sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O Mitsubishi F-X pode desafiar o F-35 na Europa


O Japão iniciou – sob a liderança Mitsubishi Heavy Industries (MHI), com a colaboração de gigantes da tecnologia militar, incluindo a Lockheed Martin, dos Estados Unidos da América (EUA) – a construção do Mitsubishi F-X, um caça de sexta geração que promete ser um dos mais avançados de todo o Mundo. E, como refere Francisco Gonçalves, no blogue “Fragmentos”, (https://www.fragmentoscaos.eu/2025/02/28/mitsubishi-f-x-o-caca-de-sexta-geracao-que-pode-desafiar-o-f-35-na-europa/”, o projeto não só reforça a capacidade defensiva do Japão, como pode representar um desafio ao domínio dos caças F-35 dos EUA, na Europa, sobretudo, a partir de 2030, quando os países europeus começam a priorizar os seus próprios programas de defesa aérea.
O F-X que está programado para substituir os Mitsubishi F-2 da Força Aérea de Autodefesa do Japão (JASDF), a partir de 2035, será um caça stealth, com foco em capacidades, como guerra eletrónica avançada, inteligência artificial (IA) e comunicação em rede.
Algumas das suas principais caraterísticas incluem: alta furtividade, para escapar de radares inimigos; capacidade de operar em rede, permitindo que drones e outros caças atuem como uma única unidade tática; motores superpotentes, para maior velocidade e manobrabilidade; e sistemas de inteligência artificial, que auxiliam o piloto em combate.
Com previsão de um protótipo para 2027 e voo inaugural para 2028, o caça deverá entrar em produção em massa, a partir de 2031.
A introdução do Mitsubishi F-X (não confundir com o FX, um canal de televisão por assinatura, propriedade da FX Networks) é um dos maiores avanços no poder aéreo moderno e poderá tornar o Japão num líder mundial da aviação militar. A sua chegada terá, obviamente, impacto na estratégia militar; e os chefes militares do Mundo estarão atentos, para verem como o caça tipo OVNI (objeto voador não identificado) transforma a lógica da guerra.
O advento do F-X ameaça o domínio dos EUA e provocará o declínio do F-35, na Europa.
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Ferenc Szekely, em artigo publicado pela Euronews, a 27 de fevereiro, sob o título “Japão dá início à construção dos caças F-X, da Mitsubishi, os mais avançados do Mundo”, lembra que o Japão se viu “numa luta de cães, no início dos anos 2000, quando os EUA proibiram as exportações do F-22 Raptor” (como parte da emenda Obey, de 1997 para proteger a sua tecnologia), tido como o avião de combate mais avançado, até à data, não tendo o país qualquer opção viável para um caça de 5.ª geração, apenas o, mundialmente procurado, caça furtivo americano F-35, pelo qual 40 países estão, atualmente, a competir.
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O Lockheed Martin F-22 Raptor é um caça de dominação aérea fabricado, nos EUA, pela Lockheed Martin, que, agora, colabora no fabrico do F-X. Foi o primeiro caça de 5.ª geração a entrar em serviço. A sua missão principal é manter a superioridades no campo de batalha, mas possui capacidade secundária de ataque ao solo. O alto custo do programa de desenvolvimento da aeronave, atrasos no desenvolvimento do programa de caças de 5.ª geração  russos e chineses, a proibição de exportações e o desenvolvimento do mais versátil F-35 acabaram por encerrar o programa de produção do F-22. Hoje, a Força Aérea dos EUA possui 187 aeronaves destas no serviço ativo, tendo o último F-22 sido entregue em 2012.
Como arma secundária, o F-22 utiliza um canhão M61A2 Vulcan de 20mm com 480 projéteis. Já no armamento principal, pode ser armado com dois mísseis ar-ar, de curto alcance AIM9, e até seis mísseis ar-ar, de médio e longo alcances, AIM-120 AMRAAM. Para o combate ar-solo, pode ser armado com duas bombas de mil libras GBU-32 JDAMs e dois mísseis AIM-120.
Por seu turno, o Lockheed Martin F-35 Lightning II ou F-35 Joint Strike Fighter é um caça multifunção supersónico furtivo stealth de 5.ª geração.
Desenvolvido para satisfazer as necessidades dos governos dos EUA, do Reino Unido, da Holanda (hoje, Países Baixos), da Austrália, do Canadá, da Itália, da Dinamarca, da Noruega, da Turquia e de outros compradores, como Israel, foi concebido como projeto de três caças de 5.ª geração, CTOL F-35A JSF, STOVL F-35B JSF, CV F-35C JSF, de relativo baixo custo, para a Marinha, para a Força Aérea e para os Fuzileiros Navais dos EUA, pois englobar três aeronaves no mesmo projeto atenuou os elevados custos de desenvolvimento, comparativamente com os três separados. Todavia, devido a sucessivos problemas de desenvolvimento, o objetivo de baixo custo não foi atingido. As principais armas são transportadas em compartimentos internos, para um elevado grau de discrição, mas podem ser transportadas, externamente, armas adicionais, em missões em que a furtividade não é necessária.
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Voltando ao artigo de Ferenc Szekely, sabemos que o Japão comprou ou encomendou 147 das duas variantes do F-25, “em grande parte para compensar o fosso de desenvolvimento”. E, logo, as autoridades de Tóquio decidiram passar ao nível seguinte com um modelo local. Assim, foi lançado o programa Mitsubishi FX e nasceu o caça polivalente F-X, pois a estratégia japonesa tem o indisfarçável objetivo de conter a China, na região do Indo-Pacífico, como membro da organização QUAD (fórum estratégico informal entre os EUA, o Japão, a Austrália e a Índia que é mantido, por meio de cúpulas semirregulares, por trocas de informações e por exercícios militares entre os países membros).
Outras nações, incluindo os EUA, a Rússia e a China, também avançaram para esta nova fase de desenvolvimento. Porém, com a introdução do F-X – antecedida pelo Mitsubishi X-2 Shinshin (aeronave experimental japonesa para testar tecnologias avançadas de aeronaves de caça stealth) –, tornou-se real a possibilidade de o Japão ser o primeiro a ser capaz de colocar em campo e produzir em massa esta classe, o que deverá acontecer no início da década de 2030, quando outros atores de topo ainda não terão terminado o seu desenvolvimento (os caças japoneses que atacaram Pearl Harbor, em 1941, os Zeros, foram construídos pela Mitsubishi).
Em 2022, três nações (JapãoReino Unido e Itália) embarcaram numa colaboração conjunta de estratégia aérea denominada GCAP (Global Combat Air Program), um plano que permitiu à Mitsubishi tirar partido das capacidades britânicas, em matéria de controlo digital de voo e de combate furtivo, bem como das realizações italianas, em matéria de desenvolvimento de radares e de guerra centrada em redes. Neste sentido, o F-X é também sucesso conjunto dos três países, indicando que a cooperação entre nações com poder militar médio pode reduzir a superioridade industrial das grandes potências (EUA, Rússia, China).
O F-X tem a capacidade para se envolver em combate aéreo e terrestre, simultaneamente, contra múltiplos adversários e alvos, estabelecendo nova referência para aviões de combate no Mundo. Emprega a melhor tecnologia furtiva conhecida, com materiais compósitos especiais concebidos recentemente e com modelação estrutural otimizada para reduzir a secção transversal do radar, tornando-a virtualmente invisível ao inimigo. Segundo os projetistas, a sua capacidade furtiva (detetabilidade, visibilidade) será a melhor do Mundo, enquanto a Rússia ocupa o 11.º lugar, neste aspeto, com o Sukhoi-57 (Felon), o que supõe ser visível para os radares mais avançados.
Além destas capacidades, o F-X tem outras que incluem a guerra com IA e o combate autónomo. A IA fornece cenários de combate em tempo real, considerando todas as ameaças terrestres e aéreas, incluindo drones. Assim, as melhores opções de decisão aparecem no monitor interno do capacete do piloto numa fração de segundo. Paralelamente, o comandante da unidade pode ver, simultaneamente, as posições externas e internas do resto do esquadrão, como quantas e quais armas cada um tem, melhorando as hipóteses de ataque em grupo e poupando a fuselagem de riscos desnecessários.
O F-X consegue integrar armas hipersónicas e laser, podendo disparar, simultaneamente, mísseis a velocidades de Mach 5, enquanto abate os mísseis atacantes. Para tanto, utiliza um sistema de sensores de 360 graus. A segurança de disparo e de defesa é apoiada por um sistema de fusão de dados que combina informações de várias fontes, para melhorar a consciência situacional e a eficácia do combate. E os pilotos podem ver, através do corpo da aeronave, utilizando ecrãs montados no capacete, pelo que podem detetar a situação de combate a olho nu.
Para alimentar o avião, os engenheiros de desenvolvimento japoneses construíram nova geração de motores de ciclo adaptativo que ajustam, continuamente, a potência à velocidade e à eficiência do combustível. Com efeito, ao invés dos motores a jato convencionais, o F-X é capaz de alternar, de forma ótima, entre o funcionamento a alta velocidade e o funcionamento eficiente, em termos de combustível, o que aumenta o alcance de combate, sem a necessidade de reabastecimento frequente, o que não é possível com os tipos atuais.
O objetivo fundamental do caça F-X é alterar o equilíbrio de forças na indústria aeroespacial mundial, especialmente, na concorrência com a China. O caça J-20 Mighty Dragon de Pequim constitui sério desafio, no teatro de guerra do Extremo Oriente, mas o desenvolvimento da Mitsubishi elimina esta ameaça e oferece ao Japão o domínio do ar.
Há também significativo impacto económico a reforçar a indústria de defesa japonesa, criando milhares de empregos e reduzindo o custo das importações de armas estrangeiras. Até agora, Tóquio investiu mais de 48 mil milhões de dólares no desenvolvimento do F-X, o projeto militar mais dispendioso da História do país, mas espera-se que o programa aumente o produto interno bruto (PIB) do Japão e abra novos capítulos nos domínios da engenharia aeronáutica, do desenvolvimento de software e da investigação de materiais.
Através de parcerias com o Reino Unido e coma Itália, o Japão terá acesso às tecnologias aeroespaciais europeias, reforçando, ainda mais, o setor da defesa nacional.
Outro aspeto importante é que, através dos parceiros europeus, o Japão também estará mais bem ligado e integrado nos planos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), quase como braço da aliança no Extremo Oriente, papel que a Coreia do Sul também tenta desempenhar.
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F-35 Lightning II dos EUA é, atualmente, o caça furtivo mais popular no Ocidente. Porém, a partir de 2030, o domínio norte-americano no setor de defesa aérea pode começar a ruir, e há três razões principais para isso: o investimento da Europa nos seus próprios caças; os problemas técnicos e de custos do F-35; e a expansão do Japão no Mercado Global de Defesa.
A Europa investe nos seus próprios caças. Efetivamente, já começou a desenvolver as suas próprias aeronaves de 6.ª geração, para reduzir a dependência dos EUA, estando a destacar-se dois projetos: o FCAS (Future Combat Air System), desenvolvido pela França, pela Alemanha e pela Espanha; e o GCAP (Global Combat Air Programme), uma parceria entre o Reino Unido, a Itália e o Japão. Com estes programas a avançar rapidamente, os países europeus têm cada vez menos motivos para continuar a comprar o F-35.
Problemas técnicos e de custo do F-35. Apesar da sua popularidade, o F-35 enfrenta críticas constantes devido a altos custos de manutenção, a problemas técnicos recorrentes e a dependência de software e de peças dos EUA, o que leva os países europeus a considerar alternativas, como o FCAS e o GCAP.
Expansão do Japão no Mercado Global de Defesa. O Japão, tradicionalmente, não exportava armas, devido às suas políticas pacifistas. Porém, com as novas leis que flexibilizam essa postura, o Mitsubishi F-X é oferecido a aliados estratégicos, incluindo países europeus. Assim, de futuro, o Japão e o Reino Unido podem promover o GCAP como alternativa ao F-35.
Ora, se o Mitsubishi F-X e o GCAP se consolidarem como caças altamente avançados, a partir de 2030, os EUA podem perder o monopólio na venda de caças furtivos para a Europa. Com cada vez mais países na busca de independência militar, o F-35 pode tornar-se opção secundária, enquanto novos programas assumem o protagonismo. Assim, o Japão, ao lado de aliados, como o Reino Unido e a Itália, está prestes a redefinir o futuro da aviação militar – e os EUA precisarão reagir, rapidamente, se quiserem manter a posição dominante.

2025.02.28 – Louro de Carvalho

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