sexta-feira, 29 de novembro de 2024

O poder e o papel das mães

 

O 35.º aniversário do falecimento de minha mãe, Anunciação Louro, a 29 de novembro de 1989, convocou-me para uma reflexão de saudade, apoiada em leituras recentes, eivadas de forte componente antropológica e cristã católica, como era típico da minha mãe e do meu pai, do que procurei nunca me afastar, embora tenha mudado de estado de vida e de mister.

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Sustenta Wilson Aquino, jornalista brasileiro e professor e cristão, que “a influência maternal é a maior influência em potencial, para o bem ou para o mal, na vida humana”, comprovando estudos científicos que o caráter, a personalidade, o verdadeiro ‘eu’ do indivíduo se formam, “não durante o período (todo) da infância como se pensava, mas apenas até aos três primeiros anos de vida”.

Por isso, a mãe tem um papel fundamental e, mesmo vital, nesse processo de formação.

A sua imagem é a primeira que fica gravada na mente da criança, pois dela recebe os primeiros carinhos, alimentos, afagos, palavras e gestos de amor e de carinho. É a mãe que socorre o/a filho/a, quando tem fome, está molhado/a, incomodado/a e quando tem dor.

Quando acha amparo em todas as suas necessidades, num ambiente saudável, um lar alicerçado na harmonia, no bom relacionamento de seus membros à sua volta (pai, mãe, irmãos, tios, tias...), todos envoltos em amor e alegria, torna-se o berço ideal para a formação pessoal e social do indivíduo, regra geral, de boa índole, de bom caráter – um futuro bom cidadão.

Ao invés, as condições adversas formam, em geral, maus cidadãos. Não que não possam, por si e/ou influenciados pela sociedade, levar uma vida reta, exemplar, vivendo bem em sociedade, formando família e sendo felizes. Todavia, um ambiente inadequado tende a formar cidadãos com maiores dificuldades para vencerem na vida. Poderão ter problemas de insegurança, de medo, de raiva, de ira, de revolta, de indignação, de incapacidade, por subestimarem a própria força e a capacidade de aprenderem e de fazerem qualquer coisa que desejem a sério.

Estudos científicos comprovam que a mãe (especialmente ela), o pai, a família influenciam muito a formação do indivíduo na primeira infância. E há quem vá mais além, sustentando que, no útero, ele já pode ouvir os conselhos e orientações dos pais, interagir com boas e saudáveis músicas e conversas, pois tem a capacidade de sentir o amor e a harmonia exterior.

Caberia aí uma grande campanha, envolvendo toda sociedade organizada, na divulgação deste ideário, pois está em jogo o futuro da própria sociedade. Efetivamente, o controlo da violência no futuro da sociedade está em jogo, agora, no presente, na boa educação e na formação do indivíduo nos primeiros três anos de vida. E, obviamente, esse mesmo ambiente deve prevalecer sempre no seio de uma família, célula-mater da sociedade.

Por outro lado, a mãe precisa de ter consciência da sua grandeza e do seu poder, para exercer, plenamente, esse mister com muita sabedoria e, consequentemente, para obter maior êxito na educação e formação dos/as filhos/as, procurando envolver todos os que estão à volta da criança para que, todos juntos, criem o ambiente ideal para a formação de um futuro cidadão de bem, com o selo de garantia de um futuro seguro e promissor. É, pois, necessário reinar, de facto, nos lares, a paz, o amor, a alegria, a harmonia, sem gritarias, desavenças ou brigas, para que esse estado ideal seja constante. Para isso, na perspetiva cristã, é indispensável a presença de Deus no lar.

Somente pela força do homem um lar jamais será estável e duradouro em paz, alegria, harmonia e prosperidade. Afinal, o inimigo está à solta e luta contra o sucesso da família. Todo o cidadão, todo o lar, precisa da presença de Deus para dar rumo à verdadeira, única e duradoura felicidade que se pode atingir nesta vida. Cabe à mãe, ao pai, convidá-Lo para moradia na casa, para que Ele possa abençoar e auxiliar na educação do pequeno ser e na formação do seu caráter como cidadão de bem do amanhã.

As Escrituras Sagradas ensinam, há séculos, sobre a educação infantil, como está escrito em Provérbios (22,6): “Educa a criança no caminho em que se deve andar; e, até quando envelhecer, não se desviará dele.”

Também são inúmeras as Escrituras que enaltecem o sagrado sacerdócio de mãe: “Levantam-se os seus filhos e chamam-na bem-aventurada; o seu marido também a louva. Muitas filhas têm procedido virtualmente, mas tu (mãe) és, de todas a mais excelente” (Provérbios 31,28-29).

Mãe também é aquela que não gerou, mas que cuida tão bem de um filho especial de Deus, dadas as circunstâncias da vida que a levaram à educação de crianças que não conhecem a mãe.

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Educar os filhos é a grande missão que Deus confiou aos pais. Por causa da importância dessa tarefa, Ele deu o mandamento: “Honrar pai e mãe”. Sem a educação dos pais, os filhos perdem-se: as cadeias podem encher-se, a droga consome muitos e alguns vagueiam pelo mundo do crime.

Nada é tão grande como construir um ser humano. As máquinas acabarão, mas o filho jamais.

É pela educação que o ser humano conquista e desenvolve as suas faculdades. A Natureza dispôs que isso fosse feito, antes de tudo, pelos pais e, de modo especial, pela mãe. Hoje, muitas mães são obrigadas a criar, sozinhas, os filhos. Assim, a sua missão torna-se mais árdua. Nesse caso, o papel materno tem a sua importância multiplicada. Ela (mãe), muitas vezes, tem de desempenhar o papel do pai e o dela.

Gandhi, líder pacifista indiano, dizia que “a verdadeira educação consiste em pôr a descoberto o melhor de uma pessoa”. Para isso, é preciso cultivar a arte de educar, a mais difícil e bela de todas.

Um dia, Michelangelo viu um bloco de pedra e disse aos seus discípulos: “Aí dentro, há um anjo, vou tirá-lo para fora!”. Depois de algum tempo, com a genialidade de escultor, fez o belo trabalho. Então, os discípulos perguntaram-lhe como conseguira a proeza. Ele respondeu: “O anjo já estava lá, apenas tirei os excessos que sobravam”. Ora, educar é ir tirando, com paciência e perícia, os maus hábitos e descobrindo as virtudes, até que apareça o “anjo”.

Michel Quoist afirma “que não é para si que os homens educam os filhos, mas para os outros e para Deus”. Educar, nessa perspetiva, é colaborar com Deus; e é na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais.

Educar é promover o crescimento e o amadurecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões: material, intelectual, moral e religiosa. A educação não se recebe só na escola (esta dá-nos o que a família não consegue dar: formação mais avançada), mas, principalmente, em casa. De vez em quando, ouve-se alguém dizer: “Ele é analfabeto, mas é muito educado.”

Não adianta ter adquirido formação académica superior e não saber tratar os outros como gente, não saber honrar a palavra dada, não se comportar bem, trair a esposa e os filhos, não ser gentil, não ser afável, etc. Sem dúvida, a educação é a melhor herança que os pais devem deixar aos filhos. Essa ninguém lha pode roubar, nem destruir. O livro do Eclesiástico, capítulo 30, versículo 1, ensina aos progenitores: “Aquele que ama o seu filho corrige-o com frequência, para que se alegre com isso, mais tarde.”

A educação visa colocar o homem no caminho do bem e da virtude, do qual ele sempre tende a desviar-se. É aos pais que cabe, sobretudo, dar início a essa tarefa na vida dos filhos. A este respeito, a Igreja Católica ensina: “Pela graça do sacramento do matrimónio, os pais receberam a responsabilidade e o privilégio de evangelizar os seus filhos. Por isso, eles iniciá-los-ão, desde a tenra idade, nos mistérios da fé, da qual são para os filhos os ‘primeiros arautos’ (LG,11). Associá-los-ão desde a primeira infância à vida da Igreja” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2225).

A tarefa de educar, como dizia Dom Bosco, “é obra do coração”, é obra do amor, por isso tem muito a ver com a mãe. Sem o carinho e a atenção dessa figura, a criança, certamente, crescerá carente de afeto e desorientada para a vida. O povo diz que, atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher, mas é preciso não esquecer que essa mulher, mais do que a esposa, é a mãe.

É no colo da mãe que a criança pode aprender o que é a vida e a fé, pode aprender a rezar e a amar Deus e as pessoas. É aí que o homem de amanhã deve aprender o que é a retidão, o caráter, a honestidade, a bondade, a pureza de coração. É aí que a criança aprende a respeitar as pessoas, a ser gentil com os mais velhos, a ser humilde, simples e a não desprezar ninguém. É aí que o filho aprende os valores universais, a ética, a justiça, a caridade, a vida pura da castidade, o domínio de todas as paixões desordenadas e a rejeição de todos os vícios.

É a mãe, com seu jeito suave e doce, que retira da sua plantinha o que de mal tem crescido: a erva daninha da preguiça, da desobediência, da má-criação, dos gestos e das palavras inconvenientes. É ela que vai ensinando a perdoar, a superar os momentos de raiva, sem retaliar, a não ter inveja dos outros que têm mais bens, mas dinheiro e mais sorte. É a mãe que, nas primeiras tarefas do lar, ensina ao filho o caminho redentor do trabalho e da responsabilidade.

Até o Filho de Deus quis precisar de uma mãe para cumprir a Sua missão de salvar a Humanidade. Ele fez o seu primeiro milagre nas Bodas de Caná, porque Ela Lhe pediu. Por isso, cada mãe é um sinal de Maria, que ensina o seu filho a viver de acordo com a vontade de Deus.

Em nossas casas, tem penetrado, sorrateiramente, uma sistemática pregação de antivalores por algumas TV e, mais do que nunca, é necessária a mãe atenta para combater tudo o que prejudica a educação dos filhos. Mais do que nunca, precisa de saber conquistá-los, não pelo que lhes dá, mas pelo que é para eles: amiga de todas as horas, consoladora, sabendo corrigir o filho, mas sem grosseria, sem gritos e sem humilhações; e nunca na frente dos outros.

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A mãe é uma figura de extrema importância na vida dos filhos. E, quando o assunto é a educação das crianças, o seu papel é muito relevante. Os pedagogos e os terapeutas de família, listam alguns pontos de atenção que a mãe precisa de ter em relação aos filhos, sejam eles crianças ou adolescentes: acompanhar as atividades diárias das crianças e interessar-se por elas; saber quais são as necessidades e vontades de cada filho/a; estar por dentro do que acontece dentro e fora de casa; apoiar e intervir na hora certa; ir às reuniões de escola; e estar atenta à relação da criança com as outras pessoas: crianças, adolescentes e adultos.

O mais importante de tudo – e, muitas vezes, o mais difícil – é ter tempo de qualidade com os filhos. Muitas mulheres trabalham fora de casa e têm mil coisas para resolver durante o dia, mas é importante que encontrem um tempo para dedicar somente às crianças.

Não vale subestimar o pai, figura tão importante com a mãe nessa construção. O casal nem sempre concorda com tudo, entretanto, quando o tema é a educação dos filhos, as falas do pai e da mãe precisam de ter unidade e consonância. Se isso não acontece, a criança pode ser prejudicada. “Não posso proibir o meu filho de dançar em cima da mesa, se o pai permite. A criança fica confusa e isso é-lhe prejudicial”, considera um terapeuta. Conversar, negociar e saber ceder são palavras-chave para o casal encontrar unidade familiar que favoreça a educação das crianças.

Educar é uma das tarefas mais difíceis. Quem é pai e mãe sabe-o bem. Vale a pena repensar os métodos, rever atitudes. Não existe uma certeza única. Se a mãe descobre que o caminho que escolheu não trouxe o resultado que esperava e de precisava, deve estar recetiva a novos caminhos e ser flexível. Tudo isso, sem abandonar as suas crenças, os seus princípios e valores e o que ela crê ser melhor para seus filhos.

O papel da mãe é de extrema importância para o fluir da vida em todas as instâncias. Ela exerce papel fundamental na história de cada um/a. Dizem alguns especialistas da genética que o/a filho/a transporta por toda a vida células estaminais da mãe. Por isso, ela é extremamente sensível à vida, às atitudes e aos comportamentos da prole, ansiosa pela sorte dos filhos, temorosa pelo futuro deles, pressente o perigo e alegra-se com os sucessos!

2024-11.29 – Louro de Carvalho

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