A Organização
Mundial de Saúde (OMS) anunciou, a 5 de maio, o fim da pandemia de covid-19,
três anos e quatro meses depois de ter sido decretada, mais concretamente a 11
de março de 2020. Porém, o facto de já não ser uma emergência de saúde global,
não significa que o SARS CoV-2 (vírus da covid-19) tenha deixado de ser “uma
ameaça para a saúde”. Com efeito, ainda na semana anterior, “a covid-19 tirou uma vida a cada três minutos,
e estas são apenas as mortes de que temos conhecimento”, disse Tedros Adhanom
Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
A pandemia
causou a morte de, pelo menos, 20 milhões de pessoas, no Mundo, quase três
vezes mais do que a estimativa oficial. E foram ainda diagnosticados mais de
765 milhões de infeções.
Em
conferência de imprensa, Tedros Ghebreyesus reforçou a ideia de que a doença
não deve ser desvalorizada, após este anúncio, assegurando que ela continua a
ser um risco para a saúde.
“Este é o tempo de os países fazerem
a transição do modo de emergência para a começarem a gerir a covid-19,
juntamente com outras doenças infeciosas”, disse o diretor-geral da OMS,
vincando que esta “não foi uma decisão precipitada”. Foi “uma decisão que foi
ponderada com cuidado, durante algum tempo, planeada e tomada com base numa
análise atenta dos dados”, esclareceu, garantindo que, se for necessário, não hesitará em “convocar
outro comité de emergência, caso a covid-19 volte a colocar o nosso Mundo em
perigo”.
Na reunião
de 4 de maio, os peritos do comité de emergência da OMS avaliaram a situação da
pandemia, à luz dos três critérios definidos na emergência de saúde pública global
(PHEIC, na sigla em Inglês): se a covid-19 continuava a constituir um evento
extraordinário, se se mantinha o risco de saúde pública para outros Estados,
através da disseminação internacional, e se, potencialmente, requeria resposta
internacional coordenada.
O comité considerou
ser este o “momento certo de avançar” para a gestão da covid-19, que deixou de
ser um “evento incomum e inesperado” que justifique um nível de alerta mais
elevado, apesar de continuar a constituir um risco real, como a gripe.
Embora a PHEIC
“tenha sido um instrumento valioso para apoiar a resposta global à covid-19, o
comité concordou que é o momento certo para avançar para a gestão a longo prazo
do SARS-CoV-2 como um problema de saúde contínuo”, adiantou a OMS em
comunicado.
“Chegar ao
ponto em que a covid-19 pode ser considerada como não constituindo mais uma
PHEIC deve ser visto como um reconhecimento à coordenação internacional e ao
compromisso com a saúde global”, destacaram ainda os especialistas.
Na sequência
da decisão acabada de tomar, a OMS recomendou aos países que atualizem os
planos de preparação para pandemias de agentes patógenos respiratórios,
incorporando as aprendizagens da covid-19, e que restaurem os programas de
saúde afetados pela pandemia.
Além disso, devem integrar a
vacinação contra a covid-19 nos programas de vacinação ao longo da vida e
manter os esforços para aumentar a cobertura vacinal contra a covid-19 para
todas as pessoas dos grupos de alta prioridade, bem como continuar a levantar
as medidas de saúde relacionadas com viagens internacionais, com base em
avaliações de risco, e a deixar de exigir comprovativos de vacinação como
pré-requisito para essas deslocações.
A
declaração de fim da pandemia, pela OMS, significa que este coronavírus é agora um vírus endémico, como a gripe.
No seu
parecer à OMS, os membros do comité destacaram a tendência decrescente das mortes
por covid-19, a diminuição das hospitalizações e dos internamentos em unidades
de cuidados intensivos e os elevados níveis de imunidade da população mundial
ao SARS-CoV-2.
Para o combate à propagação da doença, foi lançada a campanha
de vacinação à escala global.
Segundo a
OMS, a nível global, foram administradas cerca de 13,3 mil milhões de doses de
vacinas contra a covid-19. Atualmente, 89% dos profissionais de saúde e 82% dos
adultos com mais de 60 anos completaram a vacinação primária, embora a
cobertura nesses grupos prioritários varie em diferentes regiões do Mundo.
Segundo Tedros
Ghebreyesus, a covid-19 deixou – “e continua a deixar” – cicatrizes profundas
no Mundo, as quais devem servir como lembrete permanente do potencial de
surgimento de novos vírus, com consequências devastadoras. Com efeito, a longa
covid (persistência de sintomas durante várias semanas a vários meses, após a infeção)
é a grande herança da pandemia e Portugal já deve ter mais de 330 mil doentes.
Em Portugal,
os primeiros casos desta doença foram diagnosticados a 2 de março de 2020 e,
duas semanas depois, o País entrava no seu primeiro estado de emergência. No
total, Portugal contabilizou 26 mil mortos, sendo que mais de 5,5 milhões de
pessoas contraíram o vírus.
Porém, há mais de um ano, foram levantadas as
restrições mais pesadas para o controlo da doença.
***
O novo coronavírus já não é ameaça para a saúde
global, mas é preciso estar protegido. O reforço vacinal entre os mais jovens é
inexistente ou muito baixo e é preciso que tomem, pelo menos, uma dose de
reforço. E Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos
de Saúde Pública, explica o que e o porque do que se deve fazer doravante, em
Portugal.
A doença
já não é ameaça significativa para a saúde da população mundial, nem para os
Serviços Nacionais de Saúde. Porém, continuará a ser um risco para os mais
vulneráveis, como os doentes e os idosos. Por isso, devemos manter alguns cuidados
e não negligenciar esta patologia.
Já não podemos lidar com a
gripe, com as constipações e agora com a covid, como antigamente. Precisamos de
ter cuidado para não as transmitirmos aos outros, para nos protegermos, pois
não sabemos se a pessoa que está ao nosso lado contrairá uma forma grave da
doença. Há que manter o uso de máscara e evitar o contacto físico com os outros,
quando estivermos doentes, vacinar regularmente os vulneráveis, ventilar
corretamente os espaços interiores e manter os cuidados de lavagem das mãos de
forma adequada, bem como a etiqueta respiratória.
No atinente à adesão à vacina,
segundo o relatório n.º 20 da Resposta Sazonal em Saúde, do Instituto Nacional
Ricardo Jorge (INSA), entre os 5 e os 11
anos, a cobertura com dose de reforço é inexistente; entre os 12 e os 17 anos,
é de 1%; entre os 18 e os 24, é de 56%; e, entre os 25 e os 39, é de 62%. São
coberturas baixas. Ora, todos os adultos e todos os doentes crónicos devem ter,
pelo menos, uma dose vacinal de reforço, isto é, as duas doses iniciais e mais
uma. Assim, os jovens que não tomaram a segunda dose não estão em maior risco.
Mas os que não fizeram uma dose de reforço devem fazê-lo, para terem proteção
mais significativa e diminuírem, ao máximo, a possibilidade de virem a
desenvolver alguma forma de doença grave.
Quanto a óbitos,
o mesmo relatório do INSA refere que, na quinzena de 10 a 23 de
abril, foram verificados sete óbitos por milhão de habitantes, ou seja, cerca
de 60 óbitos, em 14 dias, por covid. Já na semana entre 17 e 23 de abril, a
taxa foi de três óbitos por milhão de habitantes, ou seja, cerca de 27 óbitos.
Estes valores são inferiores ao limiar definido pelo European Centre for
Disease Prevention and Control (ECDC) (20 óbitos por milhão
de habitantes), mas são números consideráveis. É importante não perder o foco
nesta doença, em termos comportamentais, de diagnóstico e de tratamento, para
se reduzir ainda mais este indicador.
Em
síntese, o INSA aponta que, apesar
de o vírus SARS-CoV-2 continuar a circular na população, já não é evento
excecional ou inesperado, com impactos extraordinários na saúde da população e
na organização dos serviços de saúde. Com efeito, a maioria da população teve
algum tipo de imunidade contra o vírus (contacto com o vírus e/ou vacinação) e
os sistemas de saúde têm mais capacidade de lidar com esta infeção. Assim, foi
possível reduzir o nível de alerta em relação à covid-19, passando a pandemia
de covid-19 para uma fase de transição.
Porém, como sucede com a gripe, a diminuição do
nível de alerta não significa relaxar totalmente. Mantém-se a vigilância do
SARS-CoV-2, por forma a identificar aumento da incidência, formas mais graves
de infeção ou variantes mais agressivas, bem como o uso de medidas de prevenção
específicas dirigidas às pessoas de maior risco, no caso, a vacinação de acordo
com as orientações das autoridades de saúde. E mantêm-se medidas de prevenção
não específicas, que se aplicam também a outras infeções respiratórias: uso de
máscara por pessoas vulneráveis ou com sintomas respiratórios em ambientes
fechados e com muitas pessoas, sobretudo em época de maior circulação de
agentes respiratórios, medidas de higiene e etiqueta respiratória.
Também a Comissária Europeia da Saúde, Stella Kyriakides saudou o
anúncio da OMS sobre a nova fase da covid-19, vincando a importância de não se
perder de vista a necessidade de prosseguir com a vacinação, “principalmente
nos países mais vulneráveis”. E focou a importância de os países estarem
preparados para futuras ameaças à saúde, “mantendo contramedidas e sistemas de
saúde adequados”.
***
Com o fim da
pandemia, porque muitas vacinas tiveram de ser destruídas (por exemplo, Portugal
já teve de destruir 3,5 milhões de doses de vacinas contra a covid-19),
Bruxelas tenta renegociar contratos com farmacêuticas.
Por passarem do prazo de validade e por a adesão à vacinação contra a
covid-19 ser cada vez mais escassa, vários Estados-membros veem-se obrigados a
deitar vacinas ao lixo.
Soube-se isto num momento em que a Comissão Europeia está a tentar
renegociar contratos com as farmacêuticas, devido à acumulação de doses de
vacinas que não foram usadas e já passaram do (curto) prazo que apresentam para
utilização.
Segundo o Ministério da Saúde – que saudou a decisão da OMS, anotou o
contributo da ciência e elogiou os profissionais de saúde –, em território
nacional, a taxa de inutilização é de 8,5% (uma das menores, a nível europeu),
graças à “grande adesão dos portugueses à vacinação” e à eficácia da gestão do
aprovisionamento. Entre 2020 e 2023, Portugal fechou 14 contratos com seis
fornecedores de vacinas, tendo sido entregues aproximadamente 40 milhões dos
61,7 milhões de doses encomendadas e adquiridas. Desses 40 milhões, 28,5
milhões foram utilizados; 8,1 milhões foram doados; e Portugal revendeu 2,6
milhões a outros países.
Portugal esperava receber, neste ano, mais de 20 milhões de doses, mas
espera agora reduzir, bem como alargar os prazos de entrega, já que decorre um
processo de renegociação centralizado pela UE. O Financial Times adiantou que o
acordo passará por alargar, até 2026, as entregas previstas até ao final deste
ano.
Tal como em outros Estados-membros, em Portugal, a campanha para o segundo
reforço – que corresponde, em geral, à quarta dose – já não obteve os
resultados de adesão de outrora: esta ronda de vacinação levou 79% dos idosos a
partir dos 80 anos a imunizarem-se, número que contrasta com os 97% do primeiro
reforço. As pessoas com idades entre os 50 e os 59 anos mostraram adesão de
45%, contra os 87% do primeiro reforço. Assim, entre 17 e 23 de abril, foram
administradas 187 doses de vacina por dia, na campanha de reforço.
Milhões de doses de vacinas já passaram do prazo de validade: a Alemanha
sinalizou, em janeiro, que teria 36,6 milhões de doses a expirar, e a Áustria
revelou que cerca de 18 milhões não foram usadas, por o seu prazo ter passado.
Enfim, é preciso continuar a proteção pessoal e a comunitária. Pelo
bem-estar!
2023.05.09 –
Louro de Carvalho
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