Assinalou-se,
a 19 de novembro, o Dia
Internacional do Homem, efeméride que, embora não aceite em todo o mundo e sem a relevância de outras
comemorações, se celebra
desde 1999, com o apoio da Organização
das Nações Unidas (ONU), que não a calendariza, e por vários grupos de defesa
dos direitos masculinos na Europa, na América do Norte, na África e na Ásia.
A sua génese
não é clara. Uma teoria considera que o seu grande propulsionador foi Jerome
Teelucksingh, que, em 1999, apoiado pela ONU e por vários grupos, criou a data
com o intuito de consciencializar as
pessoas sobre os cuidados da saúde e sobre a igualdade de género masculino. Uma outra teoria sustenta que o Dia Internacional do Homem surgiu pela
mão do ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, para relembrar os grandes homens
da História.
Jerome
Teelucksingh, professor de História na Universidade das Índias Ocidentais
(University of the West Indies), de Trinidad e Tobago, escolheu a data por ser
o aniversário do pai e porque, nesse dia, em 1989, a sua seleção de futebol foi,
pela primeira vez, classificada para o Campeonato Mundial, o que foi um fator
de união para o povo.
Teorias
à parte e apesar de não haver grandes evidências, há razões para a existência
deste dia: a saúde dos homens, a relação entre géneros, a promoção da igualdade
entre géneros e o destaque para os papéis positivos de homens. E a data está relacionada
com o Novembro Azul, o mês dedicado
à saúde masculina, com especial foco na prevenção do cancro da próstata.
Desde a
década de 1960, tinha havido pressão para que se fixasse uma data para
esta comemoração, até por uma questão de igualdade de géneros, já que o Dia Internacional da Mulher é
comemorado desde 1009. Alegava-se que as contribuições masculinas para a
humanidade merecem um dia próprio para serem celebradas, sem a necessidade de analogia
com o Dia Internacional da Mulher. Vários
países, como o Canadá, a França, os Estados Unidos da América (EUA), a
Colômbia, a Rússia e a China fizeram tentativas, cada qual esperando que
outros o seguissem. Por insuficiente divulgação, essas tentativas não tiveram
continuidade.
Em 1994,
houve comemorações bem-sucedidas nos EUA, na Europa e na Austrália, em
fevereiro, pela mão do professor Thomas Oaster, diretor do Centro para Estudos
do Homem da Universidade do Missouri, em Columbia, Missouri (EUA). Mas,
em 1995, não houve condições para repetir a celebração e o professor
abandonou o projeto. Malta foi, durante algum tempo, a única nação a
comemorar a efeméride em fevereiro. Em 2009, deslocou a data para 19 de
novembro, para seguir os demais países. A Austrália voltou à celebração a 19 de
novembro de 2003.
E Portugal é
um dos mais de 70 países (são mais de um terço dos países do mundo) que aderem
anualmente à celebração deste dia, para refletir e mostrar os valores em equação.
A mensagem
do Dia Internacional do Homem é a
promoção de modelos masculinos positivos do quotidiano. Os grandes objetivos
desta data passam por celebrar as contribuições masculinas positivas para a
sociedade, por promover a saúde masculina, por melhorar as relações entre
géneros e por combater o sexismo. Efetivamente, os objetivos desta efeméride
estão especificados nos “Cinco pilares do Dia
Internacional do Homem”:
Promover
papéis masculinos positivos, não apenas de estrelas de cinema, de
soldados ou de desportistas, mas de homens do quotidiano cujas vidas são
decentes e honestas;
Comemorar as
contribuições masculinas positivas para a sociedade, para comunidade, para a vizinhança, para
a família, para o casamento, para guarda de crianças e meio ambiente;
Focar na
saúde e bem-estar do homem: social, mental, emocional, físico e
espiritual;
Destacar a
discriminação contra os homens e meninos nas áreas de serviços sociais, nas atitudes
e expectativas sociais e no direito;
Criar um
mundo mais seguro e melhor, onde as pessoas se possam sentir seguras e crescer
para alcançar o seu pleno potencial.
Longe de ser
uma piada ou de ser tão conhecido como o Dia
Internacional da Mulher (a data equivalente no género feminino), o Dia Internacional do Homem visa,
sobretudo a necessidade da consciencialização da saúde masculina e da promoção
da igualdade entre sexos.
Três frases
sobressaem neste dia:
“Quando um
homem tem brilho nos olhos, nenhuma mulher repara nas suas rugas.”
“Não percas
tempo a discutir como um homem bom deveria ser: sê um”.
“O
verdadeiro homem não é aquele que conquista várias mulheres, mas aquele que conquista
uma mulher permanentemente.”
É de lembrar que, ao invés de 8 de
março, Dia Internacional da Mulher,
que surgiu como um dia de luta, o Dia
Internacional do Homem surgiu por iniciativa ou do governo de Mikhail
Gorbachev, que visou homenagear figuras importantes da história do seu país, ou
do cidadão Jerome Teelucksingh, já referido, por motivos familiares e nacionais,
em modo de homenagem (ao pai) e de incentivo (à seleção do futebol do país).
Seja como for, logo se foi incorporando no calendário de outros países, como
Trinidad e Tobago, fundando o International
Man Day.
Entre
as várias justificações, ressalta a necessidade de que homens passem a prestar
mais atenção à própria saúde e a necessidade de maior consciência das questões conexas
com a igualdade e com a equidade de direitos entre homens e mulheres. A
primeira hipótese é amplamente difundida em várias redes em detrimento da segunda.
No
entanto, se é possível ligar esses dois principais aspetos em que se relacionam
saúde e direitos, é de lembrar que os homens, em geral, são reconhecidos pelo
ténue cuidado que têm com a saúde. Uma das razões para isso tem a ver com as
questões de acesso à educação e, por consequência, com a falta de conhecimento com
a falta de condições financeiras para que pratique esse cuidado. Além disso, há
outros elementos, nomeadamente os ligados às questões de classe e de etnia. E sabemos
que a política do cuidado (ou a falta dele) se estende a outras esferas da
vida, tais como o pouco cuidado com a paternidade, com a responsabilidade
afetiva, com as relações de mercado de consumo, com o meio ambiente, com a economia,
com a cultura, etc.
É
também de relacionar, como ficou dito acima, esta data específica com a campanha
Novembro Azul, que tem como principal
mote os cuidados com a próstata e as doenças relacionadas com esse órgão, pois
o cancro de próstata é o segundo maior fator mortalidade nos homens.
Tudo
isto suscita o levantamento de algumas questões: Como cuidar da saúde quando,
em alguns países, os homens não são estimulados ao cuidado de si? Uma campanha
de um dia ou de um mês suprirá a falta de políticas públicas para que os homens
passem a prestar maior atenção à saúde integral? É possível falar em equidade
quando se promovem campanhas em separado, por exemplo, para o cancro da mama?
Os dados contemplam mulheres, trans e travestis?
Na
verdade, a par da doença física, há a doença social, que se manifesta na
discriminação e no preconceito de todas as ordens: racial, de género (incluindo
a identidade e a orientação), de classe social, de território. Depois, há o
modo como lidamos com tais questões que estão estruturalmente em nossas
sociedades. O medo de se tornar menos homem faz com que os homens não busquem,
a tempo, exames e tratamento e, por consequência, melhores hipóteses de
recuperação. O medo do diagnóstico de HIV/SIDA faz com que o não monogâmico não
procure o serviço médico e continue a contaminar parceiras e parceiros.
Por
causa da estrutura social ainda demasiado machista, os homens não lutam pelos
direitos reprodutivos, pela reformulação da divisão do trabalho... Por isso,
vivemos numa sociedade em que o homem, tomado como a medida do todo, ainda é
considerado acima de tudo e de todos, portanto, o corpo perfeito, o mais forte,
o imbatível. É a partir daí que devemos pensar como dar o passo para a data se
ampliar e levar os homens a pensar de modo diverso, pois criar espaços em que
só os homens estejam inseridos não ajudará a melhorar as condições de saúde e de
vida.
Esta
efeméride é importante, se as reflexões que mobilizar forem acompanhadas de
iniciativas que levem os homens a cuidarem-se e a criarem condições que não
seja somente para si mesmos, mas para que todas e todos realizem uma cidadania enquadrada
nas políticas do Estado.
Ao
melhorar esta relação, é possível que se revertam qualitativamente os números
de morte e os dados de violência que afetam todos os dias mulheres, negros,
crianças, idosos e jovens. Alguns têm dados passos nesse sentido, reunindo-se
em grupos – as rodas de masculinidade – em que se discutem questões
relacionadas com as suas peculiaridades e com a sua saúde, numa atitude
antipatriarcal, mas há muito por fazer. É importante que os homens não ajam sozinhos,
mas se incorporem e se comprometam nas demandas do que traz maior bem-estar
pessoal e social.
De
contrário, corre-se o risco de esvaziamento das efemérides e de perpetuação das
desigualdades.
***
Enfim, a
grande finalidade do Dia Internacional do
Homem é, sem dúvida, a promoção dos valores humanitários básicos: vida,
saúde, educação, proteção, trabalho digno, cidadania.
2022.11.19 – Louro de Carvalho
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