quarta-feira, 15 de outubro de 2025

NATO insiste na criação de um “muro de drones” com a UE

 

Os ministros da Defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) reuniram-se, a 15 de outubro, pela primeira vez, desde que significativa série de drones e de jatos russos violou o espaço aéreo europeu, nas últimas semanas, para abordarem a problemática de tais incursões, numa altura em que se assiste a acentuada queda nas entregas de armas e de munições, nos últimos meses, ao país devastado pela guerra e que ainda luta contra a Rússia.
Em setembro, só numa noite, entraram no espaço aéreo polaco 19 drones, tendo sido abatidos ou obrigados a despenhar-se, quando a NATO enviou os seus jatos em resposta.
Outros países, como a Estónia, a Roménia, a Finlândia, a Letónia, a Lituânia e a Noruega, sofreram incursões semelhantes. Na Lituânia, a incursão de um jato russo no seu espaço aéreo também desencadeou a intervenção dos caças da NATO.
Também nas últimas semanas, uma série de aparições misteriosas de drones sobre os principais aeroportos assolou os países escandinavos.
Há, pois, motivos para a NATO ter definido como objetivo a criação de um “muro dos drones” com a União Europeia (UE), para proteger os seus estados-membros, pelo que, de acordo com Mark Rutte, secretário-geral da NATO, o plano de resposta às incursões está a ser desenvolvido em cooperação com a UE.
Mark Rutte disse à imprensa, antes do início da reunião, que as duas entidades (a NATO e a UE) estão a unir esforços para criar um “muro de drones” – ideia promovida pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen – que protegeria os estados-membros de novas incursões de drones no seu espaço aéreo.
Na ótica de Mark Rutte, os dois blocos têm responsabilidades diferentes: enquanto a NATO se encarregará da parte militar, a UE dará apoio político e financeiro. Porém, de acordo com vários funcionários, o trabalho do tenente-general do exército americano Alex Grynkewich, Comandante Supremo Aliado da NATO (SACEUR), responsável pela resposta da NATO às incursões, está a ser dificultado pelos processos burocráticos dos governos nacionais.
Aliás, não é de estranhar que, numa aliança de 32 nações, surjam divergências nas abordagens. No entanto, várias fontes dizem que a longa lista de restrições nacionais está a causar alguma frustração e a criar inconsistências, na obtenção das necessárias regras de empenhamento padrão.
Da sua parte, o SACUER tenciona utilizar aviões militares em qualquer parte do território, ante as violações em curso no flanco oriental. “Quanto mais restrições nacionais existirem, especialmente, no que se refere aos nossos aviões de combate, mais difícil será para o SACEUR”, disse aos jornalistas Matthew Whitaker, enviado dos Estados Unidos da América (EUA).
O secretário-geral da NATO criticou, abertamente, a falta de uniformidade entre os aliados. “Ainda temos algumas destas reservas nacionais e elas estão a atrasar-nos. Estão a tornar-nos menos eficazes”, disse Mark Rutte aos eurodeputados, na Eslovénia, a 13 de outubro.
Embora as especificidades do muro de proteção contra drones não tenham sido totalmente reveladas, a Comissão Europeia disse, anteriormente, que consistiria numa rede de sensores, de bloqueadores de guerra eletrónica e de dispositivos cinéticos posicionados em todo o bloco de 27 membros. Contudo, alguns estados-membros, como a Dinamarca, manifestaram reservas, quanto às suas capacidades para obviar às incursões de drones, apesar dos novos investimentos na defesa aérea e noutros equipamentos.
Por seu turno, Mark Rutte sublinhou que a NATO precisa de aumentar, especificamente, as suas despesas com a defesa aérea, em 400%, nos próximos anos. E os líderes da UE apoiaram, amplamente, a iniciativa do “muro dos drones”, apesar de haver alguns receios de que a sua implementação e funcionamento possam ser dispendiosos.
A reunião dos ministros da Defesa da NATO teve lugar antes de os EUA tomarem uma decisão crucial sobre o fornecimento de mísseis Tomahawk de longo alcance à Ucrânia, que continua a defender-se da guerra total da Rússia, atualmente no seu quarto ano.
Com e feito, é esperada uma decisão concreta sobre os Tomahawks, no dia 17, numa reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, em Washington. No entanto, alguns responsáveis da NATO parecem cautelosamente otimistas, quanto a um avanço da Casa Branca. “A relação entre (Trump e) Zelenskyy melhorou”, disse um responsável, que não se identificou. E outro funcionário mencionou o potencial impulso resultante do recente sucesso na obtenção de um cessar-fogo no Médio Oriente, juntamente com uma troca de reféns e prisioneiros entre Israel e o Hamas.

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A reunião dos ministros da Defesa da NATO, além de debater a problemática dos drones (alimentada pela preocupação com a hipótese de o presidente Vladimir Putin estar a testar os reflexos defensivos da NATO), tentou equacionar a possibilidade de angariar mais apoio militar para a Ucrânia
Por outro lado, foi debatido o apelo do chefe da NATO para que sejam levantadas as restrições à utilização dos seus aviões e de outros equipamentos, a fim de que possam ser utilizados para defenderem, mais eficazmente, a fronteira oriental da aliança com a Rússia, com a Bielorrússia e com a Ucrânia. Na verdade, alguns líderes europeus também acusaram Vladimir Putin de estar a travar uma guerra híbrida na Europa, o que Moscovo nega rotundamente.
A guerra convencional da Rússia contra a vizinha Ucrânia está, agora, centrada na rede elétrica da Ucrânia, antes do inverno, porque a campanha anual de Moscovo tem como objetivo desativar o fornecimento de energia à Ucrânia, negando aos civis o aquecimento e a água corrente, à medida que as temperaturas descem.
O Instituto Kiel, da Alemanha, que acompanha o apoio financeiro e de defesa a Kiev, revela que a ajuda militar ocidental à Ucrânia diminuiu 43%, em julho e em agosto, comparativamente com o primeiro semestre do ano. A queda ocorreu, depois de os aliados europeus terem começado a comprar armas norte-americanas para a Ucrânia, ao abrigo do novo acordo financeiro conhecido como Lista de Necessidades Prioritárias da Ucrânia (PURL).
Os EUA não doam qualquer equipamento à Ucrânia, nem através daquele esquema, nem a nível bilateral, mas seis países já contribuíram com dois mil milhões de dólares (1,72 mil milhões de euros) para o fundo, informou a presidência ucraniana no final de setembro.
A Dinamarca, os Países Baixos, a Noruega e a Suécia têm estado a comprar armas norte-americanas para enviar para a Ucrânia. Ao invés, a Itália e a Espanha, entre outros membros da aliança de 32 nações, estão a enviar muito pouco, em comparação com aqueles parceiros da NATO. “Uma e outra vez, alguns países estão muito atrasados, em relação ao que deveriam fazer”, disse um diplomata sénior da NATO, sob anonimato, advertindo que, “se a Ucrânia cair, as despesas com a Defesa serão muito superiores a 5% do produto interno bruto [PIB], o objetivo atual e ambicioso da NATO.
Muitos países, entre os quais a Itália, debatem-se com desafios económicos. A França considera que o dinheiro europeu seria mais bem investido na indústria de defesa europeia do que na dos EUA e não tenciona participar no PURL. Todavia, a Ucrânia pretende encorajar os países que ainda não contribuíram para o PURL a fazê-lo, vincando que a partilha de encargos é uma das questões fundamentais da NATO.
A segunda prioridade de Kiev é tentar convencer os países que já anunciaram a intenção de contribuir para o PURL a aumentar as suas contribuições, mas os funcionários ucranianos estão cônscios de que se trata de assunto sensível, pois cada país enfrenta os seus problemas internos.
No campo de batalha, as prioridades da Ucrânia são os pacotes de apoio, para manter a linha da frente, para proteger as cidades e para defender as infraestruturas críticas do país.
O destacamento de defesas aéreas para o flanco oriental da NATO ainda não privou a Ucrânia de recursos militares, mas os oficiais de topo da aliança querem que os países levantem as restrições ao equipamento que enviaram para defender o espaço da NATO contra as ameaças da Rússia.
Depois de vários drones russos terem entrado no espaço aéreo polaco, em setembro, a NATO criou uma operação de defesa aérea denominada Eastern Sentry. É uma das três operações de defesa aérea ao longo do flanco oriental. A segunda opera na região do Mar Báltico, enquanto uma terceira cobre a fronteira da Polónia com a Ucrânia.
O SACEUR considera que a resposta aos incidentes no espaço aéreo da Polónia e da Estónia foi “exemplar”, mas pretende ter a liberdade de utilizar aviões em qualquer uma dessas missões noutros locais, proporcionando um escudo aéreo unificado com regras de combate comuns.
As restrições quanto ao momento em que os aviões de combate podem disparar armas também colocam desafios.
Segundo os diplomatas, Alex Grynkewich está a analisar o que pensa que a NATO precisa para gerir os novos desafios que enfrenta. Espera-se que partilhe os seus planos com os países-membros, no início do próximo ano.

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Volodymyr Zelensky diz que precisa de uma “verdadeira defesa aérea” e de capacidades de longo alcance, para pressionar Vladimir Putin. E Donald Trump não descarta a possibilidade de enviar mísseis de longo alcance Tomahawk para a Ucrânia.
Em declarações durante a viagem de avião para Israel, onde aterrou na manhã do dia 13, o presidente norte-americano disse aos jornalistas que a hipótese poderá ser equacionada. “Posso dizer-lhes [à Rússia] que, se a guerra não for resolvida, é bem possível que o façamos, talvez não, mas é possível que o façamos, afirmou Donal Trump, acrescentando: “Será que eles [a Rússia] querem mísseis Tomahawk a voar na sua direção? Acho que não.”
As declarações do presidente dos EUA seguiram-se a uma chamada telefónica entre ele e o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, que tem insistido em que lhe seja fornecido armamento com maior capacidade ofensiva para os contra-ataques.
Por sua vez, Moscovo tem avisado que o uso de misses Tomahawk significaria uma escalada no conflito e contribuiria para a deterioração das relações entre EUA e Rússia.
Os mísseis Tomahwak têm um alcance de 2500 quilómetros, o que deixaria Moscovo ao alcance dos ataques ucranianos.
Durante o telefonema com Donald Trump, Volodymyr Zelenskyy diz ter discutido a necessidade de a Ucrânia reforçar as suas capacidades militares, incluindo as armas de longo alcance, bem como as defesas aéreas.
O presidente ucraniano instou o presidente norte-americano a mediar a paz na Ucrânia, como o fez no Médio Oriente, vincando que a Rússia está a tirar partido do conflito na região. “Moscovo permite-se escalar os seus ataques, explorando abertamente o facto de o Mundo estar concentrado em garantir a paz no Médio Oriente”, disse Volodymyr Zelenskyy, frisando: “É, precisamente, por isso que não se pode permitir um enfraquecimento da pressão. Sanções, tarifas e ações conjuntas contra os compradores de petróleo russo – aqueles que financiam esta guerra – devem permanecer na mesa.”

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Já no início deste mês, o presidente russo, Vladimir Putin, disse sentir-se à vontade para falar com o presidente norte-americano, Donald Trump, elogiando a tentativa, feita na cimeira do Alasca, de “procurar e de encontrar possíveis formas de resolver a crise ucraniana”, mas advertiu que o fornecimento dos mísseis de cruzeiro de longo alcance Tomahawk dos EUA à Ucrânia assinalaria uma “fase qualitativamente nova de escalada, incluindo nas relações entre a Rússia e os EUA”.
Na semana anterior, os EUA estavam a considerar fornecer tais mísseis a Kiev, visto que o Kremlin persiste na recusa em participar nas conversações com a Ucrânia mediadas por Trump, o que o vice-presidente dos EUA, James David Vance, confirmou, a 28 de setembro. “O que o presidente vai fazer é o que é do melhor interesse para os Estados Unidos da América”, disse J.D. Vance à Fox News, vincando: “Sei que estamos a ter conversas, neste preciso momento, sobre o assunto.”
Vladimir Putin, falando num fórum de especialistas internacionais em política externa, na estância turística russa de Sochi, no Mar Negro, referiu que os mísseis de longo alcance não terão impacto significativo no campo de batalha, porque as forças armadas russas estão continuamente a obter ganhos contra a Ucrânia.
Falando sob anonimato, um funcionário da Casa Branca disse que a invasão da Ucrânia pela Rússia teve impacto negativo tanto na sua economia como na sua reputação, já que Putin rejeitou, repetidamente, propostas para um acordo de paz que poderia beneficiar o seu país.
No fórum, o líder do Kremlin também rejeitou as acusações ocidentais de possível envolvimento russo, na sequência de recentes avistamentos de drones sobre a Dinamarca, na semana anterior, considerando que se trata de uma estratégia da NATO, com vista a “inflamar as tensões para aumentar as despesas com a Defesa”.
Embora não seja claro quem está por trás da atividade dos drones, o primeiro-ministro da Dinamarca e o secretário-geral da NATO disseram que não se pode excluir o envolvimento russo.
É de recordar que, numa cimeira de líderes europeus, em Copenhaga, o presidente ucraniano afirmou que os incidentes com drones, na Europa, “são um sinal claro de que a Rússia ainda se sente suficientemente ousada para fazer escalar esta guerra”. “Nunca se tratou apenas da Ucrânia. A Rússia sempre teve como objetivo quebrar o Ocidente – e a Europa em particular, clarificou, acrescentando: “Hoje, a sua estratégia é simples. Dividir a Europa, incendiar discussões, impedir-nos de encontrar um terreno comum.”

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Continua a guerra dos drones, mais rápida e mais barata. A NATO e a UE querem opor um muro de drones à Rússia. Dificilmente drones abatem drones. O seu abate tem de ser feito por caças.
Admitindo que os drones da NATO e da UE visitarão, assiduamente, o território da Rússia e dos seus aliados, pergunta-se se Moscovo terá a paciência de empenhar os seus caças no abate de drones alheios ou se partirá para novo tipo de guerra.
Em todo o caso, a guerra continua. Trump e Putin, entre advertências e elogios mútuos, parecem andar no jogo do gato e do rato. E os povos sofrem!

2025.10.15 – Louro de Carvalho

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