Dotado de excecional capacidade de persuasão com a qual levou centenas de homens aos pés de Cristo, incluindo toda a sua família, foi conselheiro de reis e de papas, escreveu vários livros e uma das orações mais formosas à Virgem Maria. Era conhecido como “o caçador de almas e de vocações” e “o oráculo da cristandade”.
Bernardo de
Claraval nasceu no castelo de Fontaine-les-Dijon, localizado na Borgonha
(França), em 1090. A sua família pertencia à nobreza francesa, pois Tescelino, o
seu pai, era um dos cavaleiros do Duque de Borgonha e Alice, a sua mãe, era
filha de um poderoso senhor feudal chamado Bernardo de Montbard. Foi o terceiro
de sete filhos.
Desde a
infância, teve uma relação estreita com a mãe, que teve, durante sua gravidez, uma
visão sobre a vida do santo. Bernardo era muito sensível e reservado. Junto com
os irmãos, recebeu uma esmerada educação em História, Literatura e Latim.
Quando a mãe
morreu, o jovem voltou os seus olhos para a Virgem Maria, por quem tinha uma
forte devoção durante toda a sua vida. Compôs o “Lembrai-vos”, uma das suas
mais belas orações marianas.
Durante a sua
juventude, desenvolveu uma personalidade alegre, inteligente, bondosa e
carismática. O seu temperamento vigoroso levou-o a inclinar-se por atrações e
amizades mundanas, mas, no fundo, sentia-se vazio e cansado.
Na noite de
Natal do ano de 1111, Bernardo adormeceu. Em sonhos apareceu-lhe a Virgem Maria
com o Menino Jesus nos braços e oferecia-lho, para que O amasse e O fizesse ser
amado pelos demais. Desde então, decidiu dedicar-se a Deus e alcançar a
santidade.
Para combater
as tentações carnais, revolvia-se em gelo. Em 1112, ingressou no mosteiro
cisterciense de Citeaux, fundado por São Roberto, Santo Alberico e Santo
Estêvão Harding, e era o primeiro lugar onde se praticava, rigorosamente, a
regra de São Bento. Santo Estêvão, que era o prior, aceitou Bernardo com
alegria, porque não recebiam vocações, havia 15 anos.
Com apenas 25 anos, foi enviado como superior, para fundar, com outros doze monges, um novo mosteiro em Champagne, ao qual chamou Clairvaux (Claraval – que significa vale claro). A esta grande Abadia-mãe, ficaram ligadas a maioria das abadias portuguesas e espanholas. Durante 38 anos o abade vitalício, do 4.º mosteiro desta nova ordem, marcou, indelevelmente, a política do Ocidente medieval.
Bernardo era dotado, como foi dito, de incrível capacidade de persuasão e de fascinação. Levou muitas almas para a vida religiosa e, por isso, ganhou o apelido de “o caçador de almas e vocações”. As jovens tinham medo de que os seus noivos falassem com o santo, porque Bernardo ia às universidades, aos povoados e aos campos, para falar sobre as maravilhas e os benefícios da vida religiosa e acabava por convencer muitos.
Fundou cerca
de 300 conventos e conseguiu que 900 homens professassem os votos. Um dos seus
discípulos, Bernardo de Pisa, tornou-se papa, sob o nome de Eugénio III.
Além de
pertencer a uma família nobre, Bernardo pertenceu a uma família santa.
A mãe, a
beata Alice Montbard, foi uma mulher caritativa e entregue à vontade de Deus.
Formou na fé cristã os seus sete filhos e morreu a rezar o terço. O pai, o
venerável Tescelino, perdoou a um cavalheiro que o desafiou para um duelo e o
feriu com a sua lança. Ensinou aos seus dois filhos mais velhos, o beato
Gerardo e o beato Guy, a importância da misericórdia.
Quando Bernardo
manifestou à família a decisão de se tornar religioso, a princípio opuseram-se,
mas o santo conseguiu convencê-los e levou consigo os quatro irmãos mais
velhos, o beato Gerardo, o beato Guy, o beato Andrés e o beato Bartolomeu, o tio
e 31 companheiros. Quando saíam, o beato Nirvardo, o irmão mais novo, disse:
“Ah! Como vós ide ganhar o céu e me deixais aqui na terra? Não posso aceitar
isso”. Anos mais tarde, o caçula da família tornou-se religioso.
Antes de
ingressar no mosteiro, Bernardo conduziu os seus familiares e amigos a uma
fazenda, para os preparar espiritualmente. Tempos depois, o seu pai Tescelino entrou
no mosteiro de Citeaux.
A esposa do beato Guy, Isabel, também se tornou monja com as suas duas filhas. A irmã do santo, a beata Umbelina, que ansiava pela vida religiosa, graças aos conselhos do irmão, chegou a um acordo mútuo com o seu marido, Guy de Marcy, pelo qual ambos se consagrariam a Deus. Guy foi com demais familiares. Umbelina fundou vários conventos e o seu lema foi “Amar é servir”.
A fama das suas qualidades intelectuais e espirituais era tão grande que os príncipes e bispos o consultavam para os assuntos mais importantes e respeitavam as suas opiniões e decisões. Chamavam-no “o oráculo da cristandade”.
Bernardo morreu a 21 de agosto de 1153, aos 63 anos, e tinha sido abade durante 38. Foi canonizado, em 1174, por Alexandre III, e proclamado doutor da Igreja, em 1830, por Pio VIII.
Propagador da Ordem por toda a Cristandade, a obra de São Bernardo inclui comentários, tratados, sermões, cartas e estudos de significativa qualidade intelectual, que o afirmaram indelevelmente dentro da sua Ordem.
Autor de diversos escritos onde ressalta a doçura e a dedicação a Deus como entidade de amor e caridade, a ele também se deve a divulgação do culto a Maria, protetora dos Cistercienses.
A Regula Benedicti (Regra de Bento) foi composta em 529 para a abadia de Monte de Cassino, na Itália, por São Bento de Núrsia (480-547), irmão gémeo de Santa Escolástica. Preceituava a pobreza, a castidade, a obediência, a oração e o trabalho, bem como a obrigação de hospedar peregrinos e viajantes nos seus mosteiros, dar assistência aos pobres e promover o ensino. Por este último motivo, ao lado dos seus mosteiros, havia sempre uma escola, razão pela qual a ordem se tornou num dos centros culturais da Idade Média, com as suas bibliotecas, reunindo o que restara das obras e ensinamentos da Antiguidade.
Embora a fundação da ordem seja anterior a São Bento, considera-se que terá verdadeiramente tomado impulso a partir da reunião de vários mosteiros que professavam a regra por ele escrita, isso muito após a sua morte. Mais tarde, os monges dessa ordem passaram a ser conhecidos como “beneditinos”. Hoje, a ordem está espalhada por todo o Mundo, com mosteiros masculinos e femininos (de monges e monjas de clausura).
Seguindo o seu exemplo e inspiração, diversos fundadores de ordens religiosas têm baseado as normas e regras dos seus mosteiros na regra deixada por Bento, cujo princípio fundamental é Ora et Labora, o que significa “Reza e Trabalha”.
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A “doação a Claraval de um território recentemente tomado aos Muçulmanos revestia-se de um significado político, em virtude da influência e do prestígio de São Bernardo. Portugal, ainda em formação, contando apenas um milhão de habitantes, obrigado a lutar a Norte e a Leste contra o Reino de Leão, e a Sul contra os Árabes, apelava para um dos elementos civilizadores mais importantes na época e afirmava a sua confiança no futuro” (Dom Maur Cocheril).
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A Ordem de Cister, fundada em 1098, com o objetivo de restaurar a vida monástica, segundo os ideais originais, enfatizando a simplicidade, o trabalho manual e a oração.
2025.08.20 – Louro de Carvalho
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