No
debate parlamentar extraordinário
sobre os incêndios, a pedido do partido Chega e do Partido Comunista Português
(PCP), o primeiro-ministro (PM),
Luís Montenegro,
porfiou que o governo esteve “sempre ao leme” da gestão dos incêndios, tendo atuado, “antes, durante e após” cada ocorrência, mas não travou acusações de
“incompetência”, pois de toda a
oposição ouviram-se críticas de “incompetência”, de “insensibilidade” e “incapacidade
de resposta”.
Logo na sua intervenção de abertura do debate, o chefe do governo reiterou a tentativa de reverter a perceção de que esteve ausente da frente de combate, afirmando que ele e a ministra da Administração Interna estiveram “sempre ao leme, a coordenar as ações políticas da nossa responsabilidade, antes, durante e depois de cada ocorrência”
Logo na sua intervenção de abertura do debate, o chefe do governo reiterou a tentativa de reverter a perceção de que esteve ausente da frente de combate, afirmando que ele e a ministra da Administração Interna estiveram “sempre ao leme, a coordenar as ações políticas da nossa responsabilidade, antes, durante e depois de cada ocorrência”
Isolado na defesa do executivo – só recebeu com os
elogios do Partido Social Democrata (PSD) e do partido do Centro Democrático
Social - Partido Popular (CDS-PP), o PM tentou provar o bom trabalho do
governo, dando exemplos, como o reforço de verbas do programa de sapadores
florestais, o alargamento do prazo para a limpeza dos terrenos e o reforço de
meios aéreos, profissionais e de veículos, face ao período homólogo. “Podemos avaliar a eficácia, mas não sem
antes dizer que é falsa a ideia de que não houve prevenção aos incêndios”,
atirou.
Todavia, reconheceu que a “força do inimigo foi enorme” e não foi possível
evitar estes grandes incêndios. Assim, admitiu ser “muito útil” que se perceba “o que aconteceu e como”, num
sinal de apoio à comissão técnica independente proposta pelo Partido Socialista e
que o PSD já dissera ser favorável, mas assegurou que a sua equipa está a
trabalhar para que fogos com esta gravidade não voltem a assolar o solo
português, nos meses de setembro e de outubro, embora sem dar pormenores sobre
esse trabalho de prevenção.
***
A oposição foi pródiga nas críticas à atuação do
governo, tendo as intervenções mais avultadas gravitado em torno do partido
Chega, por autoria de André Ventura e por ataques a este, bem como aos vídeos
publicados nas redes sociais, com a sua presença em fogos já extintos.
André Ventura questionou Luís Montenegro sobre “como é que pode dizer que tudo funcionou” quando vem ao Parlamento “como o primeiro-ministro com a maior área ardida da Europa” e quando os meios são substancialmente inferiores do que em outros países mais pequenos, como a Grécia. “Não vale a pena ir para o Pontal falar de Fórmula 1 e anunciar grandes coisas, porque tudo o que faz é inútil, quando perdemos o mais importante, que é o território!”, bradou, desafiando o PM a “assumir que falhou, que a ministra falhou e que nos vai dar uma garantia de que nada desta incompetência vai acontecer no próximo ano”.
André Ventura questionou Luís Montenegro sobre “como é que pode dizer que tudo funcionou” quando vem ao Parlamento “como o primeiro-ministro com a maior área ardida da Europa” e quando os meios são substancialmente inferiores do que em outros países mais pequenos, como a Grécia. “Não vale a pena ir para o Pontal falar de Fórmula 1 e anunciar grandes coisas, porque tudo o que faz é inútil, quando perdemos o mais importante, que é o território!”, bradou, desafiando o PM a “assumir que falhou, que a ministra falhou e que nos vai dar uma garantia de que nada desta incompetência vai acontecer no próximo ano”.
José
Luís Carneiro, depois de
haver hesitado a dar o sinal para a sua intervenção a José Pedro Aguiar-Branco,
presidente da Assembleia da República (AR), admoestou o PM, porque, embora
tenha direito a férias, “para a população portuguesa, foi incompreensível” não
ter adiado a Festa do Pontal, a rentrée do
PSD, no Algarve, tendo já começado os incêndios florestais.
O líder do
PS lembrou as viagens que fez, em momentos de crise, enquanto ministro da
Administração Interna, que estivera a prestar contas à AR, nessa
qualidade, e que, por isso compreendia, mas não deixou de assinalar a ausência
do ministro da Agricultura no debate.
Vincando
que, pelo PS, “este debate não teria ocorrido”, porque ainda não é o momento de
fazer esta avaliação, frisou que o PM quis que o debate se realizasse neste
dia. Foi com esta ideia em mente que o líder socialista falou em “insensibilidade”
do chefe do governo, pelo Pontal, pela forma como geriu a prevenção e por ter
decapitado “várias estruturas intermédias [na Proteção Civil], por razões
partidárias”. E falou de “menos de quatro mil ações de fiscalização” preventivas
de limpeza, para acusar o primeiro-ministro de falta de sensibilidade.
O
secretário-geral do PS assinalou também a “falta de humildade” do PM, por não
ter ouvido a “proposta” que lhe fizera, a 1 de agosto, para “ativar o Mecanismo
Europeu de Proteção Civil”.
Depois, veio
a acusação de “incompetência”, por a responsável desta pasta não ter estado “sempre
com a Proteção Civil e a Guarda Nacional Republicana”.
“Finalmente,
no combate foi patente que recuou nos reacendimentos”, destacou José Luís
Carneiro, lembrando que o “ICNF [Instituto de Conservação da Natureza] diz que
estão nos 9%”, quando tinham sido 4%.
“Ausente, incapaz
e frágil na resposta”, disse o líder socialista sobre o governo, vincando que ele
próprio esteve “presente nos momentos mais difíceis e críticos da comunidade
portuguesa na Venezuela”, nas “Caraíbas, no furacão Irma”, tal como o Estado
estava “presente junto dos portugueses nas horas mais difíceis”. “Queira
assumir connosco este pacto, senhor Primeiro-ministro, para garantir que a
operação dos meios aéreos será garantida pela Força Aérea”, desafiou José Luís
Carneiro a Luís Montenegro, quase no final da sua intervenção.
Enfim, o líder do PS tentou mostrar que a época de incêndios deste
ano “revelou insensibilidade, incapacidade e impreparação do governo para
responder aos incêndios”.
Já depois de
o microfone estar desligado, que acontece, de forma programada, com todos os
intervenientes, José Luís Carneiro continuou a falar, sem sucesso, apesar dos
pedidos reiterados do presidente da AR para que terminasse a sua intervenção.
Essa insistência
do secretário-geral do PS motivou críticas do líder parlamentar do PSD, Hugo
Soares, e do líder do Chega, André Ventura, que acusou o deputado de “querer
mandar” na AR, ao não respeitar a distribuição do tempo do
debate.
André Ventura acusou o governo de “incompetência”. “Felizmente não se esqueceu dos bombeiros”, ironizou,
ao falar sobre a intervenção do PM, antes de atacar o governo por Portugal não
ter no terreno nenhum avião Canadair, enquanto a Grécia, com menor população,
tem 17.
“Não vale a
pena ir ao Pontal falar de Fórmula 1, quando perdemos o mais útil, que é a vida
das pessoas”, criticou André Ventura, para ironizar que “não há evidências de
que o Estado falhou”, aludindo a declarações do líder parlamentar do PSD, mas
acabando por afirmar que a ministra da Administração Interna “falhou”.
A resposta às críticas dos líderes do Chega e do PS
não tardou e Hugo Soares, depois de fazer a defesa do governo, por ter
preparado “o maior dispositivo de sempre de combate aos incêndios”, lançou
farpas a ambos os partidos e à conduta dos respetivos dirigentes, durante os
fogos. Ao líder do PS ripostou, ironicamente, que o ex-ministro dissertou sobre
“os sítios onde esteve depois de as calamidades acontecerem”, mas “esqueceu-se de dizer que, enquanto o país
ardia, estava na festa da sardinha, em Portimão, e a falar da qualidade da
sardinha algarvia! […] Eu não o censuro. Gabo-lhe até o bom gosto. O que
censuro é quando se junta à demagogia da extrema-direita.”
E ao presidente do Chega, recordou que, em 2017,
enquanto André Ventura discutia futebol, deputados do PSD, incluindo o próprio
Hugo Soares, “visitaram as áreas ardidas” e combateram os fogos “com as
próprias mãos”. “Nem eu, nem os
deputados que estavam atrás de mim fizemos a sua figura triste!”,
censurou Hugo Soares, referindo-se aos vídeos do líder do Chega.
O coportavoz
do Livre, Rui Tavares apresentou ao hemiciclo a ideia de que “amamos todos o nosso
país e o nosso território” e que “a metáfora da guerra leva o primeiro-ministro
a falar de inimigo”, que é, no caso, o fogo, motivo pelo qual “devemos garantir
que este não é um debate ciclo”, até porque, depois, “vamos discutir seca e, a
seguir, inundações”. “Foi preciso chegar à situação em que estamos, para que
diga que quer um plano a 25 anos. Vamos perceber essa vontade de diálogo,
percebendo onde ela para”, desafiou, deixando várias perguntas ao governo: “Quer
discutir, a sério, a profissionalização dos bombeiros? Mais meios e mais
urgência para o cadastro florestal? Vamos, finalmente, à resposta do Estado?”
E mencionou a necessidade de um maior investimento na
regionalização.
Em suma, Rui Tavares quer saber se, da parte do governo, “o apelo ao
diálogo é sincero”.
Mariana
Leitão, líder da Iniciativa Liberal (IL), acusou o governo de ter falhado com
três “negligências”, aduzindo: o “nada fazer, que não introduz reformas na
proteção civil e no governo da floresta”; o “apenas reagir, dizendo apostar
tudo no combate a fogos cada vez mais difíceis, sem fazer o trabalho de
prevenção; e o “calculismo político, que quando já era tarde, adiou o recurso
aos meios de combate de que mais precisamos, para não assumir que o país vivia
uma situação de calamidade”.” E, com a ideia de que a “legislação da floresta
está um caos” e “precisa de ser simplificada e consolidada”, deixou uma mensagem
ao PM: “Se ainda está à espera de outro relatório [numa alusão a medidas da IL,
que não foram aprovadas] para dizer isso, então o problema não é da floresta, é
da sua falta de decisão.” E, sobre o plano a 25 de anos para a
floresta, disse que “Portugal não precisa de mais planos, para encher gavetas”,
mas “de ação”.
O deputado do CDS João Almeida defendeu que “os políticos têm de ter respostas”, estendendo a ideia ao facto de o PM, junto com todo o governo, independentemente de “ter estado ou não” noutros eventos, ter marcado presença assídua: “houve conselhos de ministros” e “medidas para o que estava a acontecer”. “Algum primeiro-ministro do PS veio a este parlamento debater a questão dos incêndios”, perguntou de forma retórica, para defender que Luís Montenegro está na AR a responder, “porque quis estar”. “Não há nenhum direito potestativo”, disse a Ventura, acusando a bancada do Chega de ter feito apenas “o que outros grupos parlamentares fizeram no passado”. E, assegurando que “é mentira o que está a ser dito da área ardida”, disse que “as ocorrências aumentaram 60%”, enquanto “os despachos de meios aumentaram acima de 100%”.
O deputado do CDS João Almeida defendeu que “os políticos têm de ter respostas”, estendendo a ideia ao facto de o PM, junto com todo o governo, independentemente de “ter estado ou não” noutros eventos, ter marcado presença assídua: “houve conselhos de ministros” e “medidas para o que estava a acontecer”. “Algum primeiro-ministro do PS veio a este parlamento debater a questão dos incêndios”, perguntou de forma retórica, para defender que Luís Montenegro está na AR a responder, “porque quis estar”. “Não há nenhum direito potestativo”, disse a Ventura, acusando a bancada do Chega de ter feito apenas “o que outros grupos parlamentares fizeram no passado”. E, assegurando que “é mentira o que está a ser dito da área ardida”, disse que “as ocorrências aumentaram 60%”, enquanto “os despachos de meios aumentaram acima de 100%”.
Mariana
Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) afirmou que, “em 45 medidas
[anunciadas pelo governo], [há] zero para os bombeiros”. E referiu “um raminho”
utilizado por André Ventura num vídeo do Chega, para “apagar um incêndio”,
destacando a “seriedade com que cada um enfrenta os incêndios”.
A líder
bloquista disse que “o governo não preparou a época dos incêndios” e ironizou
que o governo considerou “sensato desviar 120 milhões [de euros] da gestão da
floresta”. E, “com bombeiros sem saberem para onde vão", com “floresta
ocupada por eucaliptos” e com “meios aéreos avariados”, o “governo acha sensato
adiar o Mecanismo Europeu”.
“Não é só o
País que está a arder, é a confiança dos Portugueses no Estado”, afirmou Filipe
Sousa, deputado único do Juntos pelo Povo (JPP), acusando o governo de ter
“relaxado” e chegado tarde demais. E apontou que, desde o governo de Durão
Barroso, em 2003, já havia medidas para combater incêndios.
O líder do
PCP, Paulo Raimundo, após uma “palavra de solidariedade às vítimas dos
incêndios”, disse ao PM que a calamidade dos incêndios foi evidente “para toda
a gente”, que, “ao contrário do seu governo, não pôde acordar tarde”. Assinalou
que “escassearam meios, que faltou a coordenação, [que há] gente indignada”, e
que “viu, em muitos casos, os fogos consumirem os bens”. “Não é possível
erradicar os incêndios, mas tem de ser possível minimizar o drama”, considerou,
reforçando a ideia de que “o governo tinha tudo planeado”, mas, “no fim, o que
houve foi mais incêndios”. Reiterou que “não há solução
para a floresta, sem solução para o interior” e referiu o encerramento de serviços
públicos e agências “que governo e a União Europeia têm vindo a desmantelar”.
E concluiu, desafiando o governo a alocar 3,5% do produto interno bruto (PIB) −
em crítica ao valor de investimento em Defesa − para proteger o mundo rural.
***
Já depois do debate, o Chega reafirmou a vontade de avançar, de forma
potestativa, com uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) aos
negócios em torno dos incêndios, desde 2017, acusando o PS e o PSD de terem
“alguma coisa a esconder”, apesar de o líder da oposição ter reconhecido as
palavras do PM sobre a mão criminosa nos fogos florestais e rurais.
Apesar do tema ser incêndios, a Palestina entrou no debate. André Ventura atacou Mariana Mortágua por esta ir integrar uma missão humanitária, para tentar quebrar o cerco de Israel a Gaza. “Estamos ao lado dos bombeiros, não fugimos para Gaza, quando precisam”, atirou.
Apesar do tema ser incêndios, a Palestina entrou no debate. André Ventura atacou Mariana Mortágua por esta ir integrar uma missão humanitária, para tentar quebrar o cerco de Israel a Gaza. “Estamos ao lado dos bombeiros, não fugimos para Gaza, quando precisam”, atirou.
A líder do BE frisou que a população de Gaza está a
ser “exterminada” por Israel. “Há um povo a ser chacinado e eu tomo partido. “Eu estarei do lado da História de quem
combateu o genocídio, você estará do lado de quem preferiu não ver
milhares de crianças a morrer e ainda quis usar isso como jogo politico”,
porfiou. Em resposta, André Ventura assegurou que, “se tiver de escolher sobre
quem vive em Gaza e no nosso país”, escolhe os Portugueses, mas aconselhou a
líder do BE a ir a Gaza, “como a mulher livre que é”, para ver que não será bem
recebida – numa
referência ao Hamas, que “não defende ninguém, nem minorias, nem LGBT, nem
mulheres”.
No final, Mariana
Mortágua questionou se a CPI, que o BE também propõe, sobre os incêndios será
“séria ou oportunismo político”, por parte do Chega.
A
intervenção final coube ao chefe do governo que assinalou que este debate exige
a “capacidade de podermos olhar para trás, escrutinar aquilo que foi feito e
aquilo que não foi feito e olharmos para frente”.
Depois de
dissecar o Plano de Intervenção para as Florestas, apresentado a 21 de março, defletiu
as críticas que acusam o governo de ter estado “ausente” e de ter acordado
tarde para o problema.
Para
sustentar tais asserções, apresentou uma cronologia dos eventos conexos com os
incêndios, desde 22 de julho. “Fizemos aquilo que nos competia”, frisou, enquanto
acrescentava: “Não vestimos casacos da proteção civil, quisemos respeitar a
prioridade que demos ao trabalho operacional. […] Demos cumprimento a uma
estratégia que visava proteger o património e as pessoas”, concluiu.
***
É ainda de
trazer à colação que Aguiar-Branco,
presidente da AR lembrou que este debate será a “primeira reunião depois
dos incêndios das últimas semanas” e deixou uma palavra de “sentidas condolências
às famílias das vítimas” e de “reconhecimento aos bombeiros” e a todos os
agentes.
Depois,
disse ter a “convicção de que, no Parlamento, serão encontradas as soluções,
para responder a quem sofre.
***
É de aguardar o desenvolvimento dos acontecimentos, proceder a mais
debates, esperar pela CPI, proceder a nova legislação e à afinação dos
mecanismos de prevenção e de vigilância, de combate e de avaliação, bem como de
reordenamento e de gestão da floresta e da agricultura. Enfim, é preciso
aprender todas as lições que se devem aprender e o governo deve estar sempre ao
leme, mas de forma que não ande quase tudo à deriva.
2025.08.27 – Louro de
Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário