Com
o mundo a tentar voltar à normalidade no atinente à covid-19, há agora
informações de alerta a que estejamos atentos e a que se redobrem os cuidados.
O diretor-geral
da Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, a 19 de outubro, que decidiu
manter a pandemia da covid-19 como uma emergência de saúde pública
internacional, na sequência da recomendação do comité de emergência, uma vez
que o coronavírus continua a afetar “negativa e fortemente a saúde da população
mundial”, registando ainda um número de mortes consideravelmente alto em
comparação com outros vírus respiratórios.
De acordo
com um comunicado da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus concorda com o parecer do
comité em relação à pandemia e “determina que o evento continua a constituir
uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional” (PHEIC, na sigla
em inglês).
É de realçar
que a PHEIC é o nível
mais alto de alerta e se aplica a “um evento extraordinário, grave, repentino,
incomum ou inesperado”, com implicações para a saúde pública para lá da
fronteira nacional de um Estado afetado, podendo exigir uma ação internacional
imediata.
Segundo a
OMS, os peritos de vários países que aconselham a organização concordaram que a
covid-19 se mantém como “evento de saúde pública que continua a afetar negativa
e fortemente a saúde da população mundial” e “ainda há o risco de novas
variantes agravarem o impacto contínuo na saúde, particularmente à medida que o
inverno se aproxima no hemisfério norte”, o que exige “a necessidade de uma
resposta internacional coordenada para enfrentar as desigualdades no acesso a
ferramentas que salvam vidas”.
A
organização sediada em Genebra salienta que, embora as mortes semanais estejam
próximas do valor mais baixo desde que a pandemia começou, tal número
“permanece alto em comparação com outros vírus respiratórios”. Por outro lado, o
comité de emergência, na sua recomendação, considerou as dúvidas sobre as caraterísticas
genéticas e antigénicas das futuras variantes do SARS-CoV-2, que são agravadas,
em grande medida, pelas “lacunas atuais” na vigilância global, que dificultam a
identificação e a avaliação atempada dessas mudanças. A evolução contínua do
vírus pode “representar desafios para as vacinas e terapêuticas atuais”, pois
ainda permanecem “iniquidades no acesso” à vacinação e a tratamentos entre
países.
Nos termos
do comunicado em referência, o comité observou que, no geral, “a situação
permanece dinâmica e requer reavaliações frequentes”, devendo o término da
PHEIC, quando considerado viável, ser implementado “da forma mais segura
possível”.
Na sequência
da decisão de manter a covid-19 como PHEIC, Tedros Adhanom Ghebreyesus emitiu
uma série de recomendações temporárias para os países, entre as quais o reforço
da vigilância do SARS-CoV-2, melhorando, quando necessário, a capacidade de detetar
e avaliar as variantes emergentes e mudanças significativas na epidemiologia da
covid-19. Além disso, importa alcançar as metas nacionais de vacinação, com a proteção
integral dos grupos de risco, manter uma resposta nacional forte à pandemia,
com a atualização dos planos de preparação e resposta, e adaptar as medidas de proteção
individual à mudança do contexto epidemiológico.
Recorde-se
que o comité de emergência para a covid-19 realizou a sua primeira reunião a 22
e 23 de Janeiro de 2020 e, dias depois, o diretor-geral da OMS declarou que o
surto de SARS-CoV-2 constituía uma emergência de saúde pública internacional.
Com efeito, a este comité, que reúne por convocação do diretor-geral da OMS,
cabe verificar se um surto constitui emergência de saúde pública e propor
medidas temporárias para prevenir e reduzir a propagação de uma doença e gerir
a resposta global à saúde pública, se necessário.
Por
sua vez, o Centro Europeu de Prevenção e
Controlo de Doenças (ECDC), a 21 de outubro, alertou para a possibilidade de
uma nova linhagem da variante Ómicron passar a ser dominante na Europa até dezembro,
o que poderá provocar um aumento de contágios.
Na
verdade, as previsões do ECDC, nos termos de
um comunicado seu, indicam que a “BQ.1 e a sua sublinhagem BQ.1.1 se tornarão
dominantes na União Europeia (UE) e no Espaço Económico Europeu (EEE) entre
meados de novembro e o início de dezembro de 2022”. Assim, caso se confirme
essa previsão, poderá verificar-se na Europa um aumento do número de casos de covid-19
nas próximas semanas.
Estudos
laboratoriais preliminares na Ásia indicam que a BQ.1 tem a capacidade de
escapar à resposta do sistema imunológico, mas, segundo os dados disponíveis,
“não há evidência de que possa estar associada ao aumento da gravidade da infeção
em comparação com as variantes BA.4 e BA.5 da Ómicron”. Não obstante, o ECDC
disse esperar que a BQ.1 (em conjunto com a sublinhagem BQ.1.1) seja
responsável por mais de 50% das infeções até ao início de dezembro, uma
prevalência que deve subir para os 80% no início de 2023.
“Pelo menos
cinco países da UE/EEE detetaram a circulação” da BQ.1 na semana de 3 a 9 de outubro,
adiantou o ECDC europeu, ao avançar que a França, Bélgica, Irlanda, Países
Baixos e Itália foram os países que registaram as percentagens mais elevadas
nas amostras recolhidas.
Fora da UE/EEE, os países com maiores
percentagens registadas nas amostras recolhidas no início de outubro são a
Suíça (9%) e o Reino Unido (8%).
Em Portugal,
de acordo com o último relatório do Instituto Ricardo Jorge (INSA), a
sublinhagem BQ.1.1 tem aumentado de frequência em Portugal, chegando aos 4,9%
nas últimas semanas. E
o índice de transmissibilidade (Rt) do coronavírus SARS-CoV-2 que provoca a
covid-19 subiu para os 0,88 em Portugal, com uma média de 972 novos casos por
dia.
Por tudo isto,
como salientou a diretora do ECDC, Andrea Ammon, citada no referido comunicado,
“os países devem permanecer vigilantes para sinais de emergência e disseminação
da BQ.1 e manter uma testagem representativa”, assim como monitorizar as taxas
de casos de covid-19 e os indicadores de hospitalizações, especialmente em
pessoas com 65 ou mais anos.
***
Entretanto,
o Governo fez cessar o estado de alerta a 1 de outubro. E o último relatório do
INSA (de 20 de outubro), assumido pela Direcção-Geral de
Saúde (DGS), considera que a consequente alteração da testagem induziu a verificação
de uma descida acentuada da incidência e valor do R(t), mas alertou que estes
dados podem não corresponder a decréscimos reais.
O
objetivo deste relatório era apresentar as estimativas da curva epidémica da
infeção por SARS-CoV-2 por data de início de sintomas e as estimativas dos
parâmetros de transmissibilidade R0 (número básico de reprodução) e R(t)
(número de reprodução efetivo em função do tempo).
Foram
três os métodos seguidos: correção da curva epidémica de SARS-CoV-2/COVID-19 em
Portugal para o atraso de notificação de casos confirmados (Nowcasting); estimativa dos parâmetros
epidemiológicos número básico de reprodução (R0) e número efetivo de reprodução
(R(t)); e posicionamento de Portugal no contexto europeu em termos de
transmissibilidade R(t) e taxa de notificação acumulada a 14 dias.
Após
a correção da curva epidémica para o atraso de notificação, estima-se que até
15-10-2022 tenham ocorrido 5.512.398 casos. O valor médio do R(t) (número de
reprodução efetivo) para os dias de 11-10-2022 a 15- 10-2022 foi de 0,88,
podendo o seu verdadeiro valor estar entre 0,87 e 0,89 com uma confiança de
95%. Foram ainda estimados os seguintes valores de R(t) para as regiões: 0,84
na região Norte, 0,88 na região Centro, 0,89 na região LVT, 0,79 na região
Alentejo, 0,80 na região Algarve, 1,09 nos Açores e 1,22 na Madeira. No
comparativo Europeu, Portugal apresenta a taxa de notificação acumulada de 14
dias entre 120 a 239.9 casos por 100.000 habitantes e R(t) inferior a 1, ou
seja, taxa de notificação elevada e com tendência decrescente.
Segundo o boletim epidemiológico
semanal da DGS (de 21 de outubro), em relação à semana anterior, registaram-se
mais 761 casos de infeção, verificando-se mais oito mortes na comparação entre
os dois períodos; no dia 17, estavam internadas 465 pessoas, mais 45 do que no
mesmo dia da semana anterior, com 32 doentes em unidades de cuidados
intensivos, mais quatro.
***
É de recordar
que a covid-19 é uma doença infeciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2. É certo
que a maioria das pessoas que contraem a doença tem sintomas ligeiros a
moderados e recupera sem necessitar de tratamento especial, porém, muitas ficam
gravemente doentes, pelo que necessitam de assistência médica e até de
internamento hospitalar e algumas morrem.
O vírus pode
propagar-se a partir da boca ou do nariz de uma pessoa infetada através de
pequenas partículas líquidas que a pessoa emite quando tosse, espirra, fala,
canta ou respira. Estas partículas vão desde gotículas respiratórias de maiores
dimensões a aerossóis mais pequenos.
Qualquer
pessoa pode ser infetada ao inspirar o vírus, estando perto de alguém com
covid-19 ou tocando em superfície contaminada e, a seguir, nos olhos, no nariz
ou na boca. O vírus propaga-se mais em ambientes fechados e espaços lotados,
bem como em períodos propícios à gripe.
Não
obstante, a não ser o uso de máscara em serviços de saúde e em lares de idosos,
nenhuma outra medida condicionante está em vigor. Temos apenas recomendações
dos especialistas.
Em
geral, os serviços aboliram as barreiras protetoras e os cidadãos perderam alguns
hábitos, nomeadamente de circulação de um único sentido, sempre que possível, de
entradas e saídas diferentes e de algum distanciamento físico. Em vez de termos
aprendido com uma pandemia que se tornou devastadora e criou incertezas e restrições
às liberdades, só desaprendemos…
Os sintomas da covid-19 são idênticos aos da gripe. Os
especialistas apelam, por isso, a que, em caso de tosse persistente, de
espirros e de febre, se use máscara, para proteção dos que nos rodeiam, e
lembram, uma vez mais, a importância da vacinação. Enfim, todo o cuidado é
pouco!
2022.10.25
– Louro de Carvalho
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