segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Tornado de fogo assustador num incêndio florestal, em Alvite

 

A 8 e 9 de agosto, o país acompanhou todos os desenvolvimentos do incêndio em Alvite, no concelho de Moimenta da Beira, no distrito de Viseu, ainda por dominar, na manhã do dia 10, em que as condições climáticas adversas, além de porem em risco várias aldeias da zona da Serra da Nave, chegaram a criar um fenómeno raro chamado tornado de fogo.

O momento foi partilhado pela página Meteo Trás-os-Montes, a 9 de agosto, nas redes sociais, nomeadamente no Facebook.

Isto acontece quando um incêndio e as condições atmosféricas à sua volta criam um remoinho de ar que suga chamas e calor para o seu interior. O fenómeno começa com o intenso calor gerado pelo fogo, que aquece o ar em torno de si e o faz subir rapidamente, criando fortes correntes na vertical. Se existirem variações na direção e na velocidade do vento ou obstáculos no terreno, como colinas, árvores ou edifícios, o fluxo de ar pode começar a girar. Esta rotação concentra-se numa coluna de ar ascendente, que se mantém estável, por algum tempo, e continua a puxar oxigénio e calor para o centro.

Apesar de serem raros, os tornados de fogo também podem ocorrer em incêndios industriais ou urbanos, principalmente, quando há calor extremo, vento instável e grande quantidade de material combustível (madeiras, tintas, vernizes, serrim, palha, combustíveis fósseis, etc.).

Também conhecidas como “redemoinhos de fogo” ou “demónios de fogo”, estas colunas verticais de chamas rodopiantes não são, apesar de o parecerem, o típico tornado. No entanto, geralmente, atingem entre 10 a 50 metros de altura e vários metros de largura, mas a sua altura pode atingir centenas de metros de altura – e até mais de um quilómetro – e a sua a temperatura pode ultrapassar os mil graus centígrados (1000º C). Podem conter ventos superiores a 160 quilómetros, por hora. E têm a capacidade de destruir árvores de 15 metros de altura.

Embora a maior parte tenha uma duração de poucos segundos ou minutos, a de alguns pode ser de mais de 20 minutos.

Enquanto o tornado convencional (de vento e de poeira) se forma através da interação de ar quente e húmido próximo do solo, aliada à instabilidade atmosférica e a frentes de ar em colisão, os tornados de fogo surgem, devido à rápida ascensão do ar quente e seco, a partir do solo, mais ou menos, como se formam os redemoinhos de poeira, em dias quentes e de muito sol.

Fisicamente, o fenómeno resulta da criação de “chaminés” de ar quente que sobem até arrefecerem e se dissiparem em altitudes mais elevadas, como explica o Live Science, a 16 de maio de 2014, pela pena de Marc Lallanilla.

Marc Lallanilla – que possui um mestrado em Planeamento Ambiental pela Universidade da Califórnia, Berkley, e graduação pela Universidade do Texas, em Austin – é redator científico e editor de Saúde no About.com e produtor do ABCNews.com. Os seus textos freelance foram publicados no Los Angeles Times e no TheWeek.com.

Ao ser sugado para esta coluna ascendente, o ar começa a girar e forma um vórtice (movimento rápido e forte de um fluido em volta de eixo vertical ou em espiral) semelhante ao movimento da água num ralo. O efeito, regido pelo momento angular, faz com que a rotação acelere à medida que o ar se aproxima do centro.

Nos redemoinhos de poeira, o vórtice transporta areia, folhas e detritos; nos tornados de fogo, o ar ascendente arrasta brasas incandescentes, cinzas, gases quentes e destroços inflamáveis, criando esta torre de chamas que pode atingir centenas de metros de altura.

Estes fenómenos duram apenas alguns segundos ou minutos, mas são altamente perigosos, especialmente, pela temperatura que podem atingir: 1000º C ou mais. E os meteorologistas não se esquecem das suas ameaças. Em 2000, um tornado de fogo observado por equipas de combate a incêndios na Califórnia saltou uma faixa corta-fogo, levantou um veículo todo-o-terreno e atirou-o contra um SUV (Sport Utility Vehicle) – comparável a veículo todo-o-terreno, mesmo que a única coisa que tem comum seja a posição de condução elevada e as quatro rodas motrizes –, ferindo um bombeiro, como lembra a revista científica referida.

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Como assegura Marc Lallanilla, em 2024, dezenas de incêndios florestais devastavam as colinas do Condado de San Diego, no Sul da Califórnia, e milhares de bombeiros lutavam contra condições adversas, como ventos irregulares, terreno acidentado e calor extremo.
Mais de 57 quilómetros quadrados (14 mil acres) foram queimados por incêndios impulsionados pelos ventos quentes e secos de Santa Ana, permanecendo os incêndios fora de controlo, em muitas áreas. Além disso, estes dantescos infernos geraram dramáticos redemoinhos de fogo, demónios de fogo ou tornados de fogo. Essas imensas torres de chamas rodopiantes lembram algo saído de uma visão medieval do inferno.

“Um tornado de fogo não é exatamente um tornado”, esclarece Marc Lallanilla, prosseguindo: “Um verdadeiro tornado forma-se quando colidem três elementos-chave: ar quente e húmido próximo do solo; instabilidade atmosférica, uma condição que promove o movimento vertical do ar; e frentes de ar em choque, que agem para impulsionar o ar húmido para cima.”

No entanto, os tornados de fogo não são formados por condições atmosféricas elevadas, mas criados pelo ar quente e seco que sobe rapidamente do solo. Têm, pois, mais em comum com redemoinhos ou com “redemoinhos de poeira”, que se formam, normalmente, em dias quentes e ensolarados, quando o solo aquece o ar próximo.

De facto, como explica Marc Lallanilla, “à medida que o ar quente sobe do solo, forma colunas verticais, ou ‘chaminés’, até se tornar menos denso, esfriar e se dissipar em altitudes mais elevadas”; e, “à medida que mais ar quente é puxado para a coluna ascendente, começa a girar num vórtice semelhante ao vórtice formado, quando a água escorre de uma banheira”.

Esses vórtices são criados pelo momento angular de fluidos (líquidos ou gases, como o ar). O momento angular determina que, ao aproximar-se do centro de rotação um objeto, este acelera. Patinadores artísticos giratórios demonstram-no, quando puxam os seus membros em direção ao centro do corpo, pelo que giram mais rapidamente.

Num redemoinho de poeira, o ar quente que gira para cima num vórtice levanta areias, sujeira, folhas e tudo o mais que estiver no chão. Já um tornado de fogo levanta brasas, cinzas, gases incandescentes e detritos inflamáveis, criando uma torre de chamas aterrorizante que pode se estender, por centenas de metros, no ar, no mínimo, assustando fortemente as pessoas.

A maioria dos tornados de fogo dura apenas alguns segundos ou minutos – um dos motivos pelos quais raramente são registados em vídeo. À medida que o ar quente sobe e esfria, a sua força diminui, e qualquer combustível que tenha criado o tornado de fogo esgota-se.

No entanto, há tornados de fogo que podem ser extremamente perigosos, pois as temperaturas podem chegar a 1093 graus Celsius num tornado de fogo. Além disso, como se movem rapidamente, podem causar destruição, numa distância considerável, em apenas alguns segundos, e espalhar incêndios por uma área ampla.

Às vezes, até os especialistas se surpreendem com a força destrutiva do tornado de fogo: em 2000, um redemoinho de fogo sob observação de uma equipa do Departamento de Silvicultura e Proteção contra Incêndios da Califórnia saltou, como foi referido, sobre uma barreira de fogo, levantou um veículo todo-terreno do chão e lançou-o contra um SUV, esmagando parte do SUV e ferindo um membro da equipa.

Em 1926, uma série de tornados de fogo foi gerada após um raio ter atingido um parque de tanques da Union Oil Co., perto de San Luis Obispo, na Califórnia. O incêndio resultante durou cinco dias; e um redemoinho de fogo viajou para o Leste e atingiu uma casa, levantando-a no ar e carregando-a por um campo, até ser derrubada. Destruiu a casa e matou duas pessoas que estavam lá dentro.

Na opinião de Marc Lallanilla, talvez a pior série de tornados já registados tenha ocorrido durante os incêndios florestais que devastaram Peshtigo, em Wisconsin, e a área ao redor, em 1871. Alimentado por ventos quentes e secos e, provavelmente, provocado por técnicas agrícolas de corte e queima, um incêndio florestal que se deslocava até 161 quilómetros, por hora, atingiu a cidade e incendiou um dos vários depósitos de madeira da cidade. A tempestade de fogo resultante causou impressionantes danos: vagões, casas e edifícios comerciais foram lançados ao ar, e estima-se que foram queimados 1,5 milhão de acres (6070 quilómetros quadrados).

O fogo foi suficientemente intenso para fazer transbordar as águas da Baía Verde e queimar partes da Península de Door. Morreram, pelo menos, 1500 pessoas, muitas das quais foram enterradas em valas comuns, pois ninguém sobreviveu para identificar os corpos.

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Em suma, um redemoinho ou tornado de fogo é um raro fenómeno no qual o fogo, sob certas condições (dependendo da temperatura do ar e das correntes) adquire uma vorticidade vertical e forma um redemoinho ou uma coluna de ar de orientação vertical similar a um tornado de poeira e vento.

A maioria dos grandes tornados de fogo surge a partir de incêndios florestais (também surgem em incêndios industriais e urbanos) em que estão presentes correntes de ar quente ascendentes e convergentes. Usualmente, atingem de 10 a 50 metros de altura e poucos metros de largura e duram alguns segundos. Porém, alguns podem ter mais de um quilómetro de altura, conter ventos superiores a 160 km/h e durar mais de 20 minutos. Os redemoinhos de fogo podem destruir árvores de 15 metros de altura e, mesmo, casas.

Há quem aponte, como exemplos dos efeitos que pode ter um fenómeno destas caraterísticas, o que sucedeu em 1923, durante o Grande Sismo de Kantô, no Japão, que provocou uma tormenta de fogo do tamanho de uma cidade e produziu um redemoinho de fogo que matou a 38 mil pessoas, em 15 minutos, na região de Hifukusho-Ato, onde se situa Tóquio; e o que ocorreu, em 2019, na região Centro-Oeste do Brasil, mais precisamente nas cidades goianas.

Foram registados em vídeos e divulgados em alguns sites imagens desse fenómeno do Brasil, que intrigaram e assustaram os moradores das cidades de Goiás, como nas cidades de Santa Helena e Jandaia, que exploram e degradam o cerrado local, através do agro-negócio, por exemplo, lavouras de comodidades e pecuária.

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Em caso de tempestade, de sismo ou de incêndio, pode ver-se um pouco de tudo, até tsunamis e nuvens de rolo.

2025.08.11 – Louro de Carvalho


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