As últimas tomadas de posição de diversos países de reconhecimento do Estado palestiniano, os largos protestos contra a intercetação da Flotilha Global Sound (depois de muitas outras) e subsequente detenção de ativistas, a obsessão de Donald Trump na demanda do Prémio Nobel da Paz e, provavelmente, o cansaço de guerra levaram o Hamas e Israel a tornarem-se disponíveis para a aceitação do plano de paz que o presidente dos Estados Unidos da América (EUA) divulgou, a 29 de setembro. Israel deve interromper, imediatamente, o bombardeamento de Gaza, para que possamos retirar os reféns com segurança e rapidez... trata-se da PAZ há muito buscada no Médio Oriente”, escreveu o inquilino da Casa Branca no X, a 4 de outubro.
Depois, o porta-voz oficial do exército de Israel usou a mesma rede social para declarar que, “em conformidade com as diretrizes da cúpula política, o chefe do Estado-Maior Geral instruiu a antecipação dos preparativos para a implementação da primeira fase do plano de Trump para a libertação dos reféns”. De acordo com a mesma publicação, “a segurança das tropas das FDI [forças de defesa israelitas] é uma prioridade máxima e que todas as capacidades das FDI serão alocadas ao Comando Sul, para garantir a proteção das tropas”.
Apesar do apelo oficial do presidente dos EUA, a agência de notícias AFP relata que os bombardeamentos, em Gaza, continuam. “Foi uma noite muito violenta, durante a qual [o exército israelita] realizou dezenas de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia contra a cidade de Gaza e outras áreas da Faixa de Gaza, apesar do apelo do presidente Trump para interromper os bombardeamentos, disse o porta-voz da defesa civil, Mahmud Bassal, à AFP, citado pelo The Guardian, sendo o mesmo facto reportado pela CNN Internacional.
Efetivamente, moradores declararam a este canal que há o registo de, pelo menos, 12 mortos, segundo as autoridades de saúde, em Gaza. “Apesar do apelo de Trump a Israel para que cesse, imediatamente, todos os bombardeamentos, eles continuam”, declarou Mohammad Abu Salmiya, diretor do Hospital Al-Shifa, em declarações à CNN Internacional, na manhã de quatro de outubro, referindo que os bombardeamentos estão em curso desde a noite passada.
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Os
EUA divulgaram o “Plano Abrangente para Acabar com o Conflito de Gaza”, um
plano detalhado, com o objetivo de pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, o qual,
supervisionado internacionalmente, através dum comité encabeçado pelo presidente
norte-americano, Donald Trump, terá a execução liderada por Tony Blair, antigo primeiro-ministro
britânico, entre 1997 e 2007, e conta com o apoio de oito países árabes
parceiros, para assegurar o processo de transição para a paz naquele território
palestiniano.Divisam-se, no plano, 18 pontos (há quem diga, 10, 20 e 21), que são:
1. Cessar-fogo imediato. O conflito cessará, logo que as partes concordem com o plano, com a suspensão das operações militares israelitas e a retirada gradual das FDI da faixa de Gaza. As forças israelitas retirar-se-ão para a linha acordada para preparar a libertação dos reféns. Durante este período, todas as operações militares, incluindo bombardeamentos aéreos e de artilharia, serão suspensas, e as linhas de batalha permanecerão congeladas, até que sejam cumpridas as condições para a retirada completa.
4. Governo transitório. Será insaturado um governo palestiniano temporário, supervisionado por um “Conselho de Paz” internacional liderado por Donald Trump, com participação de figuras como Tony Blair e contará com o apoio dos parceiros árabes e europeus. Este órgão será responsável pela administração de Gaza, até que a Autoridade Palestiniana (AP) complete um programa de reformas. Ou seja, o governo temporário de palestinianos (um comité tecnocrático e “apolítico”) será responsável por proporcionar serviços públicos diários – centrais e municipais – para as pessoas, na Faixa.
5. Ajuda humanitária e reconstrução. A ajuda humanitária será distribuída por organizações internacionais neutras, como as Nações Unidas e a Cruz Vermelha. A reconstrução de Gaza será prioridade, com a entrada de equipamento para a remoção de destroços e para a reabilitação de infraestrutura crucial.
10. Retirada gradual das FDI. Israel não ocupará, nem anexará Gaza; e as FDI entregarão, gradualmente, o território que atualmente ocupam, à medida que as forças de segurança garantam o controlo e a estabilidade na Faixa.
11. Plano económico para reconstrução. Será criado o plano económico de reconstrução de Gaza, pela convocação de especialistas com experiência em construção, em cidades do Médio Oriente, e considerando os planos existentes que visam atrair investimento e criar postos de trabalho. Gaza será reconstruída para o benefício do povo de Gaza, que já sofreu mais do que o suficiente.
12. Reabilitação de infraestruturas. Será estabelecida uma estrutura para financiar a reconstrução de Gaza até a AP completar o seu programa de reformas.
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Donald
Trump já pediu a Israel que pare com a ofensiva militar e disse ao Hamas que ou
aceita a proposta de paz apresentada pelos EUA ou “enfrentará um inferno nunca
visto”.Entretanto, o Hamas disse estar pronto para libertar todos os reféns israelitas, tanto vivos como mortos, que se encontram na Faixa de Gaza, de acordo com o plano do presidente dos EUA, para colocar o ponto final no conflito, com a retirada das forças israelitas do enclave.
“O movimento afirma a sua prontidão para entrar, imediatamente, em negociações, através de mediadores, para discutir os detalhes deste acordo”, disse o Hamas, numa declaração publicada na rede social Telegram e replicada pela Al Jazeera, na qual diz concordar, ainda, com a entrega da administração de Gaza a um órgão independente, “tendo como base o consenso nacional palestiniano e o apoio árabe e islâmico”.
“Outras questões mencionadas na proposta do presidente Trump sobre o futuro da Faixa de Gaza e os direitos legítimos do povo palestiniano estão dependentes da posição nacional unificada e às leis e resoluções internacionais relevantes”, vincou o Hamas, frisando que tal será “abordado numa estrutura nacional palestiniana abrangente, na qual o Hamas participará e contribuirá de forma responsável”.
Em resposta ao anúncio do Hamas, Donald Trump recorreu à rede social Truth Social para expressar o seu agrado, acreditando que o Hamas está “pronto para uma PAZ duradoura”. Nesse sentido, pediu a Israel para parar os seus bombardeamentos em Gaza.
O presidente da AP, Mahmoud Abbas, comprometeu-se, em declarações à agência de notícias Wafa, em realizar eleições gerais, um ano após o cessar-fogo com Israel. Informou que a AP está a elaborar uma constituição provisória, a concluir no prazo de três meses, que servirá de base para a transição da autoridade no estado da Palestina. E assegurou a sua “determinação em continuar os esforços para ampliar o reconhecimento internacional do Estado da Palestina e garantir a plena filiação às Nações Unidas”. “Nenhum partido, força política ou indivíduo pode concorrer a um cargo, sem se comprometer com o programa político e as obrigações internacionais e legais da Organização para a Libertação da Palestina”, acrescentou Abbas.
Mal foi conhecido o plano, o primeiro-ministro de Portugal saudou-o, garantindo que Portugal apoia a iniciativa que “pode ser o ponto de partida para uma paz justa e duradoura”.
“Saúdo a iniciativa do presidente Donald Trump para acabar com a guerra em Gaza, que concretiza princípios sempre apoiados por Portugal. A abertura do primeiro-ministro israelita, o envolvimento de parceiros árabes e europeus, a recetividade da comunidade internacional são sinais de esperança”, destacou o primeiro-ministro, numa nota na rede social X, vincando que “Portugal apoia esta iniciativa, que pode ser o ponto de partida para uma paz justa e duradoura para ambos os povos”.
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Será
que, desta vez, teremos paz no Médio Oriente, com um Estado palestiniano livre e
com Israel numa atitude de boa vizinhança? A experiência e a postura israelita,
no momento, não são bom augúrio, mas a esperança é a última a morrer.
2025.10.04
– Louro de carvalho
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