María
Corina Machado, líder da oposição venezuelana, não chegou a Oslo, a tempo da
cerimónia de entrega do prémio Nobel da Paz, a 10 de dezembro, mas a filha, Ana
Corina Sosa, discursou por ela na Câmara Municipal de Oslo. E, evocando a História
da democracia venezuelana e de como esta acabou nas mãos do regime de Nicolás
Maduro, avisou: “Se queremos democracia, temos de estar dispostos a lutar pela
liberdade.”
Lembrando que a sua geração “nasceu numa democracia vibrante” tomada por “garantida”, Ana Corina Sosa, lendo, em Inglês, o discurso que a mãe preparara para a cerimónia, vincou, aludindo a Hugo Chávez: “Presumíamos que a liberdade era tão permanente como o ar que respirávamos. Valorizávamos os nossos direitos, mas esquecíamos os nossos deveres. […] Quando, finalmente, nos apercebemos da fragilidade das nossas instituições, um homem que outrora liderara um golpe militar para derrubar a democracia foi eleito presidente. Muitos acreditavam que o carisma poderia substituir o Estado de Direito.”
Lembrando que a sua geração “nasceu numa democracia vibrante” tomada por “garantida”, Ana Corina Sosa, lendo, em Inglês, o discurso que a mãe preparara para a cerimónia, vincou, aludindo a Hugo Chávez: “Presumíamos que a liberdade era tão permanente como o ar que respirávamos. Valorizávamos os nossos direitos, mas esquecíamos os nossos deveres. […] Quando, finalmente, nos apercebemos da fragilidade das nossas instituições, um homem que outrora liderara um golpe militar para derrubar a democracia foi eleito presidente. Muitos acreditavam que o carisma poderia substituir o Estado de Direito.”
***
A
líder da oposição venezuelana não esteve na cerimónia de entrega do Prémio
Nobel da Paz, em Oslo, mas a sua filha Ana Corina Sosa leu o discurso que ela preparou
para a ocasião. O lugar de María Corina Machado ficou vazio no pódio.
A 10 de outubro, o Comité Nobel Norueguês anunciou que o prémio deste ano seria atribuído a María Corina Machado “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
A 10 de outubro, o Comité Nobel Norueguês anunciou que o prémio deste ano seria atribuído a María Corina Machado “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
A
líder da oposição venezuelana, que não aparece em público, há 11 meses, deveria
realizar, na tarde do dia 9, uma conferência de imprensa, como é hábito os
laureados fazerem, um dia antes da cerimónia formal de entrega do prémio.
Porém, a conferência foi, primeiro, adiada e cancelada, depois. O Comité Nobel não
especificou se a conferência acontecerá noutro momento. “Não podemos, neste
momento, fornecer mais informações sobre quando e como chegará para a cerimónia
de entrega do Prémio Nobel da Paz”, declarou o seu presidente.
“María
Corina Machado já declarou, em entrevistas, o quão desafiante será a viagem
para Oslo, na Noruega”, disse o comité, num e-mail enviado às redações.
Primeiro, a opositora que vive na clandestinidade, avisou que, enquanto Nicolás
Maduro estiver no poder, não pode abandonar o local onde se encontra, “por
motivos de segurança”. Todavia, depois, avançou que, embora tenha decidido ir à
cerimónia, se não pudesse comparecer, o prémio seria recebido pelos presidentes
do Paraguai, Santiago Peña, e do Panamá, José Raúl Mulino.
Horas
antes da cerimónia, o Comité Nobel Norueguês confirmava que María Corina
Machado não estaria na cerimónia, apesar de ter feito “tudo o que estava ao seu
alcance para estar presente”. Numa pequena nota, falava numa “viagem em
situação de extremo perigo”, explicitando que “embora não tenha conseguido
chegar à cerimónia e aos eventos de hoje, estamos profundamente felizes por
confirmar que ela está bem e que estará connosco em Oslo”. E divulgou, depois,
o telefonema em que ela confirmava que não podia estar presente: “Antes de
mais, em nome do povo venezuelano, quero agradecer, mais uma vez, ao comité
norueguês do Nobel este imenso reconhecimento da luta do nosso povo pela
democracia e pela liberdade. Estamos muito emocionados e honrados, por
isso lamento muito informar que não poderei chegar a tempo.”
A
cerimónia decorre, todos os anos, a 10 de dezembro, aniversário da morte de
Alfred Nobel, em 1896. O evento começou com a atuação do músico venezuelano
Danny Ocean, que vive há vários anos nos EUA.
“A
senhora [María Corina] Machado deverá chegar entre esta noite e quinta-feira de
manhã a Oslo”, disse Kristian Berg Harpviken, diretor do Instituto Nobel
norueguês.
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Antes
de começar a ler o discurso da laureada, a filha agradeceu o prémio, dizendo
que, dentro de poucas horas, poderia abraçá-la, mas outras filhas e filhos não o
poderiam fazer.
O discurso propriamente dito começou com o desejo de contar “a História de um povo e de uma longa marcha pela liberdade”, frisando como a Venezuela teve uma das primeiras constituições democráticas e de tudo o que alcançou ao longo dos séculos. E fez uma referência aos portugueses, entre os refugiados e migrantes – María Corina Machado é descendente de portugueses – que a Venezuela recebeu: “Eles tornaram-se venezuelanos”, destacou, para verificar: “Construímos uma democracia que se tornou na mais estável na América Latina”, mas “até a mais forte democracia enfraquece”.
O discurso propriamente dito começou com o desejo de contar “a História de um povo e de uma longa marcha pela liberdade”, frisando como a Venezuela teve uma das primeiras constituições democráticas e de tudo o que alcançou ao longo dos séculos. E fez uma referência aos portugueses, entre os refugiados e migrantes – María Corina Machado é descendente de portugueses – que a Venezuela recebeu: “Eles tornaram-se venezuelanos”, destacou, para verificar: “Construímos uma democracia que se tornou na mais estável na América Latina”, mas “até a mais forte democracia enfraquece”.
O
discurso prosseguiu com uma referência às eleições presidenciais de julho de
2024 e à forma como a oposição obteve as provas da vitória de Edmundo González
(María Corina Machado foi impedida de se candidatar, apesar de ter ganho as
primárias). Mas o regime não aceitou a derrota. “Este prémio tem um significado
profundo. Lembra ao Mundo que a democracia é essencial para a paz. E mais do
que tudo, o que nós, venezuelanos, podemos oferecer ao Mundo, é a lição forjada
nesta viagem longa. Se queremos democracia, temos de estar dispostos a lutar
pela liberdade”, afiançou a oradora.
O
discurso de María Corina Machado termina com o desejo de ver regressar os nove
milhões de venezuelanos que tiveram de deixar o país. E lembra os presos
políticos, os jornalistas que ficaram sem voz, os artistas, os líderes mundiais
que apoiaram a Venezuela, e “os milhões de venezuelanos anónimos que arriscaram
a sua vida” por amor ao seu país. “A eles pertence o futuro”, conclui.
Por
seu turno, o líder do Comité Nobel Norueguês, o deputado Jørgen Watne Frydnes,
começou a cerimónia falando de vários venezuelanos, presos políticos, que estão
desaparecidos ou detidos pelo regime de Nicolás Maduro: “Alguém que ainda
acredita em dizer a verdade pode desaparecer, violentamente, num sistema
construído, especificamente, para erradicar esta crença. […] Enquanto nos
sentamos aqui, na Câmara Municipal de Oslo, pessoas inocentes estão presas na
Venezuela. Não podem ouvir os discursos, apenas os gritos das pessoas que estão
a ser torturadas”, lamentou.
A
seguir, denunciou: “A Venezuela transformou-se num Estado autoritário e brutal,
enfrentando uma profunda crise humanitária e económica. Enquanto isso, uma
pequena elite no topo, protegida pelo poder político, pelas armas e pela
impunidade legal, enriquece.”
“Quando
a democracia perde, o resultado é mais conflito, mais guerra”, advertiu, observando
que a situação na Venezuela não é única no Mundo, havendo cada vez mais líder
autoritários. “Os regimes autoritários aprendem uns com os outros”, afirmou,
dizendo que, atrás de Maduro, está Cuba, a Rússia, a China, o Irão, o Hezbollah,
que “tornam o regime mais robusto”.
O
discurso de Jørgen Watne Frydnes foi interrompido para forte aplauso ao
presidente eleito da Venezuela, Edmundo González. E um segundo aplauso irrompeu,
após a indicação de que, apesar de não ter chegado a tempo para a cerimónia, María
Corina Machado está em segurança e estaria em Oslo, mais tarde. “As pessoas que
vivem sob ditaduras têm muitas vezes de escolher entre o difícil e o
impossível. No entanto, muitos de nós, a uma distância segura, esperamos que os
líderes democráticos da Venezuela prossigam os seus objetivos com uma pureza
moral que os seus adversários nunca demonstram. Isso é irrealista. É injusto. E
demonstra ignorância histórica”, reiterou o líder do Comité Nobel Norueguês.
Jørgen
Watne Frydnes sustenta que a origem da violência não está nos ativistas, nem nos
opositores, mas em quem está no poder, aludindo às críticas de que a oposição é
alvo por, alegadamente, defender uma invasão. “Esta é a versão da
realidade que o regime de Maduro apresenta ao Mundo: a de que é o garante da
paz. Mas a paz baseada no medo, no silêncio e na tortura não é paz. É
submissão, disfarçada de estabilidade”, enfatizou.
O
deputado centrou-se, depois, na figura da laureada, que pede eleições livres, há
duas décadas, que defende “votos, não balas”. Ora, quando os opositores das
eleições presidenciais do verão de 2024 recolheram as atas das urnas de voto,
para provarem a vitória de Edmundo González, o regime negou tudo e agarrou-se
ao poder. E “María Corina Machado pediu apoio internacional, não a invasão do
país”, reforçou o orador, para deixar uma mensagem a Nicolás Maduro e a outros
líderes autoritários: “O vosso poder não é permanente. A vossa violência
não vai prevalecer sobre pessoas que se erguem e resistem. Senhor Maduro,
aceite o resultado das eleições e demita-se.”
“Hoje,
honramos María Corina Machado. Prestamos também homenagem a todos os que
esperam na escuridão. A todos os que foram presos e torturados, ou que
desapareceram. A todos os que continuam a ter esperança. A todos os que, em
Caracas e noutras cidades da Venezuela, são obrigados a sussurrar a língua da
liberdade. Que nos oiçam agora. Que percebam que o Mundo não se está a
afastar. Que a liberdade está cada vez mais perto. E que a Venezuela se tornará
pacífica e democrática. Que uma nova era amanheça”, concluiu, antes de
chamar a filha da líder da oposição venezuelana, para receber a medalha e o
diploma do Prémio Nobel da Paz.
***
A
irmã da opositora venezuelana, Clara Machado Parisca, afirmou, no dia 9, à
rádio colombiana Blu Radio que o desejo de Corina Machado era
deslocar-se a Oslo, para receber o Nobel, mas escusou-se a garantir a sua
presença na cerimónia do dia 10, na capital norueguesa.
A própria María Corina Machado tinha previsto dar uma conferência de imprensa, no dia 9, no Instituto Nobel de Oslo, a qual começou por ser adiada e, depois, acabou por não acontecer, sem quaisquer explicações por parte do instituto. Em Oslo, segundo a agência EFE, encontrava-se a mãe, Corina Parisca, a irmã e a filha, que estará acompanhada na cerimónia pelos dois irmãos.
A própria María Corina Machado tinha previsto dar uma conferência de imprensa, no dia 9, no Instituto Nobel de Oslo, a qual começou por ser adiada e, depois, acabou por não acontecer, sem quaisquer explicações por parte do instituto. Em Oslo, segundo a agência EFE, encontrava-se a mãe, Corina Parisca, a irmã e a filha, que estará acompanhada na cerimónia pelos dois irmãos.
Esta
não é a primeira vez que um vencedor do Prémio Nobel da Paz está ausente no dia
da entrega.
Quando
o chinês Liu Xiaobo, então preso, ganhou o Prémio Nobel da Paz, em 2010,
ninguém compareceu para receber o prémio. Foi colocada foto sua na cadeira que
fora destinada e a atriz norueguesa Liv Ullmann leu o discurso de aceitação. Em
2022, o bielorrusso Ales Bialiatski, um dos três vencedores do Nobel do ano e
que permanecia na prisão, foi representado pela esposa, Natallia Pinchuk. E,
quando a iraniana Narges Mohammadi, presa, recebeu o prémio em 2023, foram os filhos
que viajaram para Oslo para receberem o prémio e para lerem o discurso.
Além
dos filhos de Machado, várias figuras proeminentes da oposição venezuelana estavam
em Oslo. Entre estas, sobressai Edmundo González Urrutia, candidato nas
eleições presidenciais do ano passado e exilado em Espanha, desde setembro de
2024, que viajou, no dia 9, para a capital norueguesa, marcará presença na
cerimónia. Também já se encontravam ali, a convite da premiada, os presidentes
do Panamá, José Raúl Mulino, e da Argentina, Javier Milei, e esperava-se a
chegada dos chefes de Estado do Paraguai, Santiago Peña, e do Equador, Daniel
Noboa.
Os
quatro presidentes latino-americanos foram recebidos, em audiência, pelo rei da
Noruega, Harald V, depois da cerimónia de entrega do prémio, e reuniram-se,
depois, separadamente, com o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre.
***
Pela
primeira vez na História, uma figura da oposição venezuelana recebe o maior
prémio do Mundo para a defesa da paz e dos direitos humanos. O anúncio veio de
Oslo, mas o seu eco soou alto, em todo o Mundo: María Corina Machado,
figura central da oposição venezuelana, há mais de duas décadas, recebe o Prémio
Nobel da Paz – um salto que não só consagra a sua figura, mas também redefine a
perceção global da luta democrática na Venezuela.
O prémio reconhece “a sua defesa inabalável dos direitos democráticos do povo venezuelano” e a sua “luta para conseguir uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. E coroa uma carreira marcada pelo confronto com o chavismo, pela mobilização dos cidadãos e pelos sucessivos períodos de perseguição política, que limitaram a sua participação institucional e a sua capacidade de ação pública.
O prémio reconhece “a sua defesa inabalável dos direitos democráticos do povo venezuelano” e a sua “luta para conseguir uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. E coroa uma carreira marcada pelo confronto com o chavismo, pela mobilização dos cidadãos e pelos sucessivos períodos de perseguição política, que limitaram a sua participação institucional e a sua capacidade de ação pública.
Engenheira
industrial formada pela Universidade Católica Andrés Bello, María Corina Machado
entrou na vida pública no início dos anos 2000, ao cofundar a organização
Súmate, para promover a participação eleitoral e a transparência nos processos
eleitorais. O seu papel no referendo de 2004 contra Hugo Chávez pô-la no centro
do debate político. Em 2010, foi eleita deputada, embora tenha perdido, em
2014, o mandato, depois de participar como representante suplente do
Panamá numa sessão da Organização dos Estados Americanos (OEA). Desde
então, tem-se afirmado como uma das vozes mais fortes contra o chavismo,
denunciando a deterioração institucional e exigindo mudança política baseada em
eleições livres.
É
a figura cuja dedicação pessoal às liberdades fundamentais inspirou
milhões de venezuelanos dentro e fora do país. O Comité Nobel fala da sua
liderança como “estritamente não violenta”, tendo contribuído para evitar um
cenário de confronto armado no país.
A
sua primavera política ressurgiu, em força, em 2023, quando venceu as
primárias da oposição, com mais de 90% dos votos. A sua popularidade
cresceu e a sua candidatura desencadeou uma onda de esperança que se espalhou entre
os setores desencantados e os afastados da oposição. O regime reagiu, reinstalando
a estratégia utilizada contra outros líderes da oposição: desqualificação política,
restrições à circulação e vigilância constante. E foi impedida de concorrer às
eleições presidenciais. Porém, em 2024, a sua visibilidade internacional deu um
salto decisivo, quando o Conselho da Europa lhe atribuiu o Prémio Václav Havel
para os Direitos Humanos, em reconhecimento do seu trabalho de denúncia das
violações das liberdades fundamentais na Venezuela e da sua defesa persistente
da via democrática.
O
comité sublinha que, apesar das ameaças, das detenções e dos atentados, Machado
recusou abandonar o país e continuou a apelar à pressão internacional
combinada com uma mobilização interna não violenta. Este empenho na paz e na
democracia é, segundo o júri, o seu contributo mais decisivo num momento
regional marcado pela polarização. O prémio foi interpretado como apoio global
ao povo venezuelano e aviso ao regime de que a comunidade internacional
continua vigilante. E o comité Nobel salienta
que o seu trabalho teve repercussões além da Venezuela: o seu movimento
tornou-se modelo de organização civil em sociedades polarizadas e a sua
trajetória pode servir de guia para outras lutas democráticas. Machado é a voz
que tentaram apagar e que, agora, está mais alta do que nunca.
***
É
abjeto o regime que tolhe a liberdade de expressão cidadã e política, bem como
a liberdade de circulação, e persegue, suave ou violentamente, os opositores. E
fica o aviso: “A democracia e as liberdades nunca estão garantidas.”
2025.12.11 – Louro de Carvalho
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