Portugal
reconheceu formalmente, a 21 de setembro, o Estado da Palestina, como anunciou
o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, em Nova Iorque, na
representação permanente de Portugal na Organização das Nações Unidas (ONU). E,
em discurso, na Assembleia Geral da ONU (AGNU) – que decorre de 9 a 27 de
setembro, encerrando com a cimeira de alto nível, a partir do dia 23 –, o chefe
da diplomacia tentou apaziguar Israel, frisando que Portugal reconhece o Estado
palestiniano, “depois de outros países aliados o terem feito” e enfatizando que
a Autoridade Palestiniana (AP) “reconhece a existência de Israel”.
O governante português declarou: “Neste dia em que Portugal reconhece o Estado da Palestina e em que reafirma a sua vontade de fortalecer as profundas e antigas relações de amizade do povo português com o povo israelita e as renovadas e auspiciosas relações de amizade com o povo palestiniano, exortamos, do fundo, do fundo dos nossos corações, a que cessem todas as hostilidades, a que se dê uma oportunidade ao restabelecimento da ajuda humanitária, a que se abra uma fresta de luz para a paz.”
O governante português declarou: “Neste dia em que Portugal reconhece o Estado da Palestina e em que reafirma a sua vontade de fortalecer as profundas e antigas relações de amizade do povo português com o povo israelita e as renovadas e auspiciosas relações de amizade com o povo palestiniano, exortamos, do fundo, do fundo dos nossos corações, a que cessem todas as hostilidades, a que se dê uma oportunidade ao restabelecimento da ajuda humanitária, a que se abra uma fresta de luz para a paz.”
Apesar
da tentativa de não hostilizar Israel, Paulo Rangel considerou que a resposta
do governo de Benjamin Netanyahu ao ataque do Hamas é “manifestamente
desproporcional” e que este reconhecimento “não apaga a catástrofe humanitária
que se vive na Faixa de Gaza”.
Por
sua vez, o primeiro-ministro israelita, desapontado com a postura de Portugal, já
disse que o Estado da Palestina “não vai acontecer”.
Obviamente,
Portugal não surge isolado nesta decisão, pois juntou-se ao Reino Unido, ao Canadá
e à Austrália (que comunicaram igual decisão, ao início da tarde do dia 21),
tornando-se o 13.º país da União Europeia (UE) a reconhecer o Estado
palestiniano, aliás, na sequência de recomendação maioritária do Parlamento
Europeu (PE).
***
Há
já várias reações de apoio aos anúncios de reconhecimento do Estado da
Palestina pelo Reino, mas também há críticas e ameaças de retaliação da parte
de Israel.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, num vídeo dirigido aos líderes ocidentais, declarou que “nenhum Estado palestiniano será criado a Oeste do [rio] Jordão” e que o seu governo vai expandir a colonização judaica na Cisjordânia ocupada. E o líder do principal partido da oposição israelita, Yesh Atid, classificou o reconhecimento do Estado da Palestina como um “desastre diplomático” pelo qual responsabiliza Netanyahu.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, num vídeo dirigido aos líderes ocidentais, declarou que “nenhum Estado palestiniano será criado a Oeste do [rio] Jordão” e que o seu governo vai expandir a colonização judaica na Cisjordânia ocupada. E o líder do principal partido da oposição israelita, Yesh Atid, classificou o reconhecimento do Estado da Palestina como um “desastre diplomático” pelo qual responsabiliza Netanyahu.
Uma
das reações mais entusiastas a favor veio do presidente da AP, Mahmud
Abbas, sustentando que o reconhecimento do Estado da Palestina pelo Reino Unido
constitui um passo em direção a “uma paz justa e duradoura”, que “abrirá o
caminho para a implementação da solução de dois Estados”, permitindo à
Palestina viver ao lado do Estado de Israel, em segurança, em paz e em boa
vizinhança. A prioridade, como defendeu, é alcançar “um cessar-fogo, a entrada
de ajuda humanitária, a libertação de todos os reféns e prisioneiros”, “a
retirada total israelita da Faixa de Gaza” e “o fim da atividade de colonatos e
do terrorismo de colonos”.
A
postura portuguesa tem o “pleno apoio” do nosso Presidente da República, que
afirmou aos jornalistas: “O caminho é defender a moderação, afastar-se dos
radicalismos. Portugal, desde sempre e com todos os presidentes, defendeu o
princípio de dois Estados soberanos. Atuar neste momento é atuar para haver uma
hipótese no sentido de haver dois Estados.”
O
Partido Socialista (PS), o Partido Comunista Português (PCP), o Livre e o Bloco
de Esquerda (BE) saudaram a decisão de Portugal. André Ventura, líder do partido
Chega, questionado pelos jornalistas, à entrada da Feira de São Mateus, em
Viseu, mantendo reservas, salientou que não é isso que preocupa os portugueses,
neste momento, mas apontou a necessidade de haver condições, nomeadamente, a
libertação dos reféns.
Francisco
Assis, secretário nacional para as Relações Internacionais do PS, salientou
que a decisão do governo reflete “o sentir maioritário do povo português” e tem
adesão internacional. “É um momento histórico, é um momento relevante, é uma
decisão correta, é uma decisão que suscita uma ampla adesão nacional e uma
ampla adesão no plano europeu e do Mundo ocidental, basta olhar para o número
de países que ontem, hoje e amanhã vão proceder a esse reconhecimento no âmbito
da Assembleia Geral das Nações Unidas”, declarou.
O
também eurodeputado crê que a decisão “vai contribuir para a resolução do
problema” israelo-palestiniano na região do Médio Oriente, rejeitando que seja
medida apenas simbólica. Ao invés, Israel corre “o risco de se constituir, no
futuro, como uma espécie de Estado pária, à semelhança do que aconteceu com a
África do Sul no período do apartheid”, diz o socialista.
O PCP considerou
que o reconhecimento do Estado da Palestina por Portugal é uma “medida que peca
por tardia”; e pediu que “seja feito sem exigências ou condições que coloquem
em causa os direitos do povo palestiniano, nomeadamente, a um Estado livre e
independente” a criar, com as fronteiras de 1967 e com a capital em Jerusalém
Leste.
Embora
satisfeito com a decisão de Portugal, o BE advertiu que não será mais
do que um gesto simbólico, se não forem criadas condições objetivas para a
viabilidade de um Estado palestiniano. Sublinhando que outros estados da ONU já
fizeram este reconhecimento, propõe o embargo total de venda de armas a Israel
e sanções aos seus responsáveis políticos e militares. “Com o ataque terrestre
à cidade de Gaza, o governo de Israel acelera este processo de extermínio, que
já tirou a vida a mais de 65 mil pessoas e feriu mais de 160 mil, a maioria
mulheres e crianças. Entre as vítimas contam-se, ainda, mais de 230 jornalistas,
o registo mais elevado de profissionais de comunicação mortos num único
conflito”, sublinhou BE, em comunicado.
O
BE manifestou apoio à missão humanitária da Global Sumud Flotilla, destinada a
quebrar o bloqueio imposto por Israel, onde está a líder do partido, Mariana
Mortágua: “Assume um papel determinante para assegurar o acesso de ajuda vital
e denunciar, junto da comunidade internacional, o cerco que agrava o sofrimento
da população de Gaza”, diz o BE.
O
porta-voz do Livre, Rui Tavares, saudou o reconhecimento, por Portugal do
Estado da Palestina, apesar de o considerar tardio. Não obstante, frisa que
envia uma “mensagem muito poderosa” a Israel e não é um ato “meramente
simbólico”.
O
candidato presidencial António José Seguro reagiu, defendendo
tratar-se de “um passo simbólico, mas profundamente político e moral”. Contudo,
defende que o reconhecimento “não é, nem deve ser, um gesto contra Israel” um
gesto a favor da paz, que exige dois Estados viáveis, reconhecidos e seguros, a
viver lado a lado, e “um sinal de que a Europa e Portugal não abdicam da sua
responsabilidade histórica e diplomática num conflito que continua a marcar
gerações”.
O
candidato presidencial Luís Marques Mendes saudou a decisão de
Portugal em reconhecer o Estado da Palestina, alinhado com França e Reino
Unido, Canadá, considerando que o mais importante é o passo que é dado. E, questionado
sobre o facto de a Aliança Democrática (AD) estar dividida sobre o tema, referiu
que tal “não impede qualquer decisão do governo”. “É uma questão de gestão dos
dois partidos, não me vou meter nessa questão”, afirmou.
Quase
150 países reconhecem o Estado palestiniano, sendo que Reino Unido e Canadá se tornaram
os primeiros do grupo das sete maiores economias (G7) do Mundo a fazê-lo.
***
A
embaixadora do Estado da Palestina em Portugal, considerou, no dia 22, o passo
do governo português, de reconhecer o Estado palestiniano, uma decisão
“corajosa” que “apoia e recompensa os esforços globais de paz”. Em
declarações aos jornalistas, na embaixada da Missão Diplomática da Palestina,
no Restelo (Lisboa), Rawan Sulaiman, rejeitou a categorização da decisão,
anunciada pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, como
“simbólica”, depositando-lhe muitos outros significados. E aproveitou para
agradecer ao Presidente da República, pelo apoio à medida, e aos partidos que
se mostraram favoráveis a este processo.
E, face à posição do partido do Centro Democrático Social (CDS) que não só integra a coligação AD que suporta o governo como integra mesmo o Executivo, a embaixadora do Estado da Palestina disse tratar-se de “uma questão política interna do governo”, que não comenta. “Nunca senti que houvesse um partido que se opusesse ao reconhecimento palestiniano”, sublinhou, mas pedindo que “aqueles que consideram que este não é o momento certo que reconsiderem a sua posição”, porque o reconhecimento é “norma fundamental essencial nas relações internacionais”, e não “um presente”.
E, face à posição do partido do Centro Democrático Social (CDS) que não só integra a coligação AD que suporta o governo como integra mesmo o Executivo, a embaixadora do Estado da Palestina disse tratar-se de “uma questão política interna do governo”, que não comenta. “Nunca senti que houvesse um partido que se opusesse ao reconhecimento palestiniano”, sublinhou, mas pedindo que “aqueles que consideram que este não é o momento certo que reconsiderem a sua posição”, porque o reconhecimento é “norma fundamental essencial nas relações internacionais”, e não “um presente”.
Para
Rawan Sulaiman, que representa, há cerca de um ano, a Palestina em
Portugal, está a fazer-se História. No dia 22, na Conferência para a
Solução dos dois Estados, em Nova Iorque, também a França, Bélgica, Malta,
Luxemburgo, Andorra e São Marino formalizaram o reconhecimento do Estado
palestiniano, depois de o Reino Unido, a Austrália o Canadá e Portugal terem comunicado
a mesma decisão. “É um passo significativo para garantir o respeito e a plena
implementação do direito internacional, incluindo o direito fundamental à
autodeterminação das nações”, considerou, falando da sua importância “para
alcançar a justiça, a paz e a segurança para todos, após tantos anos de
injustiça, [de] ocupação, [de] apartheid, [de] genocídio e [de] guerra”.
A
alta representante diplomática salientou que dizer ao Mundo que “o povo
palestiniano tem o direito de existir, de viver, como todos os outros povos
espalhados” é “um triunfo para os pacificadores e para os grupos pacifistas” e
que o reconhecimento da Palestina como Estado promove o “isolamento dos
ocupantes, perpetradores e violadores do direito internacional”. E, questionada
acerca da liderança do Hamas em Gaza, como condicionante para alguns Estados reconhecerem
o Estado palestiniano, asseverou: “O nosso programa político assenta na solução
de dois Estados, na justiça e na paz para todos, na plena implementação do
direito internacional. […] não haverá lugar para ninguém que se afaste
desta realidade política.”
Para
a embaixadora, nem a fome forçada pelo Homem, o genocídio e nem os planos para
deportação para o Sudão ou para outros Estados impedirão a (re)construção
de um Estado palestiniano. “Os palestinianos nasceram para ficar na
Palestina”, sentenciou.
Apesar da devastação, dos milhares de
palestinianos mortos na guerra (o Ministério da Saúde do Hamas contabiliza pelo
menos 65 mil mortes, embora a ONU conceda que o número possa ir até dez vezes
mais), dos postos militares de controlo, e da “violência dos colonos, protegida
pelo Exército”, a existência do povo palestiniano é “a verdadeira realidade”,
alertou a embaixadora da Palestina em Portugal, frisando. “Aceitamos uma
solução pacífica, a solução de dois Estados, para viver nas nossas terras, e
este é um direito nosso. Não vamos desistir. Estamos ali há anos e anos, e
isso não vai acabar por causa das políticas racistas do atual governo.”
No
entanto, o papel dos Estados Unidos da América (EUA) “é importante e essencial”,
“mas infelizmente não é equilibrado, lembrou a representante da Missão
Diplomática da Palestina. Os EUA proibiram a delegação palestiniana, incluindo
o presidente do Estado da Palestina de ir a Nova Iorque discursar.
***
A
AGNU centra-se no Estado palestiniano, nas sanções ao Irão, na reforma das
Nações Unidas, na Ucrânia, nos objetivos climáticos, nos objetivos de
desenvolvimento e nas crises humanitárias. A cimeira final é palco de discursos
de representantes e de chefes de Estado dos 193 Estados-membros e dos dois
observadores, a Santa Sé e o Estado da Palestina. E espera-se que os
representantes palestinianos participem, através de ligação de vídeo, depois de
o Departamento de Estado dos EUA ter recusado os vistos aos representantes da
AP, incluindo o presidente Mahmoud Abbas, alegando incumprimento de
compromissos.
A guerra na Ucrânia estará no topo da agenda de discussões dos líderes mundiais. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, protagoniza o discurso do dia 24, a que se contrapõe o do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, no dia 27, em substituição do presidente Vladimir Putin.
A guerra na Ucrânia estará no topo da agenda de discussões dos líderes mundiais. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, protagoniza o discurso do dia 24, a que se contrapõe o do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, no dia 27, em substituição do presidente Vladimir Putin.
A
questão do Estado palestiniano é também um dos principais temas desta AGNU. A
pressão global sobre Israel vem aumentando, devido à guerra em Gaza e à crise
humanitária que a acompanha. Grande parte da comunidade internacional critica o
governo israelita pelos seus planos para a Faixa de Gaza e para a Cisjordânia
ocupada, bem como pelo crescente movimento de colonização, que são considerados
ilegais, ao abrigo do direito internacional. Em reação, anota-se o
reconhecimento do Estado da Palestina, por parte de muitos países
O
primeiro-ministro israelita, também presente na sede da ONU, em Nova Iorque, é fortemente
criticado, mas sobe ao púlpito no dia 26, para dizer da sua justiça.
Os
líderes mundiais estão a correr contra o relógio, para decidirem se vão ou não
impor sanções ao Irão. No dia 25, termina o processo de resolução de litígios
de 30 dias para garantir um acordo nuclear com Teerão, lançado pela Alemanha, pela
França e pelo Reino Unido, o E3.
Os
países europeus exigiram o regresso dos inspetores nucleares da ONU ao terreno,
para resposta às preocupações sobre reservas de urânio enriquecido de Teerão e à
reaproximação aos EUA. O Irão mantém a sua posição, negando qualquer desejo de
adquirir armas nucleares.
O
canal diplomático foi reaberto após o fim da guerra dos 12 dias, entre Israel e
o Irão. Em junho, Israel lançou uma ofensiva militar contra o Irão, para obviar
às ameaças que Benjamim Netanyahu descreveu como tendo “graves consequências”
para a paz mundial.
O
secretário-geral da ONU, António Guterres, reúne, no dia 23, os signatários do
Acordo de Paris para atualizarem os Contributos Determinados a Nível Nacional
(CDN). Este acordo, é um tratado internacional juridicamente vinculativo, que
visa combater os impactos das alterações climáticas, mantendo o aquecimento
global abaixo dos 2°C (graus Celsius) – de preferência 1,5°C –, acima dos
níveis pré-industriais.
A
anunciada reforma da ONU, a iniciativa UN80, também é abordada na cimeira de
alto nível da AGNU. A iniciativa foi apresentada, pela primeira, vez em março,
em resposta ao grave corte de fundos da ONU, que lhe criou uma crise financeira.
A ONU tem de reduzir o seu orçamento regular em mais de 500 milhões de dólares
(426 milhões de euros). As reduções incluem cortes de cerca de 15%, no
orçamento, e perto de 19%, na força de trabalho (em comparação com 2025), para
o próximo ano fiscal de 2026. Segundo Guterres, a iniciativa UN80 visa “tornar
a ONU mais ágil, integrada, eficiente e mais capaz de responder aos atuais
desafios globais num contexto de escassez de recursos financeiros”, mas ainda
está a ser discutida entre os estados-membros. E a cimeira da AGNU é um bom
cenário para novas conversações entre os líderes mundiais.
***
É
de candente relevância a agenda da AGNU. Porém, questiono onde a instalará o Estado
da Palestina, se Israel está a ocupar quase todo o território. Voltar-se-á às fronteiras
de 1967?
2025.09.22
– Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário