quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Primeiro-ministro israelita reitera promessa de acabar com o Hamas

 

Em entrevista a Sasha Vakulina, em exclusivo para a Euronews, a 5 de outubro, mas publicada no dia 7, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, citando Churchill, promete, de novo, acabar com o Hamas, mas diz esperar que o plano de cessar-fogo liderado pelos Estados Unidos da América (EUA) resulte, pois, caso não resulte, Israel atuará em força contra o Hamas, com total apoio da Casa Banca.
Benjamin Netanyahu diz que, se o Hamas aceitar o plano, “pode ser o início do fim da guerra”. Porém, se não o fizer, “Israel receberá, como disse o presidente Donald Trump, o apoio total dos Estados Unidos para atuar em força para pôr fim à guerra”. “Esperemos que consigamos terminar a guerra da maneira mais fácil e não da maneira mais difícil”, vincou.

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Questionado sobre se, ao trazer os reféns de volta, pode dizer-se que Israel atingiu o seu principal objetivo, o chefe do governo referiu que aceitou “o plano do presidente Trump”, tal como o Hamas “diz que aceitou”, mas que “o ónus recai sobre o Hamas”.
Em seu entender, o plano tem duas partes, sendo a primeira, já acordada, “a libertação de todos os reféns”, de modo a Israel fazer “uma retirada tática”, mas ficando “em Gaza”. A segunda visa desmilitarizar Gaza e desarmar o Hamas, o que será negociado. Se o Hamas aceitar, será “um bom sinal”. Caso contrário, Israel atuará em força contra o Hamas, para pôr fim à guerra, como o apoio total dos EUA.
Confrontado com a hipótese de o Hamas não libertar os reféns, Benjamin Netanyahu sublinha que o Hamas concordou com o acordo, porque Israel atuou “militarmente, contra o seu principal reduto, a cidade de Gaza”. Por conseguinte, aquele grupo armado “tornou-se muito mais flexível, porque se apercebeu de que o seu fim está próximo”. Paralelamente, a intervenção de Donald Trump e o plano que apresentou vieram “selar a situação, de uma forma positiva”. E o entrevistado diz esperar que se termine “da maneira mais fácil e não da maneira mais difícil”.
A sua mensagem aos civis palestinianos e ao Hamas é que o domínio deste grupo tem de acabar, que os reféns israelitas “têm de ser libertados” e que o grupo não pode voltar a “atormentar o seu povo com o seu regime de terror e a aterrorizar Israel com rockets e mísseis e com a tomada de reféns”. Para tanto, na ótica do chefe do executivo israelita, é preciso “um sistema de divisão de responsabilidades”, no qual “Israel terá a responsabilidade geral pela segurança, para impedir um ressurgimento terrorista em Gaza”. A par disto, Gaza precisa de uma “administração civil” liderada “não por pessoas empenhadas na destruição de Israel, mas por pessoas empenhadas em viver pacificamente com o país”.
Netanyahu aceita o compromisso do presidente Trump de liderar essa autoridade civil, como “um bom desenvolvimento para “um futuro diferente para Gaza, para Israel e para todos, na região”. Todavia, primeiro, há que libertar todos os reféns, desarmar o Hamas e desmilitarizar Gaza.
Colocada a questão se se trata de um acordo bom ou do acordo possível, o entrevistado admite que “é o único acordo que está em cima da mesa” e pensa que os habitantes de Gaza esperam “que o Hamas o cumpra”, pois querem libertar-se da “tirania do Hamas”. Com efeito, na perspetiva do chefe do governo de Israel, “o Hamas mata qualquer pessoa, qualquer pessoa do lado palestiniano que discorde da guerra de terror do Hamas, em Israel, que discorde do facto de o Hamas ficar com todo o dinheiro, os milhares de milhões que foram investidos em Gaza”.
E prossegue com a sua narrativa especial de que habitantes de Gaza não viram qualquer benefício, pois acabaram por lhes construir uma cidade subterrânea, uma cidade de túneis de terror”, pelo que “os habitantes de Gaza estão, agora, a lutar contra o Hamas”, porque veem “uma esperança de se livrarem dele”. Por outro lado, sentem que “toda a gente, no Mundo inteiro, concorda “com um novo acordo para Gaza”, que traga “o regresso de todos os nossos reféns, o desarmamento do Hamas e a desmilitarização de Gaza”.
Interpelado sobre o facto de o Hamas ter assumido apenas a aceitação parcial do acordo, Netanyahu sustenta que a aceitação tem de ser na totalidade, em especial, a primeira parte, ou seja, criar “uma administração civil em Gaza que não eduque os seus filhos a odiar Israel, a tentar destruir Israel, a matar judeus, em todo o lado”.
Todavia, o primeiro-ministro israelita não quer só desmilitarizar Gaza e desarmar o Hamas, quer desradicalizar Gaza, como se fez na Alemanha ou no Japão, após a II Guerra Mundial. E considera que, se isso acontecer, podem expandir-se acordos de paz do género dos Acordos de Abraão (acordos bilaterais sobre a normalização árabe-israelita, assinados entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e o Barém, a 15 de setembro de 2020, sob mediação dos EUA). “Podemos expandir os Acordos de Paz de Abraão, para incluir outros países do Médio Oriente e países muçulmanos fora do Médio Oriente. O futuro é risonho, mas a primeira fase é o Hamas entrar no programa. Tem de libertar todos os nossos reféns”, enfatiza o governante.

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A entrevistadora objeta com a hipótese de muitos atores regionais e os países árabes poderem não seguir o exemplo, a menos que vejam “uma solução a longo prazo para a Palestina.
A isto o entrevistado contrapõe que muitos “têm medo do Estado terrorista palestiniano” e que dizem, em privado, que querem ver o Hamas eliminado de cena”. Portanto, é possível uma solução que “proteja a segurança de Israel” e que dê aos palestinianos “a capacidade de se governarem”, mas “não de ameaçarem Israel”. Nestes termos, alguns poderes soberanos têm de permanecer “nas mãos de Israel, especialmente, o poder soberano da segurança”, pois, quando Israel se retira, dá aos palestinianos um território que eles governam sem limitações”, o Irão “entra, cria um Estado de terror e ataca Israel”. Assim, no dizer de Netanyahu, “um verdadeiro caminho para a paz” postula que os palestinianos reconheçam e aceitem a existência de um Estado judeu no seu seio, mas eles “não querem um Estado ao lado de Israel, querem um Estado, em vez de Israel” e, “quando conseguem um território, atacam-nos vezes sem conta”. Ora, “se não mudarmos isto, o conflito continuará”, vaticina o primeiro-ministro de Israel.
Porém, com uma Gaza desradicalizada, desmilitarizada e desarmada, no sentido em que o Hamas deixe de estar nos comandos – quem vai estar aos comandos de Gaza não serão israelitas, têm de ser palestinianos apoiados por outros que querem a paz com Israel e não a destruição de Israel –, na ótica de Netanyahu, pode-se “promover a paz não só entre Israel e Gaza, mas entre Israel e muitos outros parceiros, no Médio Oriente e em países muçulmanos fora do Médio Oriente”.
Questionado se o plano e o seu resultado seriam possíveis sem a mediação de Donald, o líder do governo de Israel acusa a Europa de ausência, por ter cedido “ao terrorismo palestiniano, às minorias islâmicas radicais, no seu seio”, prometendo “dar-lhes um Estado palestiniano, que seria a derradeira recompensa para o Hamas, depois de ter cometido o maior massacre contra os judeus, desde o Holocausto”, e para continuarem “a guerra contra Israel”. É por isso que, segundo Netanyahu, “a Europa se tornou essencialmente irrelevante e demonstrou uma enorme fraqueza”. E o líder político israelita apela: “Se querem lutar contra o terror, levantem-se e lutem contra o terror. Levantem-se e sejam enérgicos contra o terrorismo. Não capitulem perante as suas exigências. Não alimentem o crocodilo, nas palavras de Winston Churchill, porque ele virá atrás de vós, depois de ter devorado Israel ou qualquer outro país que se interponha no seu caminho.”
O que deve ser feito, na ótica de Netanyahu, é o que o presidente Trump está a fazer: “um plano de paz realista que elimina os elementos terroristas […] que querem continuar a guerra”.

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Sobre o reconhecimento do Estado da Palestina por vários países da União Europeia (UE) e por outros, Netanyahu considera que isso causou enormes danos no Médio Oriente, porque é o prémio máximo para o terror. E lembra que os palestinianos tinham um Estado de facto, em Gaza, que fez o maior ataque terrorista da História, desde o 11 de setembro. Ora, o entrevistado ironizou que ninguém pensou dar um Estado a Bin Laden e à Al-Qaeda, em qualquer lugar, muito menos, a um quilómetro de Nova Iorque.
Depois relata como se chegou ao Acordos de Abraão. Durante 25 anos, Israel não conseguia expandir a paz com os vizinhos. Diziam que era preciso dar um Estado aos palestinianos, o qual estava comprometido com a eliminação de Israel, o que não faria avançar muito as coisas, antes causaria um retrocesso. Os presidentes dos EUA e o chefe do governo israelita, juntos, contornaram a questão do Estado palestiniano e, com os Emirados Árabes Unidos, com o Bahrein, com Marrocos e com o Sudão, intermediaram a paz direta, baseada no respeito mútuo e na força: primeiro, a força; depois, a paz.
Ao invés, os líderes europeus dizem que é preciso enfraquecer Israel para implantar um Estado palestiniano e Israel apenas sobreviva contra ele. Ora, na opinião de Netanyahu, isso nem trará a paz, é absurdo e premeia o Hamas.
Questionado pela sua disponibilidade para convencer disso os líderes europeus, garante que está “em contacto permanente com eles”, que alguns têm sido mais respeitadores das posições de Israel e que outros “estão sob uma pressão tremenda”. E, como não podia deixar de ser, acusa os meios de comunicação social de estarem “muito inclinados contra Israel”, aceitando “simplesmente a propaganda do Hamas”, de modo que quaisquer que sejam os números e os factos que apresentem, serão “exatamente o oposto da verdade”.
Por outro lado, assinala a alegada parcialidade das manifestações, “desde o primeiro dia, desde o dia do massacre, quando mulheres foram violadas, homens foram decapitados e bebés foram queimados por estes monstros do Hamas”. Com efeito, como aponta, “houve manifestações em massa, nas ruas das capitais europeias, em nome do Hamas”.
Assim, sustenta Benjamin Netanyahu, “com esta pressão combinada de meios de comunicação distorcidos e pressão islâmica interna de apoio ao Hamas, muitos deles cederam, o que não é bom […] para a Europa”, nem “para a paz”.

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Por fim, considerando que o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 é um ponto de viragem no conflito, a entrevistadora perguntou ao primeiro-ministro de Israel “como reflete, hoje, sobre o impacto desse ataque” ou que lições desse dia moldam as políticas de Israel.
Em resposta, Netanyahu diz que se pode “eliminar a ameaça de um novo Holocausto contra o povo judeu”. E, a modos de avaliação, recorda que se perderam alguns dos melhores filhos e filhas de Israel que “lutaram corajosamente nesta guerra”, mas que se fez “algo mais”: “Não foi apenas uma guerra contra os terroristas do Hamas, foi também um muro contra o eixo terrorista iraniano”, explicitou.
Depois, elencou todas as suas outras ações bélicas destes dois anos de conflito:
*  Os ataques ao Hezbollah, que ameaçou lançar 150 mil rockets e mísseis “sobre as nossas cabeças”, mas que ficou de joelhos;
* O derrube do regime assassino de Assad, que assassinou meio milhão de pessoas da sua população e servia de eixo principal à ponte do terror iraniano para o Mediterrâneo;
* O recuo da ameaça atómica iraniana de aniquilar Israel e de ameaça aos vizinhos e à Europa;
* A luta contra os Houthis, peões do Irão na foz do Mar Vermelho, que bloqueiam o comércio marítimo e a lançam mísseis “sobre nós”, incluindo a noite de 4 de outubro.
Enfim, Netanyahu denuncia “todo um eixo de terror iraniano” que tem de recuar, para o futuro do Mundo, tendo sido ele que financiou o Hamas, o Hezbollah e os Houthis e manteve vivas todas estas forças fanáticas que não só são contra Israel, como cantam “morte à América”, “morte a Israel” e “morte à Europa”.
Citando o chanceler alemão Friedrich Merz, o chefe do governo de Israel diz que “estamos a lutar contra os bárbaros que querem destruir as nossas sociedades livres”. “Não é apenas contra os terroristas do Hamas que se escondem atrás de civis, que usam os seus civis como escudos humanos, que disparam contra civis que querem sair do perigo quando lhes dizemos para abandonarem a zona de combate. […] É contra todo o monstruoso eixo de terror que o Hamas construiu, não apenas para destruir Israel e conquistar o Médio Oriente, mas para vos atacar. E é isso que Israel está a combater”, clama Netanyahu.
Recorda o aviso de Winston Churchill ao Mundo sobre o Acordo de Munique, celebrando a entrega a Hitler do controlo de parte da Checoslováquia: “Isto vai trazer uma guerra como nunca vimos”. E comenta: “As pessoas condenaram-no como belicista, tal como condenam Israel, tal como me condenam a mim. Mas, na verdade, estamos a travar a batalha do Mundo livre.”

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A entrevista expõe a intenção do chefe do governo israelita de acabar com o Hamas. Tal objetivo desdobra-se em desarmar, desmilitarizar e, sobretudo, desradicalizar Gaza. Israel mantém-se em Gaza, não aceita o Estado palestiniano e critica aqueles que o reconhecem ou o querem implantar, por isso se tornar um perigo para Israel, para os vizinhos e para o Mundo todo.
O copolícia e codefensor do Mundo, a par do presidente dos EUA, acha irrelevante a Europa, mas tem pena dela, por estar sob “pressão tremenda”. Não sei se é cinismo, se é ironia.
Netanyahu esquece que o Mundo reagiu, a sério, contra os ataques do Hamas, a 7 de outubro de 2023: governos, manifestantes e publicações, etc. A tónica era o direito de Israel se defender, mas duvidava-se de que os seus serviços secretos tivessem ignorado a iminência do ataque brutal. Foi quando se viu que Israel estava no caminho de retaliação desproporcionada, massiva e semelhante à do Holocausto (em certa medida, pior), que a opinião pública se voltou para a defesa de quem sofria as atrocidades conhecidas. Surgiram relatos e imagens, artigos de opinião, manifestações e as tardias declarações diplomáticas. Nada foi por antissemitismo (o antissemitismo tem outras causas), mas contra os horrores da guerra, contra o bloqueio da ajuda humanitária (com mortes de agentes humanitários e de jornalistas) e contra a fome usada como arma de guerra.
Agora, Netanyahu acusa o Hamas dos comportamentos que Israel usa na guerra, embora possa ter razão no uso de civis como escudo. Porém, Israel não se limitou a ataques cirúrgicos. Os ataques terrestres e aéreos têm sido em massa e a população é deslocada e encurralada.
Irónica ou cinicamente, Donald Trump, aquele que idealizou a expulsão da população para fazer da Faixa de Gaza a Riviera do Mediterrâneo Leste surge como salvador do povo palestiniano. Merecerá o Prémio Nobel da Paz?

2025.10.09 – Louro de Carvalho


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