quarta-feira, 9 de julho de 2025

Esboços para a fase de implementação do Sínodo

 
“Esboços para a fase de implementação do Sínodo”, também conhecido por “traços” ou “pistas”, é um documento preparado pela Secretaria Geral do Sínodo, com o parecer favorável do seu Conselho Ordinário, aprovado pelo Santo Padre Leão XIV, que faz parte do serviço de acompanhamento da fase de implementação do Sínodo pela própria Secretaria-Geral, com dupla finalidade: oferecer às Igrejas locais, em todo o Mundo, um quadro de referência partilhado que facilite o caminhar conjunto; e promover o diálogo que levará toda a Igreja à Assembleia Eclesial de outubro de 2028, segundo as etapas comunicadas na Carta de 15 de março:
* De junho de 2025 a dezembro de 2026: caminhos de implementação nas Igrejas locais e nos seus agrupamentos;
* Primeiro semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas dioceses e nas eparquias;
* Segundo semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas conferências episcopais nacionais e internacionais, nas estruturas hierárquicas orientais e em outros agrupamentos de Igreja;
* Primeiro trimestre de 2028: Assembleias de avaliação continentais;
* Outubro de 2028: Assembleia Eclesial no Vaticano.
O documento, divulgado a 7 de julho, é antecedido de carta, de 29 de junho (solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo), do cardeal Mário Grech, secretário-geral do Sínodo.
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Segundo a Irmã Nathalie Becquart, subsecretária da Secretaria-Geral do Sínodo, em entrevista à Rádio Vaticano, falando dos objetivos do documento e da necessidade de implementar o seu acolhimento, o cerne do texto é “implementar, concretizar o Sínodo em ‘nível local’, por meio de um ‘intercâmbio de dons’, entre as comunidades eclesiais de todo o Mundo”, ou seja, ajudar as diferentes comunidades eclesiais a saírem do isolamento, por meio de três palavras-chave: “comunhão, participação, missão”.
Diz a subsecretária que esta fase começou logo após o Sínodo concluído em Roma, em outubro de 2024. Com a “Constitutio Episcopalis communio, foi salientado que seria muito importante o acolhimento das implementações do Sínodo, isto é, levar à prática os seus frutos. Pela primeira vez, o Papa Francisco aprovou, diretamente, o Documento Final (DF), que faz parte do Magistério ordinário e que importa colocar em prática, para implementar esses frutos com criatividade, na diversidade dos contextos das Igrejas locais.
O que foi organizado com a Secretaria-Geral do Sínodo e com a aprovação de Francisco e, a seguir, de Leão XIV, é um quadro de três anos para apoiar esta fase. Em outubro de 2028, haverá uma Assembleia Eclesial em Roma, para compartilhar os frutos e fazer a avaliação. Porém, isso começará a nível local, com assembleias nas dioceses, e a nível nacional e continental, o que levará tempo. Contudo, o mais importante é o processo, passo a passo, e seguir em frente.
Agora, uma definição, no DF, permite entender a sinodalidade em duas aceções. De acordo com Ormond Rush, teólogo australiano que esteve presente na assembleia, “a sinodalidade é o Concílio Vaticano II em síntese”. Assim, pode dizer-se que, nesta fase, a sinodalidade é o modo de compreender a eclesiologia do Vaticano II. A outra aceção é a do logótipo, com as três palavras-chave: “comunhão, participação, missão”. Nestes termos, a sinodalidade é “uma forma de ajudar a Igreja a tornar-se mais missionária e mais participativa”, ou seja, a forma como Deus chama a Igreja hoje a exercer a sua missão, uma “forma de ser Igreja, que deriva da sua forma primitiva e que tomamos do Vaticano II, enfatizando que todos somos batizados e, como tal, chamados a realizar a missão juntos. Há diversidade de vocações, de carismas, de ministérios, mas somos povo de Deus, em caminho com outros povos.
Por outro lado, a sinodalidade, anda de mão dada com o ecumenismo, um dos frutos mais fortes do Sínodo, com o diálogo inter-religioso, com o diálogo com a sociedade, com todas as pessoas. Importa enfatizar a necessidade de ouvir todos, sobretudo, os pobres e marginalizados e ser Igreja acolhedora, que trabalhe com todos e proclame o Evangelho.
O documento em causa responde a perguntas simples; serve, antes de mais, para apoiar a implementação do Sínodo a nível local; e, ao mesmo tempo, serve “o intercâmbio de dons” entre as Igrejas locais, pois “todos temos algo a dar e algo a receber”. No apoio ao caminho sinodal das Igrejas locais, emerge a beleza das comunidades. “Somos uma só Igreja, mas com diversidade de situações, de culturas e de contextos”. Por isso, o modo como vivemos a missão na diversidade também é moldado pela cultura. Cada Igreja local tem o seu caminho, mas não pode estar isolada. Portanto, o documento enfatiza que não se pode fazer conversão sinodal a sós, mas importa trabalhar juntos, como diferentes Igrejas locais, e em diálogo forte entre as diversas comunidades: a nível de província eclesiástica; entre algumas dioceses; nas conferências episcopais (geralmente, a nível nacional); e a nível continental.
O documento também ajuda a reforçar a importância de compartilhar os frutos das iniciativas do caminho sinodal, a nível local, com outras pessoas. É por isso que o plano para as fases sucessivas prevê diferentes etapas, com assembleias, nas dioceses e nas eparquias das Igrejas Orientais, depois, em nível nacional e continental. E, por fim, haverá uma Assembleia Eclesial em Roma, para garantir que trabalhemos juntos como Igrejas locais.
É importante enfatizar quem deve participar na fase de implementação. O primeiro responsável é o bispo diocesano ou eparquial, mas todos têm um papel a desempenhar. Por isso, se pede a cada diocese e a cada conferência episcopal que tenha uma equipa sinodal, para ajudar a trabalhar com o bispo e ver como seguir em frente. De facto, todos os batizados são chamados a ser protagonistas da receção do Sínodo e da sua implementação, podendo tomar iniciativas nas suas comunidades, sempre em diálogo com os seus pastores.
Similar ênfase se dá ao papel dos agrupamentos de Igrejas: a província eclesiástica, a conferência episcopal e, mesmo, a continental. Não se trata só do que e pode fazer em paróquias e em dioceses, mas também em todos os tipos de organizações eclesiais. Por exemplo, é importante implementar a sinodalidade nas escolas e nas universidades católicas, na pastoral juvenil, em organizações de caridade, como a Caritas. E os religiosos e religiosas, que já estão envolvidos no Sínodo, acolheram, verdadeiramente, este apelo à sinodalidade.
A receção é facto concreto. Num concílio ou num sínodo, trata-se de discernir a chamada de Deus, de buscar a verdade. E, desde o início da Igreja, têm sido convocados sínodos e concílios para abordar certos temas ou questões, sobretudo, em caso de conflito, para buscar a verdade. E reconhecemos que o modo como o Espírito Santo fala e nos chama é trazendo harmonia. E, no final de cada concílio ou sínodo, é importante o consenso. Assim, os participantes têm profunda experiência espiritual, humana e eclesial, e tornam-se missionários da sinodalidade. Porém, se o que foi deliberado como caminho a seguir não é recebido na base, é um problema. Não basta que apenas algumas pessoas o recebam ou que se torne documento. Antes, a ideia de receção é “abraçar os frutos e os caminhos que foram comunicados”.
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Desde que Leão IV foi eleito, tem posto a ênfase no desejo de ser Igreja sinodal, em diferentes discursos e de diferentes maneiras, destacando a importância da sinodalidade e o compromisso de continuar este caminho sinodal.
Quando o Papa Francisco faleceu, as pessoas, na diversidade do Povo de Deus, vieram prestar-lhe homenagem. Francisco era ligado ao povo, estava unido ao povo. E era possível ver, na Basílica de São Pedro, a diversidade de pessoas que vinham prestar-lhe homenagem: pessoas pobres, famílias com crianças; um imã muçulmano, que rezava; um bispo ortodoxo, pessoas de todas as origens, até com deficiências, tentando sair das suas cadeiras de rodas. E no funeral, era possível ver, sem necessidade de palavras, a visão da Igreja, expressa na diversidade de pessoas presentes: fiéis católicos, muitos delegados ecuménicos, mais de 100 representantes de outras religiões, presidentes, políticos, a diversidade da sociedade.
Também quando o Papa Leão XIV foi eleito, a multidão estava lá e ele, de imediato, se conectou com ela. Então, por meio dos Pontífices – Francisco e Leão –, percebe-se a conexão íntima com o povo. Observamos a sinodalidade em ação. O Papa Prevost iniciou o Sínodo, quando era bispo no Peru. Realizou a fase de escuta, a fase de consulta na diocese. Estava muito envolvido. Depois, veio para Roma, no período das reuniões continentais do Sínodo. Aquando da preparação do Instrumentum Laboris para a assembleia, foi pedido a todos os prefeitos que viessem conversar com a equipa. Ele esteve na assembleia como prefeito, em outubro de 2023 e em outubro de 2024, tendo integrado dois grupos de estudo.
Percebe-se que tem estilo de liderança muito semelhante ao de Francisco, ouvindo com profunda espiritualidade, porque a sinodalidade começa em nós. É, antes de tudo, uma atitude espiritual, mas que precisa se traduzir em estruturas, em ações concretas. E é por isso que os caminhos para a fase de implementação, não só destacam a importância da conversão pessoal, da espiritualidade da sinodalidade, mas também pedem que olhemos para passos concretos que podemos tomar em órgãos decisórios, por exemplo, implementando, conselhos, como os conselhos paroquiais ou o conselho pastoral diocesano. Leão XIV fala de sinodalidade e da sua importância e já a abraçou, antes que fosse formalmente assim estruturada. Já exerce o ministério de petrino em estilo sinodal. E, quando chegou à Secretaria do Sínodo, já se tinha iniciado o diálogo com ele.
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Por fim, a Irmã Nathalie Becquart sustenta que é importante dar uma ideia de como o Espírito Santo acompanhou o Sínodo, desde o início, pois a sinodalidade é a chamada de Deus para a Igreja ser mais missionária. Por isso, todo o processo visa a missão e está focado nela. E, abraçando um estilo sinodal melhor, daremos mais frutos.
Esta fase já está em andamento, pois muitos não esperaram pelo documento, já começaram. Muitas conferências episcopais, organismos continentais e organizações, como a União Internacional dos Superiores Gerais para a vida religiosa e outros movimentos internacionais, já estabeleceram as suas equipas sinodais. Assim, com criatividade, as comissões nacionais e diocesanas estão a trabalhar. Nalgumas dioceses, foram introduzidas novas funções, como o vigário geral para a sinodalidade ou uma leiga como diretora da implementação sinodal. Enfim, em muitos lugares, a sinodalidade é abraçada em estruturas institucionais.
Depois, muitas dioceses organizam o Sínodo diocesano para ver como implementar a sinodalidade a nível local. Por exemplo, a Austrália fez um Concílio Plenário e, em seguida, o Sínodo sobre a Sinodalidade. Noutras dioceses, realizam-se sínodos diocesanos, assembleias sinodais e processos sinodais. Bispos escrevem cartas pastorais sobre sinodalidade. Muitos organizam dias de implementação para diferentes categorias, às vezes, para sacerdotes, para agentes pastorais, para diferentes categorias ou para todas juntas. Alguns, para a implementação do DF do Sínodo no seu contexto, escreveram o Vademecum.
Outro campo em que há muitas iniciativas é a formação e a educação em sinodalidade. Há escolas permanentes de sinodalidade. Algumas organizações, como a União Mundial das Organizações de Mulheres Católicas, criaram uma escola de sinodalidade. Algumas universidades iniciam cursos ou escolas sobre o tema. Assim, no mundo teológico e académico, há muitas iniciativas de cursos de formação, novos departamentos, havendo, cada vez mais doutorandos ou teses sobre temas de sinodalidade. Há muitas publicações e pesquisas, muitos programas e workshops.
Também é muito interessante o que está a ser feito em projetos educacionais e pedagógicos, em escolas católicas, por exemplo, nas Filipinas, onde isso tem sido levado muito a sério, agora, com manuais ou livros que integram o princípio da sinodalidade. Também há iniciativas criativas e culturais. Em algumas partes do Mundo, organizam-se concertos sobre sinodalidade, pedindo a coros ou pessoas que escrevam canções e hinos sobre o Sínodo e traduzindo o DF em música e em concertos. Há também muitas iniciativas do ponto de vista espiritual, como exercícios espirituais sobre sinodalidade e diversas iniciativas desse tipo.
E é importante destacar a dimensão ecuménica do Sínodo: vários delegados participaram no Sínodo; muitas outras Igrejas promovem o diálogo e compartilham a sua experiência de sinodalidade; e, em alguns países, a sinodalidade é refletida e destacada por meio de diálogos religiosos internos. Portanto, o Espírito Santo está a agir.
Tudo isto é compartilhado isso no site sinodal, “Synod Resources”, para inspirar outros, não para “copiar e colar”, mas para discernir, no seu próprio contexto, como continuar esta conversão sinodal e implementar os frutos do Sínodo, tendo em mãos o DF.
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Na sua carta, Mário Grech frisa que “vivemos um tempo de grande intensidade espiritual marcado pela morte de Francisco, por quem rezamos, e pela eleição de Leão XIV, que, “desde o início”, encorajou a prossecução do compromisso com o caminho sinodal, recordando que somos “uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, diálogo, sempre aberta a acolher , como esta praça, de braços abertos, todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do nosso diálogo e do nosso amor.” Esta é a convicção que inspira o DF da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, “Por uma Igreja sinodal. Comunhão, participação, missão”, aprovado no final da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, em 26 de outubro de 2024. 
Com efeito, a forma sinodal da Igreja está ao serviço da sua missão e qualquer mudança na vida da Igreja visa torná-la mais capaz de anunciar o Reino de Deus e de testemunhar o Evangelho do Senhor aos homens e mulheres do nosso tempo. “Esta é a chave para interpretar fielmente o DF e, acima de tudo, para o colocar em prática”, vinca o purpurado.
Num mundo preso em espiral de violência e de guerra sem fim, precisamos da Igreja que saiba ser “em Cristo como sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano”. Assim, na variedade de contextos, o Sínodo “constitui um ato de ulterior acolhimento do Concílio, prolonga a sua inspiração e relança a sua força profética para o Mundo de hoje”. É a urgência desta missão que nos impulsiona no caminho da implementação do Sínodo, tarefa da qual todos os batizados são corresponsáveis.
A Secretaria-Geral está à disposição de todos, para ouvir, para acompanhar, para apoiar os seus esforços e, sobretudo, para contribuir para animar o diálogo e a troca de dons entre as Igrejas, em benefício de toda a Igreja e da sua unidade. E assim se pretende realizar a tarefa de acompanhar a fase de implementação do Sínodo, confiada àquele organismo por Francisco, a 11 de março, e que Leão XIV confirmou, a 26 de junho, aquando do seu primeiro encontro com o XVI Conselho Ordinário da Secretaria-Geral do Sínodo, encorajando a prossecução.
Os traços do documento  estão na linha deste serviço eclesial. E, com base nas contribuições que receber das Igrejas locais, a Secretaria-Geral oferecerá novos estímulos para apoiar o esforço comum, na esperança de colaborar para tornar a implementação mais frutífera.

2025.07.08 – Louro de Carvalho


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