A liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade
leva-nos a mergulhar no mistério de Deus uno e trino, mistério profundo, face
ao qual a nossa melhor atitude é o silêncio, no dizer do grande místico e
teólogo carmelita São João da Cruz. Porém, como somos dados à loquela, convém
ilustrá-la com a doutrina, para não se ficar na banalidade da conversação
meramente humana. Assim, o grande conteúdo da fé é que Deus, sendo unidade, é
família de três Pessoas em perfeita comunhão de amor, pelo que se Lhe chama Santíssima
Trindade. Por amor, criou os homens e as mulheres e, por amor, convida-os a
vincularem-se à família trinitária, comunidade de amor.
***
Na primeira
leitura (Pr 8,22-31), a
Sabedoria de Deus, falando-nos do Deus criador, garante, com a autoridade de
quem viu nascer a criação, que Deus fez tudo com bondade, com solicitude e com amor
e nos convida a descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, a marca
de Deus, de modo que a catequese neotestamentária fala de Jesus como a incriada
Sabedoria de Deus.
O trecho em apreço é um hino à sabedoria em duas
estrofes. A primeira (vv. 22-26)
trata da origem da sabedoria; a segunda (vv.
27-31) aborda a intervenção da sabedoria na criação. É um poema belo e de grande
densidade teológica, na reflexão sobre a origem da sabedoria e sobre o que ela
diz da sua origem e de si mesma.
O hagiógrafo põe na boca da sabedoria o termo hebraico
“qânâny” (“gerou-me”) para expressar a responsabilidade de Deus na origem da
sabedoria. Ela foi gerada por Deus e é a primeira das suas obras, isto é, apareceu
antes de qualquer outra coisa: antes da terra, dos abismos, das fontes das
águas, das montanhas, dos outeiros, da terra, dos campos.
Depois, em torno da conjunção “quando”, vem a
enumeração anafórica das circunstâncias da presença da sabedoria: quando Deus
“consolidava os céus”; quando Deus traçava a linha do horizonte no abismo, ela
admirava o desenho de Deus; quando Deus pendurava as nuvens nos céus e fortalecia
as fontes dos abismos, apreciava o trabalho de Deus; quando Deus “impunha ao
mar os seus limites” e “lançava os fundamentos da terra”, ela estava ao seu
lado.
Porém, a sabedoria não se limitou a assistir à criação
de Deus: colaborou na obra criadora de Deus. Estava ao lado de Deus criador
como arquiteto ou artesão (“amon” – vers). Teve, pois, ativa colaboração na criação
(versões antigas preferem a leitura “amun”, “criança”, o que dá a ideia da
sabedoria como criança feliz que brinca e se deleita na obra criada pelo seu
tutor).
Contudo, o agrado da “sabedoria” é estar “junto dos
filhos dos homens”. A obra criadora de Deus chega ao auge pela criação do homem
e da mulher; e a sabedoria, enquanto colaboradora na criação, sente que o seu
papel é ajudar os homens a chegarem à plena realização.
Este hino está delimitado por três palavras: “Javé”,
“sabedoria” (“eu”) e “homens”. A sabedoria ocupa o espaço entre Deus e os
homens, visto que tem origem em Javé, está em íntima relação com Deus, mas
destina-se aos homens e gosta de estar com eles. Intermedeia entre Deus e os
homens. A partir da realidade criada que viu nascer, mostra aos homens como
chegar a Deus. Ao apontar aos homens a criação, obriga-os a olhar para o
criador e a descobrirem-no; espevita a inteligência dos homens, leva-os a Deus,
atrai-os a Ele, põe-nos em contacto com Deus. Enfim, a sabedoria, presente,
desde sempre, na criação, revela-nos a grandeza e o amor do Deus criador.
A tradição judaica identifica a sabedoria com a Torah,
mas os autores neotestamentários vão mais além. Paulo chama a Jesus sabedoria
de Deus e sabedoria que vem de Deus; considera que Jesus, como a sabedoria de Pr 8, existe antes de tudo e desempenhou
papel privilegiado na criação do Mundo. Também João, no prólogo ao seu
Evangelho, atribui ao “Lógos”/Palavra (Jesus) os traços da sabedoria criadora:
Ele existia antes de todas as coisas criadas e estava com Deus; e Ele teve papel
preponderante na criação, pois sem Ele “nada veio a existir”. E, mais tarde, na
linha da catequese cristã primitiva, os Padres da Igreja verão na “sabedoria”
pré-criada e anterior à restante obra de Deus, traços de Jesus Cristo e do
Espírito Santo.
***
O Evangelho
(Jo 16,12-15) mostra Jesus a despedir-se dos discípulos e a
garantir-lhes que não ficarão sós, pois receberão o “Espírito da verdade”, que
os conduzirá para a verdade, lembrando-lhes, constantemente, os ensinamentos de
Jesus e ajudando-os a encontrar as respostas para os desafios que a vida lhes
trará. Pelo Espírito, continuarão ligados a Jesus e, por Jesus, ao Pai.
Por cinco vezes, no discurso de despedida, na véspera
da sua morte, Jesus se refere à vinda do Espírito Santo. Antes do trecho em
referência, Jesus já lhes tinha falado do “Paráclito”, o “Espírito da verdade”
que o Pai enviará, que lhes recordará e ensinará tudo o que tinham escutado,
que dará testemunho em favor de Jesus e que apresentará “ao Mundo provas
irrefutáveis de uma culpa, de uma inocência e de um julgamento”. Desta feita,
retomando o mesmo tema, reafirma o que já tinha dito sobre o Espírito nas
referências anteriores. A repetição, que visa tranquilizar os discípulos,
funciona como garantia absoluta: aconteça o que acontecer, não devem ter medo,
pois caminharão pela vida e enfrentarão a História amparados pelo Espírito.
Nesta alusão à vinda do Espírito, Jesus afirma que
ainda tem muitas coisas para lhes dizer, mas que ainda não eram capazes de as
entender. Porém, o “Espírito da verdade” guiá-los-á para a verdade plena,
comunicar-lhes-á tudo o que diz respeito a Jesus e ajudá-los-á a interpretar
tudo o que está para vir.
O “Espírito da verdade” não dirá aos discípulos coisas
diferentes das que Jesus disse. O que lhes comunicará é o que ouviu de Jesus
(Ele “não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido”). Porém, houve
coisas que Jesus propôs e que os discípulos se recusaram a entender, porque
ainda não tinham assimilado a lógica de Deus: não entendiam que a melhor forma
de triunfar era gastar a vida a servir os irmãos, simples e humildemente; não aceitavam
que o desígnio de salvação tinha de passar pelo fracasso da cruz, pela entrega
de Jesus a morte infame; não percebiam que era necessário dar a vida até ao
extremo, para chegar à vida verdadeira. Ora, o Espírito ajudá-los-á,
gradualmente, a entender essas verdades aparentemente tão ilógicas que Jesus
lhes tinha dito sobre a rota que leva à vida nova.
Além disso, o Espírito Santo anunciará aos discípulos
“o que está para vir”, isto é, o caminho que percorrerão na História, até ao
final dos tempos. Ao longo do caminho, enfrentarão desafios exigentes, outras
realidades, tempos que exigirão novas respostas. Segundo Jesus, o Espírito da
verdade levará a proposta de Jesus a ecoar, todos os dias, na vida da
comunidade e no coração do crente; ensinará os discípulos a entenderem a nova
ordem que se segue à cruz e à ressurreição; ajudará a perceberem o que fazer
para continuarem fiéis a Jesus e ao Reino de Deus. O Espírito, sempre presente
na vida e na rota dos discípulos, não dará nova doutrina, mas fará com que a
Palavra de Jesus seja a referência da comunidade em caminhada pelo Mundo.
O Espírito irá buscar ao próprio Jesus a verdade que
transmitirá, continuamente, aos discípulos (“receberá do que é meu e vo-lo
anunciará”. Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os discípulos,
comunicando-lhes avida e o amor. A função do Espírito é fazer a comunhão entre
Jesus e os discípulos em marcha pela História.
O trecho evangélico enfatiza a comunhão entre o Pai e
o Filho, a qual atesta a unidade entre o desígnio salvador do Pai, visível nas
palavras de Jesus e concretizado, na Igreja, pelo Espírito.
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Na segunda
leitura (Rm 5,1-5), Paulo
proclama aos cristãos de Roma, o “Evangelho de Deus”, ou seja, que Deus, no seu
amor gratuito e incondicional, justifica todos os seus filhos, pois o seu amor
falará sempre mais alto do que o nosso pecado. E lembra que é por Jesus que os
dons de Deus se derramam em nós e nos oferecem a vida em plenitude.
As tensões dos cristãos de Roma afetavam a unidade e a
comunhão. Os cristãos de origem judaica, julgando-se os “filhos da Lei” e herdeiros
das promessas de Deus, olhavam com sobranceria os cristãos de outras origens
étnicas; os Gregos, cônscios da excelência da sua cultura e sabedoria,
supunham-se em vantagem sobre os outros, na ciência de Deus e da via da
salvação; os Romanos, cidadãos de pleno direito do império, sentiam-se superiores
aos outros. Paulo, ciente disto, diz aos cristãos que são descabidas quaisquer
pretensões de superioridade, pois, diante de Deus, não há grupo que possa
reivindicar, na salvação, estatuto mais favorável. Todos são pecadores e
marcados pela fragilidade. O que vale a Judeus, a Gregos e a Romanos é a
justiça de Deus, derramada de forma igual sobre todos.
Na Bíblia, a “justiça” é, mais do que um conceito
jurídico ou relacional. Define a fidelidade de alguém a si próprio, ao seu modo
de ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Deus Se
manifestou, na História do seu Povo como bondade, misericórdia e amor, dizer
que Deus é justo não quer dizer que aplica os mecanismos legais, quando o homem
infringe as regras, mas que a bondade, a misericórdia, o amor de Deus, se
manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não é correto no
seu proceder. O apóstolo, ao falar do homem justificado, fala do pecador que,
por exclusiva iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe o veredito
da graça que o salva do pecado e lhe dá, gratuitamente, acesso à salvação. Ao
homem é pedido que acolha, humilde e confiantemente, a graça que não depende
dos seus méritos, e que se entregue nas mãos de Deus (a “fé”). Este homem,
objeto da graça de Deus, é nova criatura: o homem ressuscitado para a vida nova,
que vive do Espírito, que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo. O homem
“justificado” por Deus e que acolheu o dom de Deus vive em paz, na paz que veio
por Jesus Cristo, que nos revelou o amor do Pai e nos reconciliou com o Pai.
Assim, apesar das falhas do homem, Deus não o condena.
Reconciliados com Deus, vivemos na esperança e encaramos
as tribulações e as crises na certeza de que vamos ao encontro da vida gloriosa
e plena. A esperança leva-nos encarar a vida na certeza de que a morte não terá
a última palavra e que as forças da vida triunfarão.
A esperança fortalece-se sempre mais, enquanto
caminhamos na Terra, porque o Espírito nos faz experimentar, em cada passo do
caminho, o amor infalível de Deus. O que nos marca a vida, com selo decisivo, é
o amor de Deus, que não é invenção de teólogos ou de catequistas: Jesus Cristo
deu a vida “quando ainda éramos pecadores” para nos mostrar e comprovar o amor
de Deus por nós. A certeza desse amor enche a vida, muda a perspetiva das
coisas e faz-nos caminhar pela vida com os olhos postos na eternidade.
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O Papa Leão XIV, na homilia da Missa da Santíssima Trindade, que assinalou
o Jubileu do Desporto, começou por falar da Sabedoria de Deus, “como primícias
da sua atividade, antes das suas obras mais antigas”, com a sua presença demiurga
alegre e cujo prazer é “estar com os filhos dos homens”. E considerou que, para
Santo Agostinho, Trindade e sabedoria estão intimamente ligadas. A sabedoria “é
revelada na Santíssima Trindade” e “leva-nos sempre à verdade”.
Verificando que o binómio Trindade-desporto raramente é
usado, sustentou que “a associação não é descabida”, porque “toda a boa
atividade humana traz em si um reflexo da beleza de Deus” e “Deus não é
estático, nem está fechado em si mesmo”. Ao invés, “é comunhão, relação viva
entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que se abre à Humanidade e ao Mundo”,
o que a Teologia denomina de pericoresis, isto é, “dança”: “dança
de amor recíproco”.
Diz o Pontífice que “a vida brota deste dinamismo divino”. Com efeito, “fomos
criados por um Deus que se compraz e se alegra” em dar a existência às suas
criaturas e que “brinca”. Alguns Padres da Igreja falam de um Deus
ludens (que se diverte). Assim, o desporto pode ajudar-nos a encontrar o
Deus Trino, visto que “exige um movimento do eu para o outro”, que é exterior e
interior. Sem isso, reduz-se a “uma estéril competição de egoísmos”.
Considera Leão XIV que a expressão “Dá-lhe!”, usada pelos espectadores para
encorajar os atletas nas competições, “é um incentivo muito bonito: é o
imperativo do verbo dar”. “Não se
trata apenas de oferecer uma performance física”, mas “de dar-se, de jogar-se”. “Trata-se de dar-se aos
outros” – diz o Papa – “para o próprio crescimento, para os apoiantes, para os
entes queridos, para os treinadores, para os colaboradores, para o público, até
mesmo para os adversários”, e, sendo verdadeiramente um desportista, isso vale
além do resultado.
Depois, citou São João Paulo II, que falou do desporto, nestes termos: “O
desporto é alegria de viver, jogo, festa, e deve ser valorizado como tal […],
mediante a recuperação da sua gratuitidade, da sua capacidade de estreitar vínculos
de amizade, de favorecer o diálogo e a abertura de uns aos outros […], bem
acima, não só das duras leis da produção e do consumo, mas também de qualquer
outra consideração puramente utilitarista e hedonista da vida.”
A seguir, destacou aspetos do desporto que o tornam precioso meio de
formação humana e cristã.
Numa sociedade marcada pela solidão, em que o individualismo
deslocou o centro de gravidade do “nós” para o “eu”, levando o outro a ser ignorado,
o desporto, sobretudo, se praticado em conjunto, ensina o valor da colaboração,
do caminhar juntos, da partilha que está no coração da vida de Deus. Assim,
pode ser importante instrumento de recomposição e de encontro: “entre os povos,
nas comunidades, nos ambientes escolares e profissionais, nas famílias”.
Numa sociedade cada vez mais digital, em que a tecnologia, que
aproxima pessoas distantes, mas afasta os que estão próximos, o desporto
valoriza “a concretude do estar juntos, o sentido do corpo, do espaço, do
esforço, do tempo real”. E, “contra a tentação de fugir para mundos virtuais, o
desporto ajuda a manter um contacto saudável com a Natureza e com a vida
concreta, único lugar onde é possível exercer o amor”.
E, numa sociedade competitiva, onde parece que só os fortes e
os vencedores merecem viver, o desporto “ensina a perder, colocando o homem
frente a frente, na arte da derrota, com uma das verdades mais
profundas da sua condição: a fragilidade, o limite, a imperfeição”. Assim, é “a
partir da experiência dessa fragilidade que nos abrimos à esperança”. De facto,
não existe “o atleta que nunca erra, que nunca perde”. Depois, é preciso ter
consciência de que “os campeões não são máquinas infalíveis, mas homens e
mulheres que, mesmo derrotados, encontram a coragem para se reerguerem”. Por
isso, São João Paulo II dizia que Jesus é “o verdadeiro atleta de Deus”,
porque venceu o Mundo, não com a força, mas com a fidelidade do amor.
Lembra o Papa que o desporto teve papel significativo na vida de muitos
santos do nosso tempo, como prática pessoal e como meio de evangelização. Um
exemplo é o Beato Pier Giorgio Frassati, padroeiro dos desportistas, que será
proclamado santo a 7 de setembro. A sua vida, simples e luminosa, recorda-nos
que, “assim como ninguém nasce campeão, ninguém nasce santo”. “É o treinamento
diário do amor que nos aproxima da vitória definitiva e nos torna capazes de
trabalhar pela construção de um mundo novo”. Também o afirmou São Paulo VI, que
recordava, 20 após o fim da Segunda Guerra Mundial, aos membros de uma associação
desportiva católica quanto “o desporto tinha contribuído para trazer de volta a
paz e a esperança a uma sociedade devastada pelas consequências da guerra”.
Dizia ele: “Os vossos esforços visam a formação de uma nova sociedade: […]
conscientes de que o desporto, nos sãos elementos formativos que valoriza, pode
ser um instrumento muito útil para a elevação espiritual da pessoa humana,
condição primeira e indispensável para uma sociedade ordenada, serena e
construtiva.”
Por fim, dirigindo-se aos desportistas, Leão XIV disse que a Igreja lhes
confia a missão maravilhosa de serem “reflexo do amor de Deus Trino”, nas suas
atividades, pelo seu próprio bem e pelo bem dos irmãos. E exorta-os a que se
deixem envolver, com entusiasmo, por esta missão: “como atletas, como
formadores, como sociedade, como grupos, como famílias”. E, como o Papa
Francisco vincava que, “no Evangelho, Maria aparece ativa, em movimento, até
mesmo a correr”, pronta a partir para
socorrer os seus filhos – como sabem fazer as mães – ao menor sinal de Deus”,
exorta a que Lhe peçamos que “acompanhe as nossas iniciativas e os nossos
esforços, orientando-os sempre para o melhor, até à vitória definitiva: a da
eternidade, o ‘campo infinito’ onde o jogo não terá fim e a alegria será plena”.
***
Só nos resta
enaltecer a grandeza de Deus e a dignidade da pessoa humana:
“Como sois
grande, em toda a terra, Senhor, nosso Deus!”
“Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, / a
lua e as estrelas que lá colocastes, / que é o homem para que Vos lembreis
dele, / o filho do homem para dele Vos ocupardes?
“Fizestes dele quase um ser divino, / de honra e
glória o coroastes; / destes-lhes poder sobre a obra das vossas mãos, / tudo
submetestes a seus pés:
“Ovelhas e
bois, todos os rebanhos, / e até os animais selvagens, /as aves do céu e os
peixes do mar, / tudo o que se move nos oceanos."
***
"Aleluia. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
ao Deus que é, que era e que há de vir."
2024.06.15 – Louro de Carvalho
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