Teve início,
a 22 de setembro, em Assis, o evento global “Economia de Francisco”, que contou
com a presença do Francisco a 24, dia de conclusão dos trabalhos e de
assinatura do Pacto.
O Santo
Padre expressou entusiasticamente o desejo de se encontrar com os jovens
economistas, empreendedores e agentes de mudança do mundo, que estão envolvidos,
há três anos, na “Economia de Francisco”, processo desejado e convocado pelo Pontífice,
para lançar as bases de uma nova economia, mais justa, équa e fraterna.
Nestes anos,
o Santo Padre manteve-se atualizado sobre as atividades realizadas pelos jovens
a quem deu palavras de inspiração e encorajamento em duas mensagens em vídeo
por ocasião dos eventos da “Economia de Francisco” que, devido à pandemia, foram
realizados online em 2020 e 2021. Porém, agora chegou o momento do almejado encontro
presencial em Assis.
Os
organizadores trabalharam muito para acolher cerca de mil jovens de mais de 120
países de todo o mundo, jovens que desejam contribuir para uma nova época de
pensamento e de práticas económicas. E os trabalhos iniciaram-se às 9,30 da
manhã, no Teatro Lyrick com a abertura oficial do evento, tendo-se encontrado os
jovens, a seguir, em sessões, discussões e mesas redondas, no Palaevent, para
apresentar ideias e projetos, enfrentar as questões económicas e os desafios
contemporâneos. Uma das temáticas foi: “a única guerra justa é a guerra que não
combatemos; mesa-redonda sobre a solidariedade internacional e a prevenção dos
conflitos armados”.
Ainda no
Palaevent houve os encontros para a apresentação de projetos, laboratórios
artísticos e colóquios em grupos, bem como a apresentação de livros e o muro da
gratidão, com frases dos jovens sobre a gratidão. E, no plenário do dia 24,
participaram alguns convidados seniores.
O programa completo
dos três dias, que se cumpriu entre o teatro Lyrick, o Palaeventi, em Santa
Maria degli Angeli, e o centro histórico, teve conferências, workshops e vilas temáticas. Tudo se
centrou na recolha das ideias e experiências geradas em todo o mundo nestes
três anos de trabalho.
Nestes dias,
houve espaço para momentos de diálogo entre os jovens com figuras de renome
internacional, para discutir as suas propostas e aprofundar os grandes desafios
do nosso tempo, a começar pela construção de uma economia de paz. Está
disponível uma área permanente incubadora para ideias-projetos, sessões de networking e workshops temáticos.
E o programa
da visita do Papa no dia 24, que foi integralmente cumprido, previa a saída às
9 horas do heliporto do Vaticano, o desembarque na praça próxima do Palaeventi
e a transferência do Santo Padre para o vizinho teatro Lyrick, de Santa Maria degli
Angeli. Ali, Francisco foi recebido por três jovens da “Economia de Francisco”,
pelo prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral,
cardeal Michael Czerny, por Dom Sorrentino, autoridades civis, membros do
Comité Organizador e representantes das famílias franciscanas e da Pro Civitate Christiana. O Pontífice chegou,
pois, às 10 horas, ao palco onde, após um momento artístico-cultural, tiveram
lugar as boas-vindas, a apresentação e oito testemunhos de jovens de todo o
mundo. A seguir, o Papa proferiu o seu discurso e assinou com os jovens o Pacto
da Economia para iniciar a mudança na economia desejada por ele mesmo.
Os
participantes na “Economia de Francisco” são jovens de todo o mundo que, nestes
últimos três anos, criaram uma verdadeira comunidade que produziu projetos,
iniciativas, estudos e materiais de aprofundamento. A idade média dos
participantes é de 28 anos; 30% vêm do mundo dos negócios e outros 30% da
pesquisa, enquanto 40% são agentes de mudança (estudantes, movimentos sociais,
ONG). A maior parte é proveniente da Europa (35%), da América Central e da
América do Sul (30%), de África (20%), mas a Ásia e a América do Norte também
estiveram representadas, tendo daí vindo 8 e 6% dos participantes, respetivamente.
Os jovens de
Assis reuniram-se nas 12 “aldeias” ou “vilas” temáticas que deram seguimento às
virtuais nas quais se trabalhou nestes dois anos de pandemia: “Trabalho e
cuidado”; “Gestão e doação”; “Finanças e humanidade”; “Agricultura e justiça”; “Energia
e pobreza”; “Vocação e lucro”; “Políticas para a felicidade”; “CO2 da
desigualdade”; “Negócios e Paz”; “Economia é mulher”; “Empresas em transição”; e
“Vida e estilos de vida”.
Tudo começou
com o convite que Francisco enviou, a 1 de maio de 2019, a economistas, agentes
de mudança, empreendedores e empreendedoras com menos de 35 anos em todo o
mundo. Nos dois anos anteriores, apesar da pandemia, foram envolvidos milhares
de jovens de 120 países dos cinco continentes, principalmente da Itália,
Brasil, EUA, Argentina, Espanha, Portugal, França, México, Alemanha e Reino
Unido. Foram dois eventos globais online realizados com transmissão ao vivo com
mais de 500.000 visualizações, mais de 50 webinars, cerca de 25 projetos
empreendedores, 2 The Economy of Francesco School on-line e
uma Escola de Verão presencial, uma EoF Academy com 18
pesquisadores e 25 membros seniores. E estiveram envolvidos mais de 50
especialistas de renome internacional (incluindo três galardoados com o Prémio
Nobel) e o Papa dirigiu duas mensagens em vídeo aos jovens.
Todas as
informações e notícias estão disponíveis no site www.francescoeconomy.org e
nas redes sociais oficiais do evento: Facebook @francescoeconomy; Instagram
@francesco_economy; Twitter @FrancescoEcon; YouTube e Flickr.
***
A “Economia
de Francisco” é um movimento internacional, um canteiro aberto em Assis que
abraça o mundo inteiro. Os rostos dos jovens economistas e empresários, cerca
de 1.000 chegaram de 120 países, refletem este respiro fraterno.
Hilú
Fernández, indígena peruana de Jaén, cidade no nordeste do país habitada por
índios Wampis e Awajún, levou a Assis o grito de dor dos povos indígenas,
incluindo o flagelo das drogas e do desmatamento. E, para Gabriela Matus, uma designer industrial guatemalteca, o
desejo central é entrar em contacto com outras pessoas e continuar o caminho
iniciado há dois anos.
Fernanda
Pérez Verón, de Mar del Plata, Argentina, enfatizou que o Papa lhes confiou um processo
que tem o sabor de um “gesto muito próximo”. E, para Iván Cabrera, de Ushuaia,
Terra do Fogo, Argentina, “a cidade mais austral do mundo”, foi um itinerário
muito bonito, que começou após a publicação da encíclica Laudato si’, quando o eco da mensagem do Pontífice sobre o cuidado
com a Casa Comum começou a crescer. E Henrique San Guess, que chegou de São
Paulo, não conseguiu conter a emoção e o sorriso por estar em Assis, cidade de
São Francisco: “É uma energia muito boa estar com o Papa e no meio desta
multiculturalidade. E nós trazemos o nosso grande Brasil.”
Leticia
Cristina Couto, mais conhecida como Leca, é uma jovem brasileira evangélica que
deixou os seus afazeres no Brasil, cruzou o Oceano Atlântico e se encontrou com
os jovens do mundo inteiro em Assis e com o Papa. E à Rádio Vaticano – Vatican News falou da sua alegria em se encontrar
com tantos jovens. Acredita que a nossa fé e as coisas pelas quais lutamos se
assemelham e não há por que não fazer parte disso. Fez uma pós-graduação e os
colegas da pós-graduação lhe deram a carta de Francisco a convocar os jovens,
carta que a tocou profundamente: “A carta emocionou-me muito. A Economia de
Francisco é uma ponte. O Papa Francisco transmite-nos tanto amor, tanta luz.”
***
“É possível
mudar, transformar uma economia que mata numa economia da vida”. Foi a
principal mensagem que o Papa deixou aos jovens reunidos em Assis no evento
“Economia de Francisco”, no discurso que proferiu e de que se respigam as
ideias reputadas como mais prementes.
O Pontífice,
para quem os jovens têm este potencial transformador, apelou a que não sejam
como os estudantes das Faculdades de Economia, com a cara fechada, mas criativos
e otimistas, e que apliquem já o seu entusiasmo a uma conversão ecológica, pois
“uma economia humana pede uma nova visão do meio ambiente”. Nos últimos dois
séculos, a terra foi saqueada para aumentar bem-estar, mas não o bem-estar de
todos. Por isso, “é este o tempo de nova coragem para abandonar as fontes
fósseis de energia, de acelerar o desenvolvimento de fontes com impacto zero ou
positivo”. Contudo, mudar implica estar disposto a fazer sacrifícios. Passar de
um estilo de vida insustentável para um estilo sustentável significa
transformar as dimensões social, relacional e espiritual. E, porque “é
necessária uma mudança rápida e firme”, Francisco diz contar com os jovens e
pede que “não nos deixem tranquilos”, que sejam corajosos e heróis, quando necessário.
Por outro
lado, é de ter em conta que, ao tentarmos salvar o planeta, não podemos ignorar
o homem e a mulher que sofrem, pois “a poluição que mata não é só a provocada
pelo dióxido de carbono, mas também a desigualdade polui o nosso planeta”. Por
isso, “as calamidades ambientais não podem cancelar as calamidades da injustiça
social e da injustiça política”. Deste modo, “fazer economia inspirando-se em
Francisco de Assis significa comprometer-se em colocar os pobres em primeiro
lugar” e em amá-los afetiva e efetivamente. E, “enquanto o sistema produzir
descartados e atuarmos segundo este sistema, seremos cúmplices de uma economia
que mata”. Ora, o capitalismo quer ajudar os pobres, mas não os estima. E disse
o Papa que “não devemos amar a miséria”, antes a devemos combater, mas, sem
estimar os pobres, não se combate a miséria.
Também o
estilo de vida insustentável que tantos e tantas vivem ataca “as relações
humanas, a começar pela família, incapaz de acolher e cuidar de novas vidas”. Daí
provém “o inverno demográfico, onde se preferem relações afetivas com cães e
gatos” e “as mulheres são as primeiras a ser penalizadas por terem de optar
entre filhos e carreira”. De facto, o consumismo atual quer preencher o vazio
das relações humanas com mercadorias sempre mais sofisticadas – “as solidões
são um negócio do nosso tempo!” –, mas “gera uma penúria de felicidade”. Por
sua vez, “o capitalismo gera insustentabilidade espiritual”, pois a técnica
ensina o que e como fazer, mas não ensina o porquê. E a falta de sentido torna
os jovens frágeis e incapazes de elaborar sofrimentos e frustrações, o que faz do
capital espiritual motor imprescindível para a mudança.
E o
Pontífice, nestas reflexões, deixou aos jovens três indicações de percurso:
olhar o mundo com os olhos dos mais pobres, investir em criar trabalho digno
para todos e ganhar concretude para que todas as ideias se transformem em ação.
A finalizar,
formulou uma oração em que pediu perdão a Deus por ferirmos a terra, não respeitarmos as culturas indígenas, por não
estimarmos e amarmos os mais pobres, por criarmos riqueza sem comunhão. Rogou
ao Pai que abençoe os jovens nos seus esforços, nos seus estudos, nos seus
sonhos; que os acompanhe em suas dificuldades e sofrimentos, ajudando a
transformá-los em virtude e sabedoria; que os apoie em seus desejos de bondade
e de vida; e que os sustente em suas deceções diante de maus exemplos.
***
Como
nota final, é de referir que, na
manhã de 24 de setembro, Francisco assinou, com cerca de mil jovens
provenientes de 120 países, reunidos em Assis para o evento global “Economia de
Francisco”, o Pacto, individualmente e todos juntos, no qual “se comprometem a
gastar suas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia
do Evangelho”, economia em que acreditam, que não é utópica, mas perfeitamente realizável.
2022.09.24
– Louro de Carvalho
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