A
Comissão Europeia, tendo identificado oito projetos-chave no domínio da
energia, no âmbito do Pacote de Redes Europeias, vai lançar um plano de cerca
de 1,2 mil milhões de euros, que esteve em consulta pública, até ao início do
passado mês de agosto, e que se destina a ajudar os estados-membros da União Europeia
(UE) a acelerar as licenças para infraestruturas de rede, projetos de energias
renováveis e de armazenamento, na tentativa de modernizar a rede elétrica do
bloco e de aumentar o transporte de eletricidade na UE27. O executivo europeu
vai também apoiar projetos de armazenamento e de hidrogénio.
Como referia, a 16 de setembro, no ECO online, em artigo de opinião, António Lobão Teles, “em resposta ao blackout [apagão] na Península Ibérica, foi anunciado o Pacote de Redes Europeias, no âmbito da Bússola para a Competitividade e do Pacto da Indústria Limpa”, e cuja adoção pela Comissão Europeia está prevista para o final de 2025.
Como referia, a 16 de setembro, no ECO online, em artigo de opinião, António Lobão Teles, “em resposta ao blackout [apagão] na Península Ibérica, foi anunciado o Pacote de Redes Europeias, no âmbito da Bússola para a Competitividade e do Pacto da Indústria Limpa”, e cuja adoção pela Comissão Europeia está prevista para o final de 2025.
O
pacote prevê, ainda segundo Lobão Teles, propostas legislativas para modernizar
e expandir redes elétricas e para agilizar o licenciamento de projetos de
energias renováveis – propostas que atuem em problemas fundamentais das redes
europeias e catalogáveis nos seguintes itens: insuficiente capacidade instalada
renovável, pois há significativo gap (lacuna) entre as necessidades de
expansão da rede e os projetos de desenvolvimento da rede, o que impede a
descarbonização do sistema energético europeu; licenciamento lento de projetos
de energias renováveis, a que se junta a execução morosa de projetos de
produção, de armazenamento e de infraestruturas de energias renováveis,
comprometendo os objetivos de transição energética; e segurança insuficiente
das infraestruturas transfronteiriças.
O
Regulamento Redes Transeuropeias de Energia (RTE-E) estabelece o quadro
jurídico para infraestruturas energéticas transfronteiriças da UE. Na revisão
de 2022, incluiu infraestruturas de hidrogénio, redes offshore e
projetos transfronteiriços com países vizinhos.
O
Pacote de Redes Europeias propõe a otimização do quadro jurídico das redes
energéticas, como o RTE-E, promovendo o planeamento integrado e
transfronteiriço das redes europeias, visando medidas como: melhoria do
planeamento das redes de distribuição, com foco em eficiência energética,
digitalização e inovação; agilização dos processos de licenciamento de redes,
renováveis e armazenamento, com avaliações ambientais otimizadas e a redução de
prazos para as licenças; e apoio ao desenvolvimento de infraestruturas de
hidrogénio e de dióxido de carbono (CO2), removendo barreiras ao
investimento e visando a eletrificação da economia.
A
modernização de infraestruturas, a expansão das redes e a simplificação do
licenciamento de projetos de energias renováveis contribuirá para a UE reforçar
a sua segurança energética e para alcançar as metas de médio prazo, em matéria
de energia e clima. E, a nível económico, o reforço, a simplificação a melhor integração
da rede energética europeia contribuem para a valorização do setor europeu da
energia, viabilizando novos investimentos e reforçando a atração de
investidores para este setor, potenciando o comércio de energia
transfronteiriço, com menores custos para o consumidor final.
***
O
sistema de planeamento e licenciamento da rede tem sido criticado como
fragmentado e como inadequado ao ritmo da expansão necessária, constituindo obstáculo
significativo à integração das energias renováveis. Os estados-membros e os
intervenientes da indústria têm apelado ao executivo da UE para acelerar o
processo de licenciamento, já que os projetos de energias renováveis podem
levar até nove anos a serem adjudicados, provocando atrasos e custos
adicionais. No âmbito do próximo plano de renovação da rede elétrica do bloco
de 27 membros, o executivo da UE identificou oito projetos para reforçar as
estruturas existentes e para assegurar recursos, com o objetivo de ver progressos
concretos, nos próximos seis a nove meses. Estes projetos incluem interconexões
elétricas, armazenamento e hidrogénio.
O plano centra-se nas ligações à rede, através dos Pirenéus, para melhor integrar a Península Ibérica, na ligação de Chipre à Europa continental e na ligação dos Estados Bálticos, através da ligação da Lituânia e da Polónia. A Comissão Europeia apoiará, igualmente, o desenvolvimento duma plataforma de interconexão offshore na Dinamarca, visto que vê potencial para se expandir e para se ligar a outros pontos do Mar Báltico. E, além disso, pretende reforçar as capacidades de armazenamento de energia, na região Sudeste, e promover a coordenação, para desenvolver o corredor meridional de hidrogénio a ligar a Tunísia, a Itália, a Áustria e a Alemanha.
O plano centra-se nas ligações à rede, através dos Pirenéus, para melhor integrar a Península Ibérica, na ligação de Chipre à Europa continental e na ligação dos Estados Bálticos, através da ligação da Lituânia e da Polónia. A Comissão Europeia apoiará, igualmente, o desenvolvimento duma plataforma de interconexão offshore na Dinamarca, visto que vê potencial para se expandir e para se ligar a outros pontos do Mar Báltico. E, além disso, pretende reforçar as capacidades de armazenamento de energia, na região Sudeste, e promover a coordenação, para desenvolver o corredor meridional de hidrogénio a ligar a Tunísia, a Itália, a Áustria e a Alemanha.
Um
projeto de corredor de hidrogénio entre Portugal e a Alemanha será também
objeto de “forte coordenação” e de “apoio político”, por parte da Comissão Europeia.
O
bloco tem a obrigação legal de atingir a neutralidade climática, até 2050, pelo
que tem investido, fortemente, na produção de energias renováveis. Todavia, a
infraestrutura obsoleta de transporte de energia elétrica está a criar enorme
atraso nos projetos de energias renováveis, que aguardam ligação à rede, e a
prejudicar a transição climática. E, neste momento, a UE27 não está no bom
caminho para atingir os seus objetivos de interligação da rede, de 15%, até
2030, pois 14 estados-membros ainda não atingiram esse objetivo.
O
plano da Comissão Europeia visa combater as infraestruturas obsoletas do bloco,
sobretudo, na capacidade de transmissão entre os estados-membros, e melhorar a
digitalização, para garantir a adaptação das infraestruturas à futura procura
de eletricidade e às necessidades da transição energética. De acordo com
funcionários do organismo regulador da energia do bloco, a Agência de
Cooperação dos Reguladores da Energia (ACER), incidentes como o apagão de 28 de
abril deste ano, na Península Ibérica, que afetou mais de 60 milhões de
pessoas, poderiam ser evitados, se as redes fossem melhoradas. E, se o pacote
da Comissão Europeia, se concretizar, facilitará a integração das energias
renováveis e reduzirá, potencialmente, os custos da energia, ao longo do tempo,
dado que os preços da eletricidade no bloco continuam a ser duas a três vezes
superiores aos dos EUA, de acordo com os relatórios Draghi e Letta.
O
plano pode também ajudar as regiões a beneficiar de ligações transfronteiriças
e de uma melhor integração da produção local de energia solar ou eólica, bem
como a aumentar a eficiência das importações e exportações. As implicações de
ter uma rede modernizada serão de grande alcance, porque a UE pode melhorar a
capacidade para veículos elétricos, para bombas de calor e para descarbonizar a
indústria pesada.
Tom
Lewis, especialista em política energética da organização não-governamental (ONG)
ambiental Climate Action Network Europe (CAN Europe), congratulou-se com o
plano da Comissão Europeia, por facilitar a transição do bloco para uma rede
totalmente renovável e resiliente. “Através de um novo planeamento a nível
europeu, podemos expandir e modernizar as redes de forma mais eficaz,
maximizando, simultaneamente, a utilização das nossas redes existentes”,
afirmou Tom Lewis, sustentando que novas regras de participação pública e de partilha
de benefícios “permitirão aos cidadãos colher os benefícios das energias
renováveis, reforçar o apoio público e evitar atrasos na transição”.
Não
obstante, a CAN Europe apela à prudência, para evitar retrocessos ambientais e
reações do público contra o desenvolvimento da rede. E, para antecipar
potenciais contratempos, recomenda aos decisores políticos que deem prioridade
à implementação da lei das energias renováveis do bloco, à digitalização dos
processos de licenciamento e à dotação de pessoal e financiamento adequados às
autoridades de licenciamento nacionais e locais.
Kristian
Ruby, secretário-geral da Eurelectric, associação comercial que representa a
indústria da eletricidade, instou os decisores da UE a valorizarem a energia
hidroelétrica por bombagem indispensável, pois representa mais de 90% da
capacidade global de armazenamento de eletricidade. “À medida que aumentamos a
energia eólica e solar, a uma velocidade sem precedentes, temos de investir em
soluções de armazenamento de longa duração que mantenham o sistema fiável,
acessível e resiliente”, afirmou num evento, em setembro, em Paris.
O
executivo da UE estimou um investimento gigantesco de 1,2 mil milhões de euros
para renovar a infraestrutura da rede elétrica do bloco, até 2040, sendo
necessários cerca de 730 mil milhões de euros, para investimentos na rede de
distribuição, e 477 mil milhões de euros, para as redes de transporte. E,
embora a forma como o financiamento será estruturado ainda não esteja clara, a
UE teria de recorrer a uma série de opções, incluindo fundos comunitários,
orçamentos nacionais, investimento privado e partilha de custos, especialmente,
tendo em conta a grande escala do investimento necessário.
A
Eurelectric apelou à Comissão Europeia para que criasse um mecanismo de rede
descentralizada no orçamento plurianual da UE, abrangendo o período entre 2028
e 2034, entre outros. E a indústria, em geral, sugere que a UE reserve uma
parte dos fundos para a eletrificação, para a modernização, para a atualização
ou para a expansão da rede de distribuição.
***
Portugal
antecipou-se e, entre as 31 medidas apresentadas, em fins de julho, pela
ministra do Ambiente e Energia, conta-se o lançamento dum leilão para baterias
de armazenamento, até 2026, bem como apoios de 25 milhões em fundos europeus,
para projetos-piloto em infraestruturas críticas, como painéis fotovoltaicos,
em hospitais. O governo previa, então, investir até 400 milhões de euros, nas
referidas 31 medidas, para impedir que o país fique, de novo, sem energia, como
sucedeu aquando do apagão que afetou também Espanha e partes de
França.
A ministra Maria da Graça Carvalho assegurava que o impacto do Plano de Reforço da Segurança do Sistema Elétrico Nacional para os contribuintes seria residual. “Estimamos que, por cada 25 euros de fatura de eletricidade, se verifique o impacto de um cêntimo, ou seja, 0,04%. É um valor ínfimo, se olharmos para todo este investimento como um seguro feito na nossa rede energética”, afirmou a governante, em conferência de imprensa, em Lisboa.
A ministra Maria da Graça Carvalho assegurava que o impacto do Plano de Reforço da Segurança do Sistema Elétrico Nacional para os contribuintes seria residual. “Estimamos que, por cada 25 euros de fatura de eletricidade, se verifique o impacto de um cêntimo, ou seja, 0,04%. É um valor ínfimo, se olharmos para todo este investimento como um seguro feito na nossa rede energética”, afirmou a governante, em conferência de imprensa, em Lisboa.
Uma
das principais medidas é um leilão para baterias de armazenamento de,
pelo menos, 750 MVA de potência, até 2026, e a abertura de concurso, com
fundos europeus, no valor de 25 milhões de euros, para melhorar a capacidade de
resposta de infraestruturas críticas.
MVA,
em eletricidade, significa Megavolt-Ampere, unidade de potência aparente que
representa a potência total num circuito elétrico, combinando potência real, quilowatt
(kW), e reativa, quilovolt-ampere reativo (kVAR), a energia elétrica emprestada
para criar campos magnéticos em equipamentos indutivos (motores,
transformadores), que não gerando trabalho útil, é essencial para o
funcionamento. É crucial para classificar grandes equipamentos, como
transformadores, e para definir níveis de tensão (Média Tensão (MT), geralmente,
acima de 200 kVA até 10 MVA, e Alta Tensão (AT), acima de 10 MVA), e a
capacidade de instalações industriais.
Serão
implementados projetos-piloto baseados em baterias e em painéis fotovoltaicos
para hospitais ou para empresas de água e de saneamento básico. “Há, aqui, todo
um novo paradigma da produção de eletricidade. No passado, tínhamos grandes
centrais, centrais a carvão, centrais hídricas. Nós, agora, temos projetos de
energia descentralizados, de autoconsumo, com painéis fotovoltaicos. Precisamos
de uma rede que aguente todo este novo modelo de produção de energia”,
salientou Maria da Graça Carvalho.
Será,
igualmente, acelerado um investimento de 137 milhões de euros, para
reforço da capacidade de operação e de controlo da rede elétrica. Este montante
estava previsto pela REN – Redes Energéticas Nacionais e aprovado pela Entidade
Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), mas é agilizado com a aprovação de
uma autorização autónoma para que possa ser executado “o mais rapidamente
possível”.
Do
plano do consta o aumento do número de centrais que prestam serviço de
auxílio ao arranque autónomo do sistema (black start), passando a
ser quatro ao todo: às centrais da Tapada do Outeiro e de Castelo de Bode
juntam-se as do Baixo Sabor e Alqueva. É garantido o funcionamento da
central da Tapada do Outeiro, até 2030, com a atual faculdade de arranque
autónomo.
Alterar-se-ão
os sistemas de controlo da rede elétrica, avançando-se com maior informatização
num sistema único de recolha de dados, e haverá um mapa verde para “as
zonas preferenciais de produção energia renovável”, o qual ficará pronto
até ao final do ano e indicará os locais onde a produção de energia renovável
terá menos impacto”. “Este mapa é um fator de segurança para qualquer
investidor, que saberá que naquela área terá já um estudo ambiental
estratégico, que será uma autorização muito simples e não um estudo ambiental
detalhado, como agora, mais moroso e que exige pareceres de várias entidades”, observou
a governante, adiantando que o executivo estava a estudar a possibilidade
de uma ligação elétrica com Marrocos.
Graça
Carvalho confirmou que foram estabelecidos contactos entre os ministros dos
Negócios Estrangeiros dos dois países, num passo “muito preliminar” a ser
complementado com uma reunião técnica entre representantes portugueses e
marroquinos, em Lisboa. Será equacionado o papel de Portugal como ponto de
conexão entre Marrocos e o centro da Europa. Com efeito, Rabat já beneficia de
uma ligação a Espanha e tem mais interesses no continente europeu, estando já a
estudar uma solução com a Alemanha. Para Portugal, um projeto “novo, de
raiz, será muito dispendioso”, mas o executivo vai avaliar a sua viabilidade.
O
grupo de acompanhamento, criado pelo governo, após o apagão elétrico de 28 de
abril, ficou de apresentar um relatório, no final de outubro, com uma série de
recomendações para a melhoria da rede elétrica nacional. A ministra lembrou
que, segundo a legislação europeia, há sempre um relatório a emitir sobre o
assunto. O documento, a nível europeu, seria produzido pela entidade que junta
os operadores de rede dos estados-membros que teria a reunião final em outubro,
devendo ser conhecido o relatório com as causas do apagão, dois a três meses
após essa reunião.
Haverá
um outro relatório dos reguladores de energia, que será completamente
independente, porque não tem nenhum dos operadores. De acordo com Graça
Carvalho, deveria ficar pronto, na mesma altura do relatório da entidade que
reúne os operadores de rede, o qual concluiu que o apagão ibérico foi causado
por falhas em cascata, na produção renovável, ou seja, foi provocado pela
sucessão de falhas súbitas de produção renovável e pela subsequente perda de
sincronismo com a rede continental europeia.
***
O
problema é europeu, mas os países ibéricos são mais vulneráveis, nesta área, o
que se repercute em vertentes conexas com o Pacote de Redes Europeias, como o Pacote
dos Serviços Digitais – Regulamento dos Serviços Digitais (RSD) e Mercado dos
Serviços Digitais (MSD) –, bem como nos instrumentos para 5G e em políticas de
redes transeuropeias. Efetivamente, importa a eficaz modernização e o real fortalecimento
da infraestrutura digital e de conectividade.
2025.12.08
– Louro de Carvalho
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