O
35.º aniversário do falecimento de minha mãe, Anunciação Louro, a 29 de
novembro de 1989, convocou-me para uma reflexão de saudade, apoiada em leituras
recentes, eivadas de forte componente antropológica e cristã católica, como era
típico da minha mãe e do meu pai, do que procurei nunca me afastar, embora tenha
mudado de estado de vida e de mister.
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Sustenta
Wilson Aquino, jornalista brasileiro e professor e cristão, que “a influência
maternal é a maior influência em potencial, para o bem ou para o mal, na vida
humana”, comprovando estudos científicos que o caráter, a personalidade, o
verdadeiro ‘eu’ do indivíduo se formam, “não durante o período (todo) da
infância como se pensava, mas apenas até aos três primeiros anos de vida”.
Por
isso, a mãe tem um papel fundamental e, mesmo vital, nesse processo de formação.
A
sua imagem é a primeira que fica gravada na mente da criança, pois dela recebe
os primeiros carinhos, alimentos, afagos, palavras e gestos de amor e de
carinho. É a mãe que socorre o/a filho/a, quando tem fome, está molhado/a,
incomodado/a e quando tem dor.
Quando
acha amparo em todas as suas necessidades, num ambiente saudável, um lar
alicerçado na harmonia, no bom relacionamento de seus membros à sua volta (pai,
mãe, irmãos, tios, tias...), todos envoltos em amor e alegria, torna-se o berço
ideal para a formação pessoal e social do indivíduo, regra geral, de boa
índole, de bom caráter – um futuro bom cidadão.
Ao
invés, as condições adversas formam, em geral, maus cidadãos. Não que não
possam, por si e/ou influenciados pela sociedade, levar uma vida reta,
exemplar, vivendo bem em sociedade, formando família e sendo felizes. Todavia,
um ambiente inadequado tende a formar cidadãos com maiores dificuldades para
vencerem na vida. Poderão ter problemas de insegurança, de medo, de raiva, de ira,
de revolta, de indignação, de incapacidade, por subestimarem a própria força e a
capacidade de aprenderem e de fazerem qualquer coisa que desejem a sério.
Estudos
científicos comprovam que a mãe (especialmente ela), o pai, a família
influenciam muito a formação do indivíduo na primeira infância. E há quem vá
mais além, sustentando que, no útero, ele já pode ouvir os conselhos e
orientações dos pais, interagir com boas e saudáveis músicas e conversas, pois
tem a capacidade de sentir o amor e a harmonia exterior.
Caberia
aí uma grande campanha, envolvendo toda sociedade organizada, na divulgação deste
ideário, pois está em jogo o futuro da própria sociedade. Efetivamente, o
controlo da violência no futuro da sociedade está em jogo, agora, no presente,
na boa educação e na formação do indivíduo nos primeiros três anos de vida. E, obviamente,
esse mesmo ambiente deve prevalecer sempre no seio de uma família, célula-mater
da sociedade.
Por
outro lado, a mãe precisa de ter consciência da sua grandeza e do seu poder,
para exercer, plenamente, esse mister com muita sabedoria e, consequentemente, para
obter maior êxito na educação e formação dos/as filhos/as, procurando envolver
todos os que estão à volta da criança para que, todos juntos, criem o ambiente
ideal para a formação de um futuro cidadão de bem, com o selo de garantia de um
futuro seguro e promissor. É, pois, necessário reinar, de facto, nos lares, a paz,
o amor, a alegria, a harmonia, sem gritarias, desavenças ou brigas, para que
esse estado ideal seja constante. Para isso, na perspetiva cristã, é indispensável
a presença de Deus no lar.
Somente
pela força do homem um lar jamais será estável e duradouro em paz, alegria, harmonia
e prosperidade. Afinal, o inimigo está à solta e luta contra o sucesso da
família. Todo o cidadão, todo o lar, precisa da presença de Deus para dar rumo
à verdadeira, única e duradoura felicidade que se pode atingir nesta vida. Cabe
à mãe, ao pai, convidá-Lo para moradia na casa, para que Ele possa abençoar e
auxiliar na educação do pequeno ser e na formação do seu caráter como cidadão
de bem do amanhã.
As
Escrituras Sagradas ensinam, há séculos, sobre a educação infantil, como está
escrito em Provérbios (22,6): “Educa a criança no caminho em que se deve andar;
e, até quando envelhecer, não se desviará dele.”
Também
são inúmeras as Escrituras que enaltecem o sagrado sacerdócio de mãe:
“Levantam-se os seus filhos e chamam-na bem-aventurada; o seu marido também a
louva. Muitas filhas têm procedido virtualmente, mas tu (mãe) és, de todas a
mais excelente” (Provérbios 31,28-29).
Mãe
também é aquela que não gerou, mas que cuida tão bem de um filho especial de
Deus, dadas as circunstâncias da vida que a levaram à educação de crianças que
não conhecem a mãe.
***
Educar os filhos é a grande missão que Deus confiou
aos pais. Por causa da importância dessa tarefa, Ele deu o mandamento: “Honrar
pai e mãe”. Sem a educação dos pais, os filhos perdem-se: as cadeias podem
encher-se, a droga consome muitos e alguns vagueiam pelo mundo do crime.
Nada é tão grande como construir um ser humano. As
máquinas acabarão, mas o filho jamais.
É pela educação que o ser humano conquista e desenvolve
as suas faculdades. A Natureza dispôs que isso fosse feito, antes de tudo,
pelos pais e, de modo especial, pela mãe. Hoje, muitas mães são obrigadas a
criar, sozinhas, os filhos. Assim, a sua missão torna-se mais árdua. Nesse
caso, o papel materno tem a sua importância multiplicada. Ela (mãe),
muitas vezes, tem de desempenhar o papel do pai e o dela.
Gandhi, líder pacifista indiano, dizia que “a
verdadeira educação consiste em pôr a descoberto o melhor de uma pessoa”. Para
isso, é preciso cultivar a arte de educar, a mais difícil e bela de todas.
Um dia, Michelangelo viu um bloco de pedra e disse aos
seus discípulos: “Aí dentro, há um anjo, vou tirá-lo para fora!”. Depois de
algum tempo, com a genialidade de escultor, fez o belo trabalho. Então, os
discípulos perguntaram-lhe como conseguira a proeza. Ele respondeu: “O anjo já
estava lá, apenas tirei os excessos que sobravam”. Ora, educar é ir tirando, com
paciência e perícia, os maus hábitos e descobrindo as virtudes, até que apareça
o “anjo”.
Michel Quoist afirma “que não é para si que os homens
educam os filhos, mas para os outros e para Deus”. Educar, nessa perspetiva, é
colaborar com Deus; e é na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos
pais.
Educar é promover o crescimento e o amadurecimento da
pessoa humana em todas as suas dimensões: material, intelectual, moral e
religiosa. A educação não se recebe só na escola (esta dá-nos o que a família
não consegue dar: formação mais avançada), mas, principalmente, em casa. De vez
em quando, ouve-se alguém dizer: “Ele é analfabeto, mas é muito educado.”
Não adianta ter adquirido formação académica superior
e não saber tratar os outros como gente, não saber honrar a palavra dada, não
se comportar bem, trair a esposa e os filhos, não ser gentil, não ser
afável, etc. Sem dúvida, a educação é a melhor herança que os pais devem deixar
aos filhos. Essa ninguém lha pode roubar, nem destruir. O livro do
Eclesiástico, capítulo 30, versículo 1, ensina aos progenitores: “Aquele que
ama o seu filho corrige-o com frequência, para que se alegre com isso, mais
tarde.”
A educação visa colocar o homem no caminho do bem e da
virtude, do qual ele sempre tende a desviar-se. É aos pais que cabe, sobretudo,
dar início a essa tarefa na vida dos filhos. A este respeito, a Igreja Católica
ensina: “Pela graça do sacramento do matrimónio, os pais receberam a
responsabilidade e o privilégio de evangelizar os seus filhos. Por isso, eles iniciá-los-ão,
desde a tenra idade, nos mistérios da fé, da qual são para os filhos os
‘primeiros arautos’ (LG,11).
Associá-los-ão desde a primeira infância à vida da Igreja” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2225).
A tarefa de educar, como dizia Dom Bosco, “é obra do
coração”, é obra do amor, por isso tem muito a ver com a mãe. Sem o carinho e a
atenção dessa figura, a criança, certamente, crescerá carente de afeto e
desorientada para a vida. O povo diz que, atrás de um grande homem, há sempre
uma grande mulher, mas é preciso não esquecer que essa mulher, mais do que a
esposa, é a mãe.
É no colo da mãe que a criança pode aprender o que é a
vida e a fé, pode aprender a rezar e a amar Deus e as pessoas. É aí que o homem
de amanhã deve aprender o que é a retidão, o caráter, a honestidade, a bondade,
a pureza de coração. É aí que a criança aprende a respeitar as
pessoas, a ser gentil com os mais velhos, a ser humilde, simples e a não
desprezar ninguém. É aí que o filho aprende os valores universais, a ética, a
justiça, a caridade, a vida pura da castidade, o domínio de todas as paixões
desordenadas e a rejeição de todos os vícios.
É a mãe, com seu jeito suave e doce, que retira da sua
plantinha o que de mal tem crescido: a erva daninha da preguiça, da
desobediência, da má-criação, dos gestos e das palavras inconvenientes. É ela
que vai ensinando a perdoar, a superar os momentos de raiva, sem retaliar,
a não ter inveja dos outros que têm mais bens, mas dinheiro e mais sorte. É a
mãe que, nas primeiras tarefas do lar, ensina ao filho o caminho redentor do
trabalho e da responsabilidade.
Até o Filho de Deus quis precisar de uma mãe para cumprir
a Sua missão de salvar a Humanidade. Ele fez o seu primeiro milagre nas
Bodas de Caná, porque Ela Lhe pediu. Por isso, cada mãe é um sinal de Maria,
que ensina o seu filho a viver de acordo com a vontade de Deus.
Em nossas casas, tem penetrado, sorrateiramente, uma
sistemática pregação de antivalores por algumas TV e, mais do que nunca, é necessária a mãe atenta para
combater tudo o que prejudica a educação dos filhos. Mais do que nunca, precisa
de saber conquistá-los, não pelo que lhes dá, mas pelo que é para eles: amiga
de todas as horas, consoladora, sabendo corrigir o filho, mas sem grosseria,
sem gritos e sem humilhações; e nunca na frente dos outros.
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A mãe é uma
figura de extrema importância na vida dos filhos. E, quando o assunto é a
educação das crianças, o seu papel é muito relevante. Os pedagogos e os terapeutas
de família, listam alguns pontos de atenção que a mãe precisa de ter em relação
aos filhos, sejam eles crianças ou adolescentes: acompanhar as atividades
diárias das crianças e interessar-se por elas; saber quais são as necessidades
e vontades de cada filho/a; estar por dentro do que acontece dentro e fora de
casa; apoiar e intervir na hora certa; ir às reuniões de escola; e estar atenta à relação da criança com as outras pessoas: crianças,
adolescentes e adultos.
O mais
importante de tudo – e, muitas vezes, o mais difícil – é ter tempo de qualidade
com os filhos. Muitas mulheres trabalham fora de casa e têm mil coisas para
resolver durante o dia, mas é importante que encontrem um tempo para dedicar
somente às crianças.
Não vale
subestimar o pai, figura tão importante com a mãe nessa construção. O casal nem
sempre concorda com tudo, entretanto, quando o tema é a educação dos filhos, as
falas do pai e da mãe precisam de ter unidade e consonância. Se isso não
acontece, a criança pode ser prejudicada. “Não posso proibir o meu filho de
dançar em cima da mesa, se o pai permite. A criança fica confusa e isso é-lhe
prejudicial”, considera um terapeuta. Conversar, negociar e saber ceder são
palavras-chave para o casal encontrar unidade familiar que favoreça a educação
das crianças.
Educar é uma
das tarefas mais difíceis. Quem é pai e mãe sabe-o bem. Vale a pena repensar os
métodos, rever atitudes. Não existe uma certeza única. Se a mãe descobre que o
caminho que escolheu não trouxe o resultado que esperava e de precisava, deve
estar recetiva a novos caminhos e ser flexível. Tudo isso, sem abandonar as
suas crenças, os seus princípios e valores e o que ela crê ser melhor para seus
filhos.
O papel da mãe é
de extrema importância para o fluir da vida em todas as instâncias. Ela
exerce papel fundamental na história de cada um/a. Dizem alguns especialistas da genética que o/a filho/a
transporta por toda a vida células estaminais da mãe. Por isso, ela é
extremamente sensível à vida, às atitudes e aos comportamentos da prole,
ansiosa pela sorte dos filhos, temorosa pelo futuro deles, pressente o perigo e
alegra-se com os sucessos!
2024-11.29 – Louro de Carvalho
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