segunda-feira, 7 de julho de 2025

Novo presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores

 
De acordo com nota da Sala de Imprensa da Santa Sé, de 5 de julho, o Santo Padre Leão XIV nomeou presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores o francês Monsenhor Thibault Verny, Arcebispo de Chambéry e Bispo de Saint-Jean-de Maurienne e Tarentaise, até então, membro da mesma Pontifícia Comissão, sucedendo no cargo ao cardeal capuchinho D. Seán Patrick O’Malley, arcebispo emérito de Boston, nos Estados Unidos da América (EUA) e, doravante, também presidente emérito da Pontifícia Comissão, agora, entregue à liderança de Thibault Verny.
Embora algumas vítimas tenham elogiado os esforços da Comissão, ela também foi abalada pelas demissões de vários dos seus membros, ao longo dos anos. Por exemplo, em 2023, renunciou um proeminente padre jesuíta e conselheiro papal, dizendo, publicamente, que tinha preocupações com a forma como o grupo estava a operar.
Esta é a primeira ação pública do Pontífice norte-americano e peruano para enfrentar uma questão que prejudica a credibilidade da Igreja global, admitindo-se que outras se seguirão. Com efeito, os escândalos, protagonizados por membros do clero ou por personalidades com ele colaborantes, prejudicaram a reputação da Igreja como voz moral, levaram a processos judiciais, que custaram milhões de dólares, e resultaram em várias renúncias de bispos

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Monsenhor Thibault Verny nasceu em Paris, a 7 de novembro de 1965. Depois de se formar em Engenharia Física na École Supérieure de Physique et de Chimie Industrielles, de Paris, ingressou no Seminário Arquidiocesano. Posteriormente, frequentou o Pontifício Seminário Francês, em Roma, e obteve a licenciatura em Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), também em Roma.

Foi ordenado sacerdote, a 27 de junho de 1998, para a arquidiocese de Paris. Depois, entre 1999 e 2005, foi vigário da paróquia de Saint-Honoré-d’Eylau, capelão do colégio e liceu Janson-de-Sailly, do grupo de escoteiros de Saint-Louis e do colégio Eugène-Delacroix, entre 2001 e 2005, quando se tornou pároco de Notre-Dame de Lorette, cargo que exerceu até se tornar bispo. Entre 2007 e 2016, foi reitor da Magenta-Lafayette Deanery e, desde 2014 até 2016, foi também delegado diocesano para as vocações sacerdotais e religiosas e vigário-geral. Entre 2008 e 2016, foi Oblato do Mosteiro Olivetano de Notre-Dame de la Sainte-Espérance, em Mesnil Saint-Loup.

A 25 de junho de 2016, foi nomeado, pelo Papa Francisco, bispo titular de Lamzella e auxiliar de Paris. Recebeu a ordenação episcopal, a 9 de setembro seguinte, na catedral de Notre-Dame de Paris, das mãos do cardeal André Armand Vingt-Trois , arcebispo de Paris, coadjuvado por Éric Marie Pierre Henri Aumonier, bispo de Versalhes, por Renauld Marie François Dupont de Dinechin, bispo de Soissons, Laon et Saint-Quentin, por Jérôme Daniel Beau, bispo auxiliar de Paris, e por Jean-Pierre Batut, bispo de Blois. E, a 11 de maio de 2023, foi elevado a arcebispo de Chambéry e bispo de Saint-Jean-Maurienne e Tarentaise.

Na Conferência Episcopal Francesa (CEF), é presidente do Conselho para a Prevenção e Luta contra a Pedofilia.

Em comunicado, o seu antecessor na presidência da Comissão, D. Seán Patrick O’Malley – cujo pedido de renúncia ao múnus de arcebispo de Boston foi aceite pelo Papa Francisco, a 5 de agosto de 2024, por ter deixado de ser cardeal eleitor, devido a ter completado 80 anos de idade – começa por salientar que o Papa Leão XIV “afirmou a prioridade contínua do trabalho” da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores para a Igreja Universal, ao nomear D. Thibault Verny, arcebispo de Chambéry, na França. Depois, acentua que testemunhou a “dedicação” de D. Thibault Verny à prevenção de abusos na Igreja, pois trabalhou de perto com o arcebispo nesta comissão, desde 2022, para lá das “importantes contribuições para o trabalho” deste organismo, e lembra que tem “anos de profunda experiência” de trabalho com as autoridades policiais, com outras autoridades civis e com a liderança da Igreja, “para garantir a responsabilização pelas graves falhas da Igreja em França”.

“É uma bênção para todas as pessoas que o Papa Leão tenha confiado a liderança da Comissão ao arcebispo, um líder colaborativo empenhado em fazer avançar a adoção global da proteção e da salvaguarda, para garantir, da melhor forma possível, a segurança daqueles que estão ao cuidado da Igreja, em todo o Mundo”, acrescentou o cardeal frade capuchinho.

D. Seán Patrick O’Malley homenageou também o Papa Francisco, que instituiu a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores da Santa Sé e lembra que, ao longo dos anos, a equipa estabeleceu “políticas e procedimentos de proteção e de salvaguarda, sempre consciente da importância do reconhecimento, da resolução e da paz para todas as pessoas afetadas por abusos”.

“Desejo também expressar a minha gratidão a Sua Santidade o Papa Leão XIV, por garantir que a Comissão continue a ser uma prioridade para a Igreja. As palavras e os atos do Santo Padre, nestes primeiros meses do seu pontificado, asseguram ao Mundo que a Igreja não se tornará complacente nos seus esforços para assegurar, da melhor forma possível, a proteção das crianças, dos adultos vulneráveis e de todas as pessoas nas nossas comunidades”, declarou o presidente emérito deste organismo eclesial. 

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“Com profunda humildade e sincera gratidão, agradeço ao Santo Padre, o Papa Leão XIV, pela minha nomeação. Estou honrado com a confiança que depositou em mim, plenamente consciente da grave e sagrada missão confiada à Comissão: ajudar a Igreja a tornar-se cada vez mais vigilante, responsável e compassiva na proteção dos mais vulneráveis”, declarou o arcebispo D. Thibault Verny, em comunicado, após a sua nomeação, enviado à Agência Ecclesia, pela sala de imprensa da Santa Sé.

O presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores do Vaticano adiantou que as suas prioridades incluem o apoio às Igrejas locais, especialmente, às que ainda enfrentam desafios na implementação de medidas eficazes de tutela.

“Promoveremos a subsidiariedade e o compartilhamento equitativo de recursos, para que todas as partes da Igreja, independentemente da sua localização ou da sua realidade, possam assegurar os mais altos padrões de proteção”, salientou o arcebispo.

A presidência da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores da Santa Sé estava entregue ao cardeal Seán Patrick O’Malley, desde a sua criação, mas o novo responsável, o arcebispo francês, reafirma o seu compromisso em dar continuidade ao legado do cardeal capuchinho norte-americano, que foi “bússola moral”, em tempos de dificuldade. “A sua liderança corajosa e profética deixou uma marca indelével, não apenas na Igreja, mas na sociedade como um todo. Ele foi incansável em garantir espaço para que as vítimas fossem ouvidas, acreditadas e acompanhadas em sua busca por justiça e cura”, porfiou D. Thibault Verny.

O responsável pela Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores da Santa Sé referiu também que conta com “a experiência, a sabedoria e a dedicação” dos seus colegas na Pontifícia Comissão para levarem adiante, juntos, essa missão vital para o presente e para o futuro da Igreja.

“Devemos continuar a implementar uma mentalidade, uma cultura, dentro das Igrejas para difundir a proteção dos menores e fazer com que isso se torne natural, tanto na Igreja como nas famílias, e também na sociedade”, declarou o arcebispo.

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A Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores foi instituída pelo Papa Francisco, em março de 2014. Agora, o presidente salientou, em entrevista ao portal de notícias do Vaticano, “Vatican News”, que “não tem a função de substituir as estruturas locais e as Conferências Episcopais”. “Trata-se de conscientizar os diferentes episcopados, ordens e congregações religiosas nos diversos países sobre a escuta e o acompanhamento específico das vítimas. Dentro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, é fundamental que haja vítimas e [que] os seus pais e familiares que tragam a sua experiência insubstituível”, especificou.

O “Vatican News” considerou que o prelado francês tem uma “longa experiência pastoral e institucional na escuta das vítimas”, no acompanhamento de processos de justiça e “na articulação com autoridades civis e eclesiásticas”, foi presidente do Conselho para a Prevenção e o Combate à Pedofilia, na Conferência Episcopal Francesa, até junho deste ano, tendo esta função passado a ser desempenhada por D. Gérard Le Stang, bispo de Amiens.

O compromisso de D. Thibault Verny consolidou-se, especialmente, no processo de criação da Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (CIASE), culminando com o relatório Sauvé, e na instituição da Instância Nacional Independente de Reconhecimento e Reparação (INIRR), organismo voltado à reparação e à indemnização das vítimas.

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De facto, é preciso combater, até ao êxito total, os abusos sexuais de menores e de outras pessoas abrangidas por especial fragilidade, seja na Igreja, seja noutros setores. Deixemo-nos de preconceitos e de parcialidades: o mal deve ser combatido em todos os campos onde se infiltrou, mesmo que tenha um só autor, uma só vítima, configure um só ato. É imoral acusar, hipócrita e parcialmente a Igreja Católica e esconder o que se passa noutros domínios, eclipsando outras realidades e outras responsabilidades. Embora a Igreja Católica tenha obrigações maiores, nem por isso mal deixa de ser mau o crime, quando praticado noutras latitudes. E, conquanto as vítimas devam ser protegidas e compensadas e embora os criminosos devam ser julgados e, eventualmente, condenados, penal e civilmente, não é lícito precipitá-los no inferno, como tantas pessoas sustentam.

2025.07.07 – Louro de Carvalho


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