A
28 de agosto, o ministro do Secularismo do Québec, Jean-François Roberge,
anunciou que o governo apresentará legislação, nos próximos meses, para proibir
orações nas ruas.
Foi
o partido Coalision Avenir Québec, de Legault, que apresentou, pela primeira
vez, no fim do ano passado, o projeto de tal proibição, mas recebeu,
imediatamente, a condenação da parte de muitos setores, como a Assembleia dos
Bispos Católicos do Québec.
O
governo do Québec tem-se manifestado, abertamente, sobre a apresentação de um
projeto de lei para proibir orações públicas, devido a uma onda de reuniões, em
massa, de orações islâmicas, em 2024, em conjunto com protestos pró-palestinianos
na província, como o protesto semanal na praça em frente da basílica de
Notre-Dame, na velha Montreal. Assim, imagens e vídeos de muçulmanos a rezar em
Montreal, no exterior da basílica, foram manchetes nos últimos meses.
De
facto, o desejo do governo do Québec, no Canadá, de proibir todas as orações
públicas levanta “sérias preocupações” sobre as liberdades fundamentais de uma
sociedade democrática, disse o arcebispo de Montreal, Christian Lépine, numa
carta pública, sustentando que a proibição desencorajaria gestos que fomentam a
esperança e a solidariedade num Mundo já “abalado” por tantas crises – económicas,
sociais e ambientais.
“No
fundo, proibir a oração pública seria como proibir o próprio pensamento”, enfatizou,
numa carta publicada no site da arquidiocese, a 2 de setembro,
e no jornal La Presse, de Montreal.
Christian
Lépine disse que a proposta do primeiro-ministro do Québec, François Legault,
de acabar com as orações em locais públicos vai diretamente contra a Carta
Canadiana de Direitos e Liberdades, a própria Carta de Direitos Humanos e
Liberdades do Québec e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Podemos
dar-nos ao luxo de desencorajar gestos que fomentam a esperança e a
solidariedade?”, perguntou.
O
arcebispo considerou a proposta impraticável e discriminatória, dizendo que ela
“colocaria em risco tradições profundamente enraizadas no Québec”, como a Via
Sacra, as procissões do Domingo de Ramos e a festa de Corpus Christi,
entre outras tradições. Tais eventos, marcados pela ordem e pela dignidade, são
espaços de encontro”, de modo que “proibir a oração em público seria ameaçar a
própria existência deles”.
O
arcebispo aduziu que a peregrinação penitencial do Papa Francisco ao Canadá, em
2022, com paragem na cidade do Québec, poderia ter sido proibida por essa lei.
Por
sua vez, a Assembleia dos Bispos Católicos do Québec também se manifestou,
dizendo que a proibição violaria os direitos constitucionais das pessoas.
O
bispo de Trois-Rivières, Martin Laliberté, presidente da Assembleia dos Bispos
Católicos do Québec, disse que ficou “surpreso” com a proibição sugerida por
Legault à oração, em parques e nas ruas da cidade, dizendo que isso afetaria
uma ampla gama de atividades praticadas por pessoas de muitas religiões.
Numa
carta aberta recente, a Assembleia dos Bispos Católicos disse que a proibição
teria, como alvo, grupos religiosos minoritários percebidos por alguns como uma
ameaça à identidade do Québec, seria inexequível e contraria a Carta Canadiana
dos Direitos e das Liberdades e a Carta dos Direitos Humanos e Liberdades do Québec.
Além disso, declara taxativamente: “A oração não é perigosa.”
A
Fundação da Constituição Canadiana também se manifestou, fortemente, contra a
proposta. “Essa legislação é um ataque ao direito constitucionalmente protegido
da liberdade de religião”, disse Christine Van Geyn, diretora de litigância,
observando: “Vemos isso como um exagero que terá impacto em comunidades
religiosas, em todo o Québec, e merece um exame cuidadoso. O secularismo não
exige hostilidade às pessoas de fé, e é isso que a proposta de lei representa.”
Van
Geyn considera compreensível que o governo queira impedir protestos e orações
que bloqueiem ruas, “mas proibir todas as orações públicas, no Québec, viola as
próprias liberdades que tornam o Canadá melhor do que uma teocracia”. “O
governo deveria fazer cumprir as leis existentes e multar aqueles que bloqueiam
o trânsito e violam as leis de ruído; não atacar todas as pessoas de fé”, vincou.
A
Associação Canadiana de Liberdades Civis (CCLA) também condenou a proposta como
“uma clara violação” da liberdade de religião, expressão, reunião e associação.
“Suprimir a expressão religiosa pacífica, individual ou comunitária, sob o
pretexto do secularismo, não só marginaliza as comunidades religiosas, mas
também enfraquece os princípios de inclusão, dignidade e igualdade”, declarou
Harini Sivalingam, diretora da CCLA.
Howard
Sapers, diretor executivo da CCLA, alertou para “a tendência crescente de
alguns governos de usar, indevidamente, a cláusula, não obstante ela violar
direitos e liberdades fundamentais”.
No
Québec, “a cláusula” refere-se a uma parte específica de um acordo, lei ou
documento, como o Ato de Québec de 1774, que restaurou o direito
civil francês e a livre prática da fé católica, ou o Ato de Québec de 1943, que
continha a cláusula que impedia o uso de armas nucleares sem consentimento
mútuo. Assim, “a cláusula” no Québec é um termo genérico para uma
disposição dentro de um texto legal ou contratual relevante para a região, que
pode implicar a suspensão ou a limitação de alguns direitos constitucionais.
O
Fórum Muçulmano Canadense manifestou-se, frisando que as orações públicas são uma
manifestação de liberdade de expressão, e uma proibição geral estigmatizaria
comunidades, alimentaria a exclusão e prejudicaria a coesão social. “O governo
deve-se concentrar em resolver problemas reais, não em policiar os direitos
fundamentais de seus cidadãos”, disse o grupo.
Com
eleições provinciais previstas para o ano que vem, as questões de identidade e de
secularismo voltam a dominar o debate político, no Québec. E o governo de
Legault vai decaindo nas sondagens e perdeu, recentemente, a sua terceira
eleição suplementar consecutiva para o partido separatista Parti Québécois.
***
Estudantes
de escolas públicas nos Estados Unidos da América (EUA) falaram sobre
discriminação anticristã e antirreligiosa, numa audiência sobre educação organizada
pela Comissão de Liberdade Religiosa instalada pelo presidente Donald Trump. Os
comissários ouviram testemunhos de alunos e de ex-alunos de escolas públicas
sobre ações discriminatórias que enfrentaram, ao tentarem proclamar,
publicamente, a sua fé num ambiente escolar público.
Hannah
Allen falou docaso ocorrido em 2019, quando estava no ensino fundamental e o
diretor da escola impediu os alunos de rezarem por um colega que se havia
ferido num acidente de viação. O diretor disse que só poderiam rezar escondidos
dos outros alunos. “Violou o nosso direito de exercer, livremente, a nossa
religião”, disse Hannah Allen, acrescentado que o sucedido na escola “não foi
certo” e que “sabe que isso está a acontecer em outras escolas também”.
Todavia,
após obter aconselhamento jurídico da organização sem fins lucrativos First
Liberty Institute, a escola recuou e disse aos alunos que poderiam rezar em
público.
Justin
Aguilar, recém-formado no ensino médio, disse que, ao entregar o seu discurso
de orador da turma, que fazia referência a Jesus Cristo, aos funcionários da
escola, “simplesmente riscaram o seu nome” e instruíram-no no sentido de
reenviar o discurso sem nenhuma referência religiosa. Porém, com o apoio
jurídico da organização de defesa da liberdade religiosa Liberty Counsel, para
transmitir os seus direitos religiosos à escola, reenviou o discurso “com tudo
o que queria dizer” e os funcionários da escola permitiram que ele fizesse
referência a Cristo. Porém, referiu que a situação o deixou nervoso, ao
mencionar Cristo no discurso, mas que a multidão o aplaudiu, quando ele
mencionou a sua fé, e “sentiu uma enorme alegria e alívio”. Mais salientou que,
de tudo o que foi dito na formatura, “nada teve uma resposta tão grande como o nome
de Jesus”.
Lydia
Booth apontou um incidente quando a sua escola primária no Estado do
Mississippi retomou aulas presenciais, depois da pandemia de covid-19.
Funcionários forçaram a menina, com nove anos de idade, a remover uma máscara
facial com as palavras “Jesus me ama”. “Naquela época, tudo parecia incerto,
mas aquelas três palavras simples lembravam-me que eu não estava sozinha”, declarou
Booth à Comissão. Porém, a família dela obteve apoio jurídico do grupo de
defesa jurídica da liberdade religiosa Alliance Defending Freedom e travou uma
batalha jurídica de dois anos, que terminou num acordo com o distrito escolar,
que concordou em deixá-la usar a máscara. “Nunca se é demasiado jovem para que a
nossa voz tenha importância”, disse Booth à Comissão, frisando: “Se eu tivesse
ficado em silêncio, nada teria mudado, mas, como nos manifestamos, agora outros
estudantes podem usar mensagens de fé e de amor, sem medo de serem silenciados.”
Vários
palestrantes expressaram preocupações com escolas públicas que tentam impor
valores às crianças que conflitam com as crenças dos pais, como o recente caso
do Supremo Tribunal Federal dos EUA sobre a exclusão dos pais de materiais
didáticos que promovem ideologia de género.
Sameerah
Munshi, que integra o conselho consultivo da Comissão, assinalou a recusa da
Escola Pública Montgomery County de permitir que os pais escolham não receber
esse material. “Muitos pais, entre eles pais muçulmanos, cristãos e judeus, e
alunos ficaram preocupados, para dizer o mínimo”, disse a ativista pelos
direitos dos muçulmanos, considerando: “O que aconteceu no condado de
Montgomery não foi sobre muçulmanos e outras pessoas de fé, tentando impor os seus
valores aos outros. Tratou-se de nos recusarmos a ter os valores dos outros
impostos sobre nós. Tratou-se do direito de discordar, sem ser demonizado.” Em
junho, a Supremo Tribunal dos EUA ordenou que o conselho escolar oferecesse aos
pais uma opção de exclusão.
Ryan
Anderson, membro católico da comissão, presidente do Centro de Ética e
Políticas Públicas, disse que, “frequentemente, as violações da liberdade
religiosa são resultado de leis injustas, em primeiro lugar”, e que a imposição
da ideologia de gênero é inerentemente injusta. “Não podemos
simplesmente... nos esquivar disso. Também precisamos combater isso
diretamente”, disse.
Falando
à comissão, pela primeira vez, a 8 de setembro, Donald Trump criticou as falhas
do sistema de educação pública nessa área e disse que, “em muitas escolas,
hoje, os alunos são doutrinados com propaganda antirreligiosa” e punidos por
praticarem a sua fé religiosa publicamente. Anunciou que o Departamento de
Educação dos EUA vai desenvolver diretrizes para proteger o direito de rezar
nas escolas públicas e lançou a iniciativa “America Prays”, incentivando os norte-americanos
a rezarem pelo país e pelo seu povo, antes do 250.º aniversário da Declaração
de Independência dos EUA.
***
Um
relatório do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) revela que o governo de Joe
Biden, de 2021 a 2025, adotou um “padrão consistente e sistemático de
discriminação” contra cristãos. Ou seja, o documento “Erradicando o
Preconceito Anticristão no Governo Federal”, de 48 páginas, é o primeiro
emitido pela Força-Tarefa para Erradicar o Preconceito Anticristão, criada por pelo
presidente dos EUA, em fevereiro, liderada por Pam Bondi, procuradora-geral dos
EUA, e composta por representantes de várias agências federais dos EUA, para investigar
todo o escopo do preconceito anticristão que permeou o governo Biden,
produzindo um acompanhamento abrangente com a suas descobertas e recomendações
até fevereiro do próximo ano.
A
força-tarefa garante que “qualquer conduta, política ou prática ilegal ou
imprópria que tenha como alvo cristãos seja identificada, encerrada e
retificada”. E o relatório diz expressamente: “O governo federal nunca mais
poderá usar seu poder contra pessoas de fé. […] Os dias de preconceito
anticristão no governo federal acabaram.”
O
relatório cumpre o primeiro mandato que a força-tarefa recebeu de Donald Trump
para dar “uma avaliação inicial dos danos causados quando a liberdade
religiosa é negada”, pois, embora o cristianismo “não tenha só inspirado
indivíduos e transformado a nação, as contribuições políticas, sociais e
humanitárias dos cristãos foram desvalorizadas, as suas crenças marginalizadas
e as suas comunidades ilegalmente visadas pelo seu próprio governo”. “Onde
deveria haver justiça igual perante a lei, houve tratamento desigual –
políticas e práticas que discriminavam pessoas cristãs, locais de culto
cristãos e convicções cristãs”, verifica o relatório.
O
texto destaca casos de preconceito entre agências federais dos EUA nos anos de
Joe Biden na presidência do país. Assim, no Departamento de Justiça dos EUA, o
relatório descobriu uma falta de esforço para processar o preconceito
anticristão, em vez disso, buscando “novas teorias de acusação” contra
indivíduos que demonstram a sua fé. Um exemplo notável envolve a prisão de
cerca de 20 cristãos, muitos deles ativistas católicos pró-vida, por protestos
em frente a clínicas de aborto. Ao invés, o Departamento de Justiça não aplicou
a lei, do mesmo modo, para proteger locais de culto e centros de apoio à
gravidez em crise.
O
relatório sinaliza o memorando de 2023 do Federal Bureau of Investigations
(FBI), polícia federal dos EUA, rotulando católicos “radicais-tradicionalistas”
como “ameaças de terrorismo doméstico”, como um exemplo particularmente
flagrante de preconceito. E critica o Departamento de Estado, por tentar impor
uma “ideologia radical de género LGBTQ” a governos e a funcionários
estrangeiros, como o uso obrigatório de pronomes preferenciais e bandeiras do
arco-íris, violando as crenças sinceras de muitos funcionários cristãos.
A
força-tarefa acusa o Departamento de Estado da era Biden de “ajuda humanitária
limitada aos cristãos, em relação a outras populações” e da resposta “silenciosa”
do governo aos ataques contra cristãos, em todo o Mundo. E cita o Departamento
de Defesa, a Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego e o Departamento
do Trabalho, por não priorizarem, por lidarem mal ou por negarem solicitações
de isenções religiosas ao mandato de vacinação contra covid-19, afetando
funcionários católicos e outros cristãos que buscaram acomodações com base em
objeções baseadas na fé.
A
força-tarefa diz que o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano discriminou
os cristãos, ao tratar as publicações, nas redes sociais, que celebram feriados
cristãos, como o Domingo de Ramos, a Sexta-feira Santa e a Páscoa, de forma
diferente das que celebram outros feriados religiosos ou de grupos de
interesse, como o Mês do Orgulho LGBT, o Ramadão muçulmano e o Diwali hindu,
removendo as postagens cristãs e deixando as restantes. Acusa o Departamento do
Trabalho de ter fechado o Escritório de Iniciativas Baseadas na Fé e de o substituir
pelo Escritório de Diversidade, Equidade e Inclusão. E conclui que “as
evidências descobertas são inconfundíveis: no governo Biden, pessoas de fé,
especialmente cristãos, foram repetidamente submetidas a preconceitos
antirreligiosos nas mãos do seu próprio governo”.
Enfim,
o que se passa em países das mais amplas liberdades!
***
2025.09.11
– Louro de Carvalho
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