A este respeito, não deixa dúvidas a pena de Frederico Bártolo, em artigo intitulado “Lei laboral: Governo elege Chega como parceiro primordial”, publicado no Diário de Notícias online (DN), a 30 de agosto.
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A 29 de
agosto, em Faro, o secretário-geral do PS, no final da rota “Pela Coesão e
Valorização do Território”, que fez pela Estrada Nacional n.º 2 (EN2), ao longo
do país, garantiu que o seu partido se oporá a opções que sejam inscritas no OE
2026 que traduzam as alterações à legislação laboral que o governo pretende
aprovar. “Nós
estamos totalmente contra opções orçamentais que deem respaldo à legislação
laboral que o governo quer aprovar”, vincou.
José Luís
Carneiro insistiu em que “a legislação laboral, se tiver respaldo no orçamento,
naturalmente, contará com a oposição do Partido Socialista”. “O governo terá
intenções de alterar a Lei de Bases da Saúde. Se o orçamento do Estado for um
respaldo para alterar premissas fundamentais dos serviços da saúde público,
terá também a nossa oposição”, assegurou o secretário-geral do PS.
José Luís Carneiro
advertiu ainda que, “se o orçamento do Estado tiver respaldo para alterar a natureza pública
da […] proteção social e da segurança social pública, naturalmente terá a
oposição do Partido Socialista”. “Há que aguardar, mas, agora,
vamos esperar pelo passo do governo, porque, agora, a palavra está ao lado do
governo”, considerou.
É de recordar
que o anteprojeto de reforma da legislação laboral, aprovado pelo governo e
apresentado, a 24 de julho sob a designação “Trabalho XXI”, prevê a revisão de
mais de 100 de artigos do Código de Trabalho e, ainda antes da respetiva
negociação com os parceiros sociais, já foi contestado pelas centrais
sindicais.
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Segundo a
revista Sábado, de 20 de agosto, a 3
de julho, o PM e o líder do Chega entenderam-se em diversas matérias, como a
descida do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS), do segundo
ao quinto escalão, e as restrições à Lei de Estrangeiros e à Lei da
Nacionalidade. André Ventura “anunciou o entendimento como uma plataforma
comum”, mas a convergência tinha começado já antes, passando, doravante, as
duas entidades a resolver, no segredo dos bastidores, os contratempos que vão
surgindo.
O operacional
das negociações, da parte do PSD, é Hugo Soares, secretário-geral e líder do
grupo parlamentar, que dialoga, por diversos meios, com André Ventura e também
com Pedro Pinto, secretário-geral do Chega e líder do seu grupo parlamentar.
O próximo
tema de entendimento é, pelos motivos já explanados, a reforma laboral, com o
Chega disponível para negociar uma proposta conjunta, pois é preciso apresentar
a proposta do OE 2026 à AR, em tempo útil. A proposta da Lei da Nacionalidade
já foi objeto de entendimento.
Além disso,
ao retomarem as negociações, em setembro, está em jogo a forma como a AR há de
responder às normas que o Tribunal Constitucional (TC) julgou inconstitucionais
no decreto sobre as alterações à Lei de Estrangeiros, bem como a afinação das
alterações à Lei da Nacionalidade.
É claro,
segundo a Sábado, que houve alguns
desentendimentos, como a divergência na retirada da nacionalidade, em caso de
determinados crimes graves, com o Chega a defender a retirada automática e o
governo a preferir que seja decretada por um juiz. Sendo assim, nem uma parte, nem
a outra conseguem tudo.
Para
transformar o “não é não”, de Luís Montenegro, em “não é sim”, o núcleo duro do
PSD, que havia dito, após as eleições de maio, que o “não é não” era para só
para integrar o governo, agora, já alega que é normal e aconselhável o diálogo entre
o PM e o líder da oposição e que foi o povo quem delegou no Chega “a
responsabilidade de ser a segunda força parlamentar”.
Além de,
supostamente, o PSD só estar “a respeitar o Estatuto do Direito da Oposição”, a
nova configuração parlamentar obrigou o PSD a transformar o ‘não é não’ numa
plataforma de diálogo pontual”, mas que se tornará recorrente, se os interesses
governativos o exigirem. Por isso, em vez de o povo ter de deixar “o Luís
trabalhar”, tem de deixar trabalhar “o Luís e o André.
Diz a Sábado que a escolha do novo ministro
dos Assuntos Parlamentares, Carlos Abreu Amorim, já visava esta estratégia,
face a uma AR com um puzzle de três
blocos, tendo o Chega 60 deputados e o PS 58.
Carlos Abreu Amorim encontra-se, em reuniões forais e informais, com Pedro Pinto e com o presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, Rui Afonso, “para articular consensos”.
Pelos vistos, Abreu Amorim tem uma relação antiga com Diogo Pacheco Amorim, deputado do Chega e vice-presidente da AR. Segundo a Sábado, ter-se-ão conhecido, enquanto jovens, no Movimento Independente para a Reconstrução Nacional (MIRN), fundado pelo general Kaúlza de Arriaga, em 1975. Depois, caminharam juntos no CDS, com Pacheco Amorim a chefe de gabinete parlamentar, na liderança de Manuel Monteiro, e com Abreu Amorim a desempenhar funções internas na distrital do Porto. Mais tarde, ambos foram cofundadores da Nova Democracia, sob a égide de Manuel Monteiro, que se desfiliou do CDS.
Enfim, a suposta estratégia, segundo alguns elementos do núcleo duro do PSD, é virar-se “para onde der mais jeito”, o que representa uma tática interesseira. Assim, se o tema estivar relacionado com a imigração ou com o trabalho, a conversação será com o Chega; se disser respeito a política europeia, a conversação será com o PS.
A isto convém opor as seguintes objeções: Haverá alguma política, em Portugal, que não tenha a ver com as políticas europeias? Trabalho e Imigração, Impostos, Saúde, Educação e Segurança Social, Economia, Habitação e Transportes, Ambiente e Negócios Estrangeiros podem entender-se fora do âmbito europeu? Só se deve negociar com partidos com os quais se possa desenhar uma maioria absoluta ou uma maioria qualificada.
Por último, é de questionar se é real e plausível a visão que a Sábado atribui a Luís Montenegro de que “o Chega tem mostrado uma responsabilidade crescente”, apena restando saber “se se mantém ou se é Sol de pouca dura”.
Isso de táticas com fins eleitorais e governativos levam os partidos a agarrarem-se ao poder como lapas às rochas, em ambiente marinho e de praia, e podem materializar-se na afirmações como a supostamente feita pelo ministro da Economia e da Coesão Territorial, na Universidade de Verão do PSD, segundo qual o povo votará no governo, se lhe meterem dinheiro nos bolsos.
Pobre povo, que atura estes arranjinhos partidários! Comem quase tudo e pouco deixam.
2025.08.31 – Louro de Carvalho
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