Esse lugar é o Santuário de Fátima, como o explicitou D. José Ornelas,
bispo de Leiria-Fátima, na conferência
de imprensa que antecipou a peregrinação deste 12 e 13 de outubro, a sexta
peregrinação internacional aniversária de 2022, que assinala a 6.ª aparição da Virgem
na Cova da Iria, em 1917. Disso vem dando testemunho o jornal Voz da Fátima, que perfez 100 anos.
“Está bem implícita na Mensagem de Fátima” – vincou o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que presidiu às celebrações da peregrinação
– “a paz, a preocupação com o mundo e o seu futuro”.
D. José
Ornelas perspetivou Fátima como lugar onde a paz assume um caráter central, num
“mundo que vive horas complicadas”, com a guerra na Ucrânia após o
período de pandemia. E, evocando a consagração da Rússia e da Ucrânia ao
Imaculado Coração de Maria a partir de Roma e da Cova da Iria, no passado mês
de março, e a oração do Rosário pela paz no mundo em união com o Bispo de
Roma, no final de maio, frisou que “a paz e a preocupação com o mundo e o seu
futuro estão bem implícitas na Mensagem de Fátima, desde os seus inícios”.
Perante a
atual conjuntura de convulsão no mundo, o presidente da peregrinação encareceu
a importância de um “consenso global” que atente nos mais frágeis, manifestando
a atenção da Igreja a esta mesma realidade. E alertou: “A guerra põe em causa a
paz e a segurança, (…) com muitas atrocidades cometidas (…) e traz repercussões
económicas para o mundo inteiro. (…) É importante a busca de consenso,
para assegurar que os mais pobres não sejam aqueles que paguem a fatura das
dificuldades que estamos a viver.”
O prelado focou
os “passos determinantes” do processo sinodal na Igreja, que trazem consigo a esperança
de um “tempo de transformação e desenvolvimento”, com soluções a derivar do “pluralismo
de opiniões” que marca esta realidade. De facto, o encetado processo
sinodal fez nascer a esperança na maioria das paróquias, pois mexeu com o modo
de organizar a Igreja, pela participação de todos, nomeadamente a laical, na
responsabilização e condução da Igreja, relevando a importância da procura, na
Igreja na Europa, de soluções atentas à internacionalidade, à migração e à paz,
que possam alimentar a assembleia sinodal dos bispos em Roma, em 2023.
Enfatizando
a importância do “cuidar e transformar” na Igreja, o presidente da CEP abordou,
ainda, a investigação em curso sobre os abusos sexuais na Igreja, reforçando a
ideia de se estar “num ponto de viragem”, após a constituição de uma comissão
independente para analisar os casos acontecidos nos últimos 50 anos. Explicitou:
“Nos últimos 20 anos, têm-se repensado procedimentos e traçado linhas de
conduta que estão a transformar o modo de encarar, de perceber e de tratar
estes acontecimentos trágicos e dramáticos, que nunca deviam ter acontecido. A
existência da Comissão significa um esforço grande que estamos a fazer, porque
não nos conformamos com aquilo que sabemos que existiu também na Igreja.” E
vincou a independência da Comissão que vem analisando os abusos sexuais
ocorridos na Igreja portuguesa.
Sobre os
casos que lhe dizem diretamente respeito e que a comunicação social veicula, D.
José Ornelas garantiu não ter havido “nenhuma manobra de encobrimento” e que o
tratamento das situações foi sempre feito “com o conhecimento que se tinha dos
casos, na altura, tendo os mesmo sido submetidos à Procuradoria-Geral da
República e posteriormente arquivados”.
Presente no encontro
com os jornalistas, no âmbito da conferência de imprensa, o reitor do Santuário
revelou dados sobre a afluência de peregrinos na Cova da Iria, até setembro
deste ano.
Dos 2133
grupos inscritos nas celebrações, 1340 foram estrangeiros e 793 portugueses,
registando-se um aumento de 653 grupos em relação ao período homólogo do
ano passado.
Entre os
grupos estrangeiros, os espanhóis foram os mais numerosos e os que mais
depressa regressaram ao Santuário após a pandemia, seguindo-se os da
Polónia, da Itália e dos Estados Unidos da América (EUA), com a presença de
grupos asiáticos, mas longe dos números registados antes da pandemia. Sobre
isto afirmou o padre Carlos Cabecinhas: “Estes dados mostram que a afluência a
Fátima começa a regressar àquilo que eram os registos habituais antes da
pandemia e dão-nos alento para encararmos o próximo ano com esperança renovada,
apesar da guerra na Ucrânia e da situação económica difícil em que os nossos
países se vêm mergulhados.”
O padre
Carlos Cabecinhas deu a conhecer as iniciativas do Santuário de Fátima para o
contexto da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa (JMJ), em agosto de 2023 – momento
para o qual o Papa já assumiu a sua presença na Cova da Iria –, a começar
pelo tema do próximo ano pastoral em Fátima: “Maria
levantou-se e partiu apressadamente”, intimamente ligado ao tema
da JMJ.
Integrado na
dinâmica da JMJ, sobretudo no período que antecede e precede o encontro mundial
de jovens, o Santuário oferece um programa sobretudo dirigido para os jovens,
onde se sublinhará o sentido da peregrinação, com a oferta de seis percursos
para chegar à Cova da Iria, que variam entre 12 e 5 quilómetros. Está a
preparar para os jovens que virão a Fátima diversos workshops de reflexão e oração, em formato de itinerário do
peregrino, com esquemas de vivência espiritual de Fátima, tendo como eixo comum
o círio pascal da Capelinha das Aparições e contemplando as aparições de
Fátima, a espiritualidade dos Pastorinhos e os diversos espaços do Santuário e
o seu património artístico. E haverá a uma proposta para os dias das dioceses,
com celebrações internacionais, no Recinto de Oração, e momentos de oração, na
Capelinha das Aparições. Em maio de 2023, realizar-se-á um momento
particularmente importante, com a presença na Cova da Iria dos símbolos da JMJ,
que serão integrados nas celebrações de Fátima. Está também em fase de
preparação a criação de uma “Aldeia Jovem”, que acolherá os jovens sobretudo nos
períodos pré e pós JMJ.
No final, o
reitor do Santuário de Fátima assinalou a celebração do centenário do jornal Voz da Fátima, que aconteceu neste 13 de
outubro, relembrando o percurso e a importância do mensário na história de
Fátima: “Foram 100 anos com 1200 números, sempre a cada dia 13, a contar o
ritmo do Santuário e a olhar para fora do próprio Santuário, com a preocupação
com a verdade sobre o que se diz, faz e pensa sobre Fátima, para que os seus
leitores possam, a partir dessa verdade, ler e interpretar o mundo, procurando
sempre incentivar o sentido crítico diante o que lhes é oferecido pelo mundo
das notícias.”
***
Efetivamente,
passou, a 13 de outubro, o centenário Voz
da Fátima, boletim mensal do Santuário de Fátima, cujo objetivo é publicar
notícias e informações relativas aos acontecimentos de Fátima.
Durante o
último ano, o Santuário de Fátima assinalou o centenário do seu órgão oficial
em inúmeras iniciativas, que destacaram a relevância e deram a conhecer a
história do mensário.
“Não é
possível fazer a história de Fátima – mensagem, protagonistas e vida do
santuário – sem passar pelas páginas da Voz
da Fátima. Aí encontramos os relatos das grandes peregrinações, o
testemunho dos grandes momentos de Fátima, a preparação e o acompanhamento das
visitas dos Papas e de outras figuras relevantes da Igreja”, lembrara o padre
Carlos Cabecinhas, nas Jornadas de Comunicação, realizadas na Cova da iria, com
o tema do centenário da publicação em pano de fundo, envolvendo especialistas
da academia e responsáveis da imprensa de inspiração cristã na reflexão sobre o
papel do jornalismo católico na construção do Portugal moderno.
O programa
comemorativo iniciou-se há um ano, com a edição de outubro, publicada com
mais quatro páginas, dedicadas aos 100 anos da publicação, e uma sobrecapa que
reproduziu a primeira edição. A partir de então e durante o último ano, acompanhou
todas as edições comemorativas um selo comemorativo do centenário. Em novembro,
foi inaugurada uma exposição mural nos painéis das alamedas do Recinto de Oração,
que mostrou as primeiras páginas do primeiro ano de publicação, bem como as
páginas mais emblemáticas e os assuntos mais relevantes que atravessam os cem
anos do mensário, que é espelho do crescimento do Santuário de Fátima.
Em fevereiro
de 2022, uma parceria com o único museu das notícias em Portugal inaugurava uma
exposição dedicada aos 100 anos do jornal Voz
da Fátima no News Museum, em
Sintra, onde os visitantes puderam, num formato audiovisual, percorrer, pelo
olhar do mensário, as preocupações de Portugal e do mundo em cada época, desde
os primórdios da publicação, à II Guerra Mundial, à Guerra Fria ou à Revolução
de Abril em Portugal.
Em junho, a
edição foi escrita, editada e publicada por crianças de todo o país.
Neste
encerramento do centenário, foi dada à estampa uma publicação científica sobre
o jornal, com o contributo de investigadores de diferentes universidades
portuguesas, tendo a coordenação do Diretor do Departamento de Estudos do Santuário,
serviço que contribuiu também com alguns textos produzidos pelos seus
investigadores.
A decisão de
criar um boletim mensal para publicar todas as notícias e informações relativas
aos acontecimentos de Fátima e, em concreto, das aparições foi assumida a 4 de
maio de 1922, no âmbito de uma Comissão Canónica criada pelo então bispo de
Leiria, D. José Alves Correia da Silva, para investigar os acontecimentos de
1917. O primeiro número sairia a 13 de outubro de 1922, com uma tiragem
inicial de 6 mil exemplares, que chegou a aproximar-se dos 250 mil em 1954.
Publicado a cada dia 13 ininterruptamente, atualmente, a tiragem do mensário
situa-se nos 62 mil exemplares, estando também disponível na página online do
Santuário.
Desde a
fundação, teve vários editores e a redação foi assegurada por muitos
colaboradores. Desde 1976, o jornal passou a ser dirigido pelo reitor do
Santuário de Fátima em funções.
2022.10.13 – Louro de Carvalho
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