A
distribuição da riqueza é um dos indicadores significativos da igualdade ou da
desigualdade na sociedade; e, embora desigual, na maioria dos países, o nível
de desigualdade é importante.
De acordo com o Banco Central Europeu (BCE), no primeiro trimestre de 2025, o grupo das famílias 10% mais ricas da Zona Euro detinha 57,4% da riqueza líquida total, enquanto o grupo dos 5% mais ricos representava 44,5%. Em contraponto, o grupo das famílias 50% mais pobres detinha apenas cerca de 5% da riqueza. São números que mostram a notória desigualdade na distribuição da riqueza na Europa.
De acordo com o Banco Central Europeu (BCE), no primeiro trimestre de 2025, o grupo das famílias 10% mais ricas da Zona Euro detinha 57,4% da riqueza líquida total, enquanto o grupo dos 5% mais ricos representava 44,5%. Em contraponto, o grupo das famílias 50% mais pobres detinha apenas cerca de 5% da riqueza. São números que mostram a notória desigualdade na distribuição da riqueza na Europa.
Sendo
assim, convém saber como está a riqueza distribuída na Europa, quais são
os seus países com os valores mais elevados e mais baixos de desigualdade de
riqueza e quais são as principais razões que determinam as diferenças na
desigualdade de riqueza?
O
Relatório sobre Riqueza Global 2025 da UBS, que abrange 56 países e mercados,
que representam mais de 92% da riqueza mundial, revela o índice de Gini da
desigualdade de riqueza, na Europa, a partir de 2024. O coeficiente de Gini
mede a desigualdade de distribuição da riqueza, num país, na escala entre 0 (zero)
e 1 (um), em que valor mais elevado indica maior desigualdade, enquanto um
valor de 0 representa igualdade total.
Nos
termos do relatório, a Suécia regista a maior desigualdade de riqueza, com um
coeficiente de Gini de 0,75, enquanto a Eslováquia regista a menor, com 0,38.
Os
países da União Europeia (UE) detêm apenas 16,6% da riqueza pessoal do Mundo.
Porém, na Europa, a riqueza pessoal aumenta para 22,3%, quando se incluem mais
quatro países.
Os
Estados Unidos da América (EUA) detêm mais de um terço e a China cerca de
um quinto. Em conjunto, estas duas potências controlam 54% da riqueza mundial.
Falando
da Europa, é de referir que, além da Suécia, a desigualdade de riqueza é
elevada na Turquia (0,73), em Chipre (0,72), na Chéquia (0,72) e na Letónia
(0,7), todos com valores superiores a 0,7. No fundo da tabela, estão a Bélgica
(0,47) e Malta (0,48), seguindo-se a Eslováquia com coeficientes de Gini
inferiores a 0,5.
Entre
as cinco maiores economias da Europa, a Alemanha regista o nível mais elevado
de desigualdade de riqueza, com 0,68, enquanto os resultados são muito mais
próximos nos outros países: a Espanha (0,56) tem o nível mais baixo, seguida da
Itália (0,57), do Reino Unido (0,58) e da França (0,59). E a Suécia costuma
ser descrita como um modelo de igualdade social, em muitos domínios, mas a
distribuição da riqueza é das mais desiguais da Europa.
Os
críticos argumentam que o “mapa partilhado” da cultura sueca, que ignora tudo o
que surgiu depois de 1975, é nacionalista e promove a exclusão. Depois de
vários anos de trabalho e de um trabalho de oito milhões de coroas (cerca de
727 mil euros), o historiador Lars Trägårdh entregou o cânone cultural sueco à
ministra da Cultura. A lista, que pretende definir o que significa ser sueco e
estabelecer um “mapa e uma bússola comuns”, para cidadãos e para recém-chegados
ao país, tem sido uma espécie de projeto de estimação dos Democratas Suecos,
partido nacionalista e anti-imigração, tendo feito parte do manifesto eleitoral
da coligação de direita no poder.
Lisa
Pelling, diretora do think tank Arena Idé, sediado em Estocolmo, apresenta
várias razões para a desigual distribuição da riqueza, na Suécia. Entre elas,
conta-se a abolição de uma série de impostos sobre o património, nas
últimas décadas. A Suécia também não tributa as heranças, as doações ou a
propriedade. E os impostos sobre as empresas são muito baixos, o que cria
muitas “possibilidades para os ricos ficarem ainda mais ricos”.
A
percentagem de riqueza dos 5% mais ricos da população é outro bom indicador da
distribuição da riqueza. De acordo com o BCE, em 20 países da UE, esta
percentagem variou entre 30,8%, em Malta, e 54%, na Letónia, no primeiro
trimestre de 2025.
Além
de Malta, Chipre (31,4%), os Países Baixos (32,8%), a Grécia (33%) e a
Eslováquia (34,4%) registam a menor desigualdade de riqueza. Em contraponto, a
seguir à Letónia, a Áustria (53,1%) e a Lituânia (51,7%) apresentam as
percentagens mais elevadas, com os 5% do topo a deterem mais de metade da
riqueza líquida total das famílias do país.
As
classificações são globalmente similares para os 10% mais ricos das sociedades,
com apenas ligeiras alterações, variando entre 42,7%, em Malta, e 64%, na
Letónia e na Áustria.
A
percentagem detida pelos 10% mais ricos é inferior a 50%, na Eslováquia
(44,1%), em Chipre (44,8%), na Grécia (45,4%), nos Países Baixos (46,2%) e na
Irlanda (48,6%).
Para
lá da Letónia e da Áustria, a Alemanha (60,5%) e a Itália (60,3%) são os outros
dois países onde os 10% mais ricos da população detêm também mais de 60% da
riqueza líquida. Este valor ascende a 54,8%, na França, e a 53,4%, na Espanha.
Carlos
Vacas-Soriano e Eszter Sándor, gestores de investigação da Eurofound,
sublinharam que as taxas de propriedade de habitação constituem é um dos
principais fatores que contribuem para as diferenças na distribuição da
riqueza. Os países com níveis mais elevados de propriedade de habitação tendem
a ter menor desigualdade de riqueza, enquanto os países onde o acesso a outros
ativos financeiros é mais generalizado tendem a maior desigualdade.
***
O
Relatório “Ter e não ter – Como ultrapassar a desigualdade de oportunidades”,
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE),
recentemente divulgado, coloca Portugal em segundo lugar na lista dos
países onde foi identificada maior disparidade. Em 29 dos países
estudados, Portugal só é ultrapassado pelos EUA. E, juntando à tabela mais
três nações em vias de adesão à OCDE – e também alvo de análise –, o nosso país
passa para 4.º, entre 32, partilhando a liderança dos piores também com a
Bulgária (1.º) e a Roménia (2.º).
Cerca de um quarto das desigualdades de rendimentos podem ser atribuídas a circunstâncias herdadas, como o género, o local de nascimento e o contexto socioeconómico dos pais”, conclui e relatório da OCDE, o primeiro a ser publicado no âmbito do Observatório sobre Mobilidade Social e Igualdade de Oportunidades, criado em 2022. Esse efeito varia, significativamente, entre os vários países, oscilando entre menos de 20%, como na Suíça, na Finlândia, na Dinamarca e na Islândia, ou acima de 35%, como é o caso de Portugal, mas também da Espanha, da Bélgica ou da Irlanda.
Cerca de um quarto das desigualdades de rendimentos podem ser atribuídas a circunstâncias herdadas, como o género, o local de nascimento e o contexto socioeconómico dos pais”, conclui e relatório da OCDE, o primeiro a ser publicado no âmbito do Observatório sobre Mobilidade Social e Igualdade de Oportunidades, criado em 2022. Esse efeito varia, significativamente, entre os vários países, oscilando entre menos de 20%, como na Suíça, na Finlândia, na Dinamarca e na Islândia, ou acima de 35%, como é o caso de Portugal, mas também da Espanha, da Bélgica ou da Irlanda.
Para
a OCDE, o peso de fatores externos “sugere que uma parcela significativa
da disparidade de rendimentos é moldada por fatores herdados”, não pelos
próprios esforços ou méritos, o que reforça “a influência persistente do
contexto socioeconómico nos resultados de vida”. A origem socioeconómica dos
pais desempenha “papel fundamental na definição das oportunidades de vida”. E a
OCDE assinala que, na maioria dos países, esse aspeto contribui para mais de
60% da desigualdade, observada a nível dos agregados familiares e, em alguns
casos, para mais de 75%.
Em
Portugal, em particular, a profissão do pai tem impacto significativo, seguido
pela profissão da mãe. E a OCDE refere que Portugal pertence a um grupo de
países caraterizados pela “alta importância da ocupação de ambos os
pais na formação da desigualdade de oportunidades”, assim como pela
influência de fatores ambientais da infância, em particular, a situação de
propriedade da casa e o grau de urbanização”.
Também
o local onde a pessoa cresce tem influência essencial e duradoura. Assim,
em alguns países da OCDE, as pessoas que vivem em regiões desfavorecidas têm
entre seis e dez vezes mais probabilidade de serem pobres do que os seus
pares em regiões mais favorecidas. Quem nasce em regiões com baixos
rendimentos enfrenta barreiras persistentes no acesso à educação, ao
emprego e à mobilidade social e tem menor probabilidade de se
mudar devido a maiores restrições sociais e financeiras. “Os alunos
em áreas rurais, por exemplo, apresentam, sistematicamente, um desempenho
inferior ao dos seus pares em zonas urbanas e tendem a enfrentar uma transição
mais difícil da escola para o mercado de trabalho”, sustenta o relatório.
Contudo,
em alguns países, como Portugal, a Estónia e a Nova Zelândia, os alunos
das zonas rurais têm melhores desempenhos a Matemática do que os
colegas urbanos, apesar de a proporção de pessoas com acesso a escola num raio
de 15 minutos de carro ser, significativamente, mais baixa nas zonas rurais do
que nas cidades, pela diferença de, pelo menos, 10%.
As perspetivas
de transição bem-sucedida da escola para o trabalho também dependem do
local de morada. Em média, nos países da OCDE, a percentagem de
jovens entre os 18 e os 24 anos que não estão empregados, nem a estudar ou em
formação varia em 13% entre as regiões com melhor e pior desempenho.
E o relatório acusa a persistência de lacunas regionais significativas no
acesso aos serviços de saúde, à Internet e aos transportes públicos. Um
dos parâmetros medidos foi a distância a que habitam de uma unidade hospitalar.
A maioria dos habitantes da OCDE fica a 30 minutos de um hospital. Nos países
com maior produto interno bruto (PIB) per capita, 96% da população vive a essa
distância de um atendimento de urgência. Em Portugal, que fica no fim da lista,
são apenas 18%.
Há
também a desigualdade de género. Mesmo em países com baixos níveis globais de
desigualdade de oportunidades, há disparidades significativas. Por
exemplo, as diferenças de género, em termos de oportunidades, são
relativamente limitadas, quando medidas ao nível do rendimento do agregado
familiar, visto que a partilha de recursos no seio do agregado tende a
compensar, parcialmente, as disparidades individuais. E os efeitos do
género tornam-se mais evidentes, quando se mede a desigualdade de
oportunidades, em termos de rendimento individual.
A
disparidade de rendimentos das mulheres é explicada, em parte, pela maior
dificuldade de acesso a determinadas profissões (segregação ocupacional), pela
discriminação na contratação e na promoção, face a candidatos homens, e por
normas socioculturais, “que moldam as escolhas e as oportunidades”.
No
atinente às diferenças entre gerações, na maioria dos países da OCDE,
as gerações mais jovens tendem a enfrentar níveis mais elevados de
desigualdade de oportunidades do que as gerações anteriores na mesma
idade. Porém, a OCDE frisa que as políticas públicas podem contribuir para uma
situação mais equilibrada, estando o desafio fundamental em garantir respostas
adaptadas às barreiras dos indivíduos e às suas famílias, com o apoio adequado.
Os
impostos sobre o rendimento e sobre a riqueza desempenha papel crucial na
garantia de condições mais equilibradas. Assim, de acordo com a OCDE, “regimes
tributários progressivos bem elaborados contribuem para reduzir a
desigualdade de oportunidades, na maioria dos países”; e “a percentagem média
de desigualdade de rendimento atribuível às circunstâncias que estão fora do
controlo dos indivíduos fica 12% mais baixa, depois da aplicação de impostos
sobre o rendimento e [sobre] a riqueza”. E, “em países como a Bélgica, Portugal
e a Suécia, essa parcela sobe para mais de 20%”, indica o relatório,
sustentando que “este forte efeito mitigador, provavelmente, está relacionado
com o facto de os impostos sobre os rendimentos e [sobre] a riqueza tenderem a
ser progressivos e serem pagos, principalmente, por famílias menos afetadas
pelas circunstâncias desfavoráveis”.
Por
conseguinte, a OCDE alerta para a necessidade de “políticas eficazes que
promovam um maior acesso aos principais motores das oportunidades económicas”,
nomeadamente, a educação e a formação, o emprego e os serviços essenciais, bem
como a “distribuição mais equitativa das oportunidades entre os territórios,
reduzindo as disparidades geográficas”.
***
Em
termos globais, segundo o Relatório sobre Riqueza Global 2025 da UBS, o Mundo
ficou mais rico, novamente, em 2024, mas o cenário é misto. De facto, após um
declínio, em 2022, a riqueza global aumentou, em 2024, na esteira de um 2023
dinâmico, mas a velocidade de crescimento está longe de ser uniforme, nos
mercados analisados.
Em 2023, a recuperação da riqueza foi impulsionada principalmente pelo crescimento na Europa, e Médio Oriente e África (EMEA). Em contraponto, em 2024, o crescimento da riqueza inclinou-se, fortemente, para a América do Norte, graças à estabilidade do dólar norte-americano e ao otimismo dos mercados financeiros. Os EUA e a China continental, juntos, respondem por mais da metade do património familiar. E persiste significativa lacuna na riqueza, por adulto, entre a América do Norte e a Oceânia, por um lado, e as demais sub-regiões do Mundo, por outro.
Em 2023, a recuperação da riqueza foi impulsionada principalmente pelo crescimento na Europa, e Médio Oriente e África (EMEA). Em contraponto, em 2024, o crescimento da riqueza inclinou-se, fortemente, para a América do Norte, graças à estabilidade do dólar norte-americano e ao otimismo dos mercados financeiros. Os EUA e a China continental, juntos, respondem por mais da metade do património familiar. E persiste significativa lacuna na riqueza, por adulto, entre a América do Norte e a Oceânia, por um lado, e as demais sub-regiões do Mundo, por outro.
Sem
considerar as oscilações anuais individuais, houve aumento acentuado e
consistente da riqueza, em todo o Mundo, desde o início do milénio, tanto em
geral, como em cada uma das principais regiões. A faixa mais baixa de riqueza (isto
é, abaixo de 10 mil dólares) continua a diminuir, ano após ano. A riqueza está a
aumentar de forma constante, mesmo após o ajuste pela inflação. Desde 2000, a
riqueza total, líquida de dívida e inflação, aumentou à taxa de crescimento
anual composta de 3,4%. Espera-se que essa dinâmica, continue ao longo da
segunda metade da década, embora com velocidade variável entre as diversas regiões.
Apresentando
o Emily Everyday Millionaire (Milionário do Dia a Dia) – expressão que
representa a crescente classe de pessoas que acumularam mais de um milhão de
dólares em património –, uma categoria de investidores negligenciada, mas em
crescimento, o relatório apresenta uma nova categoria de investidores. Os
“Everyday Millionaires” ou, simplesmente, EMILLS, classe crescente de pessoas
com mais de um milhão em ativos (entre um a cinco milhões), mas que não, herdaram,
necessariamente, a sua fortuna, nem têm rendimentos muito altos, mais do que
quadruplicaram, no Mundo, desde 2000, chegando a cerca de 52 milhões. No final
de 2024, representavam cerca de 107 triliões de dólares do património total, isto
é, mais de quatro vezes o valor registado no final de 2000, equivalente a mais
de 2,5 vezes, em termos reais. O valor também se aproxima dos 119 triliões de
dólares detidos por pessoas com património acima de cinco milhões de dólares.
Embora a taxa de crescimento no número de EMILLIS varie entre os mercados, a tendência
ascendente de longo prazo é visível em quase toda a parte.
O
número de novos milionários em dólares norte americanos está a aumentar, com
mais de cinco milhões projetados, até 2029. O Mundo somou mais de 680 mil novos
milionários em dólares norte-americanos, em 2024, um aumento de 1,2%. Em termos
percentuais, o maior aumento ocorreu na Turquia, ultrapassando a marca de 8%,
com os Emirados Árabes Unidos em segundo lugar, graças a uma expansão de 5,8%.
Estima-se que o número de milionários em dólares norte-americanos continuará a aumentar
na maioria dos 56 mercados em referência. Mais 5,34 milhões de pessoas se
juntarão ao grupo de milionários em dólares norte-americanos do Mundo, até
2029, um aumento de quase 9%, face a 2024.
***
Enfim,
cada vez os ricos são mais ricos e o número de ricos aumenta, ao passo que os
pobres ficam a ver navios, pois ficam, dia a dia, mais pobres. Isto exige
intervenção dos Estados e mudança de mentalidades.
2025.09.29
– Louro de Carvalho
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