terça-feira, 21 de outubro de 2025

Joias de Napoleão e da imperatriz Eugénia furtadas no Louvre

 

O Museu do Louvre, em Paris, o mais visitado do Mundo, com mais de nove milhões de visitantes, por ano, foi assaltado, na manhã de 19 de outubro, por um grupo de encapuzados – com capacetes de mota e envergando coletes amarelos –, que roubou várias joias da coleção de Napoleão e obrigou ao encerramento imediato do espaço, com a evacuação de cerca de dois mil visitantes presentes, que ficaram desapontados com a interrupção da visita cultural e turística.
Foi a ministra da Cultura francesa, Rachida Dati, quem anunciou a ocorrência na rede social X, escrevendo: “Ocorreu um assalto, esta manhã, na abertura do Museu do Louvre. Não houve feridos. Estou no local, juntamente com a equipa do museu e com a polícia. As investigações estão em curso.”
O jornal Le Parisien pormenoriza que o assalto ocorreu, ao início da manhã; envolveu vários indivíduos totalmente encapuzados, que chegaram ao local em duas motas TMax, de grande potência; e terão entrado no edifício pelo lado do rio Sena, numa zona onde decorrem obras, utilizando uma grua para acesso direto à Galeria de Apolo, no primeiro andar.
Tendo partido vidros com uma rebarbadora, dois homens conseguiram entrar, enquanto um terceiro (e talvez um quarto) permaneceu no exterior a vigiar. O grupo atacou as galerias Napoleão e dos Soberanos Franceses, de onde levou nove peças (incluindo um colar, um alfinete de peito, uma tiara e outros itens) da coleção de joias de Napoleão e da imperatriz Eugénia de Montijo, a última imperatriz consorte, esposa de Napoleão III.
Porém, o famoso Régent, o maior diamante da coleção, com mais de 140 quilates, não foi roubado. E o valor total do prejuízo está a ser avaliado com base nas fotografias das peças desaparecidas.
O Ministério Público de Paris abriu uma investigação e confiou o caso à Brigada de Repressão do Banditismo (BRB), que está a investigar se as peças roubadas poderão já ter sido fundidas para revenda do ouro, como aconteceu, há cerca de um mês, com pepitas roubadas do Museu de História Natural. Fonte próxima da investigação diz haver diamantes que podem ser vendidos em separado, o que dificultará a recuperação dos objetos originais.
As imagens de videovigilância mostram que os assaltantes fugiram nas duas motas em direção à autoestrada A6. Apesar de não haver feridos, várias testemunhas relataram momentos de pânico entre visitantes e funcionários.
O Museu do Louvre, que acolhe obras-primas de Leonardo da Vinci, Jacques-Louis David e Michelangelo, anunciou que permaneceria encerrado, naquele dia e no dia seguinte, “por razões excecionais” e “para preservar os registos” que sirvam a investigação.
A Galeria de Apolo, onde ocorreu o roubo, é um salão abobadado, na ala Denon, que alberga algumas das coleções mais preciosas do museu, nomeadamente, parte das joias da coroa francesa (incluindo três diamantes históricos e um colar de esmeraldas que Napoleão Bonaparte ofereceu à mulher, a imperatriz Maria Luísa), sob um teto pintado pelo artista da corte do rei Luís XIV, e reabriu ao público, em janeiro de 2020, após obras de restauro e de reestruturação. Assim, o assalto, que ocorreu em plena luz do dia, levanta novas questões sobre as condições de segurança das obras de arte nos museus franceses, incluindo o que se tem passado no próprio Louvre, ao longo do tempo.
Tanto assim é que, num comunicado de imprensa, a federação sindical Solidaires aponta “falhas de segurança de uma gravidade sem precedentes e, no entanto, largamente previsíveis”. “É mais do que tempo de o presidente da República e o ministro da Cultura darem ouvidos aos avisos dos funcionários e dos seus representantes”, refere aquela organização sindical.
Os representantes do partido de extrema-direita Rassemblement National (RN) aproveitaram o acontecimento para apontarem as falhas de segurança do museu. No X, Jordan Bardella falou de uma “humilhação insuportável para o país”. “Marine Le Pen defendeu que “os nossos museus e edifícios históricos não são tão seguros como as ameaças que enfrentam” e que é preciso “reagir”.
Porém, a procuradora do Ministério Público de Paris, Laure Beccuau, sugere a possível existência de “mentores” no seio de um grupo criminoso.
Entretanto, o ministro do Interior francês, Laurent Nuñez, que também se deslocou àquele espaço, pronunciou-se para divulgar os primeiros resultados da investigação. Acredita que o assalto foi efetuado por assaltantes “experientes” que poderão ser “estrangeiros” e diz estar esperançoso de, “muito rapidamente”, encontrar os quatro homens.
Mais tarde, confirmou o roubo, dizendo que, numa operação de poucos minutos, os ladrões usaram um elevador de carga para acederem, diretamente à sala, arrombaram uma janela e quebraram vitrines para roubar as joias, antes de fugirem em veículos motorizados.
Garantiu que o trabalho forense está em andamento e que está a ser compilado um inventário preciso dos objetos roubados, vincando que os itens têm um valor histórico “inestimável”.
Vídeos no local mostram turistas confusos a serem conduzidos para fora da pirâmide de vidro e dos pátios circundantes, enquanto os agentes fechavam os portões de ferro e as ruas próximas ao longo do rio Sena. E uma testemunha, Kaci Benedetti, descreveu, numa publicação no X, cenas de pânico dentro do museu, com as pessoas a tentarem sair, quando a polícia chegou.
Laurent Nuñez chamou o incidente de um “grande assalto”, enfatizando que durou sete minutos e que os ladrões usaram um cortador de disco para cortar os vidros. Segundo a ministra da Cultura, era “evidente que se tratava de uma equipa que tinha feito um reconhecimento prévio”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, reagiu no X, na noite do dia 19: “Vamos encontrar as obras e os autores serão levados à justiça. […] Tudo está a ser feito, em todo o lado, para o conseguir”, prometeu.

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Perguntam muitas pessoas como foi possível uma operação estas em plena luz do dia. Ora, tal operação foi, de certeza, objeto de um estudo meticuloso e com um plano delineado ao milímetro. Provavelmente, os assaltantes conheciam, em pormenor, o edifício ou seguiram instruções de quem o conhecia, diretamente ou através de quem sabia dos recantos do museu e do valor aproximado das peças a furtar. Não é crível que tenha havido cooperação de funcionários do museu. Não obstante, parece que nem tudo correu bem.
Para entrarem no edifício do símbolo de Paris no Mundo e guardião de tesouros, os assaltantes aproveitaram uma zona de obras, no lado dos cais do rio Sena, puseram cones de trânsito a delimitar o espaço exterior que ocuparam e usaram um camião com plataforma elevatória, para chegarem, diretamente, à Galeria de Apolo, no primeiro andar, onde estão expostas algumas das peças mais valiosas da coleção. Este acesso permitiu-lhes evitar as entradas principais e alcançar, rapidamente, o local onde estavam as joias. A ministra da Cultura diz que os autores do crime “são profissionais”.
O golpe rápido durou cerca de sete minutos, entre as 9h30 e as 9h40 (o museu funciona, diariamente, exceto à terça-feira, da 9h00 às 18h00). As autoridades estimam que participaram quatro indivíduos. Segundo o jornal Le Parisien, dois assaltantes entraram no museu, através da plataforma elevatória, vestidos como operários com coletes amarelos, enquanto os outros ficaram no exterior, cada um numa mota, a vigiar. Agiram com “rapidez e precisão”, segundo o ministro do Interior. O alarme só foi dado às 9h37.
Foram levadas nove peças da coleção de joias de Napoleão e da imperatriz Eugénia, entre elas colares, broches e diademas, expostas nas vitrinas “Napoleão” e “Soberanos Franceses”, na Galeria de Apolo. Uma das joias, a coroa da imperatriz Eugénie (com 1354 diamantes e com 65 esmeraldas), foi encontrada no exterior do museu, partida e danificada, o que representa o quinhão de insucesso do assalto. O diamante Régent, com mais de 140 quilates, não foi roubado, não se ficando a saber porquê (peso excessivo para a operação, urgência da fuga). As autoridades estão a investigar se as peças roubadas poderão já ter sido fundidas para revenda do ouro. O valor do prejuízo ainda está a ser calculado, mas o ministro do Interior descreveu-o como “inestimável”, como vimos.
Depois de partirem os vidros das vitrinas com uma rebarbadora (fala-se também de serra elétrica e de cortador de vidro. Talvez, o mais provável seja a rebarbadora e/ou o disco de cortar vidro). Os assaltantes, tendo saído pela janela por onde tinham entrado, fugiram em motas TMax, em direção à autoestrada A6, segundo as imagens de videovigilância. Uma das motas foi encontrada abandonada após a fuga, mas os suspeitos continuam por localizar. O abandono da mota facilita o despiste da investigação.
A TMax é uma scooter desportiva premium da Yamaha, conhecida como a “rainha das scooters” por ser a mais vendida na Europa, desde 2001. Combina a praticidade de uma scooter com um desempenho dinâmico, oferecendo uma experiência de condução desportiva, graças ao seu motor de 560cc, ao chassis ágil e ao equipamento de alta tecnologia, como o ecrã TFT de sete polegadas e a navegação Garmin na versão Tech MAX. 
Além da coroa da imperatriz Eugénie, perdida na fuga, os assaltantes deixaram cair, na Pont de Sully, a dez minutos do Louvre, um colete amarelo, usado por um dos envolvidos.   
O Ministério Público abriu uma investigação, por roubo organizado e por conspiração criminosa. A operação está a ser conduzida pela BRB, com o apoio do Escritório Central de Combate ao Tráfico de Bens Culturais (OCBC). O ministro do Interior disse que estão a ser usados todos os meios para identificar os autores e para recuperar as joias roubadas. As forças de segurança continuam a analisar as câmaras de videovigilância e a recolher provas no local.
Entre as joias roubadas, conta-se o colar de safiras da rainha Maria Amélia e da rainha Hortênsia, composto por oito safiras e por 631 diamantes, bem como a tiara da Imperatriz Eugénia, mulher de Napoleão III, com cerca de dois mil diamantes. O Louvre divulgou uma lista completa dos objetos roubados.
No entanto, ao fugirem, como referimos, os assaltantes perderam a coroa da Imperatriz Eugénia. O seu estado está “atualmente a ser examinado”, como declarou o Ministério da Cultura, num comunicado do dia 19.
O caso não é insólito. Nos últimos meses, vários museus franceses têm sido alvo de assaltos. Em setembro, o Museu Nacional de História Natural de Paris foi arrombado e perdeu várias pepitas de ouro nativo, avaliadas em cerca de 600 mil euros. Também em setembro, o Museu de Porcelana de Limoges foi assaltado, num caso com prejuízos estimados em 6,5 milhões de euros. São episódios que levantam dúvidas sobre a segurança dos museus e sobre a proteção das coleções.
O Louvre tem um longo histórico de roubos e tentativas de roubo. O mais famoso ocorreu em 1911, quando a Mona Lisa desapareceu da sua moldura, roubada por Vincenzo Peruggia, um ex-funcionário que se escondeu dentro do museu e saiu com a pintura debaixo do casaco. Porém, foi recuperada dois anos depois, em Florença. O roubo e a recuperação foram episódios que ajudaram a tornar o retrato de Leonardo da Vinci a obra de arte mais conhecida do Mundo.
Em 1983, duas peças de armadura da era renascentista foram roubadas do Louvre e só foram recuperadas quase quatro décadas depois. A coleção do museu também carrega o legado das pilhagens da era napoleónica, que continuam a suscitar debates sobre restituição até hoje.
O Louvre é casa para mais de 33 mil obras que abrangem antiguidades, esculturas e pinturas – da Mesopotâmia, do Egito e mundo clássico aos mestres europeus. As suas principais atrações incluem a Mona Lisa, a Vénus de Milo e a Vitória de Samotrácia.

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O Museu do Louvre é considerado o maior museu de arte do Mundo e um monumento histórico em Paris. Este marco central da capital da França, está localizado na margem direita do rio Sena, no 1.º distrito da cidade. São exibidos, aproximadamente, 38 mil objetos, da Pré-História ao século XXI, numa área de 72735 metros quadrados. Em 2019, recebeu 9,6 milhões de visitantes, o que o tornou o museu mais visitado do Mundo.
Está instalado no Palácio do Louvre, originariamente construído como o Castelo do Louvre, nos séculos XII e XIII, no reinado de Filipe II. São visíveis restos da fortaleza no porão do museu.
Devido à expansão urbana, a fortaleza perdeu a função defensiva e Francisco I, em 1546, converteu-a na residência principal dos reis. O edifício foi ampliado, várias vezes, para formar o atual Palácio do Louvre. Em 1682, Luís XIV escolheu o Palácio de Versalhes para morada régia, deixando o Louvre, principalmente, como um local para exibir a coleção real, incluindo, a partir de 1692, uma coleção de antigas esculturas gregas e romanas.
Em 1692, o edifício foi ocupado pela Académie des Inscriptions et Belles-Lettres e pela Académie Royale de Peinture et de Sculpture, que realizou, em 1699, a primeira de uma série de exposições. Aquelas academias permaneceram no Louvre, durante 100 anos. Na Revolução Francesa, a Assembleia Nacional decretou que o Louvre deveria ser usado como museu, para exibir as obras-primas do país. O museu foi inaugurado em 10 de agosto de 1793 com uma exposição de 537 pinturas, a maioria das quais propriedade real e confiscada à Igreja Católica. Devido a problemas estruturais com o edifício, o museu esteve fechado entre 1796 e 1801. A coleção foi ampliada sob o governo de Napoleão e o museu foi renomeado como Museu Napoleão, mas, após a sua abdicação, muitas obras confiscadas pelos seus exércitos foram devolvidas aos proprietários originais. A coleção foi aumentada, ainda mais, durante os reinados de Luís XVIII e de Carlos X, e ganhou 20 mil peças, durante o Segundo Império Francês.
O acervo cresceu, constantemente, através de doações e de legados, desde a Terceira República. A coleção é dividida em oito departamentos curatoriais: antiguidades egípcias; antiguidades do Próximo Oriente; antiguidades gregas, etruscas e romanas; arte islâmica; esculturas; artes decorativas; pinturas, impressões e desenhos; joias.
Em 1874, o Louvre chegou à forma atual de estrutura quase retangular, com a ala Sully ao Leste, contendo a Cour Carrée (praça quadrada) e as partes mais antigas; e duas alas que envolvem a Cour Napoléon, a ala Richelieu ao Norte e a ala Denon, que faz fronteira com o Sena, ao Sul. Em 1983, o presidente François Miterrand propôs, como um dos seus Grands Projets, reformar o prédio e realocar o Ministério das Finanças, permitindo exibições por todo o edifício. O projeto do arquiteto Ieoh Ming Pei, que foi premiado, propôs a pirâmide de vidro sobre a nova entrada na praça principal, a Cour Napoléon. A pirâmide e o saguão subterrâneo foram inaugurados em 15 de outubro de 1988 e a Pirâmide do Louvre foi concluída em 1989. A segunda fase, a Pyramide Inversée, foi concluída em 1993. Em 2002, o atendimento duplicou.

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O museu requer segurança e proteção eficazes. Porém, resta saber se Emmanuel Macron, ao advogar a restituição das peças que eram de outros povos, abrirá mão do acervo do Louvre.

2025.10.20 – Louro de Carvalho


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