sábado, 12 de julho de 2025

No 10.º aniversário da Laudato si, Missa “pro custodia Creationis”


Dez anos após a publicação da Encíclica Laudato si’ (LS), o Papa Leão XIV promulgou, a 8 de junho, o Decreto para a Missa pro custodia creationis (“Missa para o cuidado da criação”). O novo formulário do Missal Romano insere-se nas missas pro variis necessitatibus vel ad diversa (“para várias necessidades e ocasiões”) e foi aprovado pelo Santo Padre, por meio do  Decretum de formulário et lectionibus adhibendis in Missa pro custodia creationis, preparado pelo Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (DCDDS).
Este formulário é motivo de alegria para o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DSDHI), que vê, entre os vários temas da sua competência, o acompanhamento das Igrejas locais no cuidado da “casa comum” e na promoção de novos caminhos para uma ecologia humana integral. Com efeito, a pastoral social conexa com cuidado da criação foi encorajada, ao longo dos anos, pelos inúmeros apelos de Francisco, desde a publicação da Laudato si’, a 24 de maio de 2015.
Como Leão XIV escreveu, na sua Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação 2025, “a Encíclica Laudato si’ tem acompanhado a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade, durante dez anos. Que ela continue a inspirar-nos e que a ecologia integral seja, cada vez mais, escolhida e compartilhada como o caminho a ser seguido. Desta forma, as sementes da esperança multiplicar-se-ão, para serem ‘protegidas e cultivadas’ com a graça da nossa grande e infalível Esperança, o Cristo Ressuscitado”.
O Decreto da Missa pro custodia creationis foi publicado em Latim; e o DCDDS disponibilizou algumas “traduções de trabalho” destinadas às Conferências Episcopais, que têm a faculdade de as adaptar às exigências de cada região. As traduções propostas “têm simplesmente a intenção de oferecer ajuda, para facilitar o trabalho de tradução, com vista à sua possível utilização no próximo Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (a 1 de setembro de 2025)”.
A conferência de imprensa para a apresentação da Missa pro custodia creationis foi realizada a 3 de julho de 2025, com a participação do cardeal Michael Czerny SJ, prefeito do DSDHI, e de Monsenhor Vittorio Francesco Viola, OFM, secretário do DCDDS.
Na apresentação, o cardeal Czerny disse que a Missa pelo Cuidado da Criação (“é um motivo de alegria”, porque responde “aos muitos pedidos que vieram de todo o Mundo [...]. Ela renova a nossa gratidão, fortalece a nossa fé e convida-nos a responder, com cuidado e amor, num sentimento cada vez maior de admiração, de respeito e de responsabilidade”.
O prefeito do DSDHI acrescentou que a Missa pelo Cuidado da Criação “nos chama a ser fiéis administradores do que Deus nos confiou, nas nossas escolhas diárias e nas políticas públicas, bem como na oração, no culto e na maneira como vivemos no Mundo”.
Foi, então, anunciado que Leão XIV presidiria à missa, nos jardins de Castel Gandolfo, a 9 de julho, no Centro Laudato si’, durante o seu período de férias, usando o novo formulário.
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Na homilia dessa missa, o Papa considerou que o lindo dia, naquele lugar, sugeria a celebração da beleza de uma catedral, que se pode dizer “natural”, “com as plantas e com tantos elementos da criação” que instaram a celebrar a Eucaristia, que significa “dar graças ao Senhor”.
Entre os motivos de ação de graças, naquela Eucaristia, inscreveu-se o facto de ser a primeira celebração com o uso do novo formulário da Santa Missa pelo Cuidado da Criação, que é expressão do trabalho dos diferentes Dicastérios do Vaticano.
Anote-se que foi celebrada em Latim, com exceção da estrita Liturgia da Palavra (que foi celebrada em Italiano), pelo facto de ainda não ter sido publicada uma edição típica em línguas vernáculas, ao passo que as leituras e os salmos já conhecem tradução oficial 
O Santo Padre agradeceu, a título pessoal, a tantas pessoas ali presentes, que trabalharam, neste âmbito, para a liturgia. Com efeito, a liturgia representa a vida e elas são a vida deste Centro Laudato si’. Assim, agradeceu aos colaboradores daquela unidade cultural, por tudo o que fazem, seguindo a belíssima inspiração do seu predecessor imediato, que deu esta pequena porção dos jardins “para continuar a tão importante missão conexa com tudo o que conhecemos, após 10 anos da publicação da Laudato si’: a necessidade de cuidar da criação, da casa comum”.
Evocou as igrejas antigas dos primeiros séculos, que tinham a pia batismal pela qual era preciso passar para entrar na igreja. Embora não gostasse de ser batizado nesta água, salientou o simbolismo de se passar pela água, “para que todos sejamos lavados dos nossos pecados, das nossas fraquezas e, assim, podermos entrar no grande mistério da Igreja”.
No início da missa, “rezámos pela conversão, a nossa conversão”. E o Papa Leão frisou que “devemos rezar pela conversão de tantas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar da nossa casa comum”. E, verificando que os inúmeros desastres naturais que vemos no Mundo, quase todos os dias, em muitos lugares e em muitos países, “são, em parte, causados pelos excessos do ser humano, com o seu estilo de vida”, questionou “se nós mesmos estamos a viver ou não essa conversão: quanto ela é necessária!”
Depois, solicitou paciência, pois queria partilhar a homilia que havia preparado.
A partir de elementos que ajudaram a concretizar a reflexão daquela manhã, compartilhando aquele momento familiar e sereno, num Mundo em chamas, pelo aquecimento global e pelos conflitos armados, que tornam tão atual a mensagem de Francisco nas suas Encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti, evocou o texto evangélico (Mt 8,23-27) acabado de ouvir, que evidencia o medo dos discípulos no meio da tempestade, que é “o medo de grande parte da Humanidade”.
Porém, no coração do ano do Jubileu, confessamos, reiteradamente, que há esperança e que a encontramos em Jesus, que acalma a tempestade, pois “o seu poder não traz agitação, antes cria algo; não destrói, mas faz ser, dando nova vida”. Por isso, como os discípulos, nos perguntamos: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mt 8,27).
A admiração decorrente desta pergunta é o primeiro passo que nos faz sair do medo. Jesus tinha vivido e rezado nos arredores do lago da Galileia. Ali, nos seus locais de vida e de trabalho, chamou os primeiros discípulos. As parábolas com que anunciava o Reino de Deus revelam profunda ligação com aquele ambiente, com o ritmo das estações e com a vida das criaturas.
Mateus descreve a tempestade como “agitação da terra” (seismos): usará o mesmo termo para o terremoto do momento da morte de Jesus e do amanhecer da ressurreição. Cristo eleva-se, põe-se de pé sobre esta agitação. O Evangelho já nos dá, ali, o sinal do Ressuscitado, presente na nossa vida às avessas. A repreensão de Jesus ao vento e ao mar manifesta o seu poder de vida e de salvação, que supera tais forças que fazem as criaturas sentirem-se perdidas.
O hino da carta aos Colossenses (Cl 1,15-20) parece responder à pergunta dos discípulos no Evangelho: “É Ele a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura, porque foi Nele que todas as coisas foram criadas, no Céu e na Terra”. Naquele dia, os discípulos, à mercê da tempestade e cheios de medo, ainda não tinham este conhecimento sobre Jesus. Hoje, pela fé, professamos: “É Ele a cabeça do Corpo, que é a Igreja. É Ele o princípio, o primogénito de entre os mortos, para ser Ele o primeiro em tudo.” São palavras que nos comprometem ao longo da História, que fazem de nós um corpo vivo, do qual Cristo é cabeça. A nossa missão de cuidar a criação, de lhe levar paz e a reconciliação, é a missão de Jesus e a que o Senhor nos confiou. Nós ouvimos o clamor da terra, ouvimos o clamor dos pobres, porque esse clamor chegou ao coração de Deus. “A nossa indignação é a sua indignação e o nosso trabalho é o seu trabalho”, diz o Papa.
O canto do salmista inspira-nos: “A voz do Senhor ressoa sobre as águas, o Deus glorioso faz ecoar o seu trovão, o Senhor está sobre a vastidão das águas. A voz do Senhor é poderosa.” Esta voz compromete a Igreja com a profecia, mesmo quando exige a audácia de nos opormos ao poder destrutivo dos príncipes deste Mundo. Com efeito, a aliança indestrutível entre o Criador e as criaturas move a nossa inteligência e os nossos esforços, a fim de que o mal se transforme em bem, a injustiça em justiça e a ganância em comunhão.
Deus criou todas as coisas com amor infinito e deu-nos a vida: por esta razão, São Francisco de Assis chama as criaturas de irmão, irmã e mãe. Somente um olhar contemplativo pode mudar a nossa relação com as coisas criadas e tirar-nos da crise ecológica que, devido ao pecado, tem como causa a rutura das relações com Deus, com o próximo e com a Terra.
O Centro Laudato si’ pretende ser, por intuição de Francisco, um “laboratório” onde é possível viver a harmonia com a criação que é cura e reconciliação, para nós, elaborando novas e eficazes formas de cuidar da Natureza que nos foi confiada. Portanto, a todos os que se dedicam, com empenho, à realização deste projeto, o Papa assegura a sua oração e encorajamento.
A Eucaristia dá sentido e sustenta o nosso trabalho. Assim, como escreveu Francisco, “a criação encontra a sua maior elevação na Eucaristia” e “a graça, que tende a manifestar-se de modo sensível, atinge uma expressão maravilhosa, quando o próprio Deus, feito homem, Se faz comer pela sua criatura. No apogeu do mistério da Encarnação, o Senhor quer chegar ao nosso íntimo através dum pedaço de matéria. Não o faz de cima, mas de dentro, para podermos O encontrar a Ele no nosso próprio Mundo” (Francisco, LS, 236). E Leão XIV concluiu com palavras de Santo Agostinho, nas últimas páginas das suas Confissões, associando as coisas criadas e o homem num louvor cósmico: “Ó Senhor, as tuas obras Te louvam para que Te amemos. E nós amamos-Te, para que as tuas obras Te louvem”. Que seja esta a harmonia que transmitimos ao Mundo.
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Missa pro custodia creationisMissa para o cuidado da criação
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Antiphona ad introitumPs 18 (19),2
Cæli enárrant glóriam Dei, et ópera mánuum eius annúntiat firmaméntum.
Antífona de entrada Sl 18 (19),2
Os céus proclamam a glória de Deus * e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.
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Collecta
Pater, qui in Christo, primogénito omnis creatúræ, univérsa ad exsisténtiam vocásti, præsta, quǽsumus, ut, dóciles Spíritus tui spiráculo vitæ, ópera mánuum tuárum in caritáte custodiámus. Per Dóminum Nostrum Iesum Christum, Filium tuum, qui tecum vivit et regnat Deus in unitate Spiritus Sancti, per omina saecula saeculorum. 
Oração coleta
Pai Santo, que em Cristo, primogénito de toda a criatura, chamastes à existência todas as coisas, concedei, Vos pedimos, que, dóceis ao sopro vital do vosso Espírito, guardemos na caridade as obras das vossas mãos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.   
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Super oblata
Súscipe, Pater, hos fructus terræ nostrarúmque mánuum: pérfice in eis opus creatiónis tuæ ut, a Spíritu Sancto transformáti, cibus et potus vitæ ætérnæ pro nobis fiant. Per Christum Dóminum Nostrum.
Oração sobre as oblatas
Recebei, ó Pai celeste, estes frutos da terra e das nossas mãos: aperfeiçoai neles a obra da vossa criação, de modo que, transformados pelo Espírito Santo, se tornem para nós alimento e bebida de vida eterna. Por Cristo nosso Senhor.    
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Antiphona ad communionemPs 97 (98),3
Vidérunt omnes términi terræ salutáre Dei nostri.
Antífona da comunhão Sl 97 (98),3
Todos os confins da Terra viram a salvação do nosso Deus.
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Post communionem
Sacraméntum unitátis quod accépimus, Pater, communiónem tecum áugeat fratribúsque ut, novos cælos et terram novam exspectántes, conveniénter una cum ómnibus creatúris vívere discámus. Per Christum Dóminum Nostrum.
Oração depois da comunhão
O sacramento que recebemos da vossa unidade, ó Pai de bondade, aumente a co unhão convosco e com os irmãos, de modo que, esperando os novos Ceus e a nova Terra, aprendamos a viver, de forma saudável, com todas as criaturas. Por Cristo nosso Senhor.
            Leituras
1.ª – Sb 13,1-9: “Si potuerunt æstimare sæculum, quomodo huius Dominum non invenerunt?” Vani sunt natura omnes homines... – Semana XXXII, Ano I, sexta-feira
        Ou:
Cl 1,15-20: “Omnia per ipsum, et in ipsum creata sunt”. Christus Iesus est imago Dei invisibilis… – Semana XXII, Ano I, sexta-feira
            Salmos responsoriais
Sl 18, 2-3. 4-5: R/ (2a): Cæli enarrant gloriam Dei: Os céus proclamam a glória de Deus – Semana XXXII, Ano I, sexta-feira. OU: SL 103,1-2a. 5-6 10 et 12. 24 et 35c R/ (31b): Lætetur Dominus in operibus suis: Rejubile o Senhor nas suas obras. – Semana V, Ano I, segunda-feira
            Aleluia
SL 104, 24 – Quam multiplicata sunt opera tua, Domine! Omnia in sapientia fecisti.
Como são grandes, Senhor, as vossas obras! Tudo fizestes com sabedoria.
            Ou:
1Cr 29,11d.12b – Tuum, Domine, regnum, tu dominaris omnium.
            Vosso é o reino, Senhor! Vós sois o Rei soberano de todas as coisas.
            Evangelho
Mt 6,24-34: “Nolite solliciti esse in crastinum” - In illo tempore: Dixit Iesus discipulis suis: Nemo potest duobus dominis servire … – Domingo VIII do Tempo Comum, Ano A
Mt 8,23-27: “Surgens increpavit ventis et mari, et facta est tranquillitas magna”. In illo tempore: Ascendente Iesu in naviculam ... – Semana XIII, Ano I, terça-feira
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           N.B.: As referências indicam lugares bíblicos cujo texto latino e cujo texto português são oficiais.

2025.07.12 – Louro de Carvalho


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