No
seu discurso, a 26 de setembro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU), em Nova Iorque, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,
dirigiu-se, diretamente, aos reféns detidos pelo Hamas, em Gaza, dizendo: “Não
vos esquecemos.”
Durante o discurso, usou um código QR na lapela que remetia para um site com fotos e vídeos do atentado de 7 de outubro de 2023. Exibiu também quadros e fez um pequeno “quiz” sobre quem diz serem os inimigos comuns de Israel e de outros países ocidentais. E lembrou que o Hamas atravessou a fronteira Israel-Gaza e matou 1200 pessoas, raptando cerca de 250. Dos 48 reféns que permanecem em Gaza, Netanyahu diz que 20 estão vivos e deu os seus nomes.
Durante o discurso, usou um código QR na lapela que remetia para um site com fotos e vídeos do atentado de 7 de outubro de 2023. Exibiu também quadros e fez um pequeno “quiz” sobre quem diz serem os inimigos comuns de Israel e de outros países ocidentais. E lembrou que o Hamas atravessou a fronteira Israel-Gaza e matou 1200 pessoas, raptando cerca de 250. Dos 48 reféns que permanecem em Gaza, Netanyahu diz que 20 estão vivos e deu os seus nomes.
Todavia,
esqueceu que, desde então, os ataques de Israel já mataram mais de 65 mil
pessoas na Faixa de Gaza, na maioria civis, segundo números das autoridades
locais controladas pelo Hamas que a ONU considera fidedignos.
***
O
gabinete do primeiro-ministro anunciou que os altifalantes do lado israelita da
fronteira iriam transmitir o discurso de Benjamin Netanyahu para Gaza, como
parte do que chama um “esforço informativo”.
Porém, antes que Benjamin Netanyahu começasse a discursar, houve tumulto no areópago da ONU. Delegados de vários países retiraram-se, em protesto, enquanto outras pessoas na plateia aplaudiam. Isso não foi surpresa. Já em 2024, vários delegados saíram sala, durante o discurso do primeiro-ministro de Israel. Aliás, o embaixador israelita na ONU já tinha afirmado, mesmo antes de acontecer, que a saída dos delegados tinha sido organizada pela missão palestiniana. Não obstante, o discurso deste ano durou 40 minutos, ultrapassando os 15 minutos que lhe estavam destinados.
Exibindo um mapa que mostrava aquilo a que chamou de “a maldição do eixo terrorista do Irão”, afirmou que grande parte dos representantes de Teerão tinha sido dizimada pelas forças armadas israelitas. Falando para os reféns, garantiu, em hebraico e em inglês, que o governo não descansaria, enquanto não os trouxesse “a todos para casa”. Ao mesmo tempo, intimou o Hamas a que “deponha as armas” e liberte já os reféns. “Israel vai perseguir-vos”, avisou Netanyahu.
Porém, antes que Benjamin Netanyahu começasse a discursar, houve tumulto no areópago da ONU. Delegados de vários países retiraram-se, em protesto, enquanto outras pessoas na plateia aplaudiam. Isso não foi surpresa. Já em 2024, vários delegados saíram sala, durante o discurso do primeiro-ministro de Israel. Aliás, o embaixador israelita na ONU já tinha afirmado, mesmo antes de acontecer, que a saída dos delegados tinha sido organizada pela missão palestiniana. Não obstante, o discurso deste ano durou 40 minutos, ultrapassando os 15 minutos que lhe estavam destinados.
Exibindo um mapa que mostrava aquilo a que chamou de “a maldição do eixo terrorista do Irão”, afirmou que grande parte dos representantes de Teerão tinha sido dizimada pelas forças armadas israelitas. Falando para os reféns, garantiu, em hebraico e em inglês, que o governo não descansaria, enquanto não os trouxesse “a todos para casa”. Ao mesmo tempo, intimou o Hamas a que “deponha as armas” e liberte já os reféns. “Israel vai perseguir-vos”, avisou Netanyahu.
Aos
reféns israelitas o chefe do governo disse: “Aos nossos bravos heróis, é o
primeiro-ministro Netanyahu a falar convosco, em direto das Nações Unidas. [...] Não
vos esquecemos, nem por um segundo. O povo de Israel está convosco, não
vacilaremos e não descansaremos até vos trazer a todos para casa.”
Ao
Hamas deixou um apelo-ameaça: “Libertem os reféns, agora. Se o fizerem,
viverão. Se não o fizerem, Israel irá apanhar-vos.”
Aos
líderes mundiais, no seu longo discurso, o chefe do governo israelita acusou de
“se dobrarem”, após o ataque de 7 de outubro de 2023, e de “cederem”, em vez de
apoiarem Israel. “Cederam, perante a pressão de meios de comunicação
tendenciosos, vozes radicais islâmicas da sua base e de multidões antissemitas”,
frisou, para dizer que Israel tem vindo a travar uma “guerra em sete frentes
contra o barbarismo”, durante grande parte dos últimos dois anos.
“Assombrosamente,
enquanto nós combatemos os terroristas que assassinaram muitos dos vossos
cidadãos, vocês lutam contra nós. [...] Vocês condenam-nos, embargam-nos e
empreendem contra nós [uma] guerra política e jurídica”, acusou.
Mais
considerou que reconhecer um Estado da Palestina é uma “recompensa aos piores
antissemitas da Terra”. E, em resposta aos países europeus que têm vindo a
fazê-lo, argumentou que “todos os governos” deviam seguir o exemplo de
Donald Trump, ao recusar tomar essa medida. Com efeito, na perspetiva de Israel,
“quase 90% dos palestinianos” apoiaram o ataque do Hamas, em 7 de outubro de
2023. E Benjamin Netanyahu descreveu a decisão de reconhecer um Estado
palestiniano como uma “mensagem muito clara”: “Matar judeus compensa.”
O
primeiro-ministro de Israel disse que os elementos que restam do Hamas
estão escondidos na cidade de Gaza e que, por isso, Israel tem de acabar o seu
trabalho, sob pena de ver repetidos ataques, como o de 7 de outubro. E
acrescentou: “Senhoras e senhores, grande parte do Mundo já não se lembra de 7
de outubro. Mas nós lembramo-nos.”
O
conflito começou quando militantes liderados pelo Hamas atacaram o Sul de
Israel, a 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas, a maioria civis,
o que Benjamin Netanyahu considerou um ato de “selvageria indescritível”.
O
Hamas fez 251 pessoas reféns e mantém atualmente 48, das quais 20 Israel
acredita que ainda estão vivas. “Israel está a travar a vossa luta”, afirmou o primeiro-ministro
israelita, mencionando o que chamou de ascensão do islamismo radical em países
de todo o Mundo.
Ao
exibir o mapa da “maldição do eixo terrorista do Irão”, enfatizou que muitos
dos representantes de Teerão tinham sido dizimados pelas forças armadas
israelitas, citando como exemplos o Hamas, em Gaza, o Hezbollah, no Líbano, e
os Houthis, no Iémen.
“Os
nossos inimigos odeiam-nos a todos”, disse Benjamin Netanyahu, negando a
evidência de que está a perpetrar um genocídio em Gaza, afirmando que Israel
deixou entrar dois milhões de toneladas de ajuda na Faixa de Gaza, mas
esquecendo os bloqueios que ordenou à ajuda, que geraram fome a alastrar, subnutrição,
epidemias, mortes, civis feridos (e mortos, incluindo funcionários da ONU e jornalistas),
e milhares de deslocados ou encurralados.
***
Hipocritamente,
o chefe de governo de Israel deixou a anexação da Cisjordânia de fora do
discurso. Na verdade, o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald
Trump, assegurou, na véspera, que não permitirá que Israel anexe a Cisjordânia
ocupada, dando fortes garantias de que bloqueará uma ação à qual os líderes
árabes da região se têm oposto firmemente.
Questionado sobre o facto de as autoridades israelitas terem sugerido, nas últimas semanas, que o seu governo poderia tomar o controlo de, pelo menos, algumas partes da Cisjordânia, o inquilino da Casa Branca foi direto. “Não permitirei que Israel anexe a Cisjordânia”, disse aos repórteres, no Sala Oval, enquanto assinava ordens executivas não relacionadas com a política externa. “Não o permitirei. Isso não vai acontecer”, enfatizou.
Questionado sobre o facto de as autoridades israelitas terem sugerido, nas últimas semanas, que o seu governo poderia tomar o controlo de, pelo menos, algumas partes da Cisjordânia, o inquilino da Casa Branca foi direto. “Não permitirei que Israel anexe a Cisjordânia”, disse aos repórteres, no Sala Oval, enquanto assinava ordens executivas não relacionadas com a política externa. “Não o permitirei. Isso não vai acontecer”, enfatizou.
A
possibilidade de anexação foi aventada em Israel em resposta a uma série de
países, incluindo os principais aliados dos EUA, como o Reino Unido, a Espanha
e o Canadá, que reconhecem um Estado palestiniano, tal como a França, o Luxemburgo,
Malta, o Mónaco, Andorra, a Bélgica e Portugal também o reconheceram, na
Assembleia Geral da ONU, deste ano.
Donald
Trump disse ter falado com Benjamin Netanyahu e que será firme em não permitir
a anexação, acrescentando: “Já foi o suficiente. É altura de parar, agora.”
O
presidente dos EUA tem sido um firme apoiante de Israel, mas tem procurado
mediar o fim dos combates contra o Hamas, em Gaza. E os seus comentários do dia
25 constituíram um raro exemplo de potencial resistência contra altos
funcionários israelitas.
A
verdade é que, no início de setembro, o primeiro-ministro de Israel assinou um
acordo para avançar com um controverso plano de expansão de colonatos que irá
atravessar terrenos que os palestinianos esperam que constituam a base de um
futuro Estado. “Não haverá um Estado palestiniano”, afirmou, durante uma visita
ao colonato de Maale Adumim, na Cisjordânia, vincando: “Este lugar
pertence-nos... Vamos salvaguardar o nosso património, a nossa terra e a nossa
segurança. Vamos duplicar a população da cidade.”
O
Comité Superior de Planeamento de Israel deu, em agosto, a aprovação final ao
projeto de colonização E1, na Cisjordânia ocupada. O plano, num terreno aberto
a Leste de Jerusalém, esteve em estudo, durante mais de duas décadas, mas foi
congelado, devido à pressão dos EUA, durante as administrações norte-americanas
anteriores.
Ora,
o momento é preocupante, visto que Israel está a levar a cabo uma ofensiva
militar de grande envergadura, na tentativa de tomar a cidade de Gaza, enquanto
expande os colonatos na Cisjordânia, que são ilegais, à luz do direito
internacional.
É
de recordar Israel conquistou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de
Gaza na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Os palestinianos querem que os três
territórios constituam o seu futuro Estado. Porém, os palestinianos, tal como
grande parte da comunidade internacional, afirmam que a anexação acabaria com
qualquer possibilidade de uma solução de dois Estados, que é vista,
internacionalmente, como a única forma de resolver décadas de conflito
israelo-árabe.
Benjamin
Netanyahu tem visita agendada à Casa Branca, para 29 de setembro, na sua quarta
viagem a Washington desde o início do segundo mandato de Donald Trump, em
janeiro.
***
Voltando
ao discurso do chefe do governo israelita, dizem alguns observadores que Benjamin
Netanyahu pretendeu falar, diretamente, ao povo norte-americano. Fez
referências ao 11 de setembro, agradeceu, nominalmente, ao presidente dos EUA,
o que arrancou aplausos da delegação do país e disse que Donald Trump está do
seu lado, em relação à situação com o Irão.
O primeiro-ministro de Israel tem, constantemente, tentado retratar a guerra em Gaza como um confronto entre o bem e o mal e enquadrar as ações de Israel como “uma luta contra o terrorismo”.
O primeiro-ministro de Israel tem, constantemente, tentado retratar a guerra em Gaza como um confronto entre o bem e o mal e enquadrar as ações de Israel como “uma luta contra o terrorismo”.
No
discurso na ONU, não foi diferente. Usou o púlpito para rebater a organização e
a grande maioria dos países que, juntos, exigem um cessar-fogo imediato, a libertação
dos reféns do Hamas, o fim da construção de assentamos e a criação do Estado palestiniano.
Negou que Israel esteja, deliberadamente, atacando civis, e rejeitou acusações
de genocídio ou que esteja a fazer com que as pessoas passem fome, de
propósito.
No
entanto, no início de setembro, uma comissão de inquérito da ONU afirmou que
Israel cometeu genocídio contra palestinianos, em Gaza. A comissão citou
declarações de líderes israelitas e o padrão de conduta das forças israelitas
como evidência de intenção genocida. Contudo, o Ministério dos Negócios
Estrangeiros de Israel diz que o relatório é distorcido e falso.
Netanyahu
deixou o palco sob aplausos de pé da delegação e de um grande grupo de
observadores na sacada acima do salão da Assembleia Geral. Alguns ergueram os
punhos em apoio ao primeiro-ministro israelita – um forte contraste com os
assentos oficiais dos delegados no salão principal abaixo, que estavam
praticamente vazios.
***
Em
síntese, o primeiro-ministro focou-se na “maldição do eixo terrorista do Irão”.
Em diversos momentos, exibiu cartazes, um deles com o questionamento: “Quem
grita morte à América?”, seguido de opções que incluía os Houthis, o Hezbollah,
o Hamas, o Irão ou “todas as opções acima”. E disse que “[Donald Trump] entende
melhor do que qualquer outro líder que Israel e os Estados Unidos [da América] enfrentam
uma ameaça comum”.
Destacou alguns dos sucessos de Israel em combater esses grupos, no último ano. Tocando nos países no mapa, mencionou diferentes líderes, incluindo Yahya Sinwar, do Hamas, Hassan Nasrallah, do Hezbollah, e os principais cientistas atómicos do Irão. Todos “se foram”, afirmou.
Destacou alguns dos sucessos de Israel em combater esses grupos, no último ano. Tocando nos países no mapa, mencionou diferentes líderes, incluindo Yahya Sinwar, do Hamas, Hassan Nasrallah, do Hezbollah, e os principais cientistas atómicos do Irão. Todos “se foram”, afirmou.
Após
serem instalados altifalantes na fronteira de Gaza para transmitir o seu
discurso para o território, Benjamin Netanyahu dirigiu-se, diretamente, aos
reféns mantidos pelo Hamas, garantindo não se esquecer deles e que o povo de
Israel está com eles. E, em determinado momento, sugeriu que grande parte do Mundo
se esqueceu dos ataques de 7 de outubro e apontou para um código QR na lapela
do seu casaco que, segundo ele, continha o motivo “pelo qual devemos lutar e
pelo qual devemos vencer”.
Negou
ter atacado civis em Gaza, e disse que o seu país distribuiu “milhões de
panfletos” pedindo para que a população evacuasse o território. Também negou
que esteja a fazer com que as pessoas passem fome. Na sua ótica, se há
moradores de Gaza que não têm comida suficiente, é porque o Hamas “rouba,
acumula e vende”. A respeito das acusações de genocídio, perguntou se um país
que comete genocídio imploraria à população para que se afastasse do perigo:
“Os nazistas pediram aos judeus que partissem?”, questionou.
No
encerramento do seu discurso, o primeiro-ministro israelita criticou, em particular,
a decisão do Reino Unido e da França de reconhecerem o Estado palestiniano, classificando
esse movimento de “suicídio nacional” para Israel. “É pura loucura, é insano e
não faremos isso”, concluiu, acrescentando que o reconhecimento por parte de
outros países é “vergonhoso”.
***
O
discurso do líder do governo de Israel foi altamente hipócrita e assaz acusador.
Foi hipócrita, pois acusou os malefícios do Hamas, mas esqueceu, ostensivamente,
a reação desproporcionada que adotou em relação ao que ele chama de grupo
terrorista, bem como o bloqueio sistemático à ajuda humanitária. Foi acusador,
porque insultou quantos se declararam opostos à sua política em algum aspeto e,
imputando-lhes todos os males que impendem sobre Israel, responsabiliza-os pela
crescente onda de antissemitismo.
É vergonhoso que negue a sua responsabilidade no espectro de fome generalizada, em Gaza.
É vergonhoso que negue a sua responsabilidade no espectro de fome generalizada, em Gaza.
Salienta
a diferença entre o tratamento que faz à população da Faixa de Gaza e o que
faziam os nazis alemães aos judeus, não avisando a população. É verdade que os israelitas
mandam evacuar Gaza, mas apertam os palestinianos no Sul da Faixa de Gaza. E, com
a fome generalizada e utilizada como arma de guerra, matam a população aos
poucos. Se Benjamin Netanyahu quer comparar, então que se lembre de que os
nazis matavam, por fuzilamento ou por envenenamento, não pelo sofrimento fritando
em lume brando.
É
óbvio que não é lícito matar judeus, mas também não o é matar outros cidadãos
ou fazer a guerra até à eliminação do último palestiniano. E a legítima defesa
tem regras e limites.
Quanto
aos países que reconhecem o Estado palestiniano, uma posição demasiado tardia,
é de questionar onde o vão instalar, se Israel tem o território praticante todo
ocupado. Pensarão que é possível voltar à situação anterior a 1967? Aliás, Benjamin
Netanyahu garante que esse Estado nunca existirá e, nisso, tem o apoio ativo
dos ministros mais radicais. Virá aí uma outra guerra?
Aliás,
é preciso promover a reconstrução da Faixa de Gaza. Israel e Donald Trump já desistiram
de fazer ali a nova Riviera mediterrânica? Conseguirá a União Europeia (UE),
que sempre esteve do lado de Israel e contra a Rússia, fazer a tal reconstrução
com os 400 milhões de euros que aprovou, a 24 de setembro, para financiamento à
Palestina?
2025.09.27 – Louro de Carvalho
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