Shona
Murray, em artigo intitulado “A Rússia está a sabotar os cabos submarinos da
Europa – especialista em ciberespaço da NATO”, publicado pela Euronews, a 28 de novembro, dá-nos conta
de que, segundo o que referiu, ao Europe
Conversation da Euronews, James
Appathurai, especialista sénior da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (NATO) em ameaças cibernéticas e híbridas, a Rússia está a levar a cabo
ataques persistentes a cabos submarinos em toda a Europa, com uma organização
de estilo “paramilitar”, que representa “a ameaça mais ativa” para as infraestruturas
ocidentais.
James Appathurai, secretário-geral adjunto
em exercício para a Inovação Híbrida e Cibernética, sustenta que os recentes
ataques aos cabos de comunicação atribuídos pela aliança à Rússia fazem parte
de um crescimento significativo das interferências cibernéticas, híbridas e
outras, na Europa. Efetivamente, no início de novembro, foram cortados
dois cabos no Mar Báltico, entre a Suécia e a Lituânia, e outro, entre a
Alemanha e a Finlândia, o que alarmou a NATO e os estados-membros da União
Europeia (UE), preocupados com a possibilidade de sabotagem.
A Appathurai foi mais explícito e
claro, ao pormenorizar que “os Russos estão a levar a cabo um programa que têm,
há décadas” – o “Programa Russo de Investigação Submarina”, eufemismo para “uma
estrutura paramilitar, muito bem financiada, que está a mapear todos os nossos
cabos e condutas de energia” – e precisou: “Têm os chamados navios de
investigação. Têm pequenos submarinos por baixo. Têm veículos não tripulados,
operados remotamente, mergulhadores e explosivos.”
Os governos da Alemanha e da
Finlândia vieram logo a terreiro culpar os potenciais sabotadores pelos
aparentes ataques aos cabos. “Ninguém acredita que os cabos tenham sido
danificados acidentalmente. Também não quero acreditar que as âncoras dos
navios tenham causado os danos por acidente”, considerou Boris Pistorious,
ministro alemão da Defesa.
Por sua vez, Antti Häkkänen, ministro
da Defesa finlandês, afirmou que a NATO precisa de fazer muito mais para
defender as infraestruturas críticas do Ocidente.
A Suécia informou que está a decorrer
uma investigação sobre os cabos. E uma declaração conjunta dos ministros
dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, da França, da Polónia, da Itália, da Espanha
e do Reino Unido sustenta que “a Rússia está a atacar sistematicamente a
arquitetura de segurança europeia” e que “a escalada das atividades híbridas de
Moscovo contra os países da NATO e da UE também não tem precedentes na sua
variedade e escala, criando riscos de segurança significativos”.
Cerca de 90% dos dados de
comunicações digitais do Mundo passam pelos cabos submarinos. E passam
diariamente cerca de 10 biliões de euros em transações financeiras. Para além
dos cabos, as infraestruturas submarinas críticas incluem conetores de eletricidade
e condutas que fornecem petróleo e gás.
Por outro lado, Appathurai afirmou
que os ciberataques, a desinformação e a interferência política também estão a
aumentar. “São a base. E tudo isto é em maior escala do que era
anteriormente. O que há de novo é um novo apetite russo e uma campanha de
sabotagem”, vincou, sustentando que esta campanha inclui “fogo posto,
descarrilamento de comboios, ataques a propriedades de políticos, tentativas de
assassinato, por exemplo, o chefe da Rheinmetal”, o maior fabricante alemão de
armas, que fornece à Ucrânia importantes cartuchos de artilharia de 155
mm.
Por fim, o colunista refere que os
serviços secretos norte-americanos frustraram o plano de assassinato, em julho
passado, que fazia, provavelmente, parte de um plano mais vasto para atingir os
líderes da indústria de defesa que abastecem a Ucrânia.
***
A sabotagem e a contrainformação sempre foram
instrumentos relevantes na condução da guerra. Obviamente, nos tempos que
correm, ganham novos contornos, podendo o furto ou a rutura de cabos submarinos
ou subterrâneos parar meio mundo.
O agora apontado por James
Appathurai foi antecipado, a 16 de novembro, pelo almirante Gouveia e Melo,
chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), cujas afirmações foram veiculadas por
vários órgãos de comunicação social.
Segundo o CEMA – que afirmou haver um “trânsito cada vez mais intenso” (“de Norte
para Sul e de Sul para Norte”) de navios russos na costa de Portugal, tendo cruzado,
recentemente, águas portuguesas uma embarcação dedicada à espionagem –, num período muito curto, passaram em águas
portuguesas três navios de guerra (duas fragatas e uma corveta), três de pesquisa científica, dois
reabastecedores e um navio espião (que faz, normalmente espionagem eletrónica).
O almirante relevou que a Marinha acompanha este fluxo de navios russos com
apertada vigilância. “A nossa resposta a isso é segui-los,
controlá-los, mantê-los sob pressão constante com a nossa presença também
constante”, afirmou aos jornalistas.
As declarações Gouveia e Melo foram proferidas, ente os jornalistas, na
Base Naval de Lisboa, no Alfeite, por ocasião da chegada do navio D. Francisco
de Almeida, fragata que participou numa missão da NATO com uma guarnição de 167
militares.
***
A 19 de novembro, dia em que o presidente russo assinou o decreto que
alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares, o CEMA, advertindo que Portugal deve preparar-se
para uma escalada da guerra (os militares levam isto a sério, como disse),
sugeriu que Portugal siga o exemplo dos países nórdicos – que já começaram a
preparar as suas populações, para “se a crise ou guerra vier”. Em declarações
à SIC Notícias, dizia que, neste
momento, a Rússia é a principal ameaça à segurança euro-atlântica e que o risco
da escalada do conflito parece cada vez maior.
“Acho que a população deve estar informada. Essa discussão, em termos de um
regime democrático, deve ser aberta e de forma esclarecida e esclarecedora. Não
se devem criar preocupações exageradas, mas também não se deve minimizar, ao ponto de isso não ser sequer uma
preocupação”, considerou.
Vladimir Putin assinou, no dia 19, o decreto que alarga
a possibilidade de utilização de armas nucleares, dois dias depois de os Estados
Unidos da América (EUA) terem autorizado a Ucrânia a atacar solo russo
com mísseis de longo alcance, de fabrico e oferta norte-americana.
Numa conferência com os chefes dos três ramos das Forças Armadas, o CEMA aplaudiu o passo dos EUA. “Por
que não? O que é que impede? É o medo da reação?”, questionou Gouveia
e Melo. “Se é o medo da reação que impede, o melhor é baixarmos os braços
e entregarmos, desde já, a vitória ao opositor [a Rússia] que usa isso de forma psicológica contra nós”,
atirou.
Apesar da decisão de Putin, o CEMA acredita que um ataque nuclear não é opção para Putin. “Um
conflito nuclear traria tantas desvantagens para todos os atores, que não me
parece que esteja no horizonte de ninguém”, declarou à SIC, mas avisando que está em curso uma nova era de confrontação
global com o alinhamento estratégico do “quarteto do caos”, como lhe chamou – composto pela Rússia, China, Irão e Coreia do Norte –
que pode colocar em risco a segurança de uma
Europa a duas vozes.
O almirante, lamentando que Portugal não tenha capacidade de defesa
adequada, criticou: “A nossa atual lei de progresso militar está em de cerca de
quatro mil milhões de euros para o reforço das capacidades das Forças Armadas.
Israel, numa noite, na defesa do Iron Dome, gastou dois mil milhões de euros…
[longa pausa] Eu julgo que não preciso de dizer mais nada sobre a nossa
capacidade de defesa aérea.”
O CEMA saúda a autorização concedida pelos EUA à Ucrânia para usar armas
de longo alcance e insiste em dizer que Portugal deve estar pronto para
possível escalada da guerra e que a população portuguesa
deve estar informada sobre os riscos e consequências da escalada da guerra.
A Rússia, lembra Gouveia e Melo, é a principal
ameaça à segurança euro-atlântica e o risco da escalada do
conflito é cada vez maior, pelo que chegou a hora de o Estado seguir
os exemplos que vêm de da Suécia, da Noruega e da Finlândia e
informar a população sobre o que pode acontecer e como se
preparar para uma possível guerra mundial.
***
Estão a ser construídos no Norte de Portugal, abrigos
subterrâneos resistentes a um desastre natural ou a um ataque nuclear. A ideia
foi lançada por um antigo emigrante em França que cobra um mínimo de 150 mil
euros pelos equipamentos mais pequenos. Pelos vistos, o anfitrião não quis ser
identificado, mas abriu a porta à SIC,
para revelar o abrigo que edificou a oito metros de profundidade. O
refúgio secreto fica na região do Minho. Começou a ser pensado no início da
pandemia e ganhou forma depois que a guerra voltou à Europa.
Refere a SIC
que a edificação demorou quatro meses, custou cerca de 200 mil
euros e será capaz de resistir a qualquer tipo de ataque ou de desastre. O abrigo tem cerca de 20 metros
quadrados e foi concebido para funcionar em bolha. Tem fontes de água
e energia independentes, assim como capacidade de regeneração de ar. Foi
preparado para albergar quatro pessoas e tem autonomia de pelo
menos um mês. A fortaleza que se diz ser inviolável foi
projetada pela empresa de Rui Ribeiro, antigo emigrante em França, que apostou,
há dois anos, numa ideia que diz ser muito mais do que um negócio. A guerra na Ucrânia pôs, na sua ótica, o Mundo
à beira de um novo desastre nuclear. Além das ameaças do Kremlin, as
centrais nucleares de Zaporijia e Kursk na Rússia arriscam tornar-se uma
repetição do sucedido em 1986, quando Chernobyl atirou partículas
radioativas, para distâncias superiores a três mil quilómetros.
O empresário diz que o Mundo está, há muito, a enviar
sinais preocupantes, mas são poucos os que apostam na prevenção. Desde a Guerra Fria, a Suíça exige, pelo
menos, um abrigo subterrâneo para cada nova construção. Hoje tem uma rede
de quase 400 mil bunkers e está entre
os países com maior taxa de cobertura. Em Portugal, o tema ainda faz parte
do desconhecido.
Rui Ribeiro, garantindo trabalhar com material
militar, diz seguir as normas que a Suíça aplica à construção de abrigos
como os que está a vender em Portugal.
Além do aval da autarquia, a construção implica o estudo
geológico do terreno. Só isso permitirá que as maquetes ganhem vida. A empresa oferece dois modelos de
abrigo: o mais caro é construído no local em betão armado, enquanto o
mais barato é feito a partir de contentores com três tamanhos possíveis.
Vai gastar cerca de 150 mil euros na esperança de
transformar este contentor num seguro de vida.
Em Portugal o mercado, a dar os primeiros passos,
já divide opiniões. Há quem fale em segurança e em prevenção, como há
quem fale em capricho e obsessão. E quem acredita estar a garantir a própria
sobrevivência espera, acima de tudo, que esta porta fique sempre fechada.
***
O Estado
Português tem manifestado insistente apoio à Ucrânia, em termos financeiros e logísticos,
mas não se tem metido no campo de batalha. Porém, como referia, a 28 de
novembro, Região de Leiria, um jornal
online, uma empresa das Caldas da
Rainha que fornece drones à Ucrânia angaria 70 milhões para continuar a crescer.
E Ricardo Mendes, CEO da
Tekever, reafirmou “o compromisso de apoiar as forças ucranianas na sua luta
pela soberania”.
A Tekever
conseguiu um financiamento de 70 milhões de euros, proveniente de diversos
investidores, entre os quais o Fundo de Inovação da NATO, na semana em que se
cumpriram mil dias de guerra na Ucrânia, país ao qual a empresa tem fornecido
equipamento. Outros dos apoiantes da ronda de financiamento O Fundo de Investimento
Estratégico de Segurança Nacional do Reino Unido e a Crescent Cove Advisors LP,
uma empresa de investimentos de Silicon Valley com experiência em defesa.
O investimento,
anunciado no dia 20, destina-se “a apoiar o crescimento sustentável e facilitar
a expansão geográfica para mercados prioritários [como os EUA], a inovação
contínua de produtos e o aumento da capacidade de produção”, explicou, em
comunicado, a Tekever, que tem o centro de engenharia – o coração do fabrico de
drones – nas Caldas da Rainha.
“Como parte
do seu plano de crescimento”, a empresa, que “já é rentável, irá acelerar os
investimentos em investigação e desenvolvimento para apoiar a inovação,
melhorar” os drones “existentes e desenvolver novas linhas de produtos”. O seu
objetivo “é garantir que a sua tecnologia continue a liderar num cenário
técnico em rápida evolução”, pelo que “irá também expandir a sua capacidade
global de produção, entrega e suporte, de modo a responder à crescente procura
pelos seus produtos e serviços”.
Patrick
Schneider-Sikorsky, representante do Fundo de Inovação da NATO, referiu que “as
tecnologias de sistemas aéreos não tripulados são essenciais para o avanço da
defesa, para a segurança e para a resiliência”, adiantando que “a tecnologia da
Tekever está a revolucionar os sectores de defesa, inteligência comercial,
vigilância e reconhecimento”.
Passados mais
de mil dias da invasão da Ucrânia pela Rússia, o CEO da Tekever reafirmou “o
compromisso de apoiar as forças ucranianas na sua luta pela soberania”,
frisando que a empresa “tem orgulho de colaborar”, fornecendo drones para
“missões críticas de reconhecimento e vigilância de longo alcance”, desde a
primavera de 2022.
***
Enfim,
particulares antecipam-se, na prevenção e na luta no terreno, a um governo que
se refugia na retórica do apoio, mas que não quer ou não pode entrar na guerra,
porque as suas forças armadas são exíguas em meios. Resta a alma e a
solidariedade!
2024.11.28 – Louro de Carvalho
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