Antigamente,
a cada passo, chegávamos a um serviço de atendimento ao público e a informação que
pretendíamos obter demorava, porque era preciso consultar os arquivos, porque o/a
funcionário/a estava ocupado/a, porque não estava dentro do assunto (pois tinha
vindo de férias ou tido alta médica, havia pouco tempo) ou, simplesmente,
porque o assunto não era com ele/a.
Agora, apesar de tudo ser mais rápido – e ainda continuarem, em parte, os motivos apontados –, a demora pode acontecer, porque o sistema não abre, não responde, precisa de reiniciar ou, simplesmente, porque falhou. E, como habitualmente não há um Plano B, os utentes ou clientes têm de esperar, voltar no dia seguinte ou, se o caso é urgente, tem de se atamancar uma solução de última hora, geralmente, incómoda.
Agora, apesar de tudo ser mais rápido – e ainda continuarem, em parte, os motivos apontados –, a demora pode acontecer, porque o sistema não abre, não responde, precisa de reiniciar ou, simplesmente, porque falhou. E, como habitualmente não há um Plano B, os utentes ou clientes têm de esperar, voltar no dia seguinte ou, se o caso é urgente, tem de se atamancar uma solução de última hora, geralmente, incómoda.
É
raro depararmos com um sistema que não esteja devidamente informatizado: serviços
de finanças, registos e notariado, arquivos, bibliotecas, escolas,
estabelecimentos de saúde, banca, segurança social, serviços de polícia e de justiça,
serviços de comunicação, publicações legislativas e regulamentares, serviços
imobiliários, empresas, funcionamento de maquinaria e de equipamentos, serviços
autárquicos e assim por diante.
Ora,
as falhas informáticas podem ter significativo e generalizado impacto, causando interrupções
nos serviços essenciais, como aeroportos, bancos e serviços de saúde, levando a
cancelamentos de voos, a constrangimentos no acesso a fundos e a insatisfação
de clientes e funcionários. Podem também resultar em prejuízos
financeiros, em perda de dados, em riscos de segurança cibernética e no aumento
do stresse e do esgotamento profissional (burnout).
Há
impactos económicos e operacionais, em que se destacam as interrupções de serviços.
Assim, as falhas informáticas podem paralisar setores inteiros, como demonstram
as longas filas nos aeroportos e os problemas em bancos, resultando em
cancelamentos de voos, em dificuldades no check-in, no acesso a fundos.
Das
falhas informáticas podem resultar prejuízos financeiros. Por exemplo, a
perda de tempo e a ineficiência de operações digitais podem gerar custos
significativos para as empresas e instituições.
A
inoperância de sistemas informáticos pode levar ao atraso de operações, à interrupção
de serviços, incluindo o cancelamento de voos.
Pode
haver também impactos nos utilizadores e nos profissionais, sobretudo, quando
fica prejudicada a realização de objetivos de empresa ou de serviço e quando há
prazos a cumprir. A falha de sistemas pode gerar frustração e stresse nos
utilizadores e, em casos, como o da saúde, levar ao esgotamento profissional
dos trabalhadores.
Em
serviços, como os hospitais, as falhas podem atrasar o atendimento e impactar a
qualidade dos cuidados prestados. Até se sente o incómodo quando um médico,
perante a falência do sistema informático, se obriga a prescrever medicamentos manualmente.
Há
também impactos na segurança, que as falhas informáticas tornam vulnerável.
Isso verifica-se, especialmente, em programas conectados com a Internet,
que podem criar brechas exploradas por hackers, para aceder a dados e a informações
confidenciais, incluindo temas que são segredo do Estado ou temas reservados.
Por
exemplo, as interferências informáticas criminosas podem colocar em risco a
vida das pessoas, a sua privacidade, os seus capitais, os seus interesses profissionais,
etc.
Os
exemplos mais badalados são: a falha global de 2024 e os sistemas de Saúde. Em
julho de 2024, uma falha informática global causou problemas em aeroportos, em bancos
e em serviços de comunicação, afetando o funcionamento normal de diversos
setores em Portugal e não só. Em Portugal, hospitais e centros de saúde
têm sofrido um número elevado de falhas informáticas, que originam lentidão,
desperdício de tempo e ineficiência no acesso a dados de pacientes.
E
quantas pessoas não viram as suas contas bancárias varridas por ataques informáticos,
os seus segredos desvendados! E quantas pessoas não caíam no conto vigário, através
de falsas solicitações de dados por e-mail, por telefone e pela Internet!
Quem
não se lembra dos problemas havidos com o famoso portal Citius – ponto
único de acesso para os profissionais da Justiça, cidadãos e empresas?
Particularmente
graves são as falhas informáticas na banca e em instituições similares, as quais
consistem em interrupções ou em mau funcionamento de sistemas e de aplicações
bancárias, causadas por problemas técnicos, como avarias em software,
falhas em infraestruturas de comunicação ou, mesmo, ataques cibernéticos, redundando
em indisponibilidade de serviços, como aplicações móveis, caixas automáticas ou
outras plataformas digitais. Assim, em julho de 2024, foi uma falha global
afetou apps de bancos e de sistemas de companhias aéreas, mercê de uma
atualização de software antivírus.
As
causas comuns de falhas informáticas na banca e em instituições similares são: problemas
em software, nomeadamente, falhas em atualizações, como um antivírus que
não foi devidamente testado, podendo causar a indisponibilidade de múltiplos
serviços; problemas na infraestrutura de rede ou em servidores, que levam à
queda de sistemas bancários; e ataques cibernéticos, como ataques de negação de
serviço (DDoS) ou outras formas de ataques cibernéticos, que podem causar
interrupções nos serviços bancários.
Os
impactos destas falhas são, basicamente: a indisponibilidade de serviços, pois
os clientes podem ficar sem acesso a aplicações móveis, a sites ou a outros
canais digitais, ficando impedidos de realizar transações; e a perda de confiança,
pois falhas recorrentes prejudicam a relação dos clientes com as instituições
bancárias.
No
evento de 2024, um banco, no Brasil, informou que os seus canais digitais
estavam indisponíveis, mas as caixas eletrónicas continuaram a funcionar.
***
É
neste panorama de falhas informáticas que se enquadra o episódio informático do
dia 18 de setembro, em Portugal, na Saúde, e a notícia do que se passou, em Espanha,
na Justiça.
Vários hospitais e centros de saúde portugueses tiveram, desde a madrugada até ao fim da manhã deste dia, o sistema informático em baixo. E o apagão afetou o trabalho dos médicos, visto que não conseguiam aceder aos dados dos doentes para as consultas e para as cirurgias e nem mesmo para executar exames ou fazer prescrições.
Vários hospitais e centros de saúde portugueses tiveram, desde a madrugada até ao fim da manhã deste dia, o sistema informático em baixo. E o apagão afetou o trabalho dos médicos, visto que não conseguiam aceder aos dados dos doentes para as consultas e para as cirurgias e nem mesmo para executar exames ou fazer prescrições.
Os
Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) disseram à Lusa que
os constrangimentos resultaram de uma atualização realizada pela operadora de
telecomunicações NOS, no software da Rede Informática da Saúde (RIS), que
provocou a instabilidade na rede. “As equipas técnicas dos SPMS estão,
juntamente com o operador externo, a tentar resolver a situação”, acrescentou o
organismo, a meio da manhã. Pelas 12h15, o sistema ficou totalmente
restabelecido.
A
falha, inicialmente divulgada pela SIC Notícias, foi confirmada pela
presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), a oncologista Joana
Bordalo de Sá, à Euronews.
A
dirigente sindical disse ter conhecimento de falhas em várias unidades do Norte,
como as Unidades Locais de Saúde (ULS) de Gaia-Espinho, do Tâmega-Sousa, do Hospital
de Santo António e o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, mas
acreditava que se tratava de uma falha generalizada.
“Estamos completamente
dependentes do sistema informático para aceder à informação clínica do
doente. É lá que está tudo: exames, prescrições”, explicou, sustentando que
isso “coloca em risco o trabalho dos médicos e a segurança dos doentes”, o
que “é inaceitável” e a levou a aconselhar os médicos a pedirem escusa
de responsabilidade.
A
dirigente sindical diz que o apagão informático mostra a ausência de
investimento nos sistemas informáticos do Sistema Nacional de Saúde (SNS),
responsabilizando, diretamente, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e o
primeiro-ministro, Luís Montenegro.
Joana
Bordalo e Sá insiste em dizer que a “falha de investimento generalizada” é uma
das causas da falha no sistema informático interno do SNS, uma vez que as
falhas são diárias, embora em menor escala, dificultando o trabalho
médico, e levam a assacar “responsabilidade política”.
A
presidente da FNAM deu indicação aos médicos para avançarem com escusas de
responsabilidade, pois, tratando-se de “responsabilidades políticas” decorrentes
do problema de fragilidade tecnológica que põe consultas e cirurgias em risco,
não pode haver lugar a responsabilidades técnico-profissionais. De facto, ao
tempo das suas declarações, “em alguns sítios”, os sistemas ainda estavam “totalmente
em baixo”.
A
também oncologista acusa o executivo de “falta de investimento sério em
sistemas digitais que coloca em risco, não só o trabalho de médicos e de
todos os profissionais de saúde, mas, acima de tudo, a segurança dos doentes”,
pelo que os médicos não podem ser responsabilizados por “falhas que
resultam por inoperância governativa”.
A
presidente da FNAM indicou à SIC Notícias que o problema começou ainda
durante a tarde do dia 17 e “esteve completamente inoperacional durante a
madrugada”. Perto das 10h00 da manhã, indicava que o sistema no IPO do
Porto estava “a voltar lentamente” ao início da manhã, mas ainda
com “muitos soluções”. Por exemplo, ainda não era possível fazer prescrição
eletrónica e havia muitos constrangimentos.
É
de recordar que no início do mês de setembro, os sistemas informáticos do
Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, também sofreram uma falha informática que
afetou as cirurgias e as consultas programadas.
A
falha num equipamento informático obrigou o Hospital Beatriz Ângelo a
ativar o plano de contingência, que, além das consultas, levou ao
reencaminhamento dos doentes não críticos para os serviços de urgência de
outras unidades hospitalares, tendo dificultado a consulta dos processos
clínicos dos utentes.
No
dia seguinte, foi iniciado o processo de reposição dos sistemas e
começaram a ser recuperadas algumas funcionalidades, o que permitiu a suspensão
do desvio para outros hospitais dos doentes não críticos e “retomar,
gradualmente, o normal funcionamento” da urgência geral, de acordo com o
hospital.
***
Soube-se
a 18 de setembro, que um erro no sistema que controla as pulseiras, durante a
mudança da empresa gestora, em Espanha, impediu o acesso a dados anteriores a
março de 2024, o que levou a absolvições e a arquivamentos, por falta de provas
de violações de ordens de afastamento.
Por exemplo, o sistema informático Cometa, responsável pelo controlo das pulseiras eletrónicas dos agressores condenados por violência doméstica, sofreu grave erro técnico de consequências diretas na administração da Justiça.
Por exemplo, o sistema informático Cometa, responsável pelo controlo das pulseiras eletrónicas dos agressores condenados por violência doméstica, sofreu grave erro técnico de consequências diretas na administração da Justiça.
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) do país informou, no seu relatório anual,
que esta falha conduziu a grande número de absolvições e de arquivamentos de
casos de infratores, por os tribunais não terem podido aceder a informações
cruciais sobre os movimentos dos investigados.
A
origem do problema esteve no processo de transição entre prestadores de
serviços. Até 2023, a empresa Telefónica detinha o contrato, subcontratando a
Securitas Diret, mas o governo espanhol atribuiu a gestão à união temporária da
Vodafone e da Securitas.
Nesta migração
de dados entre sistemas, perdeu-se o acesso a todas as informações anteriores a
março de 2024, o que deixou os juízes sem provas essenciais para demonstrar a
violação das ordens de restrição. E tal perda de dados históricos teve impacto
direto nos processos judiciais. O sistema Cometa deveria permitir identificar,
a todo o momento, a localização dos arguidos ou condenados, em relação às
vítimas, através de comunicação de curto alcance com o telemóvel que informa,
em tempo real, por GPS – Global Positioning System (Sistema de Posicionamento
Global), a distância entre o agressor e a vítima.
Segundo
o Ministério Público (MP), a anomalia tem consequências tanto na fase de
inquérito nos Tribunais de Violência contra as Mulheres como na fase
de julgamento. Nos tribunais criminais, o representante legal do centro de
controlo não pode responder a perguntas sobre incidentes anteriores a 20 de
março de 2024, o que leva, em muitos casos, à absolvição.
Embora
o Ministério da Igualdade tenha garantido que o problema “já foi resolvido” e
que, no final de 2024, todas as informações tinham sido recuperadas, o MP
salienta que isso significou uma “potencial falta de proteção das vítimas”,
durante vários meses.
O
centro de controlo da Cometa informou, repetidamente, os tribunais de que não
podiam fornecer informações de antes de 20 de março de 2024, data em que a
migração para os novos dispositivos estava concluída.
Esta
lacuna de informação realça a importância crucial de manter a continuidade dos
sistemas de proteção das vítimas de violência de género, em que qualquer falha
técnica pode ter consequências diretas na segurança das pessoas protegidas e na
eficácia do sistema judicial.
***
Não
há dúvida: os sistemas falham, as irregularidades afetam pessoas e serviços, mas
quase nunca ninguém é responsabilizado ou não se assumem as responsabilidades. Aliás,
responsabilizar alguém criminal ou civilmente dará resultado só a muito longo
prazo. A culpa não morre solteira, mas fica nas máquinas e no sistema.
2025.09.18
– Louro de Carvalho
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