De acordo com o Ministério da Defesa israelita, o ministro Israel Katz aprovou, a 20 de agosto, o plano de ataque contra a maior cidade do território palestiniano, a cidade de Gaza, no Norte do enclave costeiro palestiniano, tendo convocado “os reservistas necessários para a missão”, em número de 60 mil, como confirmou à AFP fonte governamental, acrescentando que o ministro da Defesa, Israel Katz, aprovou os “preparativos humanitários” para a retirada da população da cidade de Gaza. Porém, grupos de defesa dos direitos humanos alertam para a possibilidade do agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza, onde a maioria dos residentes foi deslocada, vastos bairros estão em ruínas e as comunidades enfrentam a ameaça da fome.
As primeiras informações sobre a mobilização dos reservistas foram noticiadas na edição de 20 de agosto do jornal israelita Maariv, segundo o qual mais de 60 mil reservistas iriam receber, naquele dia, ordens para se apresentarem nas unidades militares, nas próximas duas semanas, enquanto outros 70 mil efetivos deverão prolongar o serviço, por mais “30 ou 40 dias”.
O plano militar prevê a retirada de toda a população da cidade de Gaza, estimada em cerca de um milhão de pessoas, muitas delas deslocadas de outros locais da Faixa de Gaza.
Israel tinha anunciado, no início de agosto, que se preparava para “assumir o controlo” da cidade de Gaza e dos campos de refugiados, com o objetivo de derrotar o Hamas e de libertar as pessoas sequestradas durante o ataque do movimento palestiniano, a 7 de Outubro de 2023.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou, no final da semana anterior ao dia 20, que tinha adotado o novo plano que foi aprovado pelo Gabinete de Segurança, para a nova fase de operações na Faixa de Gaza, apesar da oposição do próprio exército, que teme pôr em risco os reféns que continuam sequestrados no enclave.
Segundo a AFP, o exército conquistou, até essa semana, “aproximadamente 75% do território palestiniano, em mais de 22 meses de guerra”, intensificou os ataques e as operações terrestres na cidade de Gaza e nos campos de refugiados da zona, “os últimos bastiões do Hamas”.
A decisão de Israel Katz sobre a mobilização dos reservistas, ocorreu 48 horas depois de o Hamas ter aceitado uma nova proposta dos mediadores – Egito, Qatar e Estados Unidos da América (EUA) – para uma trégua de 60 dias com a libertação de reféns “em duas fases”. Na verdade, os negociadores esforçam-se por conseguir um cessar-fogo que ponha fim a 22 meses de combates entre Israel e o Hamas.
Israel ainda não respondeu formalmente, mas fonte governamental disse à AFP que o governo de Benjamin Netanyahu não alterou a política e continua a exigir a libertação de todos os reféns, “de acordo com os princípios estabelecidos pelo gabinete para pôr fim à guerra”.
As famílias dos sequestrados, por sua vez, têm-se manifestando, para exigir um acordo integral com o Hamas que ponha fim à guerra e liberte cerca de 50 reféns que continuam na Faixa, dos quais, pelo menos, 20 ainda estarão vivos. Por outro lado, de acordo com o portal israelita Walla, citado pela AFP, “a Divisão 99 (do Exército de Israel) está prestes a concluir a conquista do bairro de Zeitoun”, na cidade de Gaza, tendo como “próximo alvo” o bairro vizinho de Sabra.
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Trata-se de iniciar uma nova fase de
operações, numa das áreas mais densamente povoadas de
Gaza. Com efeito, o primeiro-ministro israelita tem afirmado, constantemente,
que os principais objetivos da guerra passam por assegurar a libertação dos
restantes reféns e garantir que o Hamas e outros militantes não possam voltar a
ameaçar Israel.Um oficial do exército israelita, que falou sob anonimato, em conformidade com as regras militares, disse que as forças de defesa israelitas (FDI) serão colocadas em partes da cidade de Gaza onde as FDI ainda não operaram e onde se acredita que o Hamas ainda está ativo. E afirmou que as tropas israelitas já estão a operar nos bairros de Zeitoun e Jabalia, na cidade de Gaza, para preparar o terreno para a operação alargada, que deverá receber a aprovação do chefe do Estado-Maior, nos próximos dias.
A cidade de Gaza é o principal reduto militar e governamental do Hamas e as tropas israelitas terão como alvo a vasta rede de túneis subterrâneos do grupo militante, precisou o oficial.
Apesar de Israel ter atacado e matado grande parte dos altos dirigentes do Hamas, alguns elementos do grupo estão a reagrupar-se, ativamente, e levam a cabo ataques, incluindo o lançamento de mísseis contra Israel.
A ofensiva planeada, anuncia, pela primeira vez, no início deste mês, alimentou as preocupações internacionais, fazendo crescer o receio de nova deslocalização em massa dos Palestinianos.
A 9 de agosto, Benjamin Netanyahu afirmou que a ofensiva abrangeria partes da cidade de Gaza e os campos centrais. Centenas de milhares de pessoas deslocadas estão abrigadas na cidade, que alberga algumas das últimas infraestruturas essenciais que restam.
A convocação ocorre num contexto de crescente campanha de reservistas exaustos, que acusam o governo de perpetuar a guerra, por motivos políticos, e de não conseguir trazer de volta os reféns que permanecem em Gaza. E as famílias dos reféns e ex-líderes do exército e dos serviços de inteligência também expressaram oposição à expansão da operação na cidade de Gaza.
A maioria das famílias dos reféns quer um cessar-fogo imediato e receia que um ataque alargado possa pôr em perigo a vida dos 50 reféns que ainda se encontram em Gaza. Israel acredita que 20 deles ainda estão vivos.
Os ex-chefes militares e de inteligência estão céticos, quanto à possibilidade de atingir o objetivo de destruir completamente o Hamas. O antigo dirigente do Shin Bet, Yoram Cohen, considerou essa meta uma fantasia, dizendo que, “se alguém imagina que podemos atingir todos os terroristas, todos os esconderijos e todas as armas e, paralelamente, trazer os nossos reféns para casa, acho que isso é impossível”.
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O movimento
islamita palestiniano Hamas aceitou, a 18 de agosto, nova proposta dos
mediadores para uma trégua com Israel, na Faixa de Gaza, associada à libertação
dos reféns mantidos naquele território palestiniano, segundo um responsável do
grupo, citado pela AFP.Os esforços dos mediadores, nos últimos meses, não conseguiram, até agora, alcançar um cessar-fogo duradouro para a guerra israelita que assola a Faixa de Gaza, há 22 meses, e onde, segundo a Defesa Civil, mais 19 palestinianos foram mortos, a 18 de agosto, em bombardeamentos e com tiroteios israelitas. “O Hamas apresentou a sua resposta aos mediadores e confirmou” aceitar “a nova proposta de cessar-fogo, sem pedir qualquer alteração”, declarou um responsável do movimento palestiniano.
Este relançamento diplomático surge numa altura em que o exército israelita se prepara para conquistar a cidade de Gaza e os campos de refugiados vizinhos que, até agora, escapavam ao seu controlo, no âmbito de novo plano adotado pelo governo israelita, com o objetivo declarado de acabar com o Hamas e de libertar todos os reféns.
A proposta aceite pelo Hamas retoma as linhas gerais de um plano norte-americano anterior. “Assenta no plano do enviado norte-americano [Steve] Witkoff, que prevê uma trégua de 60 dias e a libertação dos prisioneiros israelitas em duas fases”, indicou fonte palestiniana próxima do processo, antes de o Hamas anunciar a sua aceitação do acordo, acrescentando: “A proposta é um acordo-quadro para lançar negociações sobre um cessar-fogo permanente.”
Segundo uma fonte da Jihad Islâmica, aliada do Hamas, o plano prevê um cessar-fogo de 60 dias, em troca da libertação de 10 reféns israelitas e da devolução dos cadáveres de alguns deles. Os restantes reféns serão libertados numa segunda fase, seguindo-se negociações imediatas para um acordo mais alargado, para pôr fim à guerra, com garantias internacionais.
Benjamin Netanyahu advertiu de que Israel só aceitaria um acordo “em que todos os reféns fossem libertados, de uma só vez e nas suas condições para acabar com a guerra” em Gaza, cuja população está ameaçada de “fome generalizada”, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Na sua rede social, Truth Social, o presidente dos EUA, Donald Trump, comentou: “Não assistiremos ao regresso dos restantes reféns, enquanto o Hamas não for confrontado e destruído! Quanto mais cedo isso acontecer, melhores serão as hipóteses de êxito.”
Benjamin Netanyahu está sob forte pressão da opinião pública e da comunidade internacional, onde se multiplicam os apelos para que se ponha fim ao sofrimento dos habitantes de Gaza.
Dezenas de milhares de israelitas manifestaram-se, em Telavive, a 17 de agosto, para exigir o fim da guerra e o regresso dos reféns, sequestrados a 7 de outubro de 2023, durante o ataque sem precedentes do Hamas a Israel, que fez cerca de 1200 mortos, na maioria civis, e desencadeou a guerra na Faixa de Gaza para “erradicar o Hamas”.
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A 17 de agosto, em visita no terreno à Faixa de Gaza, o chefe do Estado-Maior do Exército israelita,
Eyal Zamir, anunciou que exército iria “concentrar” as suas operações na cidade
de Gaza, para atacar, de “forma decisiva”, o Hamas. Tais declarações sobre “planos que visam ocupar
Gaza são a promessa de nova vaga de extermínio e de deslocamento massivo”,
considerou o movimento islamita, no seu site oficial.“Manteremos o ímpeto da operação, concentrando-nos na cidade de Gaza”, vincou Eyal Zamir, em alusão à ofensiva de grande escala anunciada, em meados de maio, pelo exército, no território palestiniano em guerra, há 22 meses. E, frisando que Gaza é considerada por Israel um dos últimos bastiões do movimento islamita palestiniano Hamas, afirmou que os ataques continuarão até à sua “derrota decisiva”, com os reféns “no centro” das preocupações israelitas.
Para o Hamas, trata-se de “um crime de guerra de grande dimensão, que reflete o desprezo do ocupante pelas leis internacionais e humanitárias”, com o apoio político e militar dos EUA, que deram carta-branca a Israel”. Já Israel afirmou estar a preparar-se para assumir o controlo da cidade de Gaza e de campos de refugiados vizinhos, com o objetivo declarado de derrotar o Hamas e libertar os reféns raptados durante o ataque de 7 de outubro de 2023.
Benjamin Netanyahu, anunciara, no final da semana anterior, a aprovação deste plano, ratificado pelo seu gabinete de segurança, para nova fase das operações na Faixa de Gaza, já sem referência à operação anunciada em maio, que “atingiu os seus objetivos, pois o Hamas já não tem as mesmas capacidades de antes”. “A campanha atual não é pontual”, mas insere-se “numa estratégia planeada a longo prazo” que visa, em primeiro lugar, o Irão, adiantou.
No dia 15, o exército tinha confirmado que as suas tropas estavam a levar a cabo uma série de operações, na periferia da cidade de Gaza, onde os habitantes relatam, há vários dias, intensos bombardeamentos e incursões terrestres. E, na noite do dia 16, o Cogat, organismo dependente do Ministério da Defesa e responsável pelos assuntos civis nos territórios palestinianos, anunciou que seriam “fornecidas tendas e outros equipamentos de abrigo, no âmbito dos preparativos de Tsahal, para deslocar a população das zonas de combate para o Sul da Faixa de Gaza, para sua proteção” – declarações (do ocupante, sobre instalação de tendas no Sul de Gaza, a pretexto humanitário) que são flagrante manobra de engano, para encobrir o massacre iminente e o deslocamento forçado, segundo o Hamas.
Segundo a rádio militar, o objetivo do exército será retirar, até 7 de outubro, a população da cidade de Gaza, concluir o cerco da cidade e assumir o seu controlo operacional. “Pelo menos, quatro divisões serão destacadas para a Faixa de Gaza, no âmbito da nova operação”, disse a rádio, referindo a mobilização de “várias brigadas da reserva, ou seja, dezenas de milhares de soldados de reserva”.
O anúncio desta ofensiva ocorreu num dia de greve geral, em Israel, convocada por familiares dos reféns e que já resultou na detenção de 30 pessoas. “Aqueles que hoje pedem o fim da guerra, sem derrotar o Hamas, não estão apenas a endurecer a posição do Hamas e a afastar a libertação dos nossos reféns, estão também a garantir que as atrocidades de 7 de Outubro se repitam vezes sem conta”, declarou Benjamin Netanyahu, à saída da reunião semanal do gabinete, de acordo com o Times of Israel, vincando: “Para progredir na libertação de nossos reféns e garantir que Gaza não seja mais uma ameaça a Israel, precisamos de completar a missão e derrotar o Hamas. Esta é, precisamente, a decisão do gabinete adotada na semana passada. Estamos determinados a implementá-la.”
Esta declaração diz respeito ao plano de conquistar, totalmente, a cidade de Gaza – um dos motivos da convocação desta greve geral. Além disso, é de enfatizar que este plano está a ser alvo de críticas do povo israelita e da comunidade internacional.
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A guerra no
enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos, 62004 mortos, na maioria civis,
e 154906 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente,
soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, de infeções
e de fome, de acordo com números das autoridades locais, que a ONU considera
fidedignos.Prosseguem, diariamente, as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária, durante mais de dois meses, seguido da proibição israelita de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não-governamentais (ONG). E alguns mantimentos estão, desde então, a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados “seguros” pelo exército, que abre, regularmente, fogo sobre civis palestinianos famintos, tendo matado, até agora, 1908 e ferido, pelo menos, 13863.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas em “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no Mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países, como a África do Sul, junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelitas de defesa dos direitos humanos.
O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Badr Abdelatty, afirmou, na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, que o seu país está pronto “a contribuir para qualquer força internacional que possa ser enviada para Gaza”, desde que com base “numa resolução do Conselho de Segurança, num mandato claro que se inscreva numa perspetiva política”.
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Enfim, a
guerra absolutista numa das suas formas mais cruéis!
2025.08.20 – Louro de Carvalho
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