Esta resposta é mais do que um simples ‘acredito na
presença real’, é também um compromisso que diz ‘sim’ ao Senhor: quero receber-Te com todo o meu
coração, quero que entres na minha vida, quero viver do teu amor, quero seguir
os teus passos, quero colaborar contigo por um mundo melhor.”
Dom António Marto falou, depois, sobre a importância
de o Evangelho reverberar na vida e na sociedade e abordou o exemplo
vivo que o Papa Francisco é de fraternidade, fator fundamental para
construirmos o sonho de Deus para toda a humanidade.
Após a celebração da Missa, fez-se a procissão com o
Santíssimo Sacramento, do Marco
Zero até ao Pátio da Basílica do Carmo.
No marco zero do Recife, o bispo
auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, anunciou que o próximo encontro será realizado entre os
dias 3 e 7 de setembro de 2027, em
Goiânia, capital do Estado de Goiás. E Dom João Justino de Medeiros Silva, Arcebispo de Goiânia e presidente da Comissão Episcopal para Cultura e
Educação da CNBB recebeu de Dom António Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda
e Recife a réplica do ostensório, simbolizando o Congresso. O evento será da
responsabilidade da Arquidiocese de Goiânia em colaboração com as Dioceses de todo o Regional Centro-Oeste da CNBB.
O final do 18.º
Congresso Eucarístico Nacional no Brasil fica marcado por um gesto concreto:
Às 9 horas da manhã do dia 15 de novembro, foi
inaugurada a Casa do Pão, um espaço destinado ao apoio à parcela da população
que mais precisa, cuja inauguração contou com o pronunciamento do legado pontifício e do
Arcebispo de Olinda e Recife.
***
Enfim, a Eucaristia faz uma Igreja viva, uma Igreja
solidária!
2022.11.17 –
Louro de Carvalho
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