A verdade
é que o novo corona vírus, com a designação científica de Covid-19, surgiu na
China sem que as autoridades lhe tivessem dado crédito a princípio (tendo até feito calar o médico que alertou para
a iminência do surto), mas a que prontamente tentaram responder de
múltiplas formas, embora já não fossem a tempo de evitar muitos dos casos
letais.
Os restantes
países, apesar dos alertas da OMS (Organização Mundial de Saúde), fizeram de conta que o problema estava muito
longe esquecendo a enorme e diversificada mobilidade entre os diversos países
do mundo. E, pelos vistos, já não capazes de instaurar a prevenção, tendo
devido passar quase ex-abrupto à fase
da contenção e provocado um alarmismo desproporcionado.
Assim,
as autoridades de saúde nos vários países organizaram os esquemas de contenção e
de resposta a este surto virótico, na convicção de que o surto era mais
perigoso que todos os anteriores. Além disso, a gripe das aves, de 2009, já era
considerada longínqua no tempo e a SARS, de 2003, na China, mal foi badalada no
Ocidente, distraído que andava com a invasão do Iraque pela então designada
força multinacional. Por isso, as autoridades fizeram as suas recomendações de
modo que os cidadãos, assumindo os cuidados aconselhados, pudessem autoproteger-se
fazendo assim a prevenção pessoal do risco e capacitar-se para o tratamento dos
sintomas, já que não há tratamento preventivo do tipo vacinal nem tratamento
direto de ataque.
Organizou-se
a rede hospitalar de referência, com a previsibilidade de quarentena dos
infetados e a vigilância dos suspeitos; fizeram-se, com falhas naturalmente,
planos de contingência nas repartições, serviços, empresas e escolas; promoveram-se
espaços e mecanismos de isolamento; desaconselharam-se eventos de competição, viagens
e ajuntamentos de pessoas; fazem-se jogos à porta fechada; até a Conferência Episcopal
deu indicações de higiene pessoal e comunitária nos espaços e atos sagrados,
tendo alguns bispos restringido a celebração das missas e ministração de sacramentos
e sacramentais; algumas escolas (mesmo
privadas), repartições do Estado, tribunais e serviços (até de comércio) foram encerrados,
sobretudo depois que a OMS declarou o Covid-19 pandemia a nível mundial; o Papa
não participou no retiro quaresmal em Ariccia e prescindiu das audiências com multidões;
e, em Portugal, o Chefe de Estado está em “autoquarentena” e o Governo prepara-se
para antecipar a interrupção das atividades letivas que estava prevista para o
período da Páscoa.
Tudo
isto, apesar dos apelos em contrário, gerou um certo e já pesado alarmismo
social a apontar para o açambarcamento de bens de consumo, designadamente produtos
alimentares e medicamentosos e acentuando, talvez por excesso, a recessão económica
que dizem aproximar-se por causa do novo corona vírus. De facto, o novo vírus
invade com subtileza a comunidade sobretudo porque é difícil saber quem o transmite.
***
Neste
contexto, há recomendações de especialistas aos pais no sentido de eles explicarem
com clareza a situação às crianças, mas evitando criar-lhes ansiedade. Com efeito,
especialistas consultados pela Lusa afirmam que a conversa com as
crianças sobre o novo coronavírus e os cuidados que devem ter é importante, devendo
os pais dar-lhes informações que elas consigam compreender, mas dissipando a
ansiedade.
Joana Sarmento Moreira, especialista em psicologia
infantil sustenta que “o melhor é sempre dizer a verdade, não vale a pena
inventar grandes histórias” e considera que é importante “não entrar em grandes
detalhes” para evitar ansiedades. Segundo a psicóloga, as crianças conseguem
perceber que, à sua volta, as pessoas estão preocupadas e, por isso, os pais
devem ser diretos e honestos, explicando que existem certas medidas preventivas
que todos devem seguir. E a pediatra Maria do Carmo Vale assente em que esta é
uma doença que deve ser explicada aos mais novos, mas “dentro das suas possibilidades
de entendimento”, sublinhando a importância de se explicar que neste momento há
um agente infecioso que passa de pessoa para pessoa de um modo um pouco mais
acelerado do que é normal e acentuando que, nos casos das escolas encerradas,
os pais devem transmitir às crianças que essa é uma medida preventiva, para
garantir a sua segurança. Sobre os cuidados especiais que as pessoas devem ter,
designadamente cuidados de higiene e de etiqueta respiratória, a pediatra
acredita que as crianças, de uma maneira geral, já estão “muito bem ensinadas”.
Maria do Carmo Vale considera que, mesmo assim, é
muito importante que os pais reforcem a importância destes cuidados, chamando
igualmente a atenção para o contacto com os outros, em particular nos casos de
crianças que têm irmãos mais novos. Deve-se explicar, diz, que “existem outras
formas de demonstrar carinho e que não se devem dar muitos beijinhos”.
Segundo as mencionadas especialistas, o discurso dos
pais deve adaptar-se às diferentes idades e, se com as crianças os pais devem
evitar determinadas conversas sobre o Covid-19 e evitar assistir e comentar as
notícias junto dos mais novos, Joana Moreira aconselha um diálogo mais
aprofundado com os jovens. Na verdade, “os mais velhos já acompanham muito a
comunicação social, e alguns podem não compreender o que se está a passar e
achar que está a haver excesso de zelo”, admitiu a psicóloga, considerando que
os pais devem explicar, o melhor possível, a situação e alertar para a
incerteza que existe em torno do novo coronavírus, ajudando-os ta selecionar o
que é ou não verdade entre a grande quantidade de informação a que têm acesso.
A psicóloga sublinhou a necessidade de alertar os
jovens para o papel que têm na sociedade e para a necessidade de seguirem todas
as indicações das autoridades de saúde, referindo-se, por exemplo, ao
encerramento de escolas e à importância de respeitar o isolamento social.
***
Em comum, o Covid-19 e a
constipação têm a prevenção, que é a mesma para ambos. Febre, tosse, dores
musculares podem ser, de facto, os sintomas da gripe comum, causada também por
um coronavírus, mas não o que recebeu o nome de Covid-19 e que já causou a
morte a mais de 4000 pessoas no mundo. Francisco George, ex-diretor-geral da
Saúde, diz que o novo vírus, oriundo da China, mas que já chegou a Portugal e a
outros países, é mais mortal que o vírus da gripe. Os sintomas da doença podem ser parecidos até com os de uma simples constipação.
O coronavírus humano comum – a não
confundir com o novo coronavírus, ou SARS-CoV-2, atualmente em circulação –
pode causar doença leve a moderada do trato respiratório superior, como a
constipação comum, que de acordo com os CDC (Centres for Disease
Control and Prevention /Centros de Controlo e Prevenção de Doenças) causa, por exemplo, nariz a
pingar e espirros.
Marie-Louise Landry, MD,
especialista em doenças infeciosas da Yale
Medicine e diretora do Laboratório de Virologia Clínica de Yale, citada
pela Health, considera que são 4 os coronavírus humanos comuns que causam 15 a
30% das constipações.
O inverno é também altura de
outro tipo de coronavírus – a comum gripe, que é diferente do SARS-CoV-2. Os sintomas mais comuns na
gripe são, segundo a OMS, febre, fadiga (fraqueza muscular), tosse (normalmente
seca), dores no corpo e dores
de cabeça. Segundo o CDC, os sintomas de constipação atingem o pico em 2 a 3
dias e incluem: espirros, nariz entupido ou com
corrimento, dor de garganta, tosse, olhos lacrimejantes e febre
– ainda que rara (a maioria das pessoas que fica
constipada não tem febre).
Alguns destes sintomas – espirros, secreção e obstrução nasal e tosse – podem
durar de 10 a 14 dias, e geralmente melhoram durante este período.
No atinente aos coronavírus, o
CDC diz que todas as doenças relatadas variam de sintomas leves a doenças
graves e morte nos casos confirmados de Covid-19. Os sintomas da nova doença
aparecem 2 a 14 dias após a exposição e incluem, por exemplo: febre, tosse, arrepios, expectoração, cansaço,
e falta de ar.
Apesar do número de mortes por
Covid-19, a maioria dos casos confirmados apresenta sintomas leves, de acordo
com um estudo publicado na revista científica de medicina “The Lancet”. Há, no entanto, sintomas menos comuns, refere o estudo,
que incluem dor de garganta e corrimento nasal, relatados por apenas 5% dos
pacientes; e diarreia, náusea e vómitos, relatados por 1 a 2% dos pacientes.
E também é comum a pneumonia entre os pacientes com
Covid-19, mesmo em casos que não são considerados muito graves.
As constipações normalmente não
evoluem para problemas graves de saúde, como pneumonia, infeções bacterianas,
hospitalizações ou mortes – um cenário muito diferente da gripe, que resulta em
290.000 a 650.000 mortes a nível mundial em cada ano, segundo a OMS.
A gravidade do novo coronavírus
não é fácil de definir. Sabe-se que é mais grave do que uma constipação. Não se
sabe se será mais grave do que uma gripe.
A OMS revelou recentemente
que a taxa de mortalidade global do Covid-19 é de 3,4% – um número que reflete
principalmente a incidência do surto na China. Este número, segundo o “New York Times”, não pode ser lido de
forma literal: há especialistas que afirmam, sobre o novo coronavírus, que a
taxa de mortalidade será consideravelmente menor.
A constipação não tem cura
– podem
aliviar-se os sintomas, mas a doença passará em alguns dias. Também não há cura para o Covid-19, mas os cientistas
estão a trabalhar para encontrar um tratamento e uma possível vacina. Em caso
de febre e outros sintomas relacionados com o novo coronavírus, é aconselhável,
em Portugal, ligar para a Linha de Saúde
24 (808 24 24 24).
Em comum, o novo
coronavírus e uma constipação têm a prevenção, que é exatamente a mesma para
ambos:
lavar as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos; não tocar nos
olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas; evitar contacto próximo com
pessoas doentes; ficar em casa quando estiver doente; e desinfetar superfícies e
objetos que sejam frequentemente tocados.
***
Enfim, é bom estar informado, mas
sem panicar, e respeitar as indicações da Direção-Geral de Saúde, bem como, se
for o caso, respeitar religiosamente as indicações da Linha de Saúde 24, cujo
serviço foi reforçado, ou do hospital. Por outro lado, as pessoas integradas em
empresas, serviços e escolas devem acatar rigorosamente os respetivos planos de
contingência e as suas eventuais alterações. E é conveniente, sobretudo, saber
que estamos em comunidade, pelo que nos devemos precaver contra o contágio,
quer como potenciais agentes passivos, quer como eventuais agentes ativos –
sempre sem exageros.
2020.03.11 – Louro de Carvalho
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