Na
sequência de igual medida tomada, recentemente, nos Estados Unidos da América
(EUA), o Banco Central Europeu (BCE) voltou a subir as taxas diretoras de juros,
mas de forma mais moderada, ficando, doravante, nos 3,25%, o valor mais elevado
dos últimos 15 anos.
Esta
medida, anunciada a 4 de maio, interrompeu um ciclo de fortes subidas das taxas
diretoras, com uma subida de apenas 25 pontos base
nas taxas de juro na Zona Euro, como esperado e antecipado
por vários responsáveis da autoridade monetária.
A
razão do novo aumento tem a ver com as perspetivas de inflação, que se mantêm demasiado elevadas. Ou
seja, a decisão do Conselho do BCE foi ditada pelas atuais pressões inflacionistas.
Esta
decisão, de 4 de maio, acontece depois de, em julho e em setembro,
o BCE ter começado por aumentar o juro da moeda única em 75 pontos base, a que
se seguiram três subidas consecutivas de 50 pontos base. “A inflação global
diminuiu nos últimos meses, mas as pressões subjacentes sobre
os preços permanecem fortes”, disse o BCE, vincando que,
“simultaneamente, os anteriores aumentos das taxas estão a ser transmitidos de
forma vigorosa às condições monetárias e de financiamento da área do euro,
embora os desfasamentos e a força da transmissão à economia real permaneçam
incertos.”
Na verdade,
a autoridade monetária considera que, enquanto as recentes subidas dos juros
estão a ter impacto nas condições de financiamento na zona euro, já não é certo
que estejam a chegar à economia real.
Com
este aumento das taxas de juro, o Comité de Política Económica do BCE
eleva a taxa dos depósitos para 3,25%, o valor mais
elevado desde outubro de 2008, e as taxas de juro
aplicáveis às operações de refinanciamento e de cedência de liquidez passam
para 3,75% e 4%, respetivamente.
Antecipando
este resultado, Franck Dixmier, diretor global de Investimentos em obrigações
da Allianz Global Investors (AllianzGI), revelou que “ao contrário da FED
(Reserva Federal Norte-americana), o Banco Central Europeu ainda está longe do
fim do ciclo de endurecimento da política monetária”, antecipando assim que, na
próxima reunião do BCE, a realizar em junho, o BCE volte a aumentar mais 25
pontos base as taxas de juro.
Além
da subida das taxas de juro, o BCE revela que continuará a
reduzir a carteira do programa de compra de ativos (APP) do Eurossistema a um
“ritmo medido e previsível.” “Em consonância com estes
princípios, o Conselho do BCE espera descontinuar os reinvestimentos ao abrigo
do APP a partir de julho de 2023”, lê-se no comunicado que dá conta das medidas
agora anunciadas.
E o BCE
nota que os reinvestimentos ao abrigo do programa de compra de ativos devido à
emergência pandémica (pandemic emergency purchase programme – PEPP) estender-se-á, pelo menos, até final de 2024.
“Em qualquer caso, a futura descontinuação da carteira do PEPP será gerida de
forma a evitar interferências com a orientação adequada da política monetária.”
A entidade liderada
por Christine Lagarde O BCE garante que as futuras decisões vão assegurar o
regresso da inflação aos 2%, o principal objetivo de médio prazo da autoridade
monetária, que vai manter-se vigilante, continuando a monitorizar de perto a
evolução da economia, e que promete manter o programa de redução de compra de
dívida, como previsto, no Eurossistema.
Esta
sucessão de aumento de juros começou com 50 pontos base, seguiram-se algumas
subidas de 75 pontos base e o regresso aos 50 pontos base. Neste mês, o BCE
decidiu aumentar os juros de referência em 25 pontos base, o que acontece pela
primeira vez desde julho 2022, segundo dados do Banco de Portugal (BdP) – data
em que terminou um longo período em que os juros estiveram a zero ou mesmo
negativos.
***
O BCE tomou esta decisão de política monetária na sequência do que fez a
Reserva Federal dos Estados Unidos da América (FED), a 3 de maio, ao anunciar
uma nova subida das taxas de juro (o décimo aumento num ano), de 25 pontos
base, mantendo a determinação de conter a inflação, apesar dos sinais da
desaceleração da economia e da recente crise bancária, mas não indicando se
esta poderá ser a última subida antes de uma pausa, devido à instabilidade do
sistema bancário.
Segundo agência Efe, este aumento
está em linha com o previsto pelos analistas e surge num contexto de elevada
instabilidade bancária.
A principal taxa da FED encontra-se, agora, no intervalo de 5 a 5,25%, a
mais elevada desde 2006, decisão tomada por unanimidade, como anunciou a
instituição, em comunicado divulgado após a reunião do seu comité de política
monetária (FOMC).
No comunicado, as autoridades da FED especificam, apenas que observarão os efeitos
das sucessivas decisões e o atraso com que afetam a economia real, bem como a
“evolução económica e financeira”, para decidir sobre a necessidade ou não de
mais medidas.
Esta posição marca uma mudança de tom em relação às reuniões anteriores,
quando se antecipou a necessidade de continuar a aumentar as taxas.
A crise bancária deu um apoio inesperado à luta da FED contra a inflação:
“O aperto das condições de crédito às famílias e às empresas deverá pesar na
atividade económica, nas contratações e na inflação”, sublinhou a autoridade
bancária dos EUA, frisando que “o sistema bancário é sólido e resiliente”.
***
Perante
estas notícias, que deixam ansiosas muitas famílias, já a braços com a inflação
e as dificuldades em pagar as suas contas, e surgem várias questões a que não é
fácil de responder.
Desde logo, é difícil saber quando vão parar de aumentar as taxas de juro,
devido à incerteza da evolução das economias e do facto de, apesar de Christine
Lagarde, dizer que o BCE não depende da FED, ter necessidade de estar atento à
conjuntura internacional e, em particular ao que se passa nos EUA. Com efeito,
embora se diga, por vezes, o contrário a falência de bancos norte-americanos
tem reflexos na banca europeia. Por isso, segundo
vários especialistas, as subidas ainda devem continuar, pelo menos, por mais
dois meses, dentro desta ordem de grandeza.
Isto
significa que, no horizonte, se perspetivam mais duas subidas das taxas diretoras
em 25 pontos base, em junho, e depois em julho, altura em que se completa
justamente um ano desde que o BCE começou esta escalada das taxas de juro,
quando a taxa de refinanciamento, a principal taxa de referência, estava a
zero.
Hoje os
governadores dos bancos centrais decidiram-se por uma subida de 0,25%, o que
quer dizer que, ao sétimo aumento, optaram por interromper um ciclo de fortes
subidas. Logo em julho do ano passado, o aumento foi de 50 pontos base, depois
seguiram-se duas subidas de 75 pontos base, em setembro e outubro, a que se
seguiram três subidas consecutivas de 50 pontos base.
Com a subida
anunciada hoje, a principal taxa de juro fixa-se nos 3,75%.
Este aumento
já era esperado pelos mercados, o que quer dizer que os custos dos empréstimos
já estavam a subir, antecipando o anúncio do BCE. Por exemplo, se falarmos na
taxa Euribor a seis meses, que, até há bem pouco tempo, era a mais utilizada no
crédito à habitação, encontra-se nos 3,62%, e a de 12 meses, mais utilizada nos
novos empréstimos, está nos 3,84%. Ambas deixaram de estar em terreno negativo
há 11 meses.
Isto significa
mais um agravamento na prestação mensal no momento da revisão da taxa. Por
exemplo, num empréstimo de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread de 1%, com a
Euribor a 6 meses, a família pagará uma prestação de cerca de 784 euros, mais
cerca de 22 euros do que já pagavam. E, tomando como exemplo a Euribor a 12
meses, a prestação mensal passa para 805 euros, o que significa um aumento de
perto de 23 euros.
Esta será a
subida que se vai sentir no mês de revisão da taxa. Poderá até nem parecer
muito elevada, mas é preciso ter em conta que é mais uma de entre várias
subidas já concretizadas e os aumentos que se antecipam no início do verão.
Assim, entre
maio do ano passado e este mês, o aumento é de 300 euros na prestação mensal.
Com esta
medida, o BCE pretende reduzir a inflação, uma vez que juros mais altos fazem
diminuir a procura, ou seja, as pessoas compram menos e os preços começam a
baixar ou, pelo menos, a subir mais devagar.
O BCE quer
que a taxa de inflação recue para os 2%, na Zona Euro e até parecia que
estávamos no caminho certo, só que, após seis meses a recuar, em abril a
inflação subiu uma décima para os 7%. E a estima para este ano aponta para uma
taxa de inflação de cerca de 6% e, pelos cálculos do BCE, os 2% só deverão ser
atingidos até 2025.
***
Enfim, enquanto
a banca nada perde (ou, se perde, é por má gestão e aventureirismo), famílias e
algumas empresas sofrem. O dinheiro não está ao serviço da economia e esta não
está ao serviço das pessoas. É de questionar por onde anda o pregão: “As
pessoas, primeiro!”
2023.04.04 –
Louro de Carvalho
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