Após a
demissão de Boris Johnson, que, sem condições políticas para continuar na
governação, deixou o Reino Unido (UK – United Kingdom) no meio de uma crise
governativa, foi eleita líder do Partido Conservador Liz Truss, ex-ministra das
Finanças, que se tornou a primeira-ministra do país por indicação da Rainha
Isabel II, não a partir do Palácio de Buckingham, em Londres (Inglaterra), como é habitual, mas a partir do Castelo de Balmoral,
em Crathie
(Escócia).
Liz Truss saiu vitoriosa no decurso de 12 debates no termo dos quais destronou
o antigo ministro das finanças Rishi Sunak. E os resultados das
eleições para a liderança do Partido Conservador foram anunciados pouco
depois das 12,30 horas do dia 5 de setembro, tendo a eleita agradecido e
declarado sentir-se honrada com a confiança nela depositada.
Os agradecimentos abrangem o partido, a família, os amigos, os colegas
políticos e todos os apoiantes. E não deixou de homenagear Rishi Sunak e todos
os rivais por uma campanha que foi muito dura, revelando “o talento que há
dentro do Partido Conservador”.
Liz Truss formulou também uma nota de apreço ao “amigo cessante Boris
Johnson”, o homem que fez o Brexit, superou as dificuldades das campanhas de
vacinação contra a covid-19 e mostrou firmeza perante Vladimir Putin. E, sobre
o futuro, garantiu uma liderança conservadora na certeza de que irá cumprir
tudo o que prometeu em favor do país.
Com um eleitorado superior a 172 mil pessoas, Truss obteve mais de 81 mil
votos, ao passo que Sunak angariou cerca de 60 mil.Com uma vasta experiência
política, Liz Truss foi ministra júnior da Educação em 2012, passou a
secretária do Ambiente em 2014, ambos sob a direção de David Cameron, e fez
campanha ao lado do então primeiro-ministro no sufrágio do Brexit pela
permanência na União Europeia (UE) – posição que disse, mais tarde, estar
“totalmente errada”.
O apoio a Boris Johnson na sua ascensão a primeiro-ministro
viu-se compensado com os elevados cargos de secretária de Comércio
Internacional, ministra para as Mulheres e a Igualdade e, mais tarde, secretária
de Estado (equivalente ao ministro dos Negócios Estrangeiros português). À
saída de Johnson, manteve o seu apoio, o que lhe permitiu colocar-se como a
candidata da continuidade e ser eleita pelo partido.
Num verão marcado pelo agravamento da crise e pelo aumento do custo de
vida, a campanha eleitoral baseou-se em medidas de apoio aos mais afetados pelo
aumento da inflação e dos preços da energia. Assim, no último debate da
eleição, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros e agora primeira-ministra prometeu ser “ousada”
e governar “de maneira diferente”. Quando liderava nas
sondagens, garantiu uma reforma dos serviços financeiros e o corte nos
impostos e considerou “um erro aumentar a contribuição para a Segurança
Social”, mas assegurou que será possível, ainda assim, “pagar a dívida nacional
nos próximos três anos”.
No dia 6, Boris Johnson apresentou a sua demissão à rainha Isabel II. Pela
primeira em 70 anos de reinado, a cerimónia não se realizou no Palácio de
Buckingham, em Londres, mas no Castelo de Balmoral, em Crathie, no norte da Escócia, onde Liz Truss, que também ali se deslocou, foi
indigitada como primeira-ministra. A razão prende-se com dificuldades de
mobilidade da monarca de 96 anos que a levaram a faltar a vários eventos, neste
ano, e a delegar a representação nos herdeiros, em especial no filho
primogénito, príncipe Carlos.
***
Elizabeth Mary Truss, conhecida por
Liz Truss, nascida em
Oxford, a 26 de julho de 1975, é uma política britânica que atuou em vários governos do
UK. Estudou na Merton College, em Oxford, onde presidiu aos Liberais
Democratas da Universidade de Oxford e onde se formou em 1996, após o que ingressou
no Partido Conservador. Trabalhou nas empresas Shell e Cable &
Wireless, antes de se ser vice-diretora do think tank Reform. Eleita em 2010, tornou-se membro do
Parlamento, onde pediu reformas em várias áreas políticas, incluindo cuidados
infantis, educação matemática e economia. Fundou o grupo parlamentar Free
Enterprise Group of Conservative e escreveu ou coescreveu artigos e
livros, como Após a Coligação (2011) e Britannia Unchained (2012). E atuou como subsecretária parlamentar
de Estado para Assistência para o Departamento de Educação do governo, de 2012
a 2014, antes da nomeação para o Gabinete do primeiro-ministro David
Cameron como secretária de Estado do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais
na remodelação de 2014.
Embora tenha sido grande apoiante da mal sucedida campanha Britain
Stronger in Europe para o UK permanecer na UE no
referendo de 2016, acabou por apoiar o Brexit após o resultado. Depois
da renúncia de Cameron em julho de 2016, Truss foi nomeada secretária de Estado
da Justiça e Lorde Chanceler por Theresa May, tornando-se a primeira Lorde
Chanceler feminina nos mil anos de história do cargo (excluindo Eleanor de
Provence em 1253). Após as eleições gerais de 2017, foi nomeada secretária-chefe
do Tesouro. E, após a renúncia de May em 2019, apoiou a bem-sucedida tentativa de Boris Johnson de se tornar líder conservador. Este
nomeou Truss como secretária de Estado do Comércio Internacional e
Presidente da Junta Comercial. E, em 2021, nomeou-a secretária de Relações
Exteriores, sucedendo a Dominic Raab. Depois, foi designada como a principal
negociadora do Governo entre a UE e o Reino Unido, sendo presidente do Conselho
de Parceria UE – UK, a 19 de dezembro de 2021, sucedendo David Frost.
A
10 de julho de 2022, Truss anunciou a intenção de concorrer às eleições de
liderança do Partido Conservador para suceder a Boris Johnson como
primeiro-ministro. A 20 de julho, ficou em segundo lugar entre os parlamentares
conservadores e enfrentou o voto postal dos membros do partido contra Rishi Sunak. A 5 de setembro, foi
eleita líder com 81.326 votos, derrotando Sunak e tornando-se a terceira mulher
a assumir o cargo de primeira-ministra.
Liz
Truss, campeã do comercio livre, entra na campanha que encarna o cerne do conservadorismo
britânico. É um “falcão na política externa”, não hesitando em tomar posições
muito fortes contra a Rússia e contra a China; quer incluir a China na
lista de “ameaças oficiais” à segurança nacional britânica; e diz-se pronta
para iniciar uma guerra nuclear, se necessário for. Acreditando que o UK
deve cimentar a sua aliança com os Estados Unidos da América (EUA) e com a Australia em
vez de com os países europeus, recusou-se a dizer se o Presidente francês deve
ser considerado amigo ou inimigo. Insiste na agenda ousada de cortes fiscais maciços,
medida controversa por beneficiar sobretudo os mais ricos, e opõe-se à ajuda social
direta. Hostil aos sindicatos, propõe-se limitar o direito à greve. Também
quer reduzir os salários dos funcionários públicos, exceto os dos que trabalham
nas regiões de Londres e do Sudeste de Inglaterra, onde se vivem as famílias
mais abastadas e que são geralmente as mais inclinadas a votar no Partido
Conservador – atitude fortemente parcial. E, no tocante ao ambiente, Liz Truss
quer acabar com os impostos energéticos que financiam projetos de energias
renováveis e de isolamento doméstico, permitir a fratura hidráulica e
aumentar a perfuração de petróleo no Mar do Norte.
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O cargo de primeiro-ministro não resulta de estatuto ou documento
constitucional, mas de convenções cercadas de tradição, em que o monarca aponta
como primeiro-ministro a pessoa que tem mais condições de gerar
confiança na Câmara dos Comuns, ou seja, o líder do partido ou da coligação
de partidos que ocupa o maior número de lugares no Parlamento.
A posição de primeiro-ministro evoluiu de forma lenta e errática por um
período de mais de 300 anos com inúmeras leis no Parlamento, desenvolvimentos
políticos e eventos da história. As origens encontram-se nas mudanças
constitucionais ocorridas entre 1688 e 1720, após um século de
guerras civis e de revoluções, com o poder político passando do Soberano para
o Parlamento. Embora, nunca o Soberano tenha sido destituído dos
seus poderes ancestrais e permaneça legalmente como chefe de Estado e
do Governo, politicamente tornou-se premente, mas gradualmente, para o rei ou
rainha, governar através do primeiro-ministro, o líder do maior partido ou
coligação na Câmara dos Comuns, dando-lhe autoridade executiva sobre os negócios
de Estado como chefe do Governo do Reino Unido. Assim, as forças armadas que
têm como comandante-em-chefe o Monarca, mas são comandadas de facto pelo primeiro-ministro, que define as políticas de defesa,
com o consentimento do Parlamento.
Na década de 1830, emergiu o Sistema de Westminster de governo
(ou ‘governo de gabinete’), em que o primeiro-ministro se tornou o primus inter pares (o primeiro entre iguais) no gabinete
e chefe de Governo do Reino Unido. A sua posição política foi aumentada
pela configuração dos partidos políticos modernos, a introdução de meios de
comunicação em massa e da fotografia. No século XVIII, a figura do
primeiro-ministro tomou a forma agora vigente no UK.
***
Liz Truss é um importante elo da cadeia iniciada por Sir Robert Walpole, 1.º Conde de Orford, a 4 de abril de 1721, é o 15.º chefe de Governo no reinado de Isabel II e é a 3.ª mulher a ocupar o cargo. Politicamente continua a linha de Boris Johnson, acentuando a componente liberal. Mais e melhor do mesmo. Os trabalhistas que se cuidem! Será Liz Truss capaz de travar a ascensão da extrema-direita no Reino Unido? Porque não gosta da Europa?
2022.09.06 – Louro de Carvalho
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