A
Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco público liderado por Paulo Macedo,
anunciou, na manhã de 30 de julho, os resultados relativos ao primeiro semestre
de atividade de 2025. Fê-lo em comunicado enviado aos mercados e em sessão de apresentação
de resultados, na sede, em Lisboa.
Os
lucros subiram 4%, em termos homólogos, para 893 milhões de euros,
registando-se uma quebra de 10% da margem financeira, atribuída ao
comportamento das taxas de juro.
No volume de
negócios, as comissões subiram ligeiramente (1%), abaixo do aumento de 6%, isto
é, nove mil milhões de euros. O banco público tais números com a manutenção do
preçário e com a aplicação de isenções em algumas das operações.
Além disso, no final do
primeiro trimestre, a CGD pagou um dividendo de 850 milhões de euros ao
acionista (Estado), sendo o mais elevado de sempre, mas garante que os seus
rácios prudenciais estão acima dos 20%, após tal operação, e que é, de novo, a
única instituição portuguesa “a integrar a lista dos 200 maiores bancos
mundiais, em capital Tier 1, pela revista The
Banker 2025, classificando-se na 190.ª posição”, lê-se no comunicado
enviado ao mercado.
O banco liderado por Paulo
Macedo garantiu um aumento do seu volume de negócio, muito por via do crédito à
habitação, que cresceu 63%, em termos homólogos, e com o reforço do seu
posicionamento no segmento das Pequenas e Médias Empresas (PME), onde o banco
tem vindo a apostar mais paulatinamente. Assim, a CGD mantém-se com uma quota
de mercado de 23,9%, no atinente ao crédito à habitação, sendo líder de
mercado. Como se lê no documento, este valor é muito impulsionado pelo segmento
jovem.
No referente
a crédito a empresas e institucionais, garante uma posição de 17,6% no mercado.
Já os depósitos e os recursos de clientes cresceram 5%, em termos homólogos, -
e 38%, face a 2019, o período pré-pandemia, que tem sido usado, muitas vezes, como
marca pelos bancos na sua atividade. Atualmente, a CGD conta com 77 mil milhões
de euros em recursos de clientes.
Paulo Macedo reagiu, com comedida
indignação, à pergunta sobre se o facto de ter partilhado o Conselho de
Ministros com e como Álvaro Santos Pereira não colocaria em causa a independência
deste como supervisor da CGD. “A
independência é a coisa que mais preocupa o atual governador, o novo governador
e a mim”, respondeu, de forma pausada, mas assertiva.
Com
efeito, Paulo Macedo conhece Álvaro Santos Pereira, com quem partilhou funções
governativas na legislatura de Pedro Passos Coelho: o primeiro foi ministro da
Saúde; e o segundo tinha as pastas da Economia e do Emprego. Porém, rejeitou
qualquer tipo de questão, no respeitante à independência do supervisor. “Vai ficar admirado, mas
várias pessoas são amigas umas das outras e já trabalharam juntas”, ironizou,
em resposta a um jornalista do Público.
“E a questão não são os conflitos de interesse, mas se esses conflitos são
mitigados e se há um disclosure dos mesmos”, referiu,
sublinhando que, se fosse uma questão “as pessoas conhecerem-se, ficávamos
bastante reduzidos num mercado que já é muito reduzido”.
Instado a
comentar a escolha de Álvaro Santos Pereira para suceder a Mário Centeno, Paulo
Macedo sustentou que não lhe cabe a si avaliar, mas não deixou de atirar
algumas considerações.
“Em termos de CV
[Curriculum Vitae], não me parece que se levante qualquer dúvida. Tenho muito
apreço pelo trabalho que desenvolveu, academicamente. E tenho uma questão de
apreço por alguém que era economista-chefe da OCDE [Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Económico] e vem para Portugal e recebe as manchetes todas dos
jornais, no primeiro dia, em que o nome é anunciado”, atirou.
“Quando pessoas se
disponibilizam a servir o país, quando podiam estar na OCDE – Paris já não é o
que era, mas não está má, posso dizer-vos... – enfim. Ele foi dos poucos
economistas-chefes da OCDE, que eu tenha notado, que foi convidado pelo BCE [Banco Central Europeu] para
ser ouvido, precisamente pela experiência que tem...”
E acrescentou: “Também quero dizer que a
CGD também tem apreço pelo anterior governador e pela forma como se relacionou
com os bancos, e como representou Portugal no BCE. Felizmente, estamos a falar
de duas personalidades bastante credíveis.”
Durante a
conferência de imprensa de apresentação de resultados semestrais da CGD, o seu
presidente da Comissão Executiva falou do preço das casas – que não tem parado
de subir – frisando que, no segmento de
luxo, era natural que os preços subissem, porque “quem compra são pessoas que
adquirem casas em toda a parte do Mundo, são investidores externos […]. Quem
compra sabe o que pagaria por uma localização alternativa em outro lado do Mundo.
E este é o segmento onde o preço tem estado, talvez, a subir mais”, realçou.
Já no
mercado do segmento médio baixo, “acho
que vai demorar muitos anos até reconstruirmos, em termos de produção, a
fileira dos empresários que construíam urbanizações de vários prédios e, depois,
as vendiam, e assim sucessivamente...essa fileira ficou bastante reduzida,
depois da crise financeira e de falências e de muitas fusões”, observou.
Considera,
portanto, que, “enquanto a oferta
não estiver restabelecida – e não acho que haja uma silver bullet –,
através de diversas medidas, os preços das casas não tendem a baixar, porque a
procura é crescentemente maior do que a oferta, em termos de diferencial”.
Diz, ainda,
que é importante que os governantes deem ao mercado estabilidade e segurança,
sem consecutivas alterações de regras, nomeadamente, no mercado de arrendamento. “Quantas casas não são colocadas no mercado
porque não há a mínima previsibilidade sobre as rendas?”, questiona,
para sustentar que “isso pode lançar milhares de casas no mercado”.
Contudo, é de anotar que, em
Portugal, a capacidade de endividamento das famílias, ajustada à inflação,
recuou em cerca de 25%, mas os preços das casas subiram, no período entre 2019
e 2024. E, no final de 2024, Portugal registou a maior subida dos preços
das casas na União Europeia (UE).
***
Já o lucro do maior
banco privado português, o Banco Comercial Português (BCP Millennium),
subiu 3,5%, para 502,3 milhões de euros, no primeiro semestre, face ao mesmo
exercício do ano anterior (485,3 milhões de euros), como informou a instituição
à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Em Portugal, os resultados líquidos ascenderam a 424 milhões de euros,
uma subida de 3,2%, tendo o mercado doméstico contribuído com o
maior peso na operação.
Como refere a jornalista Rute
Simão, do Diário de Notícias (DN), Miguel
Maya, presidente
do BCP, na conferência de imprensa de
apresentação dos resultados, no Taguspark, em Oeiras frisou que os primeiros
seis meses do ano ficaram “marcados pela incerteza e pela volatilidade”,
no atinente à situação macroeconómica e geopolítica, pautada pela guerra
comercial e pelos conflitos armados na Ucrânia e no Médio Oriente, o que não é positivo
para a economia”.
A operação na Polónia foi
positiva, com o
Bank Millennium, detido em 50,1% pelo BCP, a registar lucros de 121,1 milhões
de euros, uma subida de 43%, apesar dos condicionamentos dos encargos conexos
com a carteira tóxica de crédito em francos suíços.
Os indicadores financeiros do
relatório indicam que o produto bancário, que resulta da soma das
comissões, da margem financeira ou dos ganhos em operações financeiras, subiu
5,6%, para 1,8 mil milhões de euros. E a margem financeira (diferença entre os
valores que os bancos cobram em juros e o que pagam pelos empréstimos) teve o
aumento homólogo de 3,3%, para 1,44 mil milhões de euros. Porém, na operação em
Portugal, recuou 2,2%, para 658,8 milhões de euros.
As comissões
líquidas da atividade consolidada subiram 4%, para 413,8 milhões de euros, tendo
totalizado, na operação doméstica, 307,1 milhões
de euros, um acréscimo de 6,7%.
Entre janeiro e junho foi superado um
recorde com 106,2 mil milhões de euros em recursos
aplicados por clientes, que englobam os depósitos (+5,5%); e a
carteira de crédito aumentou 3,4%, para 60,3 mil milhões de euros, com Portugal
a atingir os 41,5 mil milhões de euros, numa evolução de 4,6%.
A base de clientes superou a fasquia
dos sete milhões de euros, com destaque para o
crescimento de 9% dos clientes mobile que
representam 73% da base de clientes.
No capítulo da despesa, os custos operacionais tiveram uma subida de 10,5%, para 683,5 milhões de
euros, mercê do agravamento na rubrica dos custos
administrativos e nos gastos com pessoal. O peso dos custos nos proveitos (cost-to-income) fixou-se em 37%, acima dos
35% registados no primeiro semestre de 2024. Em Portugal, este indicador agravou-se
para os 35%, face aos 32% do exercício homólogo.
O BCP indica,
ainda, que a rentabilidade dos capitais próprios (ROE), que mede a capacidade
do banco gerar retorno para os acionistas, se fixou em 14,3%, abaixo dos 15,4%
verificados no primeiro semestre de 2024.
Nos fundos próprios, o rácio de
capital mais exigente (CET1) manteve-se nos 16,2% e o rácio de capital total
caiu para 20,2% (20,6%, há um ano).
Também Rute
Simão anotou que o presidente do BCP, questionado sobre a nomeação de Álvaro
Santos Pereira para o cargo de governador do Banco de Portugal (BdP), afirmou
que o currículo do sucessor de Centeno “fala por si”. “Nem eu, nem nenhum dos
meus colegas nos pronunciamos sobre os governadores, não nos compete. É um
currículo que fala por si e não carece de considerações, é solido”,
discorreu.
Enfim, tanto
Miguel Maya como Paulo Macedo, não se pronunciam sobre os governadores do BdP,
mas vão dizendo da sua justiça, atirando-nos com o currículo, com a competência
e com a independência.
Também a jornalista
do DN registou o apontamento de
Miguel da Maya sobre o crédito à habitação. Assim, o BCP já atribuiu uma fatia
de 30% da quota referente à garantia pública para a habitação, que totaliza, no
caso da instituição, 185 milhões de euros.
O gestor de
topo do banco detalhou que os jovens até aos 35 anos
representam cerca de 60% do total de pedidos de crédito ao BCP Millennium para
a compra da primeira habitação, pesando os empréstimos
realizados ao abrigo da medida entre “20% a 30%” do crédito global concedido.
“A garantia pública tem
desempenhado um papel que consideramos francamente positivo. A expetativa é a de que, para o Estado, não venha a ter um custo
significativo. Não antevemos um grau de incumprimento
superior ao crédito que não tem a garantia do Estado”, referiu o presidente do
BCP.
Miguel Maya assegurou
estar “muito tranquilo”, sustentando que “a maioria das situações de
incumprimento dos créditos se devem a situações de divórcio, de doença e de
desemprego” e que estes jovens “não têm mais propensão para isto [do que os
restantes mutuários]”. “Estes jovens são gente séria, empreendedora e gente que quer ser dona do
seu próprio futuro. Às vezes enganamo-nos num ou noutro, mas não estou
preocupado”, reiterou.
Sobre o
perfil, indicou que “há de tudo”: licenciados e não licenciados, “um padrão
muito próximo da população que reside em Portugal”. “E são, essencialmente,
jovens que não têm o pai ou a mãe para lhes emprestarem os 10% da entrada para
comprar uma casa”, apontou.
Tenho pena de
o dizer, mas há aqui, talvez involuntariamente, uma dose de cinismo ou de
hipocrisia. Não sei que tipo de clientes tem o BCP, nem me interessa saber. Porém,
se se tata de jovens que não têm pai ou mãe que lhes tenham de emprestar os 10% da entrada para
comprar uma casa, o BCP sabe escolher os clientes, que não precisavam da garantia
do Estado. Por outro lado, a garantia pública está a ser dada a jovens cujos
pais lhes dão a entrada para a compra da casa e para o mobiliário, servindo o crédito
para não haver levantamento intempestivo de dinheiro do depósito a prazo ou de
quebra no investimento mobiliário.
O presidente
do BCP elogiou a medida da garantia pública, mas advertiu que não é através
dela que a crise habitacional no país será amenizada. “Não é a garantia pública
que resolve o problema da habitação, em Portugal. Permite ao jovens comprarem
casa, é um ciclo virtuoso que existe, quando as pessoas têm essa possibilidade. É um contributo positivo, mas não podemos confundir com o problema da
habitação que é sério e que não se resolve com soluções simples”,
observou, com a pertinência de quem sabe.
De facto,
estas ajudas beneficiam, em geral, quem tem mais possibilidades. Não contribuem
para a baixa de preços, para efeitos de aquisição, nem para efeitos de
arrendamento. É necessário, pois, aumentar a oferta pública de habitação e
controlar os preços da construção privada de valor médio. O mercado não regula
nada.
***
Não é possível
comparar resultados, pois, enquanto os da CGD se referem a um semestre, os do
BCP referem-se a um trimestre. Contudo, parece que o BCP está em ascensão de
lucro e a tendência, no semestre, parece ser de lucro mais avantajado do que o
da CGD, que mantém lucros, mas com tendência a diminuírem.
Não obstante,
o banco público devia ter pejo em lamentar a falta de maiores lucros, por via da
descida dos juros. Com efeito, cobra menos, mas também paga menos, a não ser
que o meu conceito de gestão esteja obsoleto. Por outro lado, a CGD alega com o
não aumento das comissões bancárias. Era o que faltava! O banco público deveria
preocupar-se mais com o apoio a clientes que, normalmente, não têm possibilidade
de escolher outro banco, como tantos beneficiários de pensões misérrimas e
mesmo como a maior parte dos funcionários públicos.
2025.07.30 – Louro de
Carvalho