A 1 de outubro, o Irão disparou, pelo menos,
180 mísseis contra Israel, alguns dos quais atingiram território israelita. É o
segundo ataque iraniano deste ano a Israel.
Segundo os militares israelitas, por
volta das 19h30 locais, o Irão disparou mísseis, o que fez soar sirenes de
perigo em todo o Israel. E Pat Ryder, porta-voz do Pentágono, nos Estados
Unidos da América (EUA) afirmou que Israel intercetou, com sucesso, a maior
parte dos mísseis, e que dois contratorpedeiros da Marinha dos EUA também
abateram cerca de 12 intercetores, para ajudar os militares israelitas. Por seu
turno, a Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) anunciou que as suas forças
usaram mísseis supersónicos Fattah, pela primeira vez, alegando que 90% dos
seus lançadores atingiram os seus alvos.
Fontes da IRGC disseram aos meios de
comunicação estatais, em Teerão, que o ataque teve como alvo três
bases militares israelitas. “Exercitámos o nosso direito de legítima
defesa nos termos do artigo 51.º da Carta das Nações Unidas e visámos,
exclusivamente, as bases militares e de segurança responsáveis pelo genocídio
em Gaza e no Líbano”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano,
Abbas Araqchi, na sua conta pessoal na rede social X.
No entanto, um porta-voz do Pentágono
acrescentou que “o menor dano no terreno” tinha sido infligido em Israel. No
entanto, foram registados vários feridos, embora nenhum deles fosse de tropas
dos EUA ou de nacionalidade norte-americana. Além disso, a comunicação social
israelita noticiou o assassinato de uma mulher de 30 anos, Shahir Goldman.
Mais tarde, Matthew Miller, porta-voz
do Departamento de Estado dos EUA, disse que os parceiros dos EUA estavam a
ajudar Israel e Washington a combater o ataque. Porém, recusou-se
a divulgar os nomes desses países e disse aos jornalistas que
lhes permitiria comentar por conta própria. Um desses países é a Grã-Bretanha,
cujo ministro da Defesa citou a ajuda das suas forças para repelir os ataques
iranianos e condenou o ataque iraniano.
O ataque terminou muito rapidamente e
o representante do Irão nas Nações Unidas anunciou, por volta das 20h00, que o
ataque tinha terminado.
Segundo posições oficiais, Teerão não
tinha informado Washington sobre o início do ataque.
O Ministério dos Negócios
Estrangeiros iraniano afirmou que o ataque foi uma “resposta à agressão
do regime sionista, incluindo a violação da soberania e integridade territorial
da República Islâmica do Irão”, bem como também ao assassinato “do
chefe do gabinete político do movimento Hamas em Teerão, que foi convidado
oficial do governo da República Islâmica do Irão, e do secretário-geral do
Hezbollah do Líbano e dos Militares Supremos, comandante do nosso país, Sardar
Nilforoshan, em Beirute”.
Também a Missão Permanente do Irão
junto da Organização das Nações Unidas (ONU) defendeu que o ataque foi “legal,
racional e legítimo”, indicando que se tratou de uma resposta aos ataques
israelitas contra o grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irão, no Líbano.
O embaixador do país na ONU, Amir
Saeid Iravani, avisou Israel de que a sua resposta a quaisquer atos de agressão
contra Teerão “será rápida, decisiva e mais forte do que antes”.
O embaixador recordou o assassinato
do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão, a 31 de julho, a detonação de pagers no Líbano, em setembro, e os
assassinatos do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e do general iraniano
Abbas Nilforoushan, em Beirute.
Saeid Iravani afirmou que a inação do
Conselho de Segurança da ONU “permitiu que Israel ultrapassasse, de forma
flagrante, todas as linhas vermelhas e violasse os princípios fundamentais do
direito internacional”. Por isso, reiterou os apelos do Irão para que o
Conselho Segurança “intervenha, de forma urgente e decisiva, para travar a
agressão contínua de Israel e os crimes de guerra contra o Líbano, [contra] Gaza
e [contra a] Síria e para evitar que a situação se transforme numa guerra
regional em grande escala”.
Embora o ministério dos Negócios
Estrangeiros do Irão tenha dito, oficialmente, que as suas operações estavam
terminadas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que o Irão
vai “pagar” pelo lançamento do míssil. “O Irão cometeu um erro grave, esta
noite, e vai pagar por isso”, disse Netanyahu, numa reunião do gabinete de
segurança, sugerindo que o Irão poderia ter o mesmo destino que Gaza e o Líbano
e sustentando: “O regime de Teerão não compreende a nossa determinação em
defender-se e impor um custo aos inimigos.”
Grupos armados apoiantes do Irão no
Iraque afirmaram que, se os EUA aderissem a qualquer resposta de Israel ou se
Israel usasse o espaço aéreo iraquiano contra Teerão, considerariam as bases
americanas, no Iraque e na região, um alvo para si próprios.
O grupo palestiniano Hamas saudou o
ataque com mísseis do IRGC iraniano contra Israel, chamando-o de “heroico”. Simultaneamente,
um grupo de iranianos que saíram às ruas expressou a sua satisfação com o
ataque.
Entretanto, o Conselho de Segurança da
ONU agendou para 2 de outubro uma reunião de emergência sobre a escalada da
situação no Médio Oriente, a pedido da França e de Israel.
***
Vários
líderes europeus, incluindo a presidente da Comissão Europeia, denunciaram o
ataque de Teerão contra Israel, que prometeu retaliar.
Ursula von
der Leyen está entre os vários líderes europeus que condenaram, veementemente,
o ataque dos mísseis do Irão a Israel, ataque que ameaça desestabilizar o Médio
Oriente e gerar uma guerra total na região. “Apelo a todas as partes para que
protejam a vida de civis inocentes”, afirmou von der Leyen numa declaração
divulgada a 1 de outubro, enfatizando: “A União Europeia [UE] continua a apelar
a um cessar-fogo na fronteira com o Líbano e em Gaza, e à libertação de todos
os reféns detidos há quase um ano.”
O alto
representante da diplomacia da UE, Josep Borell, afirmou que o bombardeamento
contínuo de ataques de retaliação corre o risco de alimentar uma escalada regional incontrolável. “Apelamos
a todas as partes para que exerçam a máxima contenção”, afirmou numa declaração.
O presidente
do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que a UE “está pronta” a apoiar os
esforços para desanuviar as tensões e que uma guerra regional “não é do
interesse de ninguém”.
Também o
chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que o ataque deve ser “fortemente
condenado” e que o sistema de defesa aérea israelita Iron Dome só evitou um
desfecho muito pior.
O presidente
do governo de Espanha, Pedro Sánchez, também condenou o ataque, apelando a que
“a espiral de violência termine agora”.
Pedro Sánchez,
cujo governo reconheceu recentemente o estatuto de Estado palestiniano, afirmou
que a paz duradoura pode ser assegurada na região, quando o cessar-fogo for
negociado entre Israel e o Hamas, bem como entre Israel e o Hezbollah.
O presidente dos Estados Unidos
(EUA), Joe Biden, afirmou, numa declaração aos jornalistas na Casa Branca, que
Washington tinha previsto o ataque “descarado” do Irão com mísseis contra
Israel e que foi feito um “planeamento intensivo” para antecipar e defender o
ataque, acrescentando que os EUA e Israel trabalharam em conjunto para defender
Israel da barragem de mísseis que ocorreu no dia 1 de outubro, à noite.
Joe Biden reiterou o seu apoio a
Israel e afirmou que os EUA estão em “contacto permanente” com os seus
homólogos israelitas.
O Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd
Austin, salienta que Washington cumpriu “o seu compromisso de parceria com
Israel na sua defesa”, depois de terem intercetado cerca de uma dúzia dos 181
mísseis disparados pelo Irão contra Israel. “Condenamos este ato ultrajante de
agressão por parte do Irão e apelamos ao Irão para que ponha termo a quaisquer
outros ataques, incluindo os dos seus grupos terroristas por procuração”,
afirmou Austin, num comunicado.
“Os EUA nunca hesitarão em proteger
as nossas forças e interesses no Médio Oriente e em apoiar a defesa de Israel e
dos nossos parceiros na região", adiantou, garantindo que Washington tem
“uma capacidade significativa” para responder a qualquer ofensiva.
“As nossas forças permanecem
posicionadas para proteger as tropas e os parceiros dos EUA no Médio Oriente, e
o departamento mantém uma capacidade significativa para defender o nosso povo,
prestar mais apoio à autodefesa de Israel e impedir uma nova escalada”, acrescentou.
Joe Biden e Lloyd Austin juntam-se a
outras figuras de todo o Mundo na condenação das ações do Irão.
O
primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, também dirigiu palavras duras
ao Irão por causa do incidente, afirmando que condenou o ataque durante um
telefonema com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, fazendo eco
da declaração da ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock,
que instou o Irão a não intensificar o conflito. Enfim, condenou “totalmente” a
tentativa do Irão de ferir Israelitas inocentes, alertando que o incidente
ameaça "empurrar a região cada vez mais para a beira da guerra”.
Já
o secretário-geral da ONU, António Guterres, que condenou
“o agravamento do conflito no Médio Oriente”, sem referir diretamente o ataque
do Irão, foi considerado “persona non grata” e foi proibido de entrar
em Israel, segundo anunciou o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros,
Israel Katz, referindo que que Guterres seria lembrado “como uma mancha na história
da ONU” e escrevendo, nas redes sociais, que “qualquer pessoa que não consiga
condenar, inequivocamente, o hediondo ataque do Irão a Israel, como fizeram
quase todos os países do Mundo, não merece pisar em solo israelita”.
As Forças de
Defesa de Israel (FDI) disseram que os mísseis fizeram soar as sirenes de
ataque aéreo em todo o território de Israel, antes de concluir que muito poucos
cidadãos tinham sido feridos no ataque, com vários mísseis intercetados pelo
sistema de defesa Iron Dome de Israel. Por outro lado, exortaram a população de mais de
24 aldeias no Sul do Líbano a abandonar as suas casas, antes do contra-ataque,
e anunciaram que tropas adicionais se iriam juntar para uma invasão terrestre.
***
É
curioso como tantos (EUA, Reino Unido, UE, etc.) condenam os ataques do Irão a
Israel e toleram os sucessivos ataques de Israel aos Palestinianos residentes
em Gaza e no Líbano e alguns ataques a alvos iranianos, bem como o bloqueio
mundial à ajuda humanitária. E não surge uma única palavra de solidariedade
para com o secretário-geral da ONU, António Guterres, na condenação ao
agravamento do conflito no Médio Oriente.
Isto
só se compreende pelos interesses económicos e geopolíticos, não pela ótica da
defesa dos direitos humanos ou dos valores ocidentais: vida, liberdade,
habitação, saúde, educação, igualdade perante a lei capacidade de intervenção
cívica e outros mais.
A
guerra das armas e da economia e os interesses geopolíticos mobilizam muito
mais as nações do que a paz.
2024.10.02 –
Louro de Carvalho
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