A
10 de setembro, a Polónia, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO),
viu o seu espaço aéreo violado por drones de combate russos, o incidente mais
grave deste tipo, desde o início da guerra na Ucrânia, pelo que tem em curso
uma operação destinada a neutralizar os objetos hostis, com o envolvimento das
forças aéreas e do exército.
Os primeiros sinais de ataque iminente surgiram nos canais ucranianos que monitorizam a segurança. Segundo os seus dados, dezenas de drones do tipo Shahed, com uma carga de cerca de 100 quilos, voaram em direção a Kiev e ouviram-se explosões nos arredores da capital ucraniana. Parte dos drones dirigiu-se para Oeste. Pelo menos, oito chegaram a Lviv, a apenas 80 quilómetros da fronteira polaca. E, de acordo com informações não oficiais, cinco aeronaves cruzaram a fronteira polaca nas proximidades de Zamość.
Os primeiros sinais de ataque iminente surgiram nos canais ucranianos que monitorizam a segurança. Segundo os seus dados, dezenas de drones do tipo Shahed, com uma carga de cerca de 100 quilos, voaram em direção a Kiev e ouviram-se explosões nos arredores da capital ucraniana. Parte dos drones dirigiu-se para Oeste. Pelo menos, oito chegaram a Lviv, a apenas 80 quilómetros da fronteira polaca. E, de acordo com informações não oficiais, cinco aeronaves cruzaram a fronteira polaca nas proximidades de Zamość.
O
Comando Operacional das Forças Armadas da República da Polónia informou, em
comunicado, que fora iniciada uma operação de neutralização da ameaça sobre a
Polónia. “Durante o ataque de hoje da Federação Russa contra alvos no
território da Ucrânia, o nosso espaço aéreo foi violado, repetidamente, por
objetos do tipo drones. Está em curso uma operação com o objetivo de
identificar e neutralizar esses objetos. Por ordem do Comandante Operacional
das Forças Armadas, foram utilizadas armas e estão em curso operações
destinadas a localizar os objetos abatidos”, lê-se no comunicado.
Devido
ao risco, foi decidido fechar, temporariamente, o espaço aéreo sobre os
aeroportos de Varsóvia, de Rzeszów, de Modlin e de Lublin, que permanecem
abertos, mas sem operações aéreas. Os voos para o aeroporto Chopin são
redirecionados para Cracóvia, Katowice e Radom.
Donald
Tusk, primeiro-ministro polaco, afirmou que está em curso uma operação para
responder às “múltiplas violações” do espaço aéreo, quando as forças russas
atacaram partes da Ucrânia ocidental que fazem fronteira com a Polónia. E disse
que, tendo recebido um relatório do comandante operacional, está em contacto
permanente com o presidente e com o ministro da Defesa Nacional e que informou
do sucedido o secretário-geral da NATO, Mark Rutte.
O
presidente Karol Nawrocki publicou um comunicado, após violações noturnas do
espaço aéreo por drones, e confirmou uma reunião com o governo no Gabinete de
Segurança Nacional.
Também
o ministro da Defesa Nacional, Władysław Kosiniak-Kamysz, frisou que os drones que
poderiam constituir ameaça foram abatidos e acrescentou: “Estamos em contacto
permanente com o comando da NATO. Todos os serviços permanecem em estado de
alerta. As Forças de Defesa Territorial foram ativadas para a busca terrestre
dos drones abatidos.” E o vice-ministro da Defesa, Cezary Tomczyk, alertando
para eventual desinformação, apelou a que “apenas sejam divulgadas as
comunicações do Exército Polaco e dos serviços estatais”.
Joe
Wilson, congressista americano, no X, escreveu que se trata de um ato de
guerra e que os aliados da NATO reagiram, rapidamente, à agressão contínua e
injustificada de Vladimir Putin contra as nações livres. Por isso, exortou Donald
Trump a impor “sanções que levem à falência a máquina de guerra russa e equipem
a Ucrânia com armas capazes de atacar a Rússia”.
O
Comando Operacional das Forças Armadas polacas garantiu que todos os sistemas
de defesa aérea e radar disponíveis estão a funcionar em modo de máxima
prontidão. As forças armadas apelam a que as pessoas permaneçam em casa,
especialmente, nas províncias de Podlasie, de Mazóvia e de Lublin. E as
autoridades advertem para que não se aproximem de destroços de aeronaves
abatidas e pedem que sejam, imediatamente, comunicados à polícia.
Nas
últimas semanas, o espaço aéreo polaco foi violado por várias vezes, mas o caso
mais trágico ocorreu em novembro de 2022, em Przewodów, onde duas pessoas
morreram, em consequência da explosão de um míssil. No final de agosto deste
ano, um drone kamikaze russo do tipo Shahed explodiu nas proximidades da
localidade de Osiny, no distrito de Łuków, tendo o ministro da Defesa polaco
avaliado que se tratava de ação provocatória da parte da Rússia. A 7 de setembro,
foram encontrados os destroços de um drone na localidade de Majdan-Sielec, a
cerca de 50 quilómetros da fronteira com a Ucrânia. E, a 8 de setembro, agentes
da Guarda de Fronteira encontraram os destroços de um drone com identificação
russa. O objeto caiu a cerca de 300 metros da fronteira com a Bielorrússia. Porém,
uma inspeção preliminar, realizada com o auxílio de um cão, excluiu a presença
de materiais explosivos.
A
operação em curso marca a primeira vez em que a Polónia se envolveu,
diretamente, com meios russos, desde o início da invasão, em grande escala, da
Ucrânia. Ocorre numa altura em que grande parte da Ucrânia, incluindo partes da
região ocidental que fazem fronteira com a Polónia, esteve sob alerta de
ataques aéreos de mísseis e de drones russos, na noite de 10 de setembro. E o
primeiro-ministro avisou que a Polónia não ficará passiva, face a tais
acontecimentos.
***
Donald
Tusk confirmou, numa declaração parlamento, escudado em conversa com o presidente
Karol Nawrocki, que o país solicitou a invocação do artigo 4.º do Tratado da
NATO ou Tratado de Washington, segundo o qual os aliados podem levantar uma
questão junto do Conselho do Atlântico Norte. A Polónia fê-lo, após dezenas de
drones terem invadido o seu espaço aéreo, “provocação incomparavelmente mais
perigosa” do que as anteriores. E o primeiro-ministro disse que planeava
convocar o Conselho de Segurança Nacional do país dentro de 48 horas.
A Polónia abateu os aparelhos que sobrevoaram o país, em direção à Ucrânia. Para Donald Tusk, o incidente representa uma escalada da ameaça russa para os polacos. “Não há dúvida de que esta provocação é incomparavelmente mais perigosa, do ponto de vista da Polónia, do que as anteriores”, afirmou.
A Polónia abateu os aparelhos que sobrevoaram o país, em direção à Ucrânia. Para Donald Tusk, o incidente representa uma escalada da ameaça russa para os polacos. “Não há dúvida de que esta provocação é incomparavelmente mais perigosa, do ponto de vista da Polónia, do que as anteriores”, afirmou.
As
forças militares polacas depressa abateram os aparelhos que sobrevoavam o
espaço aéreo do país, com Donald Tusk a congratular o comando operacional do
país. “A DORSZ aumentou a prontidão das suas forças e meios, tendo em conta as
informações. Além dos sistemas terrestres, foram ativados aviões de alerta
precoce para operações aéreas. Tratou-se de uma ação da NATO. Dois F-35, dois
F-16, helicópteros Mi-17, Mi-24 e um Black Hawk foram desviados para a zona de
operação prevista”, detalhou o primeiro-ministro no parlamento do país,
reforçando a gravidade do incidente, que não resultou de erro, nem de “pequena
provocação”, pois foi a primeira vez que “um número significativo de drones
voou, diretamente, da Bielorrússia”.
“Os
procedimentos funcionaram, o processo de decisão foi perfeito, a ameaça foi
eliminada, graças à determinação dos comandantes, [dos] soldados, [dos] pilotos
e também dos aliados. Estamos, muito provavelmente, a lidar com uma provocação
em grande escala”, avisou, mas afastando o cenário de alarmismo desmedido, pois
a situação está a ser monitorizada.
Slawomir
Cenckiewicz, diretor do Gabinete de Segurança Nacional (BBN) sublinhou que
se trata de uma “situação não tem precedentes” e lembrou a importância da
parceria com os aliados da NATO para o sucesso de operações como esta.
A
gravidade da situação foi reforçada pelo presidente do partido da oposição Lei
e Justiça (PiS), Jarosław Kaczyński. “Estamos a lidar, hoje, com um ataque à
Polónia. Já não se trata de um acidente e de algo que possamos atribuir a ações
imprevistas. Trata-se, simplesmente, de um ataque. É muito simbólico que, neste
dia em que a unidade é necessária, os que se manifestam sempre contra nós,
contra a Polónia, sejam ainda mais descarados do que o habitual”, afirmou.
A
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mencionou o assunto no
seu discurso anual perante o Parlamento Europeu, reafirmando a total
solidariedade da Europa com a Polónia.
***
O
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), agendou uma reunião
de emergência, a pedido da Polónia, para 10 de setembro, para debater os incidentes.
A Polónia registou, pelo menos, 19 incursões de drones, alguns dos quais voaram a profundidade suficiente, no interior do país, para que quatro aeroportos suspendessem, temporariamente, os voos. Foram recuperados fragmentos de 16 objetos abatidos. Foi a primeira vez que um país membro da NATO se envolveu, ativamente, com drones russos desde o início da guerra na Ucrânia. E o Conselho de Segurança da ONU tem autoridade para investigar conflitos que ameacem a segurança internacional e propor contramedidas, como sanções económicas.
A Polónia registou, pelo menos, 19 incursões de drones, alguns dos quais voaram a profundidade suficiente, no interior do país, para que quatro aeroportos suspendessem, temporariamente, os voos. Foram recuperados fragmentos de 16 objetos abatidos. Foi a primeira vez que um país membro da NATO se envolveu, ativamente, com drones russos desde o início da guerra na Ucrânia. E o Conselho de Segurança da ONU tem autoridade para investigar conflitos que ameacem a segurança internacional e propor contramedidas, como sanções económicas.
Os
líderes europeus acreditam que esta incursão, com o Kremlin a lançar uma vaga
de ataques contra a Ucrânia, significa a expansão internacional da guerra.
Contudo, o major-general bielorrusso Pavel Muraveiko, chefe do Estado-Maior do
país e primeiro vice-ministro da Defesa, tentou distanciar o seu país da
incursão. Numa declaração online, afirmou que as forças de defesa aérea
bielorrussas seguiram “drones que perderam a rota”, depois de terem sido
bloqueados, acrescentando que Minsk avisou os homólogos polaco e lituano, sobre
a aproximação de “aeronaves não identificadas” ao seu território.
O
Ministério da Defesa russo afirmou que os seus ataques noturnos visaram a
indústria militar da Ucrânia ocidental e que os ataques em território polaco
não foram planeados. No entanto, os dirigentes dos Estados bálticos da
Lituânia, da Letónia e da Estónia manifestaram a sua profunda preocupação com o
que consideraram ser uma prova clara da expansão da agressão de Moscovo.
O
presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou que a incursão dos drones é
um “precedente extremamente perigoso para a Europa” e apelou à Rússia para que “sinta
as consequências”. “Moscovo testa sempre os limites do que é possível e, se não
encontrar uma resposta forte, mantém-se num novo nível de escalada”, afirmou.
Donald
Trump, que tem pressionado, repetidamente, para mediar um acordo de cessar-fogo
entre a Ucrânia e a Rússia, disse, num curto post, nas redes sociais: “O
que se passa com a Rússia a violar o espaço aéreo da Polónia com drones? Aqui
vamos nós.”
***
O
risco não está afastado, para os países que têm fronteiras com a Rússia. “Se o
conflito do outro lado da nossa fronteira continuar, o risco de novos
incidentes é significativo”, advertiu, no final de agosto, Andrzej Kinski,
chefe de redação da revista mensal Wojsko i Technika e perito militar, comentando
a explosão de um drone num campo de milho em Osiny, no Leste da Polónia.
O problema não afeta apenas a Polónia, mas todo o flanco oriental da NATO e vários outros países da Europa Oriental. Com efeito, em fevereiro de 2024 e em fevereiro de 2025, um total de três drones russos Shahed explodiu em território moldavo; e, em setembro de 2024, drones russos violaram o espaço aéreo da Letónia e da Roménia.
O problema não afeta apenas a Polónia, mas todo o flanco oriental da NATO e vários outros países da Europa Oriental. Com efeito, em fevereiro de 2024 e em fevereiro de 2025, um total de três drones russos Shahed explodiu em território moldavo; e, em setembro de 2024, drones russos violaram o espaço aéreo da Letónia e da Roménia.
No
dia seguinte à explosão em Osiny, num briefing com jornalistas, o
vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa Nacional descreveu a explosão em
Osiny como “provocação da Federação Russa”. Porém, Andrzej Kinski distancia-se
desta avaliação: “Com base na discussão pública das provas materiais
encontradas no local do crime, não posso afirmar, inequivocamente, que se
tratou de provocação – russa, bielorrussa, ucraniana, de funileiros, de
extraterrestres, etc. – e que foi uma provocação da Federação Russa”, declarou,
acrescentando que “certas descobertas no local do drone abatido” o tornam
cauteloso, quanto a esta afirmação, sendo necessária análise mais aprofundada,
e que talvez nunca se saiba a verdade.
A
questão fundamental é saber porque é que os sistemas de defesa aérea polacos
não conseguiram, em agosto, detetar o drone que se aproximava. O major-general
Dariusz Malinowski, vice-comandante do Comando Operacional das Forças Armadas, sustentava
que aquele drone “foi concebido para ser muito difícil de detetar”, e que, provavelmente,
voou muito baixo para evitar o campo de radar do espaço aéreo polaco.
Andrzej
Kinski confirma a avaliação, mas pormenoriza: “O campo de radiolocalização, em
tempo de paz, estende-se sobre o nosso país, a partir de uma altitude de três
mil metros, ou seja, abaixo dos três mil, não existe um campo de
radiolocalização contínuo. Em situação de crise, quando outras estações de
radiolocalização, que não estão necessariamente ligadas ininterruptamente,
entram em funcionamento, é possível obter uma cobertura, a partir da altura de
500 metros.”
Contudo,
o problema é mais complexo. A fronteira oriental polaca tem mais de 900
quilómetros de comprimento. Não é possível cobrir toda esta faixa com meios de
radiolocalização e detetar todos os alvos que voam a alturas entre 10 metros e
50 quilómetros. Além disso, os radares geram fortes radiações de micro-ondas, nocivas
para os seres humanos e para os animais, em caso de exposição prolongada. Por
isso, as estações de radar são colocadas em ambientes de tempo de paz, para terem
um campo de observação ótimo e para a radiação não lesar os transeuntes.
Em
maio de 2024, o Ministério da Defesa aprovou um contrato para a entrega do
sistema de aeróstato de radiotelemetria “BARBARA”, em 2027, no valor de cerca
de 960 milhões de dólares. O sistema é composto por quatro aeróstatos
instalados ao longo das fronteiras oriental e nordeste da Polónia, com um
alcance de deteção de objetos de mais de 300 quilómetros, por cada posto.
Porém, Andrzej Kinski é cético, sustentando que o sistema não terá bom
desempenho, em período de conflito ativo, visto que pode ser destruído nos seus
primeiros minutos.
A
situação na região continua tensa e é provável que os incidentes com drones
continuem até ao fim do conflito na Ucrânia. Como afirma o perito, os cidadãos
de muitos países europeus estão cientes da duração da guerra, pois a informação
sobre ela aparece todos os dias, mas não sentem tanto a ameaça como os países que
estão na linha da frente.
A
Polónia desempenha papel fundamental, no fornecimento de equipamento militar à
Ucrânia e na ajuda humanitária, por ter uma longa extensão de fronteira com a
Ucrânia. Assim, a decisão de estabelecer um centro de transportes em Rzeszów, a
capital da voivodia da Subcarpácia, faz da Polónia um dos países que suporta as
consequências do conflito. Além disso, há grandes cidades ucranianas a curta
distância da fronteira polaca, com instalações de importância militar ou com infraestruturas
críticas, pelo que são alvo de ataques russos e, por isso, de forma acidental
ou consciente, podem surgir violações do território polaco por objetos
voadores.
O
secretário-geral da NATO, em conferência de imprensa com o presidente
ucraniano, a 22 de agosto, referiu-se à explosão do drone em Osiny e vincou a indubitável
solidariedade da Aliança para com a Polónia, pelo que diz estar a trabalhar em
estreita colaboração com aquele país e a acompanhar de perto a situação.
***
Se
a guerra durar e alastrar, os países de fronteira com a Ucrânia e/ou com a
Rússia estão sujeitos a incidentes como os apontados. Por isso, impõe-se a vigilância
acurada, a não ocorrência de retaliação não amadurecida e, sobretudo, a lucidez
da diplomacia. Apesar da gravidade da situação, sobretudo, para os países em
causa, a NATO não resolverá o problema, começando por colocar militares e armas
na Ucrânia, para desferir golpes contra a Rússia, nem fazendo avaliações superficiais.
Também na guerra é necessária a ponderação.
2025.09.11 – Louro de Carvalho
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