De acordo com a agência de notícias
italiana ANSA, citada pela Renascença, o cardeal Angelo Sodano, decano
emérito do Colégio Cardinalício, que foi secretário de Estado de São João Paulo
II e de Bento XVI, morreu, em Roma, aos 94 anos, no dia 27 de maio, vítima de
complicações provocadas pela covid-19. Nos últimos dias, a sua condição de
saúde agravou-se, fruto da infeção pelo novo coronavírus, associada a várias
outras doenças de que sofria.
Na noite de
9 de maio, o purpurado havia sido hospitalizado devido a uma pneumonia no
Hospital Columbus-Gemelli após testar positivo para covid.
A morte de
Sodano suscita na alma do Papa “sentimentos de gratidão ao Senhor pelo dom
deste estimado homem de Igreja, que viveu com generosidade o seu sacerdócio,
inicialmente, na Diocese de Asti e, depois, no restante de sua longa
existência, ao serviço da Santa Sé”.
Com estas
palavras, Francisco iniciou sua mensagem de pesar pela morte do cardeal Sodano,
que desempenhou o cargo de Secretário de Estado do Vaticano de 1991 a 2006,
sucedendo ao cardeal Agostino Casaroli, e foi decano do Colégio dos Cardeais de
2005 a 2019.
“Lembro-me do
seu solerte trabalho ao lado de muitos dos meus predecessores, que lhe
confiaram importantes responsabilidades na diplomacia vaticana, até ao delicado
ofício de secretário de Estado” – disse o Santo Padre, recordando que, nas
representações pontifícias do Equador, Uruguai e Chile, Sodano se dedicou “com
zelo ao bem dessas populações, promovendo o diálogo e a reconciliação”, e exerceu,
na Cúria Romana, a sua missão “com dedicação exemplar”.
E o Papa
reconhece que também foi beneficiado, de algum modo, pelas suas capacidades
mentais e de coração, sobretudo enquanto exerceu a função de decano do Colégio
Cardinalício. Com efeito, “em cada encargo, demonstrou ser um homem
eclesialmente disciplinado, amável pastor, animado pelo desejo de divulgar em
todos os lugares o fermento do Evangelho”.
Por fim, o
Santo Padre eleva a Deus Pai misericordioso orações de sufrágio pelo purpurado,
com toda uma vida dedicada à Igreja, para que seja acolhido na alegria eterna,
ao mesmo tempo que expressa a sua proximidade aos seus familiares e à
comunidade de Asti, onde nasceu, e concede a sua bênção “a todos quantos
compartilham a dor pela sua partida, com um pensamento particular e agradecido
às Irmãs de Santa Marta e a todos os que amorosamente o assistiram”.
Com o
falecimento cardeal Angelo Sodano, o Colégio Cardinalício fica composto por 208
cardeais, dos quais 117 eleitores e 91 não eleitores.
***
Angelo Raffaele Sodano nasceu em
Isola, a 23 de novembro de 1927. Os seus pais, Giovanni e Delfina Sodano, eram de família rural piemontesa, que
contribuiu, de modo especial, para a vida da Igreja e do Estado. Foi diplomata e cardeal. E era atualmente o cardeal protetor da Pontifícia
Academia Eclesiástica e Decano emérito do Sacro Colégio.
Estudou no Seminário de Asti, na Pontifícia Universidade
Gregoriana, onde se doutorou em Teologia, e na Pontifícia Universidade Lateranense, onde
se doutorou em Direito Canónico, e, a convite do cardeal Angelo dell’Acqua, na Pontifícia Academia Eclesiástica, onde se qualificou para
a diplomacia. Ordenado sacerdote, a 23 de setembro de 1950, na Catedral de
Asti, em cuja diocese trabalhou pastoralmente (sobretudo com jovens), foi
membro da faculdade do seu seminário, de 1950 a 1959, onde ensinou Teologia
Dogmática. De 1959 a 1968, continuou os estudos em Roma. Foi secretário
das nunciaturas no Equador, do Uruguai e do Chile. Foi nomeado camareiro
secreto supernumerário, a 15 de junho de 1961, e capelão de Sua Santidade,
a 21 de junho de 1963. E foi Oficial no Conselho para os Assuntos Públicos da
Igreja, de 1968 a 1977.
Nomeado, a 30 de novembro de 1977, pelo Papa São Paulo
VI, arcebispo-titular de Nova Caesaris e núncio
apostólico no Chile (cujas dioceses visitou mediando no conflito Chile-Argentina),
foi ordenado bispo, a 15 de janeiro de 1978, em Asti, pelo cardeal Antonio
Samorè. Foi nomeado secretário do Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja,
a 23 de maio de 1988; e, depois da reorganização da Cúria Romana, passou a
secretário da secção para as relações com os Estados, na Secretaria de Estado,
a 1 de março de 1989. Foi presidente da Pontifícia Comissão para a Rússia
e representante da Santa Sé nas reuniões de ministros de assuntos
exteriores da Conferência Europeia de Segurança e Cooperação, em Viena,
Copenhaga, Nova Iorque e Paris. Nomeado pró-secretário de Estado, a 1 de
dezembro de 1990, devido à aposentação do cardeal Agostino Casaroli, tendo sido
nessa condição que acompanhou a segunda visita de São João Paulo II a Portugal,
em maio de 1991. Como membro
das Missões da Santa Sé, visitou a Roménia, Hungria e Alemanha Oriental. Em
suas altas funções, acompanhou 54 viagens de João Paulo II.
Em 1991, criado
cardeal-presbítero, a 28 de junho, recebe o barrete cardinalício e o título da
Igreja de Santa Maria Nuova; é nomeado Secretário de Estado, a 29 de junho; e assiste
à I Assembleia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, no Vaticano,
de 28 de novembro a 14 de dezembro.
Em 1992, foi legado
pontifício à celebração dos 75 anos das Aparições de Nossa Senhora de Fátima,
Portugal, a 12 e 13 de maio; foi enviado especial do Papa ao Dia da Santa Sé na Exposição Universal de
Sevilha 1992, em Sevilha, Espanha, a 29 de junho; foi enviado papal ao
funeral do cardeal Frantisek, arcebispo emérito de Praga, na então Checoslováquia, a 12 de agosto; e assistiu
à IV Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano, em Santo Domingo, República Dominicana, de 12 a
28 de outubro, tendo sido um dos três presidentes delegados.
Em 1994, foi
promovido à ordem dos cardeais-bispos com o título da sé suburbicária
de Albano, retendo in
comendam o título de Santa Maria Nuova, a 10 de janeiro; assistiu
à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, no Vaticano,
de 10 de abril a 8 de maio, e à IX Assembleia Ordinária do Sínodo dos
Bispos, também no Vaticano, de 2 a 29 de outubro.
Em 1995, foi legado
pontifício no encerramento das celebrações pelo VIII Centenário do Nascimento de Santo António, em Pádua, Itália,
a 8 de dezembro, bem como no encerramento das celebrações pelo VII Centenário do Santuário de Loreto, Itália,
a 10 de dezembro.
Em 1997, foi legado
pontifício ao XLVI Congresso Eucarístico
Internacional, de Wroclaw, Polónia, de 24 e maio a 1 de junho e enviado
especial do Papa ao funeral de Madre Teresa de Calcutá, Índia, a
13 de setembro; e assistiu à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a
América, no Vaticano, de 16 de novembro a 12 de dezembro.
Em 1998, foi
legado pontifício ao Dia Mundial dos
Enfermos, em Loreto, Itália, a 11 de fevereiro; assistiu à
Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Ásia, no Vaticano,
de 19 de abril a 18 de maio; foi legado pontifício às
celebrações pelos 750 anos do Domo
de Colónia, Alemanha, a 15 de agosto, às cerimónias de clausura
do Encontro Continental da Juventude,
em Santiago, Chile, a 10 e 11 de outubro, e às celebrações comemorativas dos
350 anos da Paz de Vestfália, em
Osnabrrück e em Münster, Alemanha, a 24 de outubro; e assistiu à Assembleia
Especial do Sínodo dos Bispos para a Oceânia, no Vaticano, de 22 de
novembro a 12 de dezembro.
Em 1999, foi
legado pontifício no encerramento da celebração do Encontro Europeu da Juventude, em Santiago de Compostela, Espanha,
de 4 a 8 de agosto; assistiu a II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos
para a Europa, no Vaticano, de 1 a 23 de outubro. Foi legado
pontifício à cerimónia de reabertura ao culto da Basílica Superior de São
Francisco de Assis e da consagração do novo altar papal, em Assis, Itália,
a 28 de novembro, e à dedicação da Igreja da Imaculada Conceição de
Maria, em Moscovo, Rússia, a 12 de dezembro.
Em 2000, foi
legado pontifício às celebrações pelo milénio da arquidiocese de Gniezno, Polónia,
celebradas naquela cidade polaca, a 12 de março, às celebrações do V centenário da Evangelização do Brasil,
Porto Seguro, Brasil, a 26 de abril, às celebrações pelo milénio de Santo
Estêvão da Hungria, em Budapeste, Hungria, a 20 de agosto.
A 30 de
novembro de 2001, foi eleito vice-decano do Colégio Cardinalício. E, a 30
de abril de 2005, o recém-eleito Papa Bento XVI confirmou-o no cargo
de secretário de Estado da Santa Sé e aprovou a sua eleição a decano
do Colégio Cardinalício, sendo elevado no título cardinalício da Sé Suburbicária
de Ostia. E, a 15 de setembro de 2006, entregou o cargo de secretário de Estado
da Santa Sé. Porém, veio como enviado especial de Bento XVI à abertura das
comemorações dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora de Fátima,
Portugal, a 12 e 13 de outubro a cujo encerramento presidiu o cardeal Tarcísio
Bertone, secretário de Estado, a 12 e 13 de maio de 2007, tendo procedido
também à dedicação da igreja da Santíssima Trindade, agora basílica.
A 18 de
setembro de 2012, foi nomeado por Bento XVI como Padre Sinodal da 13.ª
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada no Vaticano, de
7 a 28 de outubro de 2012.
Participou
como vice-decano do Colégio dos Cardeais no conclave para a eleição de Bento
XVI, em 2005; já não participou no conclave, em 2013, para a eleição de
Francisco, pois era o decano do Colégio de Cardeais, mas não era eleitor.
***
Muito bela e
diversificada folha de serviço de um purpurado devotado às causas da Igreja e
frequente visitador de Fátima, que revelou
ao mundo, a 13 de maio de 2000 – a pedido do Papa polaco e
na sua presença –, a terceira parte do Segredo de Fátima.
2022.05.28 – Louro de Carvalho
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