quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

No 176.º aniversário da sua criação o AO/RMPP passa a Fundação

 

A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou um comunicado, neste dia 12, um quirógrafo do Papa, de 17 de novembro, com o qual o Pontífice erigiu, como pessoa jurídica canónica e vaticana, a Fundação Rede Mundial de Oração do Papa, antigo Apostolado da Oração, com sede no Estado da Cidade do Vaticano, continuando o organismo aos cuidados da Companhia de Jesus, pelo que nomeado foi o Padre Frederic Fornos seu diretor internacional. Os estatutos, aprovados pelo Papa, entrarão em vigor a 17 de dezembro, ad experimentum por três anos a partir da data de aprovação. O objetivo é coordenar e animar o vasto movimento espiritual, muito querido ao Sumo Pontífice, acolhendo e difundindo as suas intenções de oração mensais.

Esta rede, com a designação de “Apostolado da Oração”, teve início na França, em 1844, como se verá a seguir, e posicionou-se como apostolado de oração para a missão da Igreja, alcançando rapidamente cerca de 13 milhões de membros.

Em 2018, Francisco instituiu-a como Obra Pontifícia para destacar o caráter universal deste apostolado e a necessidade de que precisamos rezar cada vez mais e com o coração sincero.

A Rede Mundial de Oração do Papa apoia sua missão de evangelização, permitindo “sair da ‘globalização da indiferença’ e abrir-se à compaixão pelo mundo.

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Apostolado da Oração (sigla AO), atualmente conhecido como Rede Mundial da Oração do Papa (RMOP ou RMPP), é uma organização (obra e movimento) de leigos católicos (atualmente com cerca de 35 milhões de membros no mundo) que visa a santificação pessoal e a evangelização. E o “Movimento Eucarístico Jovem”, antiga Cruzada Eucarística (criada em 1915), é a secção jovem.

Os estatutos definem assim o AO:

O Apostolado da Oração constitui a união dos fiéis que, por meio do oferecimento quotidiano de si mesmos, se juntam ao Sacrifício Eucarístico, no qual se exerce continuamente a obra da nossa redenção, e desta forma, pela união vital com Cristo, da qual depende a fecundidade apostólica, colaboram na salvação do mundo”.

Nascido, a 3 de dezembro de 1844, Festa de São Francisco Xavier (há 176 anos), no Seminário da Companhia de Jesus (padres jesuítas) de Vals, perto de Le Puy (França), espalhou-se pelo mundo, trabalha com afinco pela evangelização das famílias, cultiva a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e todos os seus membros rezam diariamente pelas intenções do Santo Padre.

Naquela data, Francisco Xavier Gautrelet (1807-1886), o Padre Espiritual do Colégio, fez uma conferência aos estudantes, em que explicou como podiam eficazmente satisfazer o desejo de colaborar com os que trabalham nos vários campos de apostolado para a salvação dos homens, podendo fazê-lo, sem interromper o seu trabalho principal (o estudo) e oferecendo com fim apostólico as suas orações, os seus sacrifícios e trabalhos, por meio duma pequena organização, que seria denominada de “Apostolado da Oração”.

As ideias de Gautrelet, fundamento do AO, foram recebidas com entusiasmo pelos estudantes e divulgadas nas terras vizinhas do colégio e, depois, em toda a França.

A obra teve aprovação do Bispo de Le Puy, em 1846, e alcançou, em 1849, a aprovação e as primeiras indulgências do Papa Beato Pio IX, sendo estendida a toda a Igreja. A sua estrutura organizacional e promoção inicial são trabalho do Padre Henrique Ramière, SJ. Em numerosos artigos e escritos, explicou amplamente, e de forma acessível, a doutrina do AO, dando-lhe forma definitiva. Publicou, em 1861, o livro “O Apostolado da Oração, Santa Liga de corações cristãos unidos ao Coração de Jesus”, lançando a base teológica do movimento.

Pio IX  aprovou os primeiros Estatutos em 1866 e Leão XIII  reformou-os  em 1896. Em 1948, o Papa Venerável Pio XII procedeu a extensa revisão do texto, que foi reaprovado e proclamado a 28 de outubro de 1951. Com o Concílio Vaticano II, ocorreu nova reforma e a versão final e atual até agora dos Estatutos foi aprovada pelo Papa São Paulo VI a 27 de março de 1968.

O anúncio mensal das intenções de oração do Papa para serem rezadas com o Oferecimento Diário surgiu em 1880, com Leão XIII, que criou a Intenção Geral. E a Intenção Missionária foi acrescentada em 1929 pelo Papa Pio XI.

No 100.º aniversário em 1944, Pio XII, dando graças a Deus pelo AO, considerou-o “um dos meios mais eficazes para a salvação das almas”, por se tratar de “oração e oração em comum”. Elogiou a organização em torno do seu objetivo: “rezar assiduamente pelas necessidades da Igreja e tentar satisfazê-las por meio do oferecimento quotidiano”. Em 1985, o Papa São João Paulo II chamou-lhe “um precioso tesouro do coração do Papa e do Coração de Cristo”.

A primeira revista específica do AO foi editada em 1861, na França, sob a denominação de “Mensageiro do Coração de Jesus”, órgão oficial da associação, que rapidamente começou a ser editado em vários países. Até ao ano 2000, havia 50 diferentes edições desta revista e de 40 outros periódicos.

A Portugal o AO chegou em 1864 pela mão do italiano Padre António Marcocci. E o grande impulsionador foi o seu colega Padre Luís Prosperi, primeiro Diretor Nacional. Em 1887, já havia em Portugal 1.074 Centros e cerca de 850.000 associados e zeladores, tendo a Irmã Beata Maria do Divino Coração sido uma das grandes propagadoras das pagelas do Apostolado da Oração na região do Norte de Portugal.

Ao nível da espiritualização da comunidade, os seus membros seguem um profundo programa de vida espiritual, estão capacitados para cooperar ativamente na espiritualidade da paróquia, em conjunto com outras pastorais e movimentos, promovendo Horas Santas e incentivando as visitas ao Santíssimo Sacramento, participando ativamente na Missa, procedendo anualmente à Consagração das Famílias ao Sagrado Coração de Jesus, entronizando a imagem ou quadro do Sagrado Coração de Jesus nos lares, fazendo novenas e rezando o terço em família, percorrendo a via-sacra e desenvolvendo as demais iniciativas que ajudem a comunidade a orar. É sobretudo pela ação com as famílias, agregando as famílias dos zeladores, associados e suas vizinhanças, que procuram atingir as famílias da comunidade de forma inclusiva, por meio de práticas como as Novenas do Natal em Família, Encontros da Campanha da Fraternidade, Semana Nacional e Dia Nacional da família, Festas do Padroeiro/a.

Depois, cada membro do AO, que deverá promover, no seu ambiente, os valores cristãos, pelo testemunho de vida e pela palavra, é instado a praticar as obras de misericórdia: dar alimento aos necessitados, visitar pessoas enfermas, idosas e encarceradas, levando conforto, oração, esperança e auxilio material quando necessário, caminhando em parceria com Vicentinos, Pastoral dos Pobres, Pastoral da Saúde, Pastoral dos Enfermos, Pastoral dos Idosos, Pastoral Prisional e Pastoral da Esperança. Enfim, o membro do AO é encorajado a ser membro ativo destas pastorais, bem como da Pastoral Vocacional, maxime através da oração pelas vocações sacerdotais, religiosas e leigas; e pelo auxílio material para o sustento dos seminários. A evangelização tem lugar privilegiado junto das famílias e na catequese propriamente dita, sendo que o Movimento Eucarístico Jovem (MEJ), seção jovem do AO, apresenta um itinerário para a formação de adolescentes e jovens. E, além da contribuição material para o culto e sustentação do clero, o membro do AO colabora nos trabalhos e promoções materiais e sociais da paróquia.

Em termos de compromisso orante, os membros do AO: fazem o Oferecimento Diário, preferencialmente pela manhã, oferecendo a Deus a suas orações, trabalhos, sofrimentos e alegrias, e pedindo as bênçãos para cada momento vivenciado durante o dia; são estimulados a participar ativamente em todas as ações litúrgicas: Missa com a comunhão eucarística e os demais sacramentos, sendo que a principal celebração do mês é a Missa da Primeira Sexta-Feira, onde os membros praticam a devoção da Comunhão Reparadora, pela qual pedem perdão a Deus pelos pecados cometidos pela humanidade; praticam e difundem especialmente as devoções ao Espírito Santo, ao Sagrado Coração de Jesus (pela Festa do Sagrado Coração de Jesus, Primeiras Sextas-Feiras do mês, Horas Santas, Entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares e a Consagração das famílias ao Sagrado Coração de Jesus), à Virgem Maria, aos Santos Padroeiros (Francisco Xavier e Teresa do Menino Jesus e da Santa Face) e aos Santos Promotores do culto ao Sagrado Coração de Jesus, com destaque para Santa Margarida Maria Alacoque, São Cláudio La Colombière e Beata Maria do Divino Coração.

Na linha da vontade de sentir com a Igreja, os membros do AO, a cada mês, rezam pelas intenções que o Santo Padre propõe e são encorajados a seguirem as orientações pastorais do Papa, do Bispo e dos Sacerdotes, devendo-lhes respeito e colaboração. Estimula-se a prática da oração constante e regular. E promove-se a formação sólida de zeladoras e zeladores e de todos os membros de cada núcleo, em termos espirituais, bíblicos, litúrgicos, apostólicos, doutrinários, através da Reunião Mensal, Hora Santa, Novena do Sagrado Coração de Jesus, Tríduo para as festas dos santos padroeiros, Retiro Espiritual, Tarde de Reflexão, Palestra, Círculo bíblicos, Jornada Apostólica, Leitura de livros e revistas (vg: Revista Mensageiro do Coração de Jesus), Encontroo de Formação e demais encontros promovidos pelas paróquias e dioceses.

Em suma, além da oração, o AO tem o compromisso de colaborar com todas as boas obras.

Ao nível da estrutura, o diretor-geral mundial é o Padre Geral da Companhia de Jesus ou alguém nomeado por este. O atual Diretor Internacional é o Padre Frédéric Fornos, SJ.

secretário nacional é nomeado pelo diretor-geral; e a sua função é coordenar e orientar o apostolado a nível nacional.

diretor diocesano é nomeado pelo bispo diocesano e tem o encargo de dinamizar o AO na Diocese, representar o AO perante o Secretariado Nacional, promover encontros de formação, criar novos Centros, visitar os Centros existentes, ajudar os diretores locais nas paróquias, que são os vigários, e suas equipas e impulsionar o movimento.

Em cada um dos níveis, são constituídas, de acordo com as necessidades, diretorias ou comissões compostas por leigos, que auxiliam no trabalho de cada diretor ou secretário.

Dentro de cada núcleo local, os membros são organizados em duas categorias: os associados, membros já incorporados por meio do Rito de Admissão e que estão a receber formação e a participar nas atividades do grupo; e os zeladores, que são membros mais antigos, com maior formação e participação ativa no movimento, sendo responsáveis principalmente por zelar por um grupo composto por um número de associados e suas famílias.

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Várias vezes os Estatutos passaram por emendas “tornando-se cada vez mais um serviço da Santa Sé próximo da oração pelas intenções do Santo Padre (como desejavam especialmente Leão XIII e Pio XI). Na esteira dos predecessores, em 2018, Francisco quis que este serviço se tornasse uma Obra Pontifícia. E, agora, como se lê nos Estatutos, “vendo o Apostolado da Oração como missão da Santa Sé confiada à Companhia de Jesus, a partir de agora, continua a ligação com a Companhia, mas abre-se a uma dimensão universal, colocando-se ao serviço de cada Igreja particular no mundo”. Por isso, está diretamente sujeita à autoridade do Sumo Pontífice, que a governa através da Secretaria de Estado, levando em consideração a entrega histórica do AO à Companhia de Jesus desde o início.

Mais: a Rede Mundial de Oração do Papa “está aberta a todos os católicos que desejam despertar, renovar e viver o caráter missionário que procede do seu batismo” e propõe um percurso espiritual “O Caminho do Coração”, que integra duas dimensões: comprometer-se a promover as intenções de oração do Papa que “expressam os desafios da humanidade e a missão da Igreja” fazendo suas as alegrias e tristezas da humanidade e deixar-se inspirar “para realizar obras de misericórdia espiritual e corporal”. E a dimensão ligada à vocação missionária do batizado, “permitindo-lhe colaborar em sua vida quotidiana, com a missão que o Pai confiou a seu Filho”. E, segundo os Estatutos, “O Caminho do Coração” é “um processo espiritual estruturado pedagogicamente para identificar-se com o pensamento, a vontade e os projetos de Jesus”. Assim, “a pessoa  batizada propõe-se acolher e servir o Reino de Deus, motivada pela compaixão no estilo do Filho de Deus”.

Mais um caminho sério e renovado de vida cristã e apostolado consequente!

2020.12.03 – Louro de Carvalho

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