Decorreram,
no Porto, de 18 a 21 de maio, as atividades atinentes ao Dia da Marinha
Portuguesa, que se assinala, tradicionalmente, a 20 de maio, numa das cidades
costeiras.
As celebrações reuniram mais de 30 iniciativas abertas a toda a
população, com o objetivo de promover a ligação dos portuenses ao mar, o que
implicou grande condicionamento de trânsito e de estacionamento em várias zonas
da cidade. O parque da Alfândega, frente à
Capitania, foi o espaço de exposições demonstrativas.
O epicentro das atividades localizou-se entre a Ribeira e a Alfândega,
onde, entre outras atrações, foi possível assistir ao concerto musical da Banda da Armada com Miguel
Guedes e a outros
espetáculos, visitar navios, ter batismos de mar, fazer escalada e mergulho,
utilizar a realidade virtual para comandar um navio, visitar tendas com armamento e airsoft ou deixar-se fotografar ao lado de viaturas e de embarcações
que integram o contingente das forças armadas – tudo com a máxima segurança e
monitorização dos oficiais. Enfim, pôde ser-se fuzileiro por um dia.
Foi possível visitar a Fragata D. Francisco de Almeida, embarcação que esteve,
pela primeira vez, ancorada no Douro, com outros navios da Marinha, como o
navio-escola Sagres, que não tinha vindo ao Porto, há muitos anos, e a Lancha
de Fiscalização Rio Minho, ambos atracados, bem como o Navio Patrulha Oceânico
Sines, ancorado ao largo da Ribeira.
Segundo a
Marinha, o Sagres recebeu, até ao dia 21, mais de 25 mil visitas. Só no dia 20,
foram perto de oito mil.
Quanto à da
fragata D. Francisco de Almeida, o seu comandante, André Pereira da Silva, não
poderia estar mais contente com a adesão dos portuenses. Só no primeiro dia
foram mais de 80 os visitantes, com tendência para aumentar até ao dia 21, pois
o S. Pedro também ajudou.
A guarnição normal
desta fragata é de 125 militares, dos quais 16 do sexo feminino. Mas, como a ocasião
era de festa, esteve, nestes dias, com a lotação máxima (160 militares, dos
quais 13 em exclusivo para o helicóptero que pertence ao navio): “É uma
oportunidade única para ver que tipo de militares temos nas forças armadas. […]
Temos especialidades díspares, que, depois, trabalham com sentido de
comunidade. É o mais interessante no ambiente de um navio. […] Um projeto
desafiante”, disse o comandante, apelando aos jovens para aderirem à Marinha.
Foi emocionante,
para muitos, nomeadamente antigos militares, ver a imponência da embarcação,
que cumpre missões de todo o género: busca e salvamento, dispositivo de
segurança naval, ações de combate, entre outras. Desta vez, os mísseis
estiveram guardados, mas havia um helicóptero e outros instrumentos de
navegação à vista, para os visitantes.
Os
navios estiveram patentes das 10 às 12 horas e das 14 às 18 horas, com a
entrada para visitas a ocorrer entre o Cais da Ribeira e a Alfândega. No mesmo
horário, houve batismos de mar, efetuados nos navios da República Portuguesa
Rio Minho e Sagitário, lanchas anfíbias e motas de água, com início no Cais da
Polícia Marítima, no Cais da Estiva-Ribeira ou no Cais da Alfândega. E, tendo
em conta que os lugares para aventuras em água salgada são limitados, a Marinha
providenciou zonas de apoio e de suporte, geridas pelos militares.
***
Contudo, o
ponto culminante das celebrações ocorreu no dia 21. A zona da Alfândega esteve engalanada e com milhares de portuenses,
e não só, na rua, para assistirem às cerimónias.
Destaca-se um
ato religioso, pelas 10H30, na Igreja de São Francisco, transmitido pela RTP, que a Marinha organizou e a que
assistiram a ministra da Defesa Nacional, Helena Careiras, o chefe de
Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, o presidente da Câmara Municipal
do Porto, Rui Moreira, entre muitas outras individualidades civis e militares,
sob a presidência do bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, D. Rui
Valério. Depois, realizou-se uma parada
militar (12H), seguida de desfile e de demonstração de capacidades militares
junto ao rio.
Durante a cerimónia militar, o presidente da Câmara Municipal do Porto
foi condecorado pela Marinha Portuguesa com a Cruz Naval (1.ª Classe),
juntamente com alguns militares.
Rui Moreira, que agradeceu a todos a forma entusiástica como participaram
nas comemorações, disse não duvidar de
que o futuro do país passa por uma “ambição de fazer mais pelo mar e pela sua
fileira”, só possível com “uma Marinha forte, com meios modernos e capacidade
financeira”. Por isso, afirmou: “Estamos, tal como a Marinha portuguesa,
conscientes do interesse estratégico de proteger e preservar o nosso mar, sem
deixar de tirar melhor proveito dos recursos costeiros e marinhos do país.” “O
destino de Portugal está irreversivelmente ancorado no mar. Temos uma das
maiores zonas económicas exclusivas da Europa, o que faz com que o mar
português seja 18 vezes maior do que a área terrestre do país”, vincou, para
enfatizar a necessidade de “reforçar a competitividade das atividades marítimas
tradicionais” e de “investir em atividades marítimas de maior valor
acrescentado, intensivas em inovação e com perfil tecnológico”.
“Para uma nova
e mais frutuosa relação com o mar, Portugal precisa de uma instituição com o
brio, a credibilidade e a competência da Marinha”, sublinhou.
Antes, o
autarca deixara uma palavra de apreço à Armada pela escolha do Porto para
comemorar a sua mais importante efeméride, coincidente com a chegada da armada
de Vasco da Gama a Calecute (Índia), há 525 anos. “Creio que consagrámos ao Dia
da Marinha muito do caráter trabalhador, abnegado e empreendedor por que é conhecida
a cidade do Porto.”
Observando
que “sabemos hoje muito melhor quem é, o que faz e que valores defende a
Marinha”, Rui Moreira frisou que “muitos portuenses, que participaram nestas
comemorações, reforçaram a ideia de que a Marinha é uma instituição que, sem
renunciar ao seu património histórico e doutrinário, está efetivamente voltada
para o futuro”. E agradeceu aos portuenses a forma calorosa como celebraram o
Dia da Marinha e participaram nas múltiplas atividades previstas: “Somos uma
cidade que não esconde as suas emoções e sentimentos, pelo que ficou bem à
vista de todos o interesse, o carinho, o orgulho que o Porto sente pela Marinha
e pelos nossos marinheiros.”
“Como homem
do mar”, o autarca partilhou a sua impressão sobre a semana em referência: “Se
me é permitida uma nota pessoal, destaco como o momento mais extraordinário do
Dia da Marinha a viagem do Navio Escola Sagres entre o Porto de Leixões e o
Cais da Ribeira. Desde 1998, há precisamente 25 anos, que o icónico navio não
atracava no Douro.”
“E foi uma
alegria imensa ver o Sagres a navegar no nosso rio. Uma alegria para nós,
felizardos passageiros do navio, mas também para as centenas de pessoas que
bordejaram as margens do rio à espera da chegada do Sagres. Quando ‘apitou à
faina’, expressão que aprendi a bordo, o navio-escola Sagres levou-nos ao âmago
da portugalidade”, frisou, para encarecer “a coregrafia dos marinheiros
afanosos”, as velas com a cruz de Cristo enfunadas, os constantes silvos a
cruzar o convés, a lonjura do Atlântico a definir o firmamento, tudo a fazer-nos
sentir “mais portugueses e cidadãos mais orgulhosos do nosso país, da nossa
história, da nossa cultura”.
Por fim, fez
votos por que “a colaboração entre a Marinha Portuguesa e a cidade do Porto se
mantenha viva”.
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Por sua vez,
o chefe do Estado-Maior da Armada CEMA) garantiu que a Marinha está em mudança
“operacional, estrutural e genética”, visando que “Portugal se cumpra no mar”.
“Estamos a
mudar a Marinha e vocês são os atores desta nova realidade”, afirmou Gouveia e
Melo, perante mais de 500 militares em parada. “É uma nova Marinha para o
desafio de Portugal: ocupar, explorar e garantir o uso do mar aos portugueses.
Este desígnio é, para mim, o meu verdadeiro norte. E tudo faremos para que
Portugal se cumpra no mar. Está em curso uma renovação operacional, estrutural
e genética. São inúmeras as alterações que foram, estão [a ser] e serão
implementadas”, explanou.
O CEMA
destacou que, em 2022, os navios portugueses estiveram 4.867 dias empenhados em
missão, um valor “verdadeiramente excecional” para uma Marinha da dimensão da
portuguesa: “Num país cheio de necessidades é, muitas vezes, difícil encontrar
forma de assegurar o justo equilíbrio entre o esforço, a disponibilidade, as
competências que a Marinha e a sua atuação no mar exigem, quando
contrabalançadas pelas respetivas contribuições.”
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Já a
ministra da Defesa Nacional, que presidiu ao desfile militar, assegurou que o
Plano de Ação para a Profissionalização do Serviço Militar, que visa “recrutar
e reter os melhores”, tem sido “uma prioridade”. “Estou certa de que
continuaremos a avançar em conjunto em prol desse e doutros objetivos,
melhorando as condições daqueles e daquelas que escolhem esta profissão”,
disse, afirmando “a total confiança” da tutela na liderança e na visão do atual
CEMA.
A governante
lembrou que “a Marinha tem em curso um extenso plano de renovação e
modernização que visa a otimização tecnológica nos próximos anos” e apontou a
Lei de Programação Militar, em discussão no Parlamento, como “a maior proposta
de sempre”, num investimento estimado 5,5 milhões de euros. É disso exemplo o
concurso para a aquisição de seis navios de patrulha oceânica, inserido no
programa de renovação da frota da Marinha, lançado no dia 19. “São fundamentais
para assegurar uma atuação eficaz nos espaços sob soberania e jurisdição
nacional”, frisou Helena Carreiras, que referiu as várias missões de navios
portugueses no estrangeiro, para destacar que “todas reforçam, de forma clara e
inequívoca, o papel de Portugal, enquanto parceiro e aliado de confiança”.
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Após o
desfile de cerca de 500 militares e dos veículos, na Rua Nova da Alfândega
(sentido Alfândega-Ribeira), o público assistiu à demonstração de capacidades
da Marinha e da Autoridade Marítima Nacional. Foi feita a simulação de
salvamentos marítimos, deteção de incêndio numa embarcação em alto mar, socorro
através de barcos e helicópteros e a atuação de equipas em casos de sequestros
ou pirataria marítima.
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Também é de referir que, nestas comemorações, esteve em realce um marco
histórico do património da Foz, por vezes, despercebido para os transeuntes,
mas com primordial importância para marinheiros e para gentes que fazem do mar atividade
profissional ou de lazer. É o marégrafo, que dá nome ao local, na envolvente ao
Farol-Capela de S. Miguel-o-Anjo.
O marégrafo
é um instrumento científico de registo da variação da maré ao longo do tempo,
cujos resultados servem para determinar o nível médio das águas do mar e a
elaboração das primeiras tabelas de maré. O da Cantareira é um dos poucos que,
para lá de registar a maré em papel, possibilita a visualização da mesma,
através da escala existente no exterior.
As marés,
inquietação astral e previsível dos oceanos, marcaram o ritmo de entrada dos
barcos na barra do Douro ao longo de séculos. Os navios faziam trajeto
arriscado, manobrados por experientes pilotos orientados pelo facho do
Farol-Capela de São Miguel-O-Anjo e pelas balizas do rio e pelas suas margens –
manobras arriscadas e que obrigavam a redobrada atenção à entrada da foz. Testemunha
de tantos perigos desde finais do século XIX, o Marégrafo da Cantareira
tornou-se sentinela, desde há mais de 100 anos, registando o nível médio das
águas da barra, através da boia que flutua num poço. Este pontal, onde assenta
a capela renascentista, é conhecido como o Cais do Marégrafo, a que se junta um
anemógrafo.
O marégrafo que
envolve a zona do Farol-Capela de São Miguel-O-Anjo, do século XVI, é o
primeiro edifício renascentista português e o mais antigo farol de Portugal.
Foi desativado no século XVII e classificado, em 1951, como Imóvel de Interesse
Público.
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Um grande
evento de exibição da Marinha e da Invicta!
2023.05.22 – Louro de Carvalho
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