quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Deus não dá soluções imediatas: trabalha no tempo lento da confiança

 

“Às vezes, buscamos respostas rápidas, soluções imediatas. Porém, Deus trabalha lá no fundo, no tempo lento da confiança”, disse o Papa na Audiência Geral de 17 de setembro, na qual continuou com a catequese sobre “Jesus, Nossa Esperança”, para falar do mistério do Sábado Santo.
No dizer do Santo Padre, o Filho de Deus jaz no sepulcro, mas a sua “ausência não é um vazio”. É o dia do “grande silêncio”, em que o Céu “parece mudo e a terra imóvel”, mas é precisamente ali “que se realiza o mistério mais profundo da fé cristã”.
“É um silêncio prenhe de significado, como o ventre da mãe que guarda o filho ainda não nascido, mas já vivo”, considerou, utilizando a metáfora da espera por uma gravidez para indicar que o tempo tido como “inutilizável” em pausas e em momentos aparentemente “estéreis” pode tornar-se “um ventre de ressurreição”.
Sustenta o Sumo Pontífice que o Filho de Deus também descansa, “não porque esteja cansado, mas porque concluiu a sua obra de salvação; não porque tenha desistido, mas porque amou plenamente”.
“Não há mais nada a acrescentar’’, continuou, para afirmar que “este descanso é o selo da obra consumada; é a confirmação do que tinha de ser feito e foi realizado; é um descanso repleto da presença escondida do Senhor”.
Somente se soubermos acolher com gratidão o que aconteceu, descobriremos que é, “precisamente, na pequenez e no silêncio que Deus ama transfigurar a realidade, renovando todas as coisas com a fidelidade do seu amor. “A verdadeira alegria nasce da espera vivida, da fé paciente, da esperança de que o que é vivido no amor, certamente ressurgirá para a vida eterna”, discorreu o Santo Padre.
Leão XIV lamentou a vida frenética da sociedade atual, que coloca o verbo “produzir” acima de tudo: “Lutamos para parar e descansar. Vivemos como se a vida nunca fosse suficiente. Apressamo-nos a produzir, a demonstrar, a não perder terreno. Mas o Evangelho ensina-nos que saber parar é um gesto de confiança que devemos aprender a fazer.”
O Sábado Santo convida a descobrir que a vida “nem sempre depende do que fazemos, mas também de como sabemos renunciar ao que podemos fazer”, continuou o Papa, acentuando que Deus não tem medo do passar do tempo, pois “Ele também é Senhor da espera”.
Para o Pontífice norte-americano e peruano, “cada silêncio acolhido pode ser a premissa de uma nova Palavra [e] cada tempo suspenso pode tornar-se um tempo de graça, se o oferecermos a Deus”. A imagem de Jesus, sepultado na terra, continuou o Papa, “é o rosto suave de um Deus que não ocupa todo o espaço”, mas que deixa para o homem espaço suficiente e Jesus Cristo é o Deus “que nos deixa fazer, que espera, que se retira, para nos conceder a liberdade”.
Por isso, Leão XIV exortou os fiéis a aprenderem a não ter “pressa de ressuscitar”, porque é “mais necessário descansar, acolher o silêncio, deixar-nos abraçar pelos limites”.
“A esperança cristã não nasce no ruído, mas no silêncio de uma espera repleta de amor. Não é produto da euforia, mas de um abandono confiante”, concluiu.
Como em todas as quartas-feiras, o Papa percorreu, no seu papamóvel, a Praça de São Pedro, onde muitas famílias o esperavam, desde as primeiras horas da manhã, para que ele pudesse abençoar os seus filhos. Muitos fiéis levavam cartazes para o parabenizarem pelo santo seu o onomástico, pois a Igreja celebra, a 17 de setembro, São Roberto Belarmino, onomástico e padroeiro de Leão XIV, razão pela qual é feriado no Vaticano. Aliás, o 70.º aniversário natalício do Papa ocorreu a 14 de setembro.
Ainda sobre o Sábado Santo, como diz o Papa, o ventre da ressurreição do Senhor e, obviamente, da nossa, é de referir que simboliza a clássica asserção teológica da descida de Jesus à mansão dos mortos ou, noutra versão, a descida aos infernos. Não se trata de descer ao inferno dos demónios, onde não há qualquer redenção, mas de fazer ressoar a ideia-força de que a redenção operada na cruz pelo divino-humano messias se aplica, também e necessariamente, aos justos do Antigo Testamento – judeus e não judeus, desde que tenham procedido segundo a sua consciência. Com efeito, a salvação é universal, isto é, para todos/as e para cada um/a, em toda a parte, no futuro e no passado, sendo exigida a retidão de espírito.    

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Como foi referido acima, 17 de setembro é o dia em que a Igreja celebra São Roberto Belarmino. A este respeito, o padre Robert Hagan, superior da Província Agostiniana de São Tomás de Villanova, falou sobre o Papa, seu amigo de longa data e que ajuda o Mundo a descobrir aquilo de que mais precisa, hoje: “verdade, unidade, amor, amizade”.
O padre Robert Hagan conhece o Papa, há 27 anos, e salienta que Leão XIV sabe combinar uma profunda ligação com Deus, feita de oração e de desejo de estar perto das pessoas. O superior da Província Agostiniana de São Tomás de Villanova traça um perfil do seu confrade que ascendeu ao Santo Trono de Pedro, vincado: “Tem essa incrível combinação de relação orante com o Senhor e o desejo amoroso de estar com as pessoas. Este filho de Agostinho é, agora, o Bom Pastor para todos nós”.
Sublinhando que se trata de um homem de missão e de comunidade, o padre Hagan lembra-se de quando Robert Francis Prevost era provincial, em Chicago, e prior geral da Ordem, depois. “Eu pronunciei os meus votos ao prior geral Robert Prevost. Ele era gentil e acessível, e agora, neste papel que diz respeito a todos nós, podemos entender porque Deus o escolheu”, declarou.
Segundo o religioso agostiniano, a espiritualidade de Leão XIV está profundamente enraizada nos valores de Santo Agostinho. “Pontifex significa construtor de pontes”, observou, acrescentando que, nas suas palavras, ecoam os acentos agostinianos: um chamamento à paz, à amizade e à comunidade. O Papa, sublinhou, ajuda o Mundo a descobrir aquilo de que mais precisa, hoje: “VeritasUnitas, Caritas – verdade, unidade, amor, amizade”.
“Quem está no balcão? Aquele é o nosso confrade!”
O novo Papa, observa o padre Hagan, conquistou o apoio dos fiéis, através do seu estilo de comunicação: calmo, claro e acessível. Os jovens, diz ele, ficam envolvidos e “mesmo aqueles que erraram sentem um convite para voltar”. Uma parte importante da trajetória de Leão XIV é o seu trabalho missionário. “Ele é norte-americano, mas também serviu no Peru, durante 20 anos, com os mais pobres, entre os pobres. Não apenas aprendeu a língua, mas também a cultura. Para nós, o prior geral era como um ‘minipapa’”, afirmou o padre Hagan.
Também relembra as emoções do último dia 8 de maio, dia da eleição. Houve uma exclamação: “Quem está naquele balcão? Roberto Francisco Prevost! Aquele é o nosso confrade”. No escritório provincial de Villanova, prossegue o padre Hagan, as pessoas choravam, riam e abraçavam-se. Alguns estudantes diziam: “Ele caminhou por estes mesmos caminhos, estudou nestas mesmas salas de aula, comeu nestas mesmas cantinas. E, agora, é o Papa”.
Os agostinianos, obviamente, estão ao lado do Papa, por ser o Sumo Pontífice e também por ser um dos agostinianos.
Para o padre Hagan, os primeiros meses do pontificado de Leão XIV transmitiram uma mensagem de paz e de reconciliação. A 15 de setembro, o Papa Leão dirigiu-se aos membros do capítulo geral dos agostinianos, a sua Ordem, e disse-lhes que é o dom da caridade divina aquilo a que – destaca o padre Hagan – devemos olhar, “se quisermos viver, da melhor forma também, a vida comunitária e a atividade apostólica, colocando em comum nossos bens materiais, assim como os humanos e espirituais”. E concluiu, exortando os confrades a continuarem os trabalhos do capítulo, “na alegria fraterna e com o coração disposto a acolher as sugestões do Espírito”, para serem “apóstolos e testemunhas do Evangelho no Mundo”.

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“Considera bem para ti o que te leva ao teu fim e autêntico mal o que te impede alcançá-lo”, escreveu, certa vez, São Roberto Belarmino, defensor da Igreja ante a reforma protestante.
Roberto significa “o que brilha por sua boa fama” e, se há algo a ressaltar deste Doutor da Igreja, nascido na Toscana, em 1542, é que, desde que estava no colégio dos jesuítas, destacou-se pela sua inteligência.
Do mesmo modo, o ensinamento da sua mãe, na humildade e na simplicidade, repercutiu-se muito na sua personalidade. Ingressou na Ordem dos jesuítas e teve como formador são Francisco de Borja. Foi ordenado sacerdote e continuou conquistando a conversão de muitos com as suas pregações e ensinamentos.
A pedido do Papa de então, preparou, em Roma, os sacerdotes para que soubessem enfrentar os inimigos da religião. Em seguida, publicou o seu livro “Controvérsias”, que chegou a ser de importante leitura, até para São Francisco de Sales.
O papa nomeou-o bispo e mandou-lhe aceitar o cardinalato, sob pena de pecado grave (“sub gravi”). Isso, porque são Roberto Belarmino tinha-se tornado jesuíta, justamente porque sabia que eles tinham um regulamento que os proibia de aceitar títulos elevados na Igreja.
Durante a sua vida, exerceu cargos de diplomacia da Santa Sé. Dirigiu uma edição revista da “Bíblia Vulgata” e escreveu os seus “Catecismo resumido” e “Catecismo explicado”, que chegaram a ser traduzidos em vários idiomas e com várias edições. Serviu como diretor espiritual de são Luís Gonzaga, foi nomeado arcebispo de Capua e quase chegou a ser eleito papa.
Pouco antes de morrer, dispôs, no seu testamento, que os seus pertences fossem repartidos entre os pobres, tendo o que deixou apenas dado para custear os gastos do seu enterro. Retirou-se para o noviciado de Santo André, em Roma, onde morreu, a 17 de dezembro de 1621.
No seu livro “De ascencione mentis in Deum” (Elevação da mente a Deus), lê-se que “acontecimentos prósperos ou adversos, riquezas e pobreza, saúde e doença, honras e ultrajes, vida e morte, o sábio não deve buscá-los, nem fugir por si. Mas são bons e desejáveis, somente se contribuem para a glória de Deus e para a tua felicidade eterna; são maus e a evitar, se a obstaculizam”.

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São Roberto Belarmino intercede pela Igreja no Céu; e o Papa Roberto Prevost, tornado Leão que ruge o Evangelho num Mundo hostil ou indiferente, dirige a Igreja em nome de Jesus Cristo.

2025.09.17 – Louro de Carvalho

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