Não
vale a pena continuar a aplicar sanções económicas ou outras à Rússia, às suas
empresas ou aos seus magnatas.
Recentemente, a União Europeia (UE) estabeleceu o 19.º pacote de sanções à Rússia e os Estados Unidos da América (EUA) repetiram a sua dose contra o agressor da Ucrânia. Por outro lado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, citando informações de governos ocidentais, sustenta que os ataques de longo alcance da Ucrânia a refinarias na Rússia reduziram a capacidade de refinação de petróleo de Moscovo em 20%.
Recentemente, a União Europeia (UE) estabeleceu o 19.º pacote de sanções à Rússia e os Estados Unidos da América (EUA) repetiram a sua dose contra o agressor da Ucrânia. Por outro lado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, citando informações de governos ocidentais, sustenta que os ataques de longo alcance da Ucrânia a refinarias na Rússia reduziram a capacidade de refinação de petróleo de Moscovo em 20%.
Não
sei se dá para acreditar. Até agora, as sanções económicas impostas pela UE
acabaram por desestabilizar as economias europeias, pelo efeito de ricochete. O
presidente russo, Vladimir Putin, garante que as sanções decretadas pelos EUA
não fragilizam a economia do país invasor. É dito e redito que a economia russa
está em recessão. Ora, também a Alemanha foi considerada em recessão técnica e
mantém-se de pedra e cal no concerto das nações europeias, com notável
capacidade de influência.
Mais
de 90% dos ataques em solo russo referidos pelo líder ucraniano foram efetuados
com armas de longo alcance fabricadas na Ucrânia, mas é a Ucrânia que precisa
de ajuda financeira externa adicional, para produzir mais, pois, no dizer de Volodymyr
Zelenskyy, só precisa de trabalhar nisso, todos o dias.
As
exportações de petróleo desempenham papel fundamental no financiamento da
invasão da Ucrânia pela Rússia e as novas sanções da UE e dos EUA visam
reduzir as receitas de exportação de petróleo e de gás de Moscovo. Contudo, apesar
dos renovados esforços de paz liderados sob a égide dos EUA, a guerra não dá
sinal de terminar ao fim de quase quatro anos.
O
Kremlin não mostra vontade de compromisso e o presidente dos EUA, Donald Trump,
aumentou a parada, ao anunciar sanções contra os gigantes petrolíferos russos
Rosneft e Lukoil, que entram em vigor a 21 de novembro. E a Casa Branca pode
utilizar esta medida como instrumento de pressão ou de diálogo com Moscovo.
A
China e a Índia têm sido os maiores clientes do petróleo russo. Ora, a Índia
deu sinais de que reduzirá as importações de recursos energéticos da Rússia. O
presidente ucraniano esperava que o encontro de Donald Trump com o seu homólogo
chinês, Xi Jinping, na Coreia do Sul, permitisse reduzir, ainda mais, as
compras de crude russo. E a Lukoil diz que está a vender os seus ativos
internacionais, em resposta às sanções impostas pelos EUA, que visam pressionar
a Rússia a concordar com um cessar-fogo.
A
este respeito, a empresa afirmou, em comunicado, que está a falar com
potenciais compradores e que as transações serão realizadas ao abrigo de um
período de carência de sanções que permite transações com a Lukoil, até 21 de
novembro, estando a empresa a procurar uma extensão desse prazo, se for necessário.
A
Lukoil tem participações em projetos de petróleo e de gás em 11 países,
refinarias na Bulgária e na Roménia e uma participação de 45% numa refinaria,
nos Países Baixos. Por seu turno, a Rosneft tem uma participação numa refinaria
em Schwedt, na Alemanha, mas o governo alemão assumiu a custódia da
participação e a instalação não envia receitas para a empresa-mãe. O pacote de sanções
dos EUA dificulta a atividade da Lukoil e da Rosneft fora da Rússia. E as
sanções, além de impedirem as empresas norte-americanas de negociar com estas
empresas, implicam a ameaça de sanções secundárias para os bancos estrangeiros
que gerem as suas transações.
Sendo
assim, qualquer banco que queira manter contacto com o sistema financeiro
dominante dos EUA pensará duas vezes, antes de fazer negócios com elas. Contudo,
o Kremlin dificilmente se deixará enredar pelas sanções. Efetivamente, o presidente
russo desvalorizou as últimas sanções dos EUA, que não terão grande impacto na
economia russa ou na sua posição relativa à guerra na Ucrânia. E, questionado, numa
conferência de imprensa, sobre essa desvalorização, o presidente
norte-americano, despicientemente, ironizou: “Ainda bem que ele pensa assim.”
“A
Rússia não cederá às sanções dos Estados Unidos, que são uma tentativa de
forçar Moscovo”, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, enfatizando que “nenhum
país que se preze faz o que quer que seja sob pressão.”
O
líder do Kremlin, classificando as últimas sanções do presidente dos EUA contra
Moscovo como um “ato hostil”, que prejudicará as relações Moscovo-Washington,
minimizou o seu potencial impacto na economia russa.
Os
dirigentes norte-americanos não responderam positivamente a Vladimir Putin. Assim,
na linha ironizante de Donald Trump, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, reagiu,
com um sorriso: “Daqui a seis meses, digo-vos o que se passa. Vamos ver como
corre.”
O
presidente russo advertiu Washington contra a venda de mísseis Tomahawk à
Ucrânia, afirmando que qualquer ataque profundo à Rússia com esta ou com qualquer
outra arma de longo alcance será objeto de resposta “devastadora”. “Esta é uma
tentativa de escalada. Porém, se essas armas forem utilizadas para atingir o
território russo, a resposta será muito séria, se não mesmo devastadora.
Deixem-nos pensar nisso”, declarou Vladimir Putin.
O
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que as autoridades russas estão a “analisar
as sanções que foram definidas e anunciadas” e que farão o que melhor servir os
interesses do seu país. “É esse o principal aspeto das nossas ações. Não
estamos a agir contra outra pessoa, estamos a agir em nosso próprio benefício.
É isso que vamos fazer”, vincou Peskov.
Os
EUA impuseram sanções às duas maiores empresas petrolíferas russas, enquanto a
UE aprovou o seu 19.º pacote de sanções, visando bancos, receitas energéticas e
redes envolvidas na evasão às restrições existentes. É óbvio que as novas
medidas se destinam a pressionar Moscovo a aceitar um cessar-fogo na Ucrânia,
após o fracasso das conversações diplomáticas planeadas entre os EUA e a
Rússia. Não obstante, apesar de Donald Trump ter anunciado, publicamente, que
tinha cancelado o encontro com Vladimir Putin, o presidente russo desmentiu o
facto, afirmando que o encontro foi apenas adiado.
Ora,
o presidente dos EUA, ao dizer que não quer uma reunião desperdiçada, foi claro:
“Cancelámos a reunião com o presidente Putin. Simplesmente, não parecia correto
encontrarmo-nos. Não parecia que íamos chegar ao sítio onde tínhamos de chegar.
Por isso cancelei-a. […] Sempre que falo com Vladimir, tenho boas conversas e
depois não vão a lado nenhum.”
Em
contraponto, o presidente russo afirmou que a cimeira foi “adiada” e não
cancelada, frisando que seria um erro realizá-la, sem os preparativos
necessários. E foi, segundo o Kremlin, o lado americano propôs a reunião e a
sua localização.
Vladimir
Putin reiterou que Moscovo continua disponível para dialogar, enquanto as
autoridades russas e os meios de comunicação social descrevem a cimeira de
Budapeste apenas como “adiada”, evitando o termo “cancelamento”. E Kirill
Dmitriev, diretor do fundo soberano russo (RDIF) e enviado especial do Kremlin,
reuniu-se com funcionários da administração norte-americana, para prosseguir as
discussões sobre as relações entre os EUA e a Rússia.
***
A
28 de outubro, a Euronews publicou um artigo de Doloresz Katanich intitulado
“Durante quanto tempo poderá a economia russa continuar a financiar a linha da
frente?”, referindo que “a economia russa está à beira da recessão”, mas que “a
guerra pode durar anos”, e que, segundo especialistas, “o seu financiamento não
parece ter grandes obstáculos imediatos”.
Embora a Rússia enfrente uma nova vaga de sanções dos EUA e da UE e a sua economia interna se aproxime da recessão, “tudo isto não é suficiente para travar a sua capacidade de financiar a guerra na Ucrânia”. “A recessão não significa quase nada, para a estabilidade económica e política da Rússia, nos dias que correm”, afirma Vladislav Inozemtsev, cofundador e membro do Conselho Consultivo do Centro de Análise e Estratégias na Europa (CASE), um grupo de reflexão independente sediado na UE.
Embora a Rússia enfrente uma nova vaga de sanções dos EUA e da UE e a sua economia interna se aproxime da recessão, “tudo isto não é suficiente para travar a sua capacidade de financiar a guerra na Ucrânia”. “A recessão não significa quase nada, para a estabilidade económica e política da Rússia, nos dias que correm”, afirma Vladislav Inozemtsev, cofundador e membro do Conselho Consultivo do Centro de Análise e Estratégias na Europa (CASE), um grupo de reflexão independente sediado na UE.
Apesar
de impulsionada pelos gastos militares, a economia russa mostra sinais de
recessão ou de estagflação. Estagflação é condição económica rara
que combina inflação elevada, desaceleração do crescimento económico (estagnação)
e aumento do desemprego. É fenómeno problemático porque os preços sobem,
enquanto a economia não cresce.
A
inflação continua elevada e está associada a forte abrandamento económico. A
inflação atingiu o pico de 10,3%, em março, e diminuiu para 8%, em setembro, o
que representa ainda o dobro da meta de 4% do Banco da Rússia. Apesar disso, o
banco central vem reduzindo, de forma agressiva, a taxa de juro de referência,
tendo a mais recente descida ocorrido a 24 de outubro, com a redução de 50
pontos base, para 16,5% – a 4.ª redução, que é surpresa para os mercados.
As
elevadas taxas de juro e a grave escassez de mão de obra (com a taxa de
desemprego nos 2,1%) limitaram o crescimento. A economia registou a expansão
homóloga de 1,4%, no primeiro trimestre de 2025, e de 1,1% no segundo, contra
o crescimento anual de 4,1%, em 2023 e em 2024. O sentimento empresarial tem
vindo a enfraquecer. O S&P Global Russia Composite PMI caiu de 49,1 em
agosto, para 46,6, em setembro, marcando o quarto mês consecutivo de contração
do setor privado e o valor mais baixo, desde outubro de 2022, com o setor
industrial e o setor de serviços a serem afetados.
De
acordo com a Oxford Economics, a economia russa não esteve em recessão (se definida
como dois trimestres consecutivos de contração). Todavia, os economistas daquela
empresa de consultoria económica global esperam que o crescimento, no terceiro
trimestre, seja tão fraco como 0,2%, face ao anterior. Esperam taxas de
crescimento semelhantes, a curto prazo, mas admitem que as recentes
sanções petrolíferas levem a economia à recessão.
O
economista Vladislav Inozemtsev, do CASE, considera o sentimento empresarial
sombrio, com os empresários a anteciparem “o agravamento das condições gerais,
a paralisação económica, o declínio da procura dos consumidores e o aumento dos
impostos”. E espera que a economia russa sofra uma recessão moderada nos
próximos meses, resultando num crescimento anual estável, para 2025, e numa “contração
entre 1% e 1,4%, em 2026”.
Um
relatório recente do CASE conclui que a economia russa se adaptou à guerra, mantendo-se
num estado de equilíbrio, mas prevê um período prolongado de estagnação
política e económica na Rússia, sem grande desenvolvimento ou prosperidade, nos
próximos dez anos.
As
sanções da UE e dos EUA aumentam a longa lista de restrições que têm sido implementadas,
desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. Os EUA
sancionaram as duas maiores empresas petrolíferas russas, a Rosneft e a Lukoil,
e as suas subsidiárias. A UE adotou o 19.º pacote de sanções, incluindo a
proibição total do gás natural liquefeito (GNL) russo, a partir de 2027, e a
proibição das importações de petróleo e de gás da Rosneft e da Gazprom Neft
para a UE, bem como a proibição de a Rússia contornar as restrições anteriores,
proibindo o investimento no país e impedindo-a de receber alguns serviços
financeiros e infraestruturas, a que se junta a proibição do comércio de
materiais críticos de apoio à guerra.
Tudo
isto, na ótica da UE, aumenta substancialmente a pressão sobre a economia de
guerra russa”, mas, aos olhos do Kremlin, as novas medidas mais rigorosas não
terão qualquer impacto na economia russa e na sua estratégia de guerra na
Ucrânia.
A
Rússia, um alvo muito difícil, devido à sua exportação de muitas mercadorias
cruciais, incluindo petróleo e gás, fertilizantes, trigo e metais preciosos, encontrou
formas de contornar as sanções e as restrições, incluindo o comércio
através de uma “frota sombra” de petroleiros e o aumento das exportações para a
China e para a Índia. E os analistas questionam se as sanções pararão os
esforços de guerra, embora empurrem a economia do país para a recessão.
As
sanções têm impacto nas receitas energéticas da Rússia, mas os produtos
energéticos, conquanto “importantes, para o mercado interno e para as
exportações, não são fonte substancial de receitas do orçamento para continuar
a guerra. O CASE confirma que a dependência do orçamento do petróleo e do
gás diminuiu drasticamente. A sua participação nas receitas totais caiu de
mais de 50%, em 2011-2014, para apenas 25%, em meados de 2025.
O
declínio reflete a queda nos preços do petróleo e na produção petrolífera
da Rússia, a par do rápido fortalecimento do rublo e do impacto das
sanções ocidentais. E os ataques de drones ucranianos às refinarias de petróleo
russas não têm grande impacto nos volumes de exportação, segundo Inozemtsev, já
que a Rússia vende tanto petróleo bruto como petróleo transformado e, se uma
refinaria for destruída, a quota do petróleo bruto, simplesmente, aumenta, porque
vai para os portos sem ser processado.
As
receitas da Rússia provenientes da produção de hidrocarbonetos continuam a
diminuir, devido à descida dos preços. E a Oxford Economics sustenta que,
em setembro, o orçamento recebeu 582,5 mil milhões de rublos em receitas de
hidrocarbonetos, menos 25% do que no mesmo mês de 2024. Porém, as sanções
têm pouca importância, pois a guerra não é paga, internamente, com os dólares
ou com os yuans das exportações, mas com os rublos que o Banco Central da
Rússia pode imprimir ou que os serviços fiscais cobram às empresas russas, “que
aumentaram 13,2%, em outubro, em relação ao ano anterior”.
A
longo prazo, a redução das compras pela Índia e pela China reduzirá as
principais receitas, mas, os militares não o sentirão durante, pelo menos,
um ano ou até bastante mais. E os peritos da Oxford Economics sustentam que “a
guerra pode durar anos”, pois a A Rússia ainda tem dinheiro no seu fundo
soberano – 5,9% do produto interno bruto (PIB) no total, em setembro, incluindo
1,9% do PIB em ativos líquidos. E uma das principais fontes de rendimento para
financiar o défice, previsto em 2,6% do PIB, é a contração de empréstimos
pelo Estado no mercado interno. A dívida pública, em relação ao PIB,
deverá situar-se em 17,7%, no final de 2025. Além disso, os depósitos
privados nos bancos russos são suficientes, atualmente, cinco vezes mais
do que todo o orçamento militar para 2025.
É
difícil saber se as exportações cairão. A Rússia pode exportar petróleo, com um
desconto maior e através de mais intermediários, para ocultar a origem do
petróleo. E é quase impossível monitorizar as transações entre a Rússia e a
China. Por isso, no dizer de Inozemtsev, não é de esperar que a diminuição das
exportações russas mine, em breve, a capacidade de Vladimir Putin para fazer a
guerra. Até já testou o míssil nuclear Burevestnik, que pode
atingir os EUA, e o Poseidon, um drone subaquático com capacidade nuclear.
Portanto,
a guerra pode durar anos ou ter um desfecho muito dramático. Os dois líderes mundiais
têm poucos escrúpulos.
2025.10.29 – Louro de Carvalho
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