quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A nova Comissão Europeia entrará em funções a 1 de dezembro

 

De acordo com fontes do Parlamento Europeu (PE), familiarizadas com o processo, ante a incerteza levantada quanto à aceitação dos novos comissários por parte do Plenário do PE, o Partido Popular Europeu (PPE), os Socialistas e Democratas (S&D) e os liberais do grupo Renew Europe (RE) chegaram a acordo, a 20 de novembro, para aprovar os seis vice-presidentes da Comissão Europeia e a escolha do húngaro Olivér Várhelyi para a próxima Comissão.

Com efeito, o Colégio de Comissários, depois de cada um/a ter passado no escrutínio feito pelas comissões cujo objeto está relacionado com a pasta que irá sobraçar, está, agora, sujeito a votação de aprovação pelo Plenário do PE a 27 de novembro, em Estrasburgo. Se for confirmada a escolha dos colaboradores de Ursula von der Leyen, a Comissão poderá entrar em funções a 1 de dezembro, como inicialmente previsto.

O acordo, alcançado após uma semana de negociações, na sequência das audições de confirmação dos vice-presidentes designados pelo PE, inclui um texto negociado pelos três grupos, permitindo que votem a favor dos sete comissários pendentes.

Os casos mais polémicos foram o da espanhola Teresa Ribera, indigitada como vice-presidente executiva para a transição limpa, justa e competitiva, dos socialistas e democratas, o do italiano Raffaele Fitto, vice-presidente executivo para a coesão e reformas, dos conservadores e reformistas europeus, e o do húngaro Olivér Várhelyi, comissário para a saúde e bem-estar animal

O PPE chegou a adiar a nomeação de Teresa Ribera, na pendência do seu debate sobre as consequências das inundações em Valência, no Parlamento espanhol, vincando que deveria demitir-se da Comissão, caso a justiça espanhola a acusasse de irregularidades na gestão das inundações. Porém, durante a sua comparência perante o Parlamento, em Madrid, Ribera não se comprometeu com a demissão.

Efetivamente, em comunicado, emitido no dia 20, o PPE refere ter “acompanhado de perto” a prestação da candidata a vice-presidente de concorrência da Comissão Europeia, Teresa Ribera. Esther Muñoz, deputada do Partido Popular (PP) espanhol, pediu a Ribera que se comprometa a renunciar ao seu possível cargo na Comissão Europeia, se for acusada de ter gerido as inundações que devastaram duas regiões espanholas. Ela não esclareceu porque não respondeu durante a sua audição perante o PE. Sendo assim, o PPE “quer registar que deverá demitir-se, caso seja acusada das suas responsabilidades decorrentes do exercício dos seus poderes como vice-presidente do governo de Espanha”. “O teor da prestação da candidata será avaliado nas próximas horas e será levado em consideração quando os grupos políticos do PE decidirem sobre todos os candidatos pendentes de avaliação em todo o arco parlamentar”, refere o comunicado. Entretanto, a questão ficou ultrapassada, para já).

Além disso, o PPE anunciava um princípio de acordo entre diferentes partidos, à esquerda e à direita, no PE, prevendo analisar “o novo cenário nas próximas horas”.

Porém, o grupo da esquerda no PE escreveu à presidente Roberta Metsola, a denunciar o “acordo de bastidores”, que entende como “violação flagrante do procedimento”.

De acordo com os eurodeputados de esquerda, a avaliação dos comissários designados pelo Plenário do PE deveria ter sido efetuada, imediatamente após as audições, como previsto no Regimento do Parlamento Europeu. “O presidente e os coordenadores [das comissões parlamentares] reúnem-se, imediatamente após a audição de confirmação para avaliar cada um dos comissários indigitados”, refere o documento.

Em vez de avaliarem, imediatamente, os vice-presidentes, os grupos centristas concordaram, a 12 de novembro, em aprovar os vice-presidentes num “pacote” e não individualmente, iniciando um braço de ferro político sobre a composição da a Comissão, que resultou no acordo em referência.

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As audições dos comissários nomeados pelos eurodeputados decorreram de 4 a 12 de novembro.

Durante a entrevista, os comissários indigitados responderam a perguntas escritas e orais dos deputados europeus membros das comissões parlamentares ligadas à sua pasta, para os convencer da sua competência, do seu empenhamento na Europa e da sua integridade.

Segundo Javier Carbonell, analista político do European Policy Centre (EPC), cada comissário indigitado teve uma audição de três horas, em que dispôs de “15 minutos para apresentar o seu programa à comissão”. Depois, os presidentes das comissões parlamentares e dos diferentes grupos políticos fizeram uma avaliação e decidiram “se aceitam ou não o comissário”.

Os candidatos precisaram da maioria de dois terços para passar no teste. “Este é um elemento crucial para a democracia, porque envolve o controlo parlamentar e o controlo do executivo pelo legislativo”, referia o analista à Euronews, a 4 de novembro.

Se um comissário indigitado for rejeitado, a sua pasta pode ser adaptada ou será apresentado outro nome do mesmo país, para que o processo possa recomeçar.

Em 2019, os eurodeputados rejeitaram o conservador húngaro László Trócsányi e a socialista romena Rovana Plumb, bem como a candidatura de Sylvie Goulard, de França, devido a dúvidas sobre a sua integridade e independência. Desta vez, alguns dos candidatos pareciam ser mais frágeis. O candidato italiano Raffaele Fitto foi criticado, não tanto pela sua personalidade, mas pelo seu partido, porque pertence ao partido de extrema-direita de Georgia Meloni, em Itália. Olivér Várhelyi, atual comissário húngaro e apoiante de Viktor Orban, também esteve em apuros, visto que o PE não ficou muito satisfeito com o seu desempenho, durante o último mandato, e porque parece ter sido muito próximo de Viktor Orbán.

A audição dos comissários indigitados é um processo altamente político em que os grupos políticos não hesitam em retribuir. É “um caso de dar e receber”. É possível que todos sejam um pouco mais brandos uns com os outros, porque querem evitar a retribuição. Por isso, têm o cuidado de evitar fazer perguntas demasiado difíceis, para não porem em perigo os seus próprios candidatos, sendo demasiado duros com os candidatos dos outros partidos. “Se um candidato de um partido for rejeitado por outro partido, o primeiro vingar-se-á nos outros candidatos. Isto significa que há um incentivo para que os partidos tradicionais, dado que as suas margens de voto são menores, se respeitem e se apoiem mutuamente”, defende Javier Carbonell.

O investigador esperava também que as questões mais espinhosas viessem dos Verdes e da Esquerda, que não têm candidatos e, portanto, não têm nada a perder.

Passando, os candidatos integrarão o “colégio de comissários”, renovado de cinco em cinco anos. A nova Comissão deve receber luz verde da sessão plenária do PE, antes de ser nomeada pelo Conselho Europeu.

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Todas as audições dos candidatos estavam realizadas, a 13 de novembro, e as cartas de avaliação deveriam ser publicadas a 21 de novembro, devendo o PE votar a Comissão no seu conjunto na semana seguinte. Porém, as manobras políticas entre o PPE, de centro-direita, e a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), de centro, congelaram o processo de nomeação da próxima Comissão Europeia e os candidatos continuavam sujeitos às aprovações finais.

Cada candidato precisa do apoio de, pelo menos, dois terços da comissão do PE que realiza a audição de confirmação em causa. Isto significa que a maioria dos grupos políticos deve apoiar cada comissário. Antes das audições, todos os grupos políticos do PE anunciaram que as decisões seriam tomadas com base no conteúdo das respostas dos candidatos. Porém, não foi inteiramente assim. Vinte candidatos foram aprovados, logo após as suas audições, enquanto a confirmação do candidato húngaro foi adiada, obrigando-o a responder a perguntas escritas adicionais.

A 12 de novembro, foram ouvidos os seis vice-presidentes executivos designados: Teresa Ribera Rodríguez (Espanha), Roxana Mînzatu (Roménia), Henna Virkkunen (Finlândia), Stéphane Séjourné (França), Kaja Kallas (Estónia) e Raffaele Fitto (Itália).

Os grupos que apoiaram Ursula von der Leyen no mandato anterior – o PPE, o S&D e o RE – concordaram em aprovar os vice-presidentes em “pacote” e não individualmente.

O PPE não deu luz verde à candidata espanhola, até que esta se pronunciasse perante o Parlamento espanhol sobre o seu papel nas inundações de Valência. Ribera, enquanto aguardava a confirmação como vice-presidente da Comissão, continuava como vice-presidente de Espanha responsável pela Transição Ecológica. A sua aprovação ficou adiada para a semana do dia 20.

O S&D criticou a posição do PPE, acusando-o de utilizar Ribera como “bode expiatório”, e afirmou, em comunicado, que “a liderança do PPE está disposta a arriscar a estabilidade das instituições europeias num clima geopolítico difícil”. Contudo, os socialistas fizeram a sua exigência, apelando a uma “maioria pró-europeia e democrática” que apoie Ursula von der Leyen, excluindo os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), de extrema-direita. Na prática, isto poderia significar a destituição de Raffaele Fitto, da ECR, da sua vice-presidência. “Não o podemos aceitar. Seria uma escolha arriscada para o futuro das instituições europeias”, afirmou Brando Benifei, um dos principais eurodeputados socialistas italianos.

O PPE opôs-se à redução de Fitto a simples comissário, aduzindo que o candidato merece a vice-presidência, devido à dimensão e à importância da Itália, bem como às implicações políticas mais vastas de uma deslocação da Comissão mais à direita. E a presidente da Comissão Europeia interveio para resolver o impasse, a 13 de novembro, quado as negociações políticas se tornaram mais tensas. Reuniu-se com os líderes dos três principais grupos políticos em Bruxelas: Manfred Weber, do PPE, Iratxe García Pérez, do S&D, e Valérie Hayer, do RE, mas não houve acordo, apesar de “os canais de comunicação se manterem abertos”, como disse fonte do PE à Euronews.

O RE pareceu mais aberto a chegar rapidamente a um compromisso, criticando implicitamente o PPE e o S&D pelo confronto e apelou à presidente da Comissão Europeia para que tomasse medidas e assumisse “responsabilidades para ultrapassar este impasse e construir pontes”,

Os Verdes/ALE, que apoiaram a candidatura de Ursula von der Leyen a presidente da Comissão, em julho, mas não têm comissários designados, também manifestaram preocupação com o impasse e criticaram o PPE. “A liderança do PPE está a jogar, tomando a UE como refém, alinhando com a extrema-direita. Isto é irresponsável”, escreveu Terry Reintke, copresidente dos Verdes, no X.

O resultado das negociações levou a ajustamentos nas tarefas e nos títulos de alguns comissários designados, continuando improvável a rejeição total de um candidato.

Agora, com a firmação do acordo entre PPE, S&D e RE, é segura a aprovação do Colégio de Comissários pelo Plenário do PE, a 27 de novembro, em Estrasburgo, deixando a coligação centrista (ou moderada) de estar em risco de divisão.

E a nova Comissão Europeia tem pela frente o desafio de enfrentar o recrudescimento e o risco de escalada da guerra da Rússia com a Ucrânia e a dinâmica de eliminação dos Palestinianos pelo governo israelita, bem como a promoção política e económica da União Europeia (UE) no Mundo, num contexto de ascensão da extrema-direita.

2024.11.20 – Louro de Carvalho

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