quarta-feira, 13 de março de 2019

No 6.º aniversário do Construtor de Pontes, olhando para o essencial


Celebra-se, neste dia 13, quarta-feira, o 6.º aniversário da eleição do Papa Francisco à Cátedra de Pedro. O Santo Padre que está em Exercícios espirituais na Casa do Divino Mestre, em Ariccia, junto com os membros da Cúria Romana, celebra este dia em oração.
Até 15 de março, quando o Pontífice retornar ao Vaticano, os dias de Francisco, dos cardeais e dos bispos, nesse local tranquilo, situado a 300 metros de altura, continuam a ser marcados pela missa, orações de Laudes e de Vésperas, Adoração Eucarística e catequeses do abade beneditino de São Miniato ao Monte, Bernardo Francesco Maria Gianni, uma pela manhã e outra à tarde.
Os dias são também marcados por momentos de convivência e partilha na hora do almoço e do jantar, mas o silêncio e a meditação são os verdadeiros protagonistas neste tempo de Quaresma.
Entretanto, continuam a chegar mensagens de felicitações de Chefes de Estado e de Governo, autoridades civis e eclesiais e fiéis simples, para celebrar o 13 de março de 2013 que fez de Jorge Mario Bergoglio o primeiro Papa latino-americano da história.
De Rosário e Bíblia na mão, o Pontífice senta-se, não na primeira fila, mas no meio, conforme mostram algumas câmaras, para ouvir, com os confrades, as meditações beneditinas sobre o tema “As cidades dos desejos ardentes. Olhares e gestos pascais na vida do mundo”.
Antes da missa, na manhã deste dia 13, em Ariccia, o decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re, o purpurado mais idoso presente nos Exercícios espirituais, em nome do Colégio Cardinalício e de todos os presentes, deu os parabéns ao Papa Francisco pelo 6.º aniversário da sua eleição para Sumo Pontífice da Igreja Católica, expressando a felicidade de todos em celebrarem aquela missa com ele e pedindo a Deus que seja luz, apoio e conforto ao Santo Padre “na sua tarefa de confirmar os irmãos na fé, seja fundamento da unidade e indique a todos o caminho que leva ao céu”. E concluiu professando a proximidade de todos com o Pontífice, “com grande afeto e dedicação  sincera”.
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A 6 anos da eleição do Papa Francisco, o Vatican News entrevistou, no dia 12, Alessandro Gisotti, diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, de que resultou amplo diálogo que repercorre alguns momentos do Pontificado, como: atenção aos migrantes, empenho na paz, homilias na Casa Santa Marta, diálogo-amizade com líderes religiosos, proteção de menores…
Na reflexão de Gisotti, serenidade, atenção às pessoas e ao próximo, escuta e sinodalidade são algumas das palavras-chave do Pontificado de Francisco.
Naquele 13 de março de 2013 (também quarta-feira), ao saudar os fiéis da Praça São Pedro e de todo o mundo da sacada central da Basílica Vaticana, o Pontífice iniciou o que definiu logo como “um caminho de fraternidade, de amor, de confiança”. E o testemunho das suas palavras veio alguns meses depois com a visita aos refugiados/migrantes em Lampedusa (Itália) a 8 de julho, viagem que “não estava programada”, mas em que o Papa entendia que simplesmente que deveria “ir”, como depois explicou. É uma solicitude que segue inalterada 6 anos depois.
A este respeito, refere o porta-voz do Vaticano que “o Papa mostra que os migrantes são pessoas e não cifras”, pois “tem uma atenção constante com eles”, enquanto a comunicação social “se ocupa de migrantes quando tem uma crise grave, o naufrágio dum navio ou situações de emergência por causa de uma guerra”. Assim, a viagem a Lampedusa foi só o primeiro de muitíssimos gestos de proximidade aos migrantes. Recorde-se o campo de refugiados de Lesbos (Grécia) até chegarmos à atualidade, a ida a Marrocos. E, daqui a algumas semanas, o Papa, na sua viagem apostólica, visitará um centro da Cáritas para os migrantes. Depois, na viagem à Bulgária e à República da Macedónia do Norte, haverá um momento de proximidade dos migrantes, pois vai visitar um campo de refugiados.
Questionado sobre diversas as faces diversas do empenho de Francisco pela paz como a abertura da Porta Santa em Banghi (República Centro-Africana), a reconciliação na Colômbia, os Rohingya na Ásia, Gisotti comenta:
Obviamente quando, há 6 anos, foi a eleição, todos fomos surpreendidos por este nome ‘Francisco’, Francisco de Assis, o homem da paz, o Pobrezinho que tentou com a esperança contra a esperança sempre a forma do diálogo. Pensemos também no encontro com o sultão Al-Kamil Al-Malek que foi evocado ultimamente na viagem aos Emirados Árabes. Então, Francisco honra o seu nome, mas depois também o seu ministério: Pontífice, construtor de pontes. Às vezes, esquecemo-nos dessa dimensão própria dos Papas.”. 
E enfatiza:
Francisco, realmente, como tantas vezes vimos não somente com palavras, mas talvez ainda mais com os gestos, lá onde há muros, derruba os tijolos para construir pontes que passam no meio. Acredito que essa seja uma constante do Pontificado, que continuamos a ver todos os dias.”.
Assenta em que as homilias das missas matinais na Casa Santa Marta “são o coração do Pontificado porque ali o Papa encontra o Povo de Deus no momento fundamental para um sacerdote, para um bispo – o Papa é o bispo da diocese de Roma”. E sustenta:
No encontro com a Eucaristia e com os fiéis nascem essas homilias que são um campo extraordinário, porque, se vamos ver depois os grandes documentos do Pontificado, nota-se como frequentemente invocam ou são diretamente inspirados nas homilias de Santa Marta. Penso que, realmente, depois de 6 anos, se pode dizer que essa é uma das coisas mais bonitas, mais novas: é exatamente o coração do Pontificado!”.
A amizade com o Grande Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyib e com Bartolomeu I, o Patriarca de Constantinopla, mostra como o diálogo está a caraterizar o empenho de Francisco. Com efeito, desde os primeiros passos do seu Pontificado, falou-nos da “cultura do encontro” que põe em prática, antes de tudo, a amizade. E Alessandro Gisotti confessa:
Eu vi, por exemplo, com grande emoção, a amizade com o Grande Imame Al-Tayyib, já que eu estava presente em Abu Dhabi. Vi realmente como os dois se procuravam inclusive na proximidade, cientes de que a assinatura da ‘Declaração Comum sobre a Fraternidade Humana’ seria um gesto profético e corajoso e de que, certamente, já recolhemos os frutos, mas recolhê-los-emos também no futuro.”.
Por isso, conclui que o tema do diálogo é algo que está no coração do Papa e o vê sempre com este binómio diálogo-amizade. E defende:
Nunca é um diálogo como uma finalidade específica, mas é um diálogo que nasce do encontro, e podemos dizê-lo certamente sobre Al-Tayyeb, como também sobre tantos outros líderes religiosos e não só”.
Outro ponto que marca este Pontificado é o empenho na proteção dos menores. Ora, sobre o encontro realizado há pouco no Vaticano, foram feitas críticas em relação à falta de frutos concretos. A isto o diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé:
Foi um encontro necessário. Eram muitos a ter dúvidas de que fosse oportuno manter esse encontro, enquanto o Papa, a esse respeito, deu demonstração de coragem e, inclusive, na minha opinião, de uma coragem profética porque, pela primeira vez – diante de um escândalo terrível que coloca em risco não somente a credibilidade, mas, por alguns aspetos, a própria missão da Igreja – quis convocar todos os presidentes dos episcopados.”.
Quanto ao significado e resultados, Gisotti sustenta:
O Papa quis, antes de tudo, dizer que para um problema global é necessário dar uma resposta global. Depois, obviamente, tem o tema da concretude, das medidas concretas. Nesse sentido, no final do Encontro sobre a Proteção dos Menores, foi anunciado o follow-up, isto é, os passos que devem seguir. Então, a publicação de um Motu Proprio, a publicação de um manual da Congregação para a Doutrina da Fé e toda uma série de regulamentos e, ainda, a iniciativa das “forças-tarefa”, isto é, os especialistas que possam ajudar as Conferências Episcopais a atuar em atividades de proteção dos menores.”. 
E não tem dúvidas em que reconhecer que “também é importante dizer que, para Francisco, a coisa fundamental” é a conversão dos corações que nasce da escuta das vítimas.
Quanto ao caminhar da Igreja, segundo Francisco, e tendo em conta que convocou três Sínodos e mudou o seu funcionamento, a questão que se levanta com essas escolhas é: Em que direção vem o Papa conduzindo a Igreja? E Gisotti recorda que o Santo Padre tem a visão de uma Igreja “em saída” (sinodal) e de uma Igreja “hospital de campanha”. Ora, Igreja “em saída” pressupõe que se caminhe e que ela caminhe toda, pois “sinodal” quer dizer caminhar juntos. E insiste:
Esse é o espírito com que Francisco está a viver esta sua dimensão também de pastor, como disse logo no início do seu Pontificado, há 6 anos [e reitera-o recorrentemente], com o povo, diante do povo, mas, também, no meio do povo, atrás do povo, como no fundo um bom pastor deveria sempre fazer com o seu rebanho! E, depois, a Igreja ‘hospital de campanha’. Vimos, com o Encontro sobre a Proteção dos Menores, uma Igreja que tem a coragem de se inclinar sobre as feridas das mulheres e dos homens do nosso tempo.”. 
E assegura como “é bonito pensar (e essa é um pouco a visão de Francisco) que a Igreja não é só farol que ilumina, parado, distante, mas tocha que ilumina e o faz caminhando com o Povo de Deus”.
O que Gisotti retém em termos pessoais da imagem e da reflexão papais nestes anos e nestes dois meses e meio como diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé “é a sua serenidade”. Sem esconder momentos delicados como os resultantes dos abusos de menores – “o próprio Papa não os esconde” –, é relevar que, “mesmo com essa grande consciência e também com essa coragem em enfrentar tal situação, Francisco não perde a calma, a serenidade”. E aponta:
Vendo-o inclusive nos momentos privados, tocou-me, por exemplo, vê-lo bem próximo rezando – vê-se realmente um homem em paz. É uma paz que obviamente não vem do mundo, mas que provém de Deus. Inclusive em relação a mim, num momento de muitas dificuldades objetivas diárias, o Papa pessoalmente disse-me e em mais de uma oportunidade: ‘Não te deixes dominar pelo desânimo, fica sereno’. Ele diz como pai, em modo muito paterno, e dá-me também a força e a coragem para seguir adiante, com um espírito de esperança, sabendo exatamente que o Santo Padre vive com tão grande força e serenidade este momento e acaba doando-no-las também a nós.”.
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Comentando esta efeméride, o editorialista do Vatican News defende que é preciso olhar o essencial. Com efeito, Francisco viveu e está prestes a viver intensos meses de viagens e Sínodo. O 6.º ano do seu pontificado foi caraterizado pelo flagelo dos abusos e pelo sofrimento de alguns ataques internos: e a resposta foi um convite a voltar ao coração da fé.
Quanto a iniciativas, o ano está marcado com importantes viagens internacionais e dois eventos ‘sinodais’: o encontro para a proteção de menores, realizado no Vaticano em fevereiro passado, com os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, e o Sínodo especial sobre a Amazónia, a celebrar – também no Vaticano – em outubro. Teve notável impacto a viagem aos Emirados Árabes com o Bispo de Roma a assinar uma Declaração conjunta com o Grande Imame de Al-Azhar – documento que influenciará o campo da liberdade religiosa. Já o ecumenismo sobressairá nas viagens à Bulgária e Macedónia do Norte e à Roménia; e a viagem desejada ao Japão, recordará a devastação gerada pelas armas nucleares, como advertência para o presente e para o futuro da humanidade que experimenta “a 3.ª guerra mundial em pedaços”.
Porém, não se pode ignorar o ressurgimento do escândalo dos abusos e divisões internas, com o ex-núncio Carlo Maria Viganò a pedir publicamente a renúncia papal, em agosto passado, devido à gestão do caso McCarrick, enquanto o Pontífice “celebrava a Eucaristia com milhares de famílias em Dublin, repropondo a beleza e o valor do matrimónio cristão”. Face a essas situações, o Santo Padre pediu aos fiéis de todo o mundo que rezassem o Terço todos os dias, no mês mariano de outubro de 2018, unindo-se “em comunhão e penitência, como povo de Deus, pedindo à Santa Mãe de Deus e a São Miguel Arcanjo que protejam a Igreja do diabo, que sempre visa fazer a separação entre Deus e nós” – pedido sem precedentes, por tão detalhado, na história recente da Igreja. E enfatiza o editorialista:
Com as suas palavras e o apelo ao povo de Deus para rezar para manter a unidade da Igreja, Francisco fez-nos entender a gravidade da situação e, ao mesmo tempo, expressou a cristã consciência de que não existem remédios humanos capazes de assegurar um caminho de saída”.
Vincando que o Papa chamou a atenção para o essencial: “a Igreja não é formada por super-heróis” (nem superpapas) e não avança pela força de seus recursos ou estratégias, assegura:
Sabe que o maligno está presente no mundo, que existe o pecado original e que, para nos salvarmos, precisamos da ajuda do Alto. Repeti-lo não significa diminuir as responsabilidades pessoais dos indivíduos, nem mesmo as das instituições, mas situá-las no seu real contexto.”.
Transcrevendo uma passagem do comunicado vaticano com o pedido do Papa para a oração do Terço em outubro passado, esclarece:
Com esta solicitação de intercessão, o Santo Padre pede aos fiéis de todo o mundo que rezem para que a Santa Mãe de Deus coloque a Igreja sob o seu manto protetor: para preservá-la dos ataques do maligno, o grande acusador, e ao mesmo tempo torná-la cada vez mais consciente dos abusos e erros cometidos no presente e no passado”.
Sublinha o segmento “no presente e no passado”, por ser um erro descarregarmos nos antepassados as culpas e apresentarmo-nos como “puros”, pelo que a Igreja pede a Deus a libertação do mal – um dado de facto que o Papa recorda constantemente, na linha dos seus antecessores. Por outro lado, como “a Igreja não se redime sozinha dos males que a afligem” e do abismo dos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos “não se sai em virtude de processos de autopurificação, muito menos confiando-se a quem se investiu no papel de purificador, o editorialista observa:
Normas sempre mais eficazes, responsabilidade e transparência são necessárias, mesmo indispensáveis, mas nunca serão suficientes. Porque a Igreja, recorda-nos hoje o Papa Francisco, não é autossuficiente e testemunha o Evangelho a muitos homens e mulheres feridos do nosso tempo, precisamente porque também ela se reconhece como mendigo de cura, necessitando de misericórdia e de perdão do seu Senhor. Talvez nunca como no conturbado ano que passou, o sexto do seu pontificado, o Papa que se apresenta como ‘um pecador perdoado, seguindo o ensinamento dos Padres da Igreja e do seu imediato predecessor Bento XVI, terá testemunhado este dado essencial e mais do que nunca atual da fé cristã.”.
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Já está disponível nas livrarias a obra intitulada “Eucaristia. Coração da Igreja” (Milão, Paulinas, 2019), que reúne as catequeses de Francisco dedicadas ao tema da Missa. São 15 pérolas teológico-litúrgicas e constituem verdadeiro manual de compreensão e aprofundamento do significado teológico da celebração eucarística. Sobre o tema, diz o Pontífice no livro:
Os Sacramentos e a celebração eucarística, de modo especial, são os sinais do amor de Deus, os caminhos privilegiados para nos encontrarmos com Ele”.
De 8 de novembro de 2017 a 4 de abril de 2018, nas Audiências Gerais das quartas-feiras, no Vaticano, o Papa proferiu um ciclo de catequeses dedicadas à missa, que começa com o sinal da cruz, e, em especial, às várias partes da liturgia eucarística – para bem ensinar às crianças desde pequenas – convergindo para a vida quotidiana. São mais de cem páginas com comentários de Dom Luigi Maria Epicoco, que afirma sobre o mistério cristão, segundo o Papa Francisco:
O presente que o Papa nos dá com essas páginas é o de ver contado o mistério cristão com palavras normais. É o eco da lógica da encarnação. Desde quando Jesus entrou na história, nascendo da Virgem Maria, assumiu um corpo real, um rosto real, uma história concreta. E é realmente através disso que aconteceu com a encarnação que Jesus nos faz enfrentar a lógica escandalosa da normalidade.”.
Francisco, no seu modo “normal” de falar dos mistérios de Cristo, ajuda-nos a tocar o próprio coração com o mistério de Deus. “A normalidade não é banalidade, ao contrário, é proximidade ao que somos, ao que desejamos, ao que compreendemos”, vincou Dom Luigi. O Pontífice, nas catequeses sobre a missa, oferece-nos três palavras-chave: silêncio, tempo e vida florida.
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Há que estar com atenção, ler e cooperar para bem da Igreja e proveito da humanidade!
2019.03.13 – Louro de Carvalho

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