Vi algumas imagens da
Festa de Santa Helena no monte com o seu nome sobranceiro à cidade de Tarouca,
como olhei uma reportagem do arquivo da RTP sobre a festa presidida in illo tempore (década de 60) por Dom Américo Henriques, ao tempo Bispo Coadjutor
de Lamego (foi bispo residencial da diocese apenas um ano e meses). E deu-me para escrever sobre Santa Helena.
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Flávia Júlia Helena – conhecida
como Helena Augusta, Helena de Constantinopla e Santa Helena da
Cruz ou simplesmente Santa Helena – nasceu no ano de 255, na Bitínia (norte
da Turquia e junto ao Mar Negro),
duma família plebeia de Depranon. No tempo da juventude trabalhou numa pensão
até conhecer Constâncio Cloro, oficial do exército romano, com quem se casou.
Fruto desse casamento surgiu, em 285, Constantino, futuro
Imperador, que se tornou consolo da mãe quando Cloro a deixou para casar com a
princesa Teodora e governar o Império Romano. Por óbito do pai, o filho, que
avançava na carreira militar (mercê da coragem e inteligência), sucedeu-lhe na função imperial e,
graças à vitória obtida às portas de Roma, tornou-se Imperador.
Na verdade,
ao pôr do sol de 27 de outubro de 312, Constantino viu no céu, sobre a Ponte Mílvio, as letras X (khi)
e P (rho) do alfabeto grego e, junto com elas, uma cruz com a inscrição em
latim: “In hoc signo vinces”
(“Com este sinal vencerás“). Dois símbolos cristãos – a cruz e as letras X e P,
pronunciadas respetivamente “kh” e “r” – as duas primeiras letras do nome de
Cristo em grego. Constantino mandou gravar o símbolo nos escudos dos soldados
e, no dia seguinte, derrotou Maxêncio e tornou-se o único imperador no
Ocidente. E, em 313, promulgou o Édito
de Milão, em 313, tornando legal, por tolerância, em todo o império o
cristianismo, que até então era clandestino e perseguido. E foi ele, tornado o
primeiro imperador cristão, quem edificou a cidade de Constantinopla, a nova capital cristã do império, inaugurada em
328.
Depois daquela batalha, Helena – convertida ao Cristianismo
antes ou então impressionada pelo fulgor celeste que precedeu o dia da batalha,
mostrando a cruz e o monograma de Cristo – partiu para Jerusalém para em
demanda da Cruz em que o Senhor Jesus foi crucificado no Gólgota.
Lá cuidou de
destruir a imagem de Vénus, em mármore, que os gentios haviam colocado no lugar
da Cruz para apagar a memória da Paixão
de Cristo Senhor e que ali permanecera durante cerca de 180 anos. O
mesmo fez no presépio do Salvador, onde fora posto um simulacro de Adónis, e no
lugar da ressurreição, onde haviam colocado um de Júpiter.
Purgado o
local da Cruz, foram encontradas, depois de profundas escavações, três cruzes e, à parte delas, o
letreiro que havia sido posto sobre a Cruz do Senhor, escrito em hebraico,
grego e latim (Jesus Nazareno Rei dos Judeus). Como não se
sabia sobre qual das três teria sido afixado, um milagre sanou a dúvida. Macário,
Bispo de Jerusalém, tendo elevado preces a Deus, levou cada uma das cruzes a
três mulheres que sofriam de grave enfermidade e, enquanto as demais de nada
serviram às mulheres, a terceira Cruz, levada à terceira mulher, curou-a
imediatamente.
Helena, tendo
encontrado a Cruz da salvação, construiu ali uma igreja magnificentíssima, em
que depositou parte da Cruz em urnas de prata, entregando outra parte a
Constantino, seu filho, juntamente com os cravos que trespassaram o Santíssimo
Corpo de Jesus Cristo, o que ele levou para Roma, para a igreja da Santa Cruz de Jerusalém. Por
conseguinte, Constantino sancionou uma lei para que ninguém mais fosse
condenado ao suplício da cruz. E o que antes era castigo e maldição para os
homens passou a ser troféu de glória e objeto de veneração. Assim, Flávia Júlia Helena (que
o imperador Constantino, mais tarde, fez Augusta) tornou-se a fervorosa e religiosa Helena da Cruz e,
sob o Édito de Milão, que deu liberdade à religião cristã, tendo achado a Cruz
de Jesus, ajudou a Santa Igreja, a qual, saindo das catacumbas, pôde
evangelizar e, com o auxílio de Santa Helena, construir basílicas nos lugares
santos e em muitos outros lugares.
Faleceu em 327 ou 328 (há quem diga entre 330 3 335) em Nicomédia (Turquia), pouco depois da visita à Terra Santa. Os seus restos foram trasladados,
em 1777, para Roma, onde se vê, no Museu Pio Clementino, dentro dos Museus
Vaticanos, o sarcófago de pórfiro que os contém. O sarcófago tem gravadas cenas
de batalhas dos romanos contra os bárbaros e um par de leões.
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Antes da
reforma do calendário litúrgico prescrita pelo Vaticano II, celebrava-se a
festa da Invenção da Santa Cruz, a 3 de maio, data evocativa do achamento da
verdadeira Cruz (Vera Cruz) do Senhor
por Santa Helena, mas data simbólica porque é controversa a data histórica em
que foi identificada a “Vera Cruz“, como foi chamada a verdadeira Cruz
em que Jesus foi morto no Gólgota. Com a predita reforma do calendário, o
achamento celebra-se com a Exaltação da Santa Cruz, a 14 de setembro, que
estava subalternizado, mas que tem suporte bíblico.
Quanto a
Santa Helena, a sua memória litúrgica é celebrada a 8 de agosto. O atual
calendário litúrgico não lhe reserva explicitamente um lugar, mas legitima a
memória e até a festa da Santa ao abrigo do martirológio romano. Com efeito, a mãe do imperador Constantino é
conhecida por encontrar a que, segundo a tradição, era a Cruz em que Jesus
Cristo morreu, além de outras relíquias relacionadas ao Senhor. Muitas dessas
relíquias encontram-se em países como Itália, Espanha e Alemanha.
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Segundo a
tradição, Helena era muito bela e foi este o atributo que atraiu o famoso general
e tribuno romano Constâncio Cloro, quando a viu enquanto percorria a região.
Assim, Constâncio
apaixonou-se por
Helena e casou com ela por volta do ano de 270, do que resultou um filho, ao
qual chamaram Constantino.
Tinham anos
de casamento, quando o imperador Maximiliano ofereceu a Constâncio o ensejo de
ser nomeado seu mais próximo colaborador, mas com a condição de repudiar Helena
e casar com a sua filha Flávia Maximiana Teodora. E, motivado pela ambição,
Constâncio repudiou a esposa, que sofreu por este abandono durante 14 anos, nos
quais se converteu ao cristianismo.
Após a morte
de Constâncio Cloro, Constantino foi proclamado pelo exército imperador de
Roma. Embora pagão como o pai, o jovem tinha sido instruído pela mãe nos
fundamentos do cristianismo. Entretanto, sente-se tocado quando, antes da
batalha na região entre Saxa Rubra e Ponte Mílvio, vê uma Cruz com uma legenda
“Com este sinal vencerás”. No dia
seguinte, leva uma Cruz para o combate e exclama: “Confio no Cristo em quem minha mãe Helena crê”.
Após a
vitória, Constantino decretou a livre profissão da religião católica. Assim,
terminaram três séculos de sangrentas perseguições contra os cristãos.
Constantino
amava muito a mãe e, por volta do ano 325, outorgou-lhe o título de Augusta ou
imperatriz. Além disso, mandou fazer moedas com a imagem dela e deu-lhe plenos
poderes para utilizar o dinheiro do governo nas boas obras que quisesse. E foi com
o seu apoio que Helena viajou para a Terra Santa para buscar as relíquias
relacionadas diretamente com Jesus Cristo.
Santo
Ambrósio conta que, apesar de tão alta dignidade, Helena se vestia com
simplicidade, ficava entre os pobres para os ajudar e era notória a sua intensa
vida de piedade.
Quem nos
refere também o episódio referido supra sobre o encontro das três cruzes e a
identificação da Vera Cruz do Senhor são os Padres da Igreja São João Crisóstomo
e Santo Ambrósio. Porém, com uma variante em relação ao relatado. Levaram até ao
Monte Calvário uma mulher agonizante e, ao tocá-la com duas das cruzes, ela
piorou. Mas, ao tocá-la com a terceira cruz, a enferma recuperou
instantaneamente. Assim, Helena, o Bispo de Jerusalém, Macário, e milhares de
fiéis levaram a cruz em procissão pelas ruas da cidade.
Mais se diz
que esta insigne apóstola da Cruz encontrou outras relíquias de Jesus: os
cravos que Lhe perfuraram mãos e pés, o “Titulus Crucis”, uma parte da túnica
que usou antes de ser crucificado, um fragmento da manjedoura onde Ele repousou
e a Escada Santa (por
onde subira para o julgamento por Pôncio Pilatos). Também recuperou as relíquias dos Reis Magos e
descobriu o túmulo onde Jesus Cristo foi sepultado. Por isso, na Terra Santa,
mandou construir três templos: um no Calvário, outro no Horto das Oliveiras e o
terceiro em Belém.
Diz a
tradição que, para proteger seu filho Constantino nas batalhas contra os
bárbaros, Helena colocou-lhe um dos cravos de Jesus no capacete e outro no
cavalo.
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A vida de Helena e de
Constantino merece algumas anotações.
Com o casamento de Cloro com Teodora, parente do imperador Maximiano, Helena passou para
segundo plano, mas cuidou da educação do filho e criou grandes e fortes laços relacionais
com ele, que, por sua vez, crescia no exército romano mercê da sua coragem e
inteligência.
Por morte de Cloro, Constantino, filho dele e de Helena, foi aclamado
Augusto Imperador Romano no ano 306, na região inglesa de York, através das
legiões da Bretanha, pelo importantíssimo facto de Constantino ter vencido a
batalha. Assim, Helena voltou a viver na corte e recebeu do filho o título de “Mulher Nobilíssima”. Depois, ainda
recebeu a mais alta honra que uma mulher poderia receber em Roma, o título de
“Augusta”, a par da sua esposa Flávia
Máxima Fausta.
Com Helena e Constantino,
começou um novo tempo para o
cristianismo. Com efeito, a disputa bélica entre Constantino e Maxêncio estava
a correr de feição a Maxêncio. Constantino, porém, contrário às perseguições
contra o cristianismo, teve a visão da cruz brilhante no céu com a inscrição: “Com este sinal vencerás”.
Por isso, mandou pintar as bandeiras e estandartes do seu exército com esta
cruz e venceu. Este acontecimento causou a conversão de Constantino e, pelo
menos, consolidou a de Helena. Constantino ordenou o fim das perseguições
contra os cristãos, através do famoso “Edito de Milão”, em 313. Graças ao
Édito, o cristianismo passou a ter os mesmos direitos que as outras religiões.
E, em 380, pelo Édito de Tessalónica, o imperador Teodósio fez do cristianismo
a religião oficial do Império Romano, proibiu os cultos politeístas e encerrou
os templos pagãos.
Ao contrário do filho Constantino, que só se batizou perto da sua morte,
Helena quis ser batizada e assumir a fé cristã, pelo menos, desde que o filho
venceu a batalha contra Maxêncio. E, ao longo da vida mostrou grande fervor,
que sobressaía na prática da fé, nas grandes obras assistenciais e na
construção de várias igrejas em lugares santos.
Helena procurou instruir-se na fé cristã e mostrou grande piedade ao longo
de sua vida. Por isso, Constantino recompensou os seus méritos e deu-lhe o
título honroso de “Augusta”. Além disso, mandou cunhar moedas com a imagem da
rainha sua mãe. Helena, por sua vez, dedicou toda a sua influência e ações na
proteção da fé cristã, que emergia das catacumbas para o tempo da liberdade. O
maior desejo de Helena era visitar a Terra Santa. E, apesar da idade e das
agruras da viagem, conseguiu realizar o sonho, visitando os lugares santos,
promovendo o culto e mandando construir igrejas na Palestina. Depois, acompanhou
as escavações iniciadas em Jerusalém pelo bispo São Macário e acharam o Santo Sepulcro escavado na
rocha, a Cruz de Jesus e as duas cruzes dos ladrões. O facto causou grande
conforto para todos os cristãos. E, entusiasmada com este acontecimento, mandou
que procurassem a gruta do nascimento de Jesus e o lugar sobre o Monte das Oliveiras
onde Jesus falou com os discípulos antes da Ascensão. Depois dessas
descobertas, dedicou-se à construção de outras igrejas. Uma delas, que fica no
monte das Oliveiras, recebeu mais tarde o nome de Santa Helena.
Após ter algumas visões, Helena viveu a felicidade de proporcionar o
reencontro da verdadeira Cruz de Cristo. Este acontecimento levou à instituição
da festa litúrgica da Santa Cruz.
Essa descoberta de Helena é atestada pelos escritores Sulpicius Severus e
Rufinus, no século IV. Alguns pedaços da cruz ficaram em Jerusalém e outros
foram levados para Roma. Alguns desses fragmentos foram distribuídos em várias
igrejas. O desejo de Helena era que a cruz estivesse em toda a Igreja. Assim se
disseminaram as cruzinhas com o relicário contendo um pedacinho da Vera Cruz do
Senhor, objeto vulgarmente designado por “Santo Lenho”.
Também era grande a generosidade de
Helena. Ajudava as pessoas e comunidades inteiras, sendo os pobres o objeto
especial deste seu grande e generoso amor. Visitava igrejas e comunidades
fazendo grandes doações. Mandou construir a Basílica da Natividade, em Belém, e
a Basílica da Ascensão de Jesus, no
Monte das Oliveiras. Ajudou na construção de mosteiros e ela própria vivia num
convento na Palestina, participando com grande devoção em todos os exercícios
de fé e piedade.
Pressentindo a morte, Helena voltou para perto do filho Constantino e faleceu
em 330 (a data mais
aceite), aos 80 anos. O seu corpo foi
trasladado para Constantinopla e colocado na cripta da Igreja dos Apóstolos.
Mais tarde, os seus restos mortais foram transferidos para a Abadia de
Hautvillers, em Reims, França, em 849. E hoje estão em Roma, no Vaticano, como
se disse.
Passou a ser venerada como santa logo após a sua morte, veneração que se
expandiu para o Ocidente. Uma ilha do Oceano Atlântico chamada “Santa Helena”, tem
este nome porque João da Nova, navegador galego ao serviço de Portugal, e
companheiros a encontraram no dia da festa de Santa Helena, a 18 de agosto de
1502.
Na iconografia Santa Helena aparece vestida como rainha, segurando a cruz
ou indicando o local da Cruz; ou com a cruz, que lhe foi revelada em sonhos; ou
supervisionando a procura da Cruz; ou, ainda, como uma senhora medieval, tendo
uma cruz e um livro ou segurando a cruz e os cravos. A Igreja sempre a venerou
e Lhe será grata pela decisiva participação a favor da liberdade da religião
cristã.
Fazem bem os cristãos de Tarouca e arredores em festejar, juntamente com a
mole de peregrinos e romeiros, Santa Helena neste belo mês do verão (janeiro tornar-se-ia
difícil) juntamente com a Virgem das Dores,
Senhora de ao pé da Cruz, a grande testemunha do martírio cruento do Redentor
no Gólgota e mãe de todas as mulheres sofredoras dando-lhes a esperança de ultrapassarem
o sofrimento.
***
Ainda dizem que as mulheres não têm peso político e eclesial… Qual não
têm?! Deem-lhes oportunidade e queiram elas!
2021.07.12 – Louro de Carvalho
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